PODER JUDICIARIO TRIBUNAL DE JUSTICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 fls. 99 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Marília, em que é agravante NELSON VIRGÍLIO GRANCIERI, é agravado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 11ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores OSCILD DE LIMA JÚNIOR (Presidente sem voto), RICARDO DIP E LUIS GANZERLA. São Paulo, 6 de outubro de Aroldo Viotti RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 100 VOTO Nº AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº , de Marília AGRAVANTE: NELSON VIRGÍLIO GRANCIERI AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO JUIZ 1ª INSTÂNCIA: VALDECI MENDES DE OLIVEIRA Agravo de Instrumento interposto contra decisão que indeferiu os benefícios da gratuidade processual em Ação Cívil Pública por Ato de Improbidade Administrativa movida contra o requerente e outro pelo órgão do Ministério Público. Assistência judiciária gratuita Lei nº 1.060/50 Presume-se pobre aquele que, na própria petição inicial, afirma não estar em condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família. Presunção que no entanto é de natureza relativa, juris tantum, podendo ser afastada pelo julgador em cada caso concreto. Espécie dos autos em que a genérica declaração de pobreza do requerente, aliada à não comprovação de insuficiência de recursos, não indicam a priori possibilidade de deferimento do benefício. Recurso improvido. I. Agravo de Instrumento interposto por NELSON VIRGÍLIO GRANCIERI contra R. decisão do MMº Juiz de Direito da 4ª Vara Cível da Comarca de Marília, que, em Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa movida pelo órgão do MINISTÉRIO PÚBLICO contra o ora agravante e outro (proc. nº ), indeferiu pedido de assistência judiciária formulado pelo ora agravante, em sede de embargos de declaração, logo antes da interposição de recurso de apelação contra r. sentença de procedência da demanda (fls. 12/13 destes autos digitais). Nas razões do recurso, assevera, em resumo, que: a) não possui condições financeiras para arcar com as custas e despesas do processo, sem prejuízo do sustento próprio e de sua família; b) no início do processo, o ora agravante possuía uma condição financeira diversa da atual, pois ocupava cargo público no Município de Marília, do qual foi demitido no curso da lide, sendo esta uma das razões pela qual possuía advogado particular; c) o pouco patrimônio que detém está indisponível; d) para a concessão da gratuidade de justiça, basta a simples afirmação da parte de que não está em condições de suportar os encargos do processo, nos termos do artigo 4º, da Lei nº 1.060/50; e) o pedido de gratuidade Agravo de Instrumento nº Marília 2

3 fls. 101 de justiça pode ser formulado a qualquer tempo, bastando a comprovação da modificação da situação financeira, o que foi feito pelo ora agravante. Pede a reforma da decisão, com a concessão de liminar, para lhe serem deferidos os benefícios da assistência judiciária gratuita. Este, em síntese, o relatório. II. Nega-se provimento ao recurso. O trecho da r. decisão impugnada, que denegou a assistência judiciária, é do seguinte teor (fls. 12/13 destes autos digitais): (...) 4. Não é o caso de deferimento dos benefícios da assistência judiciária gratuita no atual estágio do processo e sempre com nobres advogados particulares atuando pelos Requeridos, desde o início da lide. (...) O agravante não produziu subsídios suficientes à pretendida reforma da decisão de primeiro grau. Diante do material instrutório colacionado a estes autos, a solução de primeiro grau comporta manutenção. Assim é que as alegações veiculadas no recurso, a propósito da demissão do ora agravante e da indisponibilidade de bens foram trazidas a fls. 66 e 69/74 destes autos digitais. Contudo, datam, respectivamente de fevereiro de 2013 e dezembro de 2011, e, de fato, não impediram o ora agravante de continuar contratando advogado particular até o momento. Ademais, não passou da esfera da simples alegação a impossibilidade de arcar com as despesas do processo e em especial com as custas de preparo. O agravante apenas trouxe a estes autos cópia do recibo de entrega da sua declaração de ajuste anual de 2015/2014 (exercício/ano-calendário), da qual consta valor dos rendimentos tributáveis, e não o inteiro teor da declaração. Cumpria ao interessado instruir o agravo com documentos minimamente aptos a comprovar sua afirmada condição de hipossuficiente, algo que autorizasse inferir se houve alteração de sua situação sócio-econômica após a formação da relação processual e durante o desenrolar do processo (quando jamais postulou o benefício da gratuidade). Só lhe Agravo de Instrumento nº Marília 3

