TRIGO NO ESTADO DE PERNAMBUCO Bruno Valentim Gomes Eng.º Agrônomo

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1 TRIGO NO ESTADO DE PERNAMBUCO Bruno Valentim Gomes Eng.º Agrônomo O estado de Pernambuco não possui produção de trigo devido, principalmente, a pouca adaptação desta cultura às condições de clima no estado. Dentre as principais características que limitam o desenvolvimento da atividade triticultora estão a baixa tolerância a temperaturas superiores a 28 graus Celsius ( C), necessidade de cultivo em regiões com solos de elevada capacidade de retenção de água, normalmente encontradas em Argissolos com teor de argila superior a 35%, além da influência do fotoperíodo, no qual para haver florescimento é necessário a ocorrência de dias longos. Na região do planalto de Goiás e Bahia, condições mais próximas da encontrada em algumas regiões de Pernambuco, locais onde verificam-se algumas áreas produtoras de trigo sequeiro e irrigado em altitudes superiores a 800 metros, são necessários que todos esses fatores atuem de forma conjunta ao desenvolvimento da cultura, sem que haja prejuízo da qualidade exigida pelas indústrias. Apesar de algumas importantes áreas produtoras de trigo situarem-se em regiões com baixo regime pluviométrico, não são observados nessas áreas temperaturas médias acima de 20 C, temperatura ideal para desenvolvimento da cultura. Dessa forma, o conjunto de características encontrados nas regiões de Garanhuns, Triunfo e Arcoverde, não possibilita, ainda que essas áreas situem-se em altitudes superiores a 650 metros e apresentem temperaturas noturnas mais brandas que a média do estado, a produção comercial de trigo com qualidade de farinha, devido ao período característico de seca após Fevereiro, temperatura máxima superior a 28 C e a presença de solos com pouca capacidade de retenção de água. Contudo, é notório a importância deste grão para a fabricação de farinhas e farelo para a alimentação humana e animal. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoito, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados (ABIMAPI), existem no Brasil 201 moinhos de trigo, sendo a grande maioria localizados nas regiões Sul e Sudeste (68%). O grão de trigo utilizado pelos moinhos de trigo situados no estado são quase na totalidade importado da Argentina. O porto de SUAPE, localizado no município de Ipojuca a cerca de 70 km de Recife, favoreceu a integração das empresas armazenadoras e transportadoras nesta região. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (ABITRIGO), de Janeiro a Agosto de 2016 foram importados ,08 toneladas de trigo, sendo ,40 através do Porto de SUAPE com destino a Bunge Alimentos, maior moinho da América Latina,

2 e outras ,68 toneladas importadas pelo Porto de Recife para atender ao moinho Cruzeiro do Sul, sendo esses os únicos moinhos do estado. Este volume representa 7,54% do total importado pelo país, sendo o preço médio de 190,08 dólares por tonelada. As maiores importações em termos de volume ocorrem nos meses de Março, Maio e Agosto. Os moinhos processam os grãos de trigo em farinha comum, farinha especial e fortificada, pré misturas com ou sem aditivos e blends de farinha, além do farelo como subproduto para a indústria de ração animal. De acordo com a ABITRIGO, a indústria de massas, biscoito, pães e bolos utiliza cerca de 74% do total produzido, enquanto que outros 10% destinam-se para o varejo (consumo direto pela população) e 16% para a pecuária na fabricação de ração. A partir de dados apresentados pela agência de inteligência e pesquisa de mercado Nielsen, nota-se que na região nordeste ocorre grande concentração de mercado, fato que ocorreu após a fusão de algumas empresas do setor, formando grandes aglomerados, como a M. Dias Branco, que detêm cerca de 61% do mercado de biscoitos e 60% do mercado de massas. A importância desta região para as empresas que fabricam produtos oriundos do trigo é evidenciada na participação de 30,3% de todo o consumo no Brasil. Em Pernambuco, a partir dos dados apresentados pela ABITRIGO em seu último relatório, com relação ao consumo per capita nacional e regional das principais categorias de produtos derivados da farinha de trigo, determinou-se o consumo médio, considerando o volume de trigo utilizado nos moinhos e sua população de pessoas, de acordo com o IBGE. Os dados seguem apresentados na tabela 1.

