CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SANTA CATARINA
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- Felícia Correia Estrela
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1 PARECER COREN-SC N. º 023/CT/2015/PT Assuntos: Deslocamento de Auxiliares e Técnicos em Enfermagem para o setor farmácia; revezamento e escala no setor; entrega medicamentos (controlados ou não) prescritos pelo médico, por profissional de Enfermagem na farmácia básica da rede municipal de saúde; pedidos de medicamentos para o almoxarifado. I - Fatos: O Coordenador de uma Unidade Local de Saúde (ULS) da (...) e a Enfermeira (...) da mesma Unidade solicitam parecer a este Conselho quanto ao deslocamento de Auxiliares e Técnicos em Enfermagem para o Setor de Farmácia da referida Unidade, dado a movimento intenso no setor. A Enfermeira (...) da Secretaria Municipal de Saúde de (...) solicita parecer sobre a atuação do Técnico em Enfermagem em farmácia localizada em Centro de Saúde. Pergunta também: a) se é competência deste profissional fornecer medicamentos, (controlados ou não) com receita médica, na ausência do Farmacêutico responsável; b) se acontecer algum erro no fornecimento de medicamentos, a responsabilidade é do Farmacêutico ou da Enfermeira; c) se existe legislação que diga que o Farmacêutico deve estar presente todo o tempo em que a farmácia esteja aberta. Técnica de Enfermagem do município de (...) refere que na UBS que trabalha é realizado revezamento na escala para atendimento no setor de farmácia, além da responsabilidade quanto aos pedidos para o almoxarifado de medicamentos. Gostaria de saber se esse procedimento é correto e se está incluso nos parâmetros legislativos. II - Fundamentação e análise:
2 Vários profissionais estão envolvidos no processo que envolve terapêutica medicamentosa, não se constituindo em uma ação solitária, mas multiprofissional. Faz-se necessário uma integração entre médicos, farmacêuticos, enfermagem, desenvolvendo um trabalho em equipe e objetivando a potencialização dos benefícios aos clientes. (COIMBRA e CASSIANI, 2001). A temática envolvendo a questão dos medicamentos na atenção básica é diversa e abrangente podendo gerar inúmeras interpretações e questionamentos. Por conseguinte, originam condutas diferenciadas no cenário nacional por parte de Conselhos, gestores e profissionais. Devido a alguns impasses é ainda alvo de avaliações e debates ainda distantes de um consenso no âmbito do Sistema Único de Saúde, devido a pontos divergentes na legislação. Considerando o dever do Coren-SC em disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, observadas as diretrizes gerais do Conselho Federal, conforme artigo 15, inciso II da Lei 5.905/73, nos deteremos neste parecer, a atuação dos profissionais de enfermagem nesta temática, no intuito de resguardar os profissionais e orientá-los para uma prática segura. Pautados na Lei nº de 25/05/1986 (dispões sobre a regulamentação do exercício da enfermagem) os profissionais enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem, integrantes das equipes de saúde nas Unidades Básicas de Saúde, realizam as atividades seguintes atividades descritas quanto a temática deste parecer: Art. 11. O Enfermeiro exerce todas as atividades da enfermagem, cabendo-lhe: II...c) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde; (...) Art. 12. O Técnico de enfermagem exerce atividades de nível médio, envolvendo orientação e acompanhamento do trabalho de enfermagem em grau auxiliar, e participação no planejamento da assistência de enfermagem, cabendo-lhe especialmente: (...) ministrar medicamentos por via oral e parenteral;
3 Art. 13. O Auxiliar de Enfermagem exerce atividades de nível médio, de natureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares de enfermagem sob supervisão, bem como a participação em nível de execução simples, em processos de tratamento, cabendo-lhe especialmente: (...) b) executar ações de tratamentos simples; (...) VI - participar de atividades de educação em saúde, inclusive: a) orientar os pacientes na pós-consulta, quanto ao cumprimento das prescrições de enfermagem e médicas; (...) ministrar medicamentos por via oral e parenteral (BRASIL, 1986). Por definição ministrar significa, fornecer, entregar, referente ao ato de aplicar ou dar a tomar, ação de administrar ou conferir. Se compete ao profissional enfermeiro prescrever, tratar, aos profissionais de enfermagem ministrar medicamentos, aplicar tratamentos e orientar quanto ao cumprimento de prescrições, certamente estão igualmente aptos para o ato da entrega de medicamento numa Unidade Básica de Saúde. Tal procedimento não pode ser reconhecido como o ato simples apenas de transferência de um medicamento da prateleira para as mãos do usuário. Segundo a Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente (REBRAENSP), a ministração segura dos medicamentos precisa obedecer às nove certezas, que são: 1 C Paciente Certo; 2 C Droga Certa; 3 C Via Certa; 4 C Dose Certa; 5 C Hora Certa; 6 C Registro Certo; 7 C Ação Certa; 8 C Forma Certa; 9 C Resposta Certa. A equipe deve estar atenta a cada uma dessas certezas dentro do campo de atuação de cada um conforme legislação descrita acima, fundamentação esta intrínseca ao cuidado de Enfermagem. Independente de ministrar ou de fornecer a medicação, o profissional de enfermagem precisa ter conhecimentos, habilidades e muita atenção, como em qualquer cuidado de enfermagem. Em caso de erro ou engano, o profissional responderá pela sua falha, em conformidade com o estabelecido pelo Código de Ética de Enfermagem, que traz em seu
