ACÓRDÃO RO Fl. 1. DESEMBARGADORA MARIA MADALENA TELESCA Órgão Julgador: 3ª Turma

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1 RO Fl. 1 DESEMBARGADORA MARIA MADALENA TELESCA Órgão Julgador: 3ª Turma Recorrente: Recorrido: Recorrido: Origem: Prolator da Sentença: GRAZIELE GONÇALVES DE ANDRADE - Adv. Jose de Arimar Carvalho Batista A S T SERVIÇOS DE HIGIENIZAÇÃO LIMPEZA E TRABALHO TEMPORÁRIO LTDA - Adv. Salim Daou Júnior BOURBON SHOPPING WALLIG - Adv. Jorge Dagostin 19ª Vara do Trabalho de Porto Alegre JUÍZA THEMIS PEREIRA DE ABREU E M E N T A CONTRATO A PRAZO DETERMINADO. GESTANTE. GARANTIA DE EMPREGO. Mesmo se tratando de contrato a prazo determinado, a empregada gestante tem direito à garantia de emprego, prevista no artigo 10, inciso II, alínea "b", do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Incidente o posicionamento sedimentado no item III da Súmula nº 244 do TST. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. ACORDAM os Magistrados integrantes da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 04ª Região: por unanimidade, dar provimento parcial ao recurso da reclamante para acrescer à condenação o pagamento de indenização pelo período estabilitário (salários, décimo terceiro salário, férias com um terço e FGTS), a contar da data da extinção contratual, em

2 RO Fl , até cinco meses após o dia , bem como para determinar a retificação da CTPS quanto à data da saída. Valor da condenação fixado em R$ 500,00 (quinhentos reais) que se majora para R$ 9.000,00 (nove mil reais) e custas de R$ 10,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos) majoradas para R$ 180,00 (cento e oitenta reais), para os fins legais. Intime-se. Porto Alegre, 25 de agosto de 2015 (terça-feira). R E L A T Ó R I O Inconformada com a sentença (fls ), a reclamante interpõe recurso ordinário (fls ), postulando a condenação das demandadas ao pagamento da indenização correspondente às verbas do período de garantia de emprego e retificação da CTPS, bem como o pagamento das verbas rescisórias (seguro desemprego, aviso prévio indenizado e multas dos arts. 467 e 477, da CLT) e honorários de assistência judiciária. Com contrarrazões (fls ), sobem os autos a este Tribunal. Processo não submetido a parecer pelo Ministério Público do Trabalho. É o relatório. V O T O DESEMBARGADORA MARIA MADALENA TELESCA (RELATORA): CONHECIMENTO.

3 RO Fl. 3 Sendo tempestivo o apelo da reclamante (fls. 111 e 114) e regular a representação (fl. 16), encontram-se preenchidos os pressupostos extrínsecos de admissibilidade do recurso. MÉRITO. I - RECURSO DA RECLAMANTE. 1. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. EMPREGADA GESTANTE. INDENIZAÇÃO. A Magistrada da origem, considerando que o contrato de trabalho já estava extinto à época da confirmação da gravidez, indeferiu o pedido de indenização da estabilidade provisória, bem como de retificação da data do término do contrato de trabalho na CTPS e de recolhimento das contribuições previdenciárias do período. A reclamante investe contra a sentença ao argumento de que, efetivamente, se encontrava grávida durante a vigência do contrato de trabalho, citando o exame ecográfico de e a certidão de nascimento de seu filho para corroborar o quanto expendido. Em suma, entende estarem configurados os pressupostos e as condições da estabilidade provisória, fazendo jus ao pagamento da indenização correspondente. Almeja a retificação da CTPS quanto à data da rescisão contratual. O direito da empregada gestante à estabilidade provisória no emprego é reconhecido no art. 10, inciso II, alínea "b", do ADCT, que estabelece a garantia no emprego desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. Nesse contexto, necessária a comprovação de que a autora se encontrava grávida no momento de seu desligamento da empresa.

4 RO Fl. 4 Segundo a doutrina de Alice Monteiro de Barros, A Constituição da República de 1988 instituiu a estabilidade provisória em favor da empregada no ciclo gravídico-puerperal, a qual consiste numa garantia de emprego desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. A medida legal atende ao elevado espírito social que essa situação particular reclama. A gestante, à semelhança do dirigente sindical, pode ser alvo da represália patronal, pela despedida injusta. E essa possibilidade torna-se gravíssima, pois atinge a mãe trabalhadora em momento difícil de sua vida. Logo, se o legislador ordinário estabeleceu a garantia de emprego para o dirigente sindical, é razoável que se estenda a mesma tutela à empregada gestante, permitindo-lhe retornar ao emprego por um prazo razoável, quando ela já tenha recuperado sua capacidade normal para o trabalho. A dispensa injusta ou arbitrária da empregada nessas circunstâncias é nula. A responsabilidade do empregador é subjetiva. São suficientes a prova da gravidez e da despedida injustificada. Na hipótese, a reclamante foi admitida por contrato de trabalho temporário, em , nos termos da Lei nº 6.019/74, em razão do acréscimo extraordinário de serviço, e previsão de término quando cessado o motivo justificador da demanda, não podendo ultrapassar o prazo de 3 meses (fl. 69). O contrato foi rescindido em (fls. 52 e 70). O laudo do exame de ultrassonografia obstétrica datado de (fl. 20) refere que a autora se encontrava com gestação de feto único, com biometria compatível a 25 semanas. O bebê nasceu no dia (fl. 23). Da análise destes documentos e do método de cálculo das semanas

