I.1. A Globalização: Invenção, Conseqüência, Responsabilidade.

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1 IPLA INVENÇÃO 2006 I.1. A Globalização: Invenção, Conseqüência, Responsabilidade. Em 13 de novembro de 2006 Jorge Forbes apresentou, no IPLA, o texto Corpo de Formação em Psicanálise Nele encontram se os fundamentos do trabalho de pesquisa do Instituto, inscritos numa topologia não cartesiana, capaz de fazê lo responder aos desafios de nossa época. O Corpo de Formação é, ao mesmo tempo, o resultado e o início de uma experiência. Estamos aprendendo, na prática, o que significa a passagem de um laço social vertical, próprio à era industrial, a um laço horizontal, próprio à era da informação. Desmanchamos os padrões do passado, o tempo cronológico, as hierarquias burocráticas, e abrimos um campo de possibilidades de invenção. Sustentar as mudanças no IPLA tornou se agora uma responsabilidade, necessária para enfrentarmos o drama do Homem Desbussolado. II. A Globalização para o IPLA: Dois momentos II.1. Invenção É impossível chegar ao final de 2006 sem perceber como o IPLA está diferente do que era há um ano atrás: site, pesquisa, debates, cursos, clínica. Tudo colabora para aumentar o entusiasmo com as mudanças. Quando comparamos o índice de desistência desse ano, com relação ao do ano passado, podemos supor que esse clima também contagiou os participantes são eles, afinal, que fazem o IPLA com sua atenção sempre renovada. Neste ano o IPLA organizou os debates sobre o caso Suzane Von Richthofen, recebeu conferencistas, como o filósofo francês Gilles Lipovetsky, organizou as Domingueiras, colaborou com a organização do Fórum A Psicanálise Versus A 1

2 Sociedade de Controle, reinaugurou sua Clínica Escola. Situemos as mudanças responsáveis por tal inovação. Desde sua fundação em 2003, o IPLA apresentou propostas ousadas de formação, a começar pela pretensão de ser um centro de pesquisa da Psicanálise na contemporaneidade, baseado na Clínica do Real de Jacques Lacan. O Instituto foi dirigido com firmeza por Ariel Bogochvol, que assumiu essa responsabilidade em condições financeiras e administrativas muito desfavoráveis. Como Churchill diante de uma Inglaterra debilitada, Ariel soube estabelecer bases sólidas a partir das quais o Instituto poderá se lançar em novas aventuras. Quanto a transmissão da Psicanálise, desde o início o Instituto apresentou propostas de formação permanente e reformulação anual dos cursos, como primeiro passo no sentido de superar os moldes universitários da transmissão. Todavia, constatou se que as formas discursivas através das quais esse ensino era veiculado dificultavam a realização de tais intenções. O conteúdo dos cursos era definido a priori, restando pouco espaço de criação aos participantes, que apenas recebiam conceitos em aulas magistrais. A mudança começou pela inquietação de duas mulheres, Maria Teresa Tavares de Miranda e Teresa Genesini, que tomaram para si a responsabilidade de reconstruir o site do Instituto, e lançaram uma campanha para reformar sua sede, considerando que tanto um quanto outro não estavam em correspondência com o valor do IPLA no meio psicanalítico. As reuniões para a realização do site tiveram início em maio de Sua realização contou não apenas com a introdução de sofisticados recursos de mídia, programados por André Genesini, mas também com um tratamento visual estilizado, realizado pelo artista plástico Guto Lacaz, que desde então se tornou colaborador constante do Instituto. A realização do site reuniu participantes do Projeto Análise e do IPLA, que passaram a discutir seu perfil, assim como o conteúdo a ser publicado. Desde o início, os 2

