Distúrbios Mentais e Comportamentais no Serviço Público ExperiêncianaUnidade SIASS SFA/MAPA Belém Pará

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1 Distúrbios Mentais e Comportamentais no Serviço Público ExperiêncianaUnidade SIASS SFA/MAPA Belém Pará Lavínia Lamartine Nogueira Garcia 1, Maria de Nazaré Conceição e Silva Pinheiro 2, Moacir Oliveira da Silva 3, Jussara Nogueira Terra Burnier 4 1,2,3 Alunos do Curso de Perícia Oficial em Saúde, do Centro Universitário de Lins-Unilins, Lins-SP, Brasil 4 Docente do Curso de Perícia Oficial em Saúde, do Centro Universitário de Lins-Unilins, Lins-SP, Brasil Resumo Discute-se a incidência dos distúrbios mentais e comportamentais como a segunda maior causa de adoecimento de servidores periciados na Unidade SIASS-SFA/MAPA-Belém/PA e suas implicações nos afastamentos, no período de 01/07/2011 a 10/01/2013. As patologias mentais são agrupadas pelo CID 10. As três de maior incidência são, em ordem decrescente, os distúrbios afetivos (F 30 F 39), os distúrbios ansiosos (F41) e a reação ao estresse e transtornos de adaptação (F 43). Dentre estas doenças, a que levou ao maior número de dias de afastamento foi a esquizofrenia (F 20). Os achados obtidos poderão ser utilizados como ferramentas à implementaçãode políticas públicas de atenção à saúde do servidor. Palavras chave: Distúrbios mentais e comportamentais. Afastamento. SIASS. Introdução O trabalho tem relevante repercussão na saúde do ser humano, tornando-se um dos principais determinantes no seu modo de viver, adoecer e morrer. A relação do homem com o trabalho tem gerado tanto felicidade quanto sofrimento.[1] Nos seus primórdios, a prática laboral foi responsável por injúrias físicas em larga escala, atingindo basicamente o complexo organo-funcional do homem. No mundo hodierno, a forma do processo gerador e mantenedor do trabalho tem feito surgir as doenças psicossomáticas como causa marcante de adoecimento e consequente afastamento do trabalho, seja por absenteísmo, licença para tratamento de saúde ou aposentadoria por invalidez. Isto tem sido ratificado por vários estudiosos do assunto. Dejours afirma ser o corpo a primeira vítima do sistema de produção, seguido do aparelho psíquico.[2] Dados da Organização Mundial de Saúde indicam que das 10 (dez) doenças mais incapacitantes em todo o mundo, 05 (cinco) são de origem biopsicossocial: depressão, transtorno afetivo bipolar, alcoolismo, esquizofrenia e transtorno obsessivo compulsivo. O modelo taylorista do século XX, caracterizado pela ênfase nas tarefas para aumentar a eficiência em nível operacional, tem evoluído para práticas de valorização do trabalhador em relação ao sistema de produção, com foco na melhoria das condições de trabalho, priorização do elemento ergonômico e humanização. Esta nova ordem laborativa tem apresentando resultados animadores quanto à harmonia nas relações intra e interpessoais, prazer na execução das tarefas e produção de resultados

2 e presenteismo dominando a apatia e fuga do local de trabalho. [3] Via de regra, o exercício profissional no serviço público tem peculiaridades distintas, com destaque para a admissão através de concurso público, estabilidade e ascensão funcional e jornada de trabalho diferenciada em relação aos trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas CLT. Apesar desses inegáveis benefícios, a falta de sistematização quantitativa e qualitativa de informações que dizem respeito à saúde do servidor público federal tem dificultado, no decorrer dos anos, o estabelecimento de políticas públicas consistentes de atenção à sua saúde. A iniciativa do Governo Federal de regulamentar, pelo Decreto 6.833, de 29/04/2009, o Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor SIASS, veio preencher esta lacuna, com o estabelecimento de padronização de conceitos, agregação e qualificação de equipe multiprofissional e implantação de diretrizes voltadas para a vigilância ambiental, assistência e perícia oficial em saúde. Metodologia Os autores analisaram quantitativamente a incidência dos distúrbios mentais e comportamentais como elemento importante nos afastamentos dos servidores públicos federais de suas atividades laborais, correlacionando os grupos desses transtornos que mais demandaram afastamento do serviço por servidor. Basearam-se na extração de dados contidos no Relatório de Gestão da Unidade SIASS/SFA/MAPA-PARÁ, no período de 01/07/2011 a 10/01/2013, disponível no Portal SIAPE Módulo Saúde do SIASS. [4] Revisão bibliográfica alusiva ao tema e documentos atualizados formulados pela Administração Pública Federal concernentes ao assunto foram os outros recursos metodológicos utilizados. A Unidade SIASS funciona em Belém/PA, nas dependências da Superintendência Federal de Agricultura e agrega nove Instituições Públicas Federais sediadas no Estado: Ministério de Agricultura, Pesca e Abastecimento (MAPA), Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Departamento de Polícia Federal (DPF), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação- Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Resultados Em sequência, apresentam-se as tabelas e gráficos resultantes da transformação das informações extraídas do Portal SIAPE Módulo Saúde do SIASS/SFA/MAPA/PARÁ, referentes ao afastamento por CID 10 Código Internacional de Doenças, dos servidores periciados na Unidade, no período de 01/07/2011 a 10/01/2013. [3] Tabela 1 Afastamento de servidores da Unidade SIASS/SFA/MAPA/PA, por grupo de patologias, no período de 01/07/2011 a 10/01/2013 por percentual de ocorrência. Grupo de doenças Sistema osteo-muscular e tecido conjuntivo Transtornos mentais e comportamentais n de servidores % Todos os outros Total