4 fls. 102 ocorreu postular a isenção de custas depois do advento da sentença condenatória, o que, forçoso convir, é sintomático e não prestigia a sinceridade do pedido. Soa o artigo 4º, caput, da Lei fed , de 1950, que a parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família, prosseguindo o 1º do dispositivo no sentido de que presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição nos termos desta lei, sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais. Essa presunção legal é, nada obstante, de natureza juris tantum, não é absoluta, de logo se anotando que o julgador pode, mesmo de plano, indeferir o pedido, se tiver fundadas razões para fazê-lo (artigo 5º, caput, Lei 1.060/50). A esse propósito, escrevem NELSON NERY JR. e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, em seu Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante (Ed. Revista dos Tribunais, 8ª edição, pág. 1582), em excerto lembrado na r. decisão impugnada: O juiz da causa, valendo-se de critérios objetivos, pode entender que a natureza da ação movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econômico para suportar as despesas do processo. A declaração pura e simples do interessado, conquanto seja o único entrave burocrático que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionário, não é prova inequívoca daquilo que ele afirma, nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres, se de outras provas e circunstâncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca não é aquele que justifica concessão do privilégio. Cabe ao magistrado, livremente, fazer juízo de valor acerca do conceito do termo 'pobreza', deferindo ou não o benefício.. Nessa linha de entendimento vem se orientando a jurisprudência desta Egrégia Câmara, sinalizando ser, em cada caso, possível em tese ao julgador denegar eventualmente o benefício em tela, se de subsídios constantes dos próprios autos puder concluir que ele na espécie não se justifica, apesar da declaração em sentido oposto exibida pelo postulante. Assim, da lavra do Des. LUIZ GANZERLA: Possível ao julgador analisar a viabilidade da concessão da gratuidade judiciária, com o exame de outros documentos acostados aos autos, além da declaração de hipossuficiência, e negar esse benefício quando concluir pela normal possibilidade do interessado em arcar com as despesas processuais (A.I. nº /2-00, de Mirandópolis, j ). Ainda, do Des. RICARDO DIP:... esta Câmara, Agravo de Instrumento nº Marília 4

5 fls. 103 harmônica, de resto, com outros julgados do Tribunal de Justiça de São Paulo, tem admitido a aferição 'ex officio' da necessidade da versada isenção. Com isso, adota-se uma certa mitigação ao valor presuntivo inicial da afirmação de pobreza, infirmável, pois, não apenas mediante impugnação da parte adversa no exercício de faculdades dispositivas, mas, como visto, por iniciativa oficial. Esse entendimento, contudo, não vai ao ponto de, praticamente, anular a presunção legal de pobreza. Essa presunção, que é relativa, só pode ceder, como é próprio das presunções relativas, diante de prova em contrário (A.I. nº /0, de São Paulo, j ). Diante da realidade probatória, e à vista das circunstâncias dos autos, incumbia ao recorrente trazer subsídios confirmatórios de sua alegada miserabilidade para os fins propugnados. Desprovê-se, portanto, o reclamo, sem embargo de se consignar que o tema relativo à gratuidade de Justiça pode ser reexaminado a qualquer tempo, se dispuser o Juízo de elementos novos, ou caso surja hipótese de necessária satisfação de custas ou despesas que não esteja ao alcance do ora agravante. III. Pelo exposto, negam provimento ao recurso. AROLDO VIOTTI Agravo de Instrumento nº Marília 5