3 realizadores manifestaram sua intenção em romper fronteiras e promover uma grande conversação da Psicanálise com a sociedade. Assim, o site tem perfil jornalístico e conta com a Rádio Lacaniana, que além de entrevistas, apresenta programas de música. Motivado pelo entusiasmo com as mudanças, Jorge Forbes voltou a participar do IPLA, realizando conferências e debates, colaborando com o site e estabelecendo os fundamentos para a renovação de sua prática de pesquisa. Pontuemos o que cada uma dessas mudanças tem modificado na dinâmica do Instituto: 1. Site: mudou a imagem do IPLA com ousadia e criatividade. Apresenta, semanalmente, fatos importantes do ponto de vista analítico, publica a produção do Instituto, e divulga eventos culturais. Possui a Rádio Lacaniana, que apresenta programas de música e entrevistas; vale destacar a reportagem de Teresa Genesini com o músico e então Ministro da Cultura Gilberto Gil, a partir da qual tiveram início as discussões que resultaram na realização do Projeto Que Mundo é Esse?. O site do IPLA encontra se articulado com o do Projeto Análise. 2. Newsletter: publicação conjunta do Projeto Análise e do IPLA, mostra mensalmente as principais realizações do movimento analítico. Apresenta textos claros, leves e concisos, publicados em três idiomas: inglês, francês e alemão. É uma excelente ferramenta para o Instituto mostrar a importância dos seus projetos à cidade. 3. Domingueiras: junto com outros debates externos, as Domingueiras mostraramse mais um excelente recurso de conversa com a sociedade. Retomando a tradição do banquete platônico, combina trabalho, cultura e prazer em discussões atuais. Ao longo dos debates, são servidos aperitivos e drinks, tornando o ambiente mais afetivo. Até agora, contou com a presença da Deputada Telma de Souza, da geneticista Mayana Zatz, e do cirurgião Sizerando Ernesto de Lima Jr. 4. Pequenos Grupos: criaram as condições para superarmos o discurso universitário. O princípio de seu funcionamento é o cálculo coletivo, que tem sido trabalhado por Jorge Forbes, em que o saber se elabora no confronto com o outro, e não segundo o paradigma iluminista da acumulação do conhecimento. Ao ser confrontado com a necessidade de calcular sua posição e tomar decisões, 3

4 o participante é levado a desenvolver estratégia e arte sem o apoio de um conhecimento completo do que deve ser feito. A reconfiguração dos grupos ao longo do ano quebra identificações imaginárias e referências estáveis. A exposição bimestral dos trabalhos gera compreensões atualizadas das pesquisas. Além disso, abarca elementos do jogo: sorteio, objetivos, trabalho em equipe. 5. Clínica Escola: foi reinaugurada em setembro. É um dos pilares da formação psicanalítica. Os casos estão sendo discutidos e acompanhados por Ariel Bogochvol e Elza Macedo. 6. Apresentação de Pacientes no HC, por Jorge Forbes: foi mais uma conseqüência das mudanças iniciadas em maio de Essas apresentações têm injetado vigor nas discussões de casos. É mais um exemplo da Psicanálise do Homem Desbussolado. 7. Cursos: a idéia é realizar cursos breves com a participação do público externo. O primeiro deles, Violência nas Escolas, ocorreu em 10 e 11 de novembro e foi coordenado por Leny Mrech. 8. Reestruturação Jurídica: formalização de documentos e contratos, sob assessoria de Daniela Magalhães. III. Conseqüências O IPLA começou a mudar a partir da realização do site, dos eventos e da renovação de seu curso. Agora chegou o momento de reestruturar sua administração e ampliar sua articulação com a sociedade. Eis alguns pontos a serem considerados: 1. Rede comunicativa de pesquisa e administração: É o caminho atual, em sintonia com as tendências da época. Possibilita quebrar as hierarquias tradicionais, otimizando as tomadas de decisão e ampliando as fontes de informação e as possibilidades de criação. O Projeto Análise desenvolve a pesquisa de ponta; é o lugar gerador das ações e dos pensamentos; irradia sua orientação pelas instituições que a ele estão articuladas. Dessa forma, o IPLA encontra se a ele diretamente ligado, em seguida vêm os Núcleos, as instituições a eles ligados, e assim por diante. Eis alguns atributos a serem considerados nesse processo: 4

5 a. Invenção b. Conseqüência c. Responsabilidade d. Parceria e. Extimidade 2. O IPLA transforma se no resultado de uma práxis: na perspectiva do Corpo de Formação, cada membro é um participante efetivo do Instituto, responsável pelo seu fazer. Devemos abandonar a idéia de um aluno passivo que recebe conceitos. 3. Privilegiar a noção de estratégia de pesquisa no lugar do programa tradicional, na transmissão: O programa é a determinação a priori de uma seqüência de ações tendo em vista um objetivo. Segundo o filósofo Edgar Morin, em A Cabeça Bem Feita, o programa é eficaz em condições externas estáveis, que possam ser determinadas com segurança. Mas as menores perturbações nessas condições desregulam sua execução e o obrigam a parar. A estratégia também é estabelecida tendo em vista um objetivo, mas nela os desenvolvimentos da ação são escolhidos em função de um ambiente incerto. Como a vida é incerta e exige estratégia, melhor que a transmissão também se organize dessa forma. 4. O IPLA torna se um centro cultural: a. Ampliação do atendimento na Clínica Escola. b. Viabilização de patrocínio para a realização de projetos culturais. c. Projeto de pesquisa e atendimento em instituições de saúde, governamentais e escolas. d. Criar um espaço no site para exposição de venda de produtos: conferências, consultorias, DVDs, livros. 5. Os Núcleos de Pesquisas devem formular uma proposta clara: há participantes do IPLA que não conhecem o trabalho dos Núcleos e vice versa. Conclusão: 5

