Disseminação da Crise Econômica: uma análise regional

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1 Disseminação da Crise Econômica: uma análise regional Este boxe avalia a disseminação da crise econômica atual pelas regiões do país, com ênfase em indicadores relacionados a investimentos, ao consumo, à indústria e ao mercado de trabalho 1. Ressalte-se que os períodos analisados para cada variável, em âmbito nacional e regional, consideram, de forma geral, o trimestre em que a crise passou a repercutir na trajetória da variável, podendo incorporar intervalos distintos no país e nas regiões. A evolução dos investimentos é mensurada, para o, por meio do desempenho da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), das Contas Nacionais Trimestrais (CNT), do Instituto eiro de Geografia e Estatística (IBGE), e do emprego formal na construção civil (EFC), com base em dados censitários do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS) (Gráfico 1). Considerando a inexistência de estatísticas regionais para a FBCF e as trajetórias semelhantes desse indicador e do EFC a construção civil abrange parcela representativa da FBCF, o segundo indicador foi adotado como proxy para o investimento regional. No país, a FBCF recuou 21,2% no período 3T13-3T15 2 e o EFC, 16,8%, no período 2T14-4T15. Ressalte-se que o EFC recuou em todas as regiões a partir de 2T14, exceto no, onde a retração, embora iniciando no 4T14, mostrou-se mais acentuada do que nas demais regiões, acumulando 24,3% até 4T15; e no, onde se iniciou no 3T14 e totalizou 9,5% até o 4T15 (Tabela 1). 1/ Exercícios semelhantes foram realizados no decorrer de 2009, para captar impactos da crise financeira mundial sobre as regiões do país. A esse respeito ver os boxes Efeitos da Crise Mundial sobre a Economia eira Uma perspectiva regional, A Crise Econômica Mundial e as Economias Regionais, Impactos da Crise Financeira sobre a Produção da Indústria e Desdobramentos da Crise Mundial entre as Regiões do País, das edições de janeiro, abril, julho e outubro de 2009 deste boletim. 2/ Nesse boxe, para simplificação, os períodos trimestrais são escritos da forma XTYY, onde X representa o trimestre do ano, T representa trimestre e YY representa o ano. Janeiro 2016 Boletim Regional do Banco Central do 103

2 Gráfico 1 Investimentos Variação percentual no trimestre em relação ao anterior, após ajuste sazonal 1, , , ,6-4,0-3,8 2,4 4, ,4-5,6-6,0-7, ,6-3,9-4,2-4, ,0-3, ,3-4,2-5,4-4,3 Empregos CLT na Construção Civil Formação Bruta de Capital Fixo Índice de Volume Fonte: Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do MTPS, e Contas Nacionais Trimestrais (CNT), do IBGE. O desempenho do consumo é avaliado pelas trajetórias das vendas do comércio varejista e das vendas de veículos, motocicletas partes e peças, ambas divulgadas na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) 3, do IBGE (Gráfico 2). As vendas do comércio varejista, que excluem as de materiais de construção e de veículos automotores, recuaram 6,1% no, no período 1T15-4T15, no qual a retração mais acentuada ocorreu 3/ As vendas do não são disponibilizadas por segmentos, inviabilizando, portanto, a utilização das vendas de veículos como proxy para o consumo na região. 104 Boletim Regional do Banco Central do Janeiro 2016

3 Tabela 1 Efeitos regionais totais TrimestreVar. % no TrimestreVar. % no TrimestreVar. % no TrimestreVar. % no TrimestreVar. % no TrimestreVar. % no inicial período inicial período inicial período inicial período inicial período inicial período FBKF 1/ 3T ,2 Empregos CLT construção 2T ,8 4T ,3 2T T ,6 3T2014-9,5 2T ,1 Vendas comércio varejista 2/ 1T2015-6,1 1T2015-8,4 1T2015-8,5 1T2015-4,1 1T2015-7,9 2T2014-9,7 Vendas carros e motos 2/ 3T ,7 4T ,6 4T ,2 3T ,1 1T Produção industrial 2/ 3T ,4 1T T2014-7,9 3T ,1 4T ,9 1T ,9 Empregos CLT 4T2014-3,8 4T2014-6,1 4T2014-3,8 4T2014-4,1 1T2015-3,0 4T2014 Rendimento médio real 1/ 2T2015-1,7 2T2015-3,8 2T2015-3T2015-1T2015-3,9 2T Fonte: CNT, PMC, PIN-PF e PNAD-C, do IBGE, e Caged, do MTPS. 1/ Até o terceiro trimestre de / Quarto trimestre de 2015 corresponde à média de outubro e novembro, após ajuste sazonal. 3/ Variação interanual trimestralizada. Gráfico 2 Consumo Variação percentual no trimestre em relação ao anterior, após ajuste sazonal - -5,1 - -4,1 - -5,9-5,4 3,5 3,5-1 2,3 3,5 3,7 3,3-3,1-3,1 2,0-7,3 - -5,0-1,7 - -3,0-2,9-9,5-7,7-4,1-4,5-6,0 2,2 3,9 2,2 4,2 3,7-1,6 4, ,8 3,1-5,0-3,8-1 -8,6-9,5 1,2 1, ,9-5,2-6,9-8,9 - -2, ,0-12,5-11,7 - -7,1 Vendas no Comércio Varejista (restrito) Índice de Volume 1/ Vendas de Veículos, Motocicletas, Partes e Peças Índice de Volume 1/ Fonte: Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE 1/ Quarto trimestre de 2015 corresponde à média de outubro e novembro, após ajuste sazonal. Janeiro 2016 Boletim Regional do Banco Central do 105