5 RO Fl. 5 gestacionais, verifica-se que a autora estava grávida no momento da rescisão, tendo ocorrido a fecundação no final do mês de janeiro, ou seja, antes mesmo de sua admissão na primeira reclamada. Diante destas considerações, data venia, entende-se que a demandante tem direito à garantia de emprego prevista no art. 10, inciso II, alínea "b", do ADCT. Registre-se que o fato de a empregadora desconhecer o estado gravídico da empregada naquele momento é despiciendo, a teor do disposto na Súmula nº 244, item I, do TST, in verbis: O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao pagamento da indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, "b", do ADCT). Há de ser ressaltado que o espírito da legislação pertinente - alínea "b" do inciso II do art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - é resguardar o nascituro. O dispositivo constitucional não restringe o direito a empregada contratada por tempo indeterminado. Logo, não pode a norma infraconstitucional, que dispõe sobre os contratos a prazo certo, afastar o direito assegurado à reclamante. Incide, na espécie, o posicionamento sedimentado no item III da citada Súmula nº 244 do TST: A empregada gestante tem direito à estabilidade provisória prevista no art. 10, inciso II, alínea "b", do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, mesmo na hipótese de admissão mediante contrato por tempo determinado. A ação foi ajuizada em e pretendeu apenas o pagamento da indenização, porquanto inviável a reintegração em face do tempo

6 RO Fl. 6 transcorrido. Considerando a prova do nascimento juntada aos autos, a garantia de emprego se estenderia até Defere-se à autora, a título de indenização, os salários, décimo terceiro salário, férias com um terço e FGTS, a contar da data da extinção contratual, em , até cinco meses após o parto do filho Ruan Gabriel (fl. 23). Indevida a multa de 40% sobre os depósitos do FGTS em face da natureza do contrato. Determinase, ainda, a retificação da CTPS da reclamante quanto à data da saída. Dá-se provimento parcial ao recurso para acrescer à condenação o pagamento de indenização pelo período estabilitário (salários, décimo terceiro salário, férias com um terço e FGTS), a contar da data da extinção contratual, em , até cinco meses após o dia , bem como determinar a retificação da CTPS quanto à data da saída. 2. VERBAS RESCISÓRIAS. Alega a reclamante que a primeira reclamada não observou os ditames impostos pelo art. 11, da Lei nº 6.019/74, quando ignorou a orientação jurisprudencial, a doutrina e a alínea "b" do inciso II do art. 10 do ADCT. Entende devidas as verbas rescisórias, enumerando a indenização substitutiva ao seguro-desemprego, aviso prévio indenizado e multas dos arts. 467 e 477, da CLT. Cumpre registrar, novamente, que a autora foi contratada em , por tempo determinado (fl. 69). Em face do decidido no tópico anterior, temse que o contrato de trabalho da demandante somente será extinto após o término da estabilidade provisória, garantida pelo art. 10, inciso II, alínea "b", do ADCT, ou seja, em , não implicando, todavia, em

7 RO Fl. 7 alteração da natureza da contratação. Assim sendo, considerando o contrato de trabalho por prazo determinado e a forma de extinção do pacto laboral, não há falar em indenização substitutiva ao seguro-desemprego, tampouco em aviso prévio indenizado. Como bem manifestado na origem, não há parcelas rescisórias incontroversas ou quitadas intempestivamente. Indevidas, por conseguinte, as multas postuladas. Nega-se provimento ao recurso. 3. HONORÁRIOS ASSISTENCIAIS. Postula a demandante sejam deferidos honorários de assistência judiciária e/ou advocatícios, a teor do disposto na Lei nº 1.060/50. Menciona que o monopólio sindical da assistência judiciária, no âmbito da Justiça do Trabalho, não foi recepcionado pela Constituição Federal, em vista do disposto no art. 5º, inciso LXXIV. Carece de objeto o recurso, porquanto deferido, em sentença, o pagamento de honorários assistenciais, no importe e 15% sobre o montante condenatório (item 11, fl. 109 e fl. 110). Rejeita-se. II - PREQUESTIONAMENTO. Apenas para que não se tenha a presente decisão por omissa, cumpre referir que a matéria contida nas disposições legais e constitucionais invocadas foi devidamente apreciada na elaboração deste julgado. Nesse sentido, a Orientação Jurisprudencial nº 118 da SDI-1 do TST:

8 RO Fl. 8 PREQUESTIONAMENTO. TESE EXPLÍCITA. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA Nº 297. Havendo tese explícita sobre a matéria, na decisão recorrida, desnecessário contenha nela referência expressa do dispositivo legal para ter-se como prequestionado este. PARTICIPARAM DO JULGAMENTO: DESEMBARGADORA MARIA MADALENA TELESCA (RELATORA) DESEMBARGADOR RICARDO CARVALHO FRAGA DESEMBARGADOR CLÁUDIO ANTÔNIO CASSOU BARBOSA