3 CONSUMO TOTAL POR CATEGORIA NO ESTADO DE PERNAMBUCO Ton/Ano Massa Sêmola com Ovos ,11 Massa Sêmola sem Ovos ,95 Massa Comum 8.405,06 Massa tipo Caseira 894,16 Massa Grano Duro 1.520,06 TOTAL MASSAS ,34 Biscoito Recheado ,61 Biscoito Cream Craker e Água e Sal ,09 Biscoito Waffle 4.437,03 Biscoito Maisena 4.930,04 Biscoito Amanteigado Doces e Salgados 7.395,06 Rosquinhas 739,51 TOTAL BISCOITOS ,34 Bolo Industrial 1.240,47 Bolo Artesanal 9.424,64 TOTAL BOLOS ,11 Pão Industrial ,55 Pão Padaria ,28 TOTAL PÃES ,83 Farinha Doméstica e Pizza ,22 Farelo de Trigo para Ração Animal ,38 CONSUMO TOTAL PRODUTOS ORIUNDOS FARINHA EM PERNAMBUCO ,22 CONSUMO PER CAPTA DE FARINHA EM PERNAMBUCO (Kg/Hab/Ano) 38,65 Tabela 1. Resumo consumo de produtos oriundos de Farinha em Pernambuco. O consumo per capita por categoria pode ser verificado na figura 1. CONSUMO POR HABITANTE (Kg/ano) 5,26 0,26 1,04 2,30 4,77 5,11 22,11 Massas Biscoitos Bolo Industrial Bolo Artesanal Pão Industrial Pão Padaria Farinha Doméstica Figura 1. Consumo de derivados de trigo por habitante.

4 Algumas medidas tomadas pelo Governo Federal a fim de estimular o crescimento deste setor foram a criação da Lei 8096 de 22/11/1990, a qual declarou livre a comercialização e industrialização do trigo, de qualquer procedência, incluindo os importados, em todo território nacional. Além disso, desde 2011 as empresas do setor estão isentas de arrecadar os impostos de PIS e COFINS, representando uma economia de 9,25% em média. O Brasil produz cerca de 6 milhões de toneladas de trigo por ano, porém consome cerca de 11 milhões, sendo altamente necessário o estabelecimento de boas parcerias comerciais junto dos principais países produtores, principalmente a Argentina, responsável por 95% do volume importado. Apesar de importar a matéria-prima trigo, o Brasil exporta diversos produtos fabricados a partir deste grão. De acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), no último ano foram exportadas cerca de 90 mil toneladas de produtos, sendo mais de 54% na forma de biscoitos, com os maiores volumes para Angola (34,30%), Estados Unidos (16,50%), e Paraguai (14,90%). Outros 24,40% do volume exportado ocorreu na forma de massas alimentícias, sendo a Venezuela responsável por cerca de 70,00% do total deste volume. Com relação as massas, vale ressaltar que o Brasil também é grande importador, principalmente de produtos oriundos da Itália, maior produtor mundial. Para os setores de Pães, Bolos Industriais e Panetones, o qual representa cerca de 21% do volume exportado, o destaque em termos de mercado é os Estados Unidos (44,00%), enquanto para importação os maiores parceiros do Brasil são Argentina, Itália e França. A tabela 2 resume as informações de participação na exportação. Volume Exportado Quantidade Exportada (ton) MERCOSUL 57,00% ,00 AFRICA 23,00% ,00 ESTADOS UNIDOS 10,00% 9.000,00 OUTROS 10,00% 9.000,00 TOTAL 100,00% ,00 Tabela 2. Resumo dos mercados importadores de produtos brasileiros.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Associação Brasileira das Indústrias de Biscoito, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados ABIMAPI < Acessado em: 07 de outubro de Associação Brasileira das Indústrias de Trigo ABITRIGO < Acessado em: 10 de outubro de Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços - MDIC < Acessado em: 10 de outubro de 2016.