4 no (8,5%) e a mais moderada, no (4,1%). No, as vendas varejistas passaram a recuar no 2T14 e acumularam queda de 9,7% até o 4T15 (Tabela 1). As vendas de veículos, motocicletas, partes e peças apresentam tendência declinante no país desde o 3T13 e acumularam recuo de 31,7% até o 4T15. As retrações se iniciaram no e (4T12), alcançando 33,2% e 31,6%, respectivamente. No Centro Oeste e no, as vendas passaram a recuar, na ordem, no 1T13 e 3T13 e atingiram 4% e 35,1% (Tabela 1). A produção industrial registra variações trimestrais negativas desde o 3T13 no, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal Produção Física (PIM-PF), do IBGE (Gráfico 3). A retração atingiu 16,4% no período 3T13-4T15 e repercutiu, fundamentalmente, os recuos observados, no mesmo intervalo, nas indústrias do (18,1%) e do (17,9%), que concentram o parque industrial do país e foram impactadas pela menor demanda por bens produzidos pela indústria automobilística. Ressalte-se que as retrações no e no (esta atenuada pelos impactos positivos das operações do polo automotivo e da refinaria de petróleo, em Pernambuco) começaram, na ordem, no 1T14 e no 2T14, registraram menor intensidade e totalizaram 1% e 7,9%, respectivamente, até o 4T15. A produção industrial do, beneficiada pelo desempenho da indústria alimentícia, não registrou trajetória definida nos dois últimos anos e, evidenciando resultados favoráveis no decorrer de 2013, cresceu 13,9% no período 1T13-4T15 (Tabela 1). A evolução do emprego vem repercutindo o processo de retração observado na economia do país. Nesse sentido, conforme dados do Caged/MTPS (Gráfico 4), o mercado de trabalho do, após apresentar desaceleração na criação de postos de trabalho formais no período 1T14-3T14, registrou corte crescente de vagas no intervalo 4T14-4T15, período em que o número de empregos formais acumulou retração de 3,8%. O processo de cortes de empregos formais se iniciou no 4T14 em todas as regiões, exceto no, 106 Boletim Regional do Banco Central do Janeiro 2016

5 Gráfico 3 Produção industrial Volume Variação percentual no trimestre em relação ao anterior, após ajuste sazonal 8,0-2, ,1 4, , ,6-1,7 - -3,7 2,3 2,9 3,9 2,4 3,1 5,7 7, , ,1-6,0 Fonte: Pesquisa Industrial Mensal Produção Física (PIM-PF), do IBGE. Obs: quarto trimestre de 2015 corresponde à média de outubro e novembro, após ajuste sazonal. onde começou no 1T15 e mostrou-se mais brando, acumulando redução de 3,0% até o 4T15, com ênfase nas contribuições da construção civil, p.p., e da indústria de transformação, p.p. Nas demais regiões, destacaram-se, no período 4T14-4T15, as reduções acumuladas de 6,1% no, com destaque para a contribuição de -3 p.p. da construção civil, e de 4,1% no, impulsionada pela contribuição de -1,7 p.p. da indústria de transformação (Tabela 1). O rendimento médio real dos trabalhadores, considerados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do IBGE 4, também recuou nos últimos trimestres do período analisado (Gráfico 5). No, a retração ocorreu no período 4/ Rendimento médio real de todos os trabalhos, habitualmente recebido por mês, pelas pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência. Dados disponíveis até o 3T15. Janeiro 2016 Boletim Regional do Banco Central do 107

6 Gráfico 4 Emprego ,2 - - Centro Oeste População Ocupada (var.(%) trimestre(t)/trimestre(t-4), trimestralizada) Empregos CLT (var.(%) trimestre(t)/trimestre(t-1), após ajuste sazonal) Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, e Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do MTPS. 2T15-3T15 e totalizou 1,7%. Nas regiões, diferem os períodos nos quais o rendimento decresceu, assim como sua intensidade, ocorrendo a mais acentuada no (3,9%), no período 1T15-3T15, e a mais branda no (%), observada apenas no 3T15 (Tabela 1). Em síntese, o processo de retração em curso na economia brasileira ocorre, conforme esperado, em intensidade distinta nas cinco regiões do país, evidenciando as diferenças das estruturas econômicas. Nesse ambiente de redução da confiança dos agentes econômicos, a retração dos investimentos, a partir de meados de 2014, exerceu desdobramentos negativos sobre o emprego formal em todas as regiões, a partir do 4T14, com maior intensidade no, e. 108 Boletim Regional do Banco Central do Janeiro 2016

7 Gráfico 5 Rendimentos do trabalho Variação percentual no trimestre em relação ao anterior ,6 1,9-4,5 Centro Oeste ,3 2,2 3,0-3, ,7 1,9 1,7 2,0 3,2 3, ,7 Rendimento médio real habitual de todos os trabalhos Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) e Contas Nacionais Trimestrais (CNT), do IBGE. A redução expressiva na demanda por veículos, motocicletas, partes e peças, iniciada no 3T13, foi generalizada em todas as regiões e mostrou-se determinante para o recuo da produção industrial, principalmente no e, onde a cadeia produtiva da indústria automobilística é importante. O ajuste no mercado de trabalho tem-se concentrado no segmento de empregos formais, em particular na indústria de transformação, no e, e na construção civil, no, e. Os rendimentos do trabalho, após aumentarem por vários anos acima da produtividade, recuaram em 2015, exceto no, onde esse movimento iniciou-se no 1T14. Janeiro 2016 Boletim Regional do Banco Central do 109