3 Gráfico 1: Percentual de afastamento por doença. Gráfico 2: Relação dias de afastamento por transtorno mental/servidor. Sistema osteo-muscular e tecido conjuntivo 23,04% F 40 F 06 22,5 60 Transtornos mentais e comportamentais 15,00% F 29 F 20 22,5 100 Todos os outros 61,96% F 10 - F 19 F , F 43 F 41 36,7 55,6 Com relação aos resultados encontrados, observa-se que o grupo dos transtornos mentais e comportamentais representa a segunda causa de adoecimento do servidor, logo após as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo. (Tabela 1e Gráfico 1) Tabela 2 Afastamento de servidores da Unidade SIASS/SFA/MAPA/PA por transtornos mentais e comportamentais, no período de 01/07/2011 a 10/01/2013 relação dias de afastamento/servidor. Grupo CID 10 n de servi dores n de dias de afasta mento relação dias de afastamen to/servidor F 30 - F F F F F 10 - F F F F F F 30 - F 39 49, Na Tabela 2, observa-se a predominância de transtornos afetivos (F 30 - F 39), transtornos ansiosos (F41) e reação ao estresse grave e transtornos de adaptação (F43), sobre os demais. Sabe-se que as alterações do humor, em geral, se fazem acompanhar de uma modificação do nível global de atividade. A maioria desses transtornos tende a ser recorrente e a ocorrência de episódios individuais pode frequentemente, estar relacionada a situações ou fator estressante, no caso, a estresse ocupacional. Nos episódios de depressão (F 32), o indivíduo apresenta diminuição do humor, redução da energia e diminuição das atividades. Embora a característica mais típica dos estados depressivos seja a proeminência dos sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os pacientes relatam a sensação subjetiva de tristeza. Muitos referem como sintoma domi-nante a perda da capacidade de experimentar o prazer em suas relações afetivas familiares, sociais ou no trabalho, bem como a dimi-nuição da capacidade de concentração asso-ciada, em geral, à fadiga

4 acentuada, mesmo após período de repouso ou esforço mínimo, com prejuízos à execução de tarefas. Algumas vezes, a depressão se mescla com a irrita-bilidade, consumo excessivo de álcool, preocupações hipocondríacas e acentuação de manifestações fóbicas e obsessivas pre-existentes. [5,6]Em geral, também estão presentes os distúrbios do sono e diminuição do apetite e, quase sempre, diminuição da auto-estima e auto-confiança. Maslach [7] relata casos de transtornos depressivos associados à Síndrome do Esgotamento Profissional (Burnout), síndrome psicológica decorrente da exposição prolongada a estressores interpessoais no trabalho. No serviço público, alguns estudos comparativos controlados têm mostrado prevalências maiores de depressão em digitadores, operadores de computadores e educadores. [8] Ainda com relação à Tabela 2, e isto se torna mais elucidativo quando se analisa o gráfico correspondente, observa-se que a patologia que levou ao maior número de dias de afastamento por servidor foi a esquizofrenia (F 20). Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam em geral por distorções fundamentais e características do pensamento e percepção e por afetos inapropriados ou embotados. Usualmente, mantém-se clara a consciência e a capacidade intelectual, embora curtas deficiências cognitivas possam evoluir com o tempo. Sua etiologia, na maioria das vezes, é multifatorial e fatores predisponentes (genéticos, constitucionais,bioquímicos) em concomitância com fatores ambientais são responsáveis pelo desencadeamento da doença. Discussões e Considerações Finais No mundo atual, pelo seu próprio aspecto complexo e dinâmico, o exercício laboral transforma a atenção à saúde num desafio a ser enfrentado por todos: servidores, gestores e instituições. Deve-se levar em consideração a multiplicidade de fatores correlatos na determinação dos distúrbios mentais e comportamentais relacionados ao adoecer do servidor. Em alguns casos, são de natureza química (exposição ocupacional a metais pesados, derivados organometálicos e substâncias asfixiantes, tais como monóxido de carbono e sulfeto de hidrogênio) [8]; em outros, estão intrinsecamente relacionados às formas de organização e gestão do trabalho ou mesmo da ausência de trabalho e, em muitas outras situações, decorrem da associação desses fatores.[9, 10] O Governo Federal reconhece a relação entre o adoecimento do servidor público e suas condições de trabalho, quando afirma que 24.7% das aposentadorias se deve a problemas de saúde relacionados à qualidade e às condições de trabalho. Neste contexto, e de acordo com os achados expostos no artigo, os distúrbios mentais e comportamentais se destacam como a segunda causa de adoecimento, motivando afastamentos por períodos consideráveis e consecutivos, cujo desfecho, não raras vezes, é a aposentadoria por invalidez. Não é incomum que as patologias psiquiátricas sejam desencadeadas a partir do que se chama estresse ocupacional, ficando bem estabelecida a relação entre ambiente de trabalho, tarefas organizacionais e adoecimento. Exigências no cumprimento de metas préestabelecidas, cobranças excessivas de resultado e assédio moral têm grande repercussão sobre a estrutura física e mental do servidor, provocando-lhe desmotivação, ansiedade, esgotamento físico e mental e rejeição ao trabalho. Entende-se, pois, que a relação entre transtornos mentais e trabalho é de grande complexidade. Um transtorno mental determina limitações tanto dacapacidade laborativa do servidor, quanto em relação à sua realização pessoal. Pode-se também tomar a atividade laborativa como possível fator positivo para o prognóstico: o próprio