6 O que expus evidencia: 1. que o pensamento sobre a globalização que fundamenta as mudanças no IPLA, a articulação do seu trabalho de pesquisa baseado na idéia do cálculo coletivo, assim como a ética da responsabilidade que o orienta, provém da Clínica de Jorge Forbes, o que torna o IPLA uma realização do Projeto Análise; 2. que as mudanças ocorridas no IPLA, nos últimos 18 meses, têm operado uma revolução capaz de situá lo nesse novo tempo; 3. que estamos apenas no início de um processo, o qual exige nosso empenho em sua realização através de novos projetos. Cronologia: 23 de maio de 2003: Fundação do IPLA. 2005: Maio de 2005: Planejamento do novo site. 19 de agosto: A Terceira Mulher, com Gilles Lipovetsky. Reportagens em O Estado de São Paulo e O Globo. 26 de outubro: Lançamento do novo Site; festa de inauguração com conferência de Jorge Forbes e mini show. 30 de novembro: Lançamento do programa do curso de 2006 apresentou a tensão entre a Primeira e a Segunda Clínica de Jacques Lacan, elucidando a mudança de paradigma operada pela última. 2 a 5 de dezembro: Conversação de Muxarabi, em Extrema MG, sobre Os Efeitos Rápidos em Psicanálise. 21 de dezembro: Festa de Confraternização de Fim de Ano, com aula de gastronomia com o Chef André Genesini. 2006: 15 de fevereiro: Apresentação da nova didática do IPLA. A pesquisa passou a ser realizada em pequenos grupos, com o acompanhamento de um tutor e um sombra. O grupo trabalha durante dois meses, os trabalhos são apresentados, e, em seguida, 6

7 formam se novos grupos e iniciam se novos trabalhos. O início dos trabalhos é impulsionado por conferência de Jorge Forbes. 06 de março de 2006: Aula inaugural de Jorge Forbes sobre As Duas Clínicas de Lacan. 8 de março: Divulgação da entrevista realizada por Teresa Genesini com o então Ministro da Cultura Gilberto Gil. Essa entrevista deu ensejo a uma série de discussões iniciativa de Márlio Nunes, sobre a posição do Brasil na Globalização, que resultaram no projeto Que Mundo é Esse?, encaminhado ao Ministério da Cultura. 5 de abril: lançamento do livro Você quer mesmo ser avaliado?. 3 e 10 de maio: Conversações Preparatórias ao Fórum A Psicanálise Versus A Sociedade de Controle. 30 de maio: A Felicidade nas Sociedades Hipermodernas, conferência do filósofo Sébastien Charles, da Universidade de Sherbrook, Quebec, Canadá, pelo Projeto Análise. 10 de junho: Fórum A Psicanálise Versus A Sociedade de Controle, realizado no MuBE pelo Projeto Análise, com a colaboração do IPLA. 21 de junho: Debate sobre o caso Suzane Von Richthofen, com a presença de Jorge Forbes e do promotor do caso, Roberto Tardelli. 5 de julho: Debate com o advogado de defesa de Suzane Von Richthofen, Mauro Nacif. 4 de setembro: Inscrição do projeto Que Mundo é Esse? no programa Cultura e Pensamento do Ministério da Cultura, pelo Projeto Análise. Setembro: Reinauguração da Clínica Social do IPLA Setembro/outubro: início da parceria do Projeto Análise com o Projeto Genoma. 24 de setembro de 2006: Iniciam se as Domingueiras. Outubro: NEPPSI é reconhecido como um núcleo de pesquisa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (USP). 10 de outubro: Lançamento da Newsletter conjunta do Projeto Análise e do IPLA. 10 e 11 de novembro: Curso Violência nas Escolas, coordenado por Leny Mrech. 13 de novembro: Jorge Forbes apresenta, no IPLA, o texto Corpo de Formação em Psicanálise RODRIGO ABRANTES 7

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