4 artigo 2º que o profissional deve assegurar ao cliente uma assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência. O profissional de enfermagem deve também avaliar criteriosamente sua competência técnica e legal e somente aceitar encargos ou atribuições, quando capaz de desempenho seguro para si e para a clientela, conforme o descrito o Código de Ética dos profissionais de Enfermagem, arts. 16 e 17 (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007). Assim de acordo com nossa legislação já estabelecida e regulamentada, os profissionais de enfermagem podem entregar medicamentos aos usuários no âmbito da atenção básica, com exceção dos medicamentos controlados de acordo com Portaria nº 344/1998 da Secretaria da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Considerar que o profissional de enfermagem não está apto para este procedimento fere o exercício profissional, fragilizando inclusive o cuidado de enfermagem em outros pontos da rede de atenção. Contudo visando não ferir as diretrizes da assistência farmacêutica e a política nacional de medicamentos os profissionais de enfermagem deverão utilizar o termo: fornecimento ou entrega de medicamentos e não dispensação de medicamentos, caracterizando que o termo dispensar é ato exclusivo do farmacêutico. Quanto ao deslocamento dos profissionais de enfermagem para farmácia. Apesar da área da Assistência Farmacêutica não poder prescindir do farmacêutico, é uma atividade multidisciplinar que envolve profissionais de diferentes formações que devem ter distintas qualificações na dependência da equipe que irão compor. (BRASIL, 2014). A responsabilidade técnica pelas farmácias instituídas constitui-se como atividade privativa do farmacêutico regulamentada pela Lei n. º 5.991/1973 ainda vigente. Caso o profissional de enfermagem seja designado para o setor com a presença do farmacêutico há de se considerar que: A interação entre diferentes disciplinas ou conjunto de conhecimentos sistemáticos e organizados deve alcançar um nível de relação que supere a multidisciplinaridade, pois esta é uma realidade em que diferentes indivíduos trabalham isoladamente sobre um mesmo problema. É necessário um salto
5 qualitativo na articulação da equipe, propondo-se uma atividade que tenha como objetivo ser inter e transdisciplinar para que as relações possam se tornar verdadeiramente colaborativas e horizontais. (BRASIL, 2014). 1986, art. 15: Destaca-se a atividade privativa do Enfermeiro, de acordo com a Lei 7498 de [...] as atividades desenvolvidas pelos técnicos e auxiliares de enfermagem, quando exercidas em instituições de saúde, públicas e privadas, e em programas de saúde, somente podem ser desempenhadas sob orientação e supervisão de Enfermeiro (BRASIL, 1986). Caso o profissional de enfermagem exerça a atividade apenas sob a supervisão do farmacêutico violará o disposto na Lei nº 7.498/1986 (Lei do Exercício Profissional da Enfermagem) conforme descrito acima que prevê expressamente ser obrigatório que o enfermeiro oriente e supervisione as atividades praticadas pelo técnico e pelo auxiliar de enfermagem. Segundo a Política Nacional de Atenção Básica são atribuições comuns a todos os profissionais: II - Realizar trabalho interdisciplinar e em equipe, integrando áreas técnicas e profissionais de diferentes formações; Seguindo esses princípios, farmacêutico e enfermeiro deverão atuar juntos nesta condição específica respeitando as especificidades e os preceitos éticos e legais de cada profissão. III - Conclusão: Considerando o exposto, concluímos que:
6 a) Os profissionais enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem têm competência e habilidades para a entrega de medicamentos não controlados no âmbito dos Serviços de Saúde, respeitando os princípios das nove certezas, para uma prática segura. b) Ao enfermeiro compete a orientação, direção e supervisão dos profissionais da enfermagem na assistência de enfermagem nos Serviços de Saúde, sendo indelegável esta atribuição a outro profissional. c) As implicações ético-legais para o enfermeiro, no presente caso, poderão decorrer da sua atuação como orientador e supervisor da equipe de enfermagem. d) Para assegurar um desempenho adequado, seguro e ético, os profissionais de enfermagem devem atualizar-se continuamente. Este parecer revoga o PARECER COREN-SC N o 010/AT/2005 e o PARECER COREN-SC N o 002/CT/2007. Florianópolis, 10 de novembro de Marcia Sueli Del Castanhel Elizimara Ferreira Siqueira Coren-SC Coren Câmara Técnica de Atenção Básica Câmara Técnica de Atenção Básica Parecerista Coordenação Parecer aprovado pela Câmara Técnica de Atenção Básica em 10 de novembro de 2015 e homologado pelo Plenário do Coren/SC na 535ª ROP em 19 de novembro de Este parecer revoga o PARECER COREN-SC N o 010/AT/2005 e o PARECER COREN-SC N o 002/CT/2007. Câmara Técnica de Atenção Básica: Enf. ª Elizimara Ferreira Siqueira - Coordenadora - Coren/SC Enf. ª Maria Catarina da Rosa Coren/SC 62308
7 Enf. ª Otília Cristina Rodrigues Coren/SC Enf.ª Marcia Sueli Del Castanhel Coren/SC Bases de consulta: BRASIL. Lei nº 5991, de 17 de dezembro de Dispõe sobre o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 19 dez [acesso em 14/04/2015]. BRASIL. Lei nº 7.498, de 25 de junho de Dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem e dá outras providências. Disponível em: de-25-de-junho-de-1986_4161.html [acesso em: 29 abr. 2013]. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução COFEN No. 311, de 08 de fevereiro de Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Disponível em: [acesso em 22 de janeiro de 2015]. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DO RIO GRANDE DO SUL. Decisão COREN-RS Nº 137/2012, de 03 de dezembro de Dispõe sobre Profissional de Enfermagem realizar a entrega de medicamentos nas farmácias e/ou dispensários de medicamentos. Disponível em [acesso em 21 de janeiro de 2015].
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