5 trabalho pode ser parte fundamental do processo de recuperação do servidor. É compreensível que, no início do tratamento, muitos precisam se afastar de suas atividades laborativas porém, o seu seguimento, que na maioria dos casos estende-se por um longo período não justifica, por si só, a persistência desse afastamento. Ao contrário das Síndromes Residuais Pós- Traumáticas diretamente relacionadas ao trabalho (assaltos, sequestros, acidentes em serviço, etc.), que têm bem definida a etiopatogenia ocupacional, a predisposição e a vulnerabilidade psíquica anterior ao ingresso no serviço público, detectada na história clínica pessoal e familiar dos periciados do presente estudo, permite afirmar que a atividade laboral em si, não representou a causa primária do transtorno mental. Entretanto, eventos ou situações de trabalho que, de algum modo lhes foram desfavoráveis, agiram decisivamente como elemento desencadeante e/ou agravante da doença. Observou-se que os servidores acometidos de distúrbio mental e comportamental que chegaram à perícia, já tinham algum tipo de intervenção por equipe multiprofissional (psiquiatra, assistente social e psicólogo) da rede pública ou privada. Para tornar mais eficiente essa assistência, é necessário que todas as partes envolvidas lancem mão de estratégias, dentro de um amplo programa de atenção à saúde do servidor, objetivando seu acolhimento em práticas especiais de resgate, com gestões junto ao ambiente de trabalho, família e grupo social de seu relacionamento, identificando os fatores de risco, visando à adoção de medidas de proteção e controle e considerando a necessidade de afastá-lo temporária ou definitivamente do trabalho. Referências [1] FIGUEIREDO, J. M; ALEVATO, H. M. R.O sofrimento no trabalho doservidor técnico-administrativo de umaifes-breve reflexão. In: VII Congresso Nacional de Excelência em Gestão. Rio de Janeiro, [2] DEJOURS, C. Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações. O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo, Atlas, [3] FERREIRA.M. C. Qualidade de vida notrabalho. Uma abordagem centrada no olhar dos trabalhadores. 2 ed. Brasília, Paralelo 15,2012. [4] Portal SIAPE Módulo Saúde/SIASS. Relatório Unidade SIASS/MAPA-PA. Afastamentos por CID 10. Período de 01/07/2011 a 10/01/2013. [5] BORGES, D. B; BIROLINI, D; ATALLAH, A.N. Atualizaçãoterapêutica de Prado, Ramos e Valle. 24 ed. São Paulo, Artes médicas,2012. [6] ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Tradução Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas, [7] MASLACH. C. Entendendo o burnout. In: Stress e qualidade de vida no trabalho: perspectivas atuais da saúde ocupacional. São Paulo,Atlas,2005. P [8] MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho. Brasília/DF, [9] MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO. Manual de Perícia Oficial em SaúdedoServidorPúblico Federal. Brasília/DF, [10] GLINA, D.M.R; ROCHA, L.E. Saúde mental no trabalho: da teoria à prática: São Paulo, Roca, 2010.

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