PROCESSO: RTOrd

Transcrição

1 EMATER-RJ. EMPRESA PÚBLICA ESTADUAL. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA. PENHORA DE BENS. POSSIBILIDADE. Na dicção do art. 173, 2º, da Constituição da República, as empresas públicas e as sociedades de economia mista sujeitam-se ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias. Vistos, relatados e discutidos estes autos de AGRAVO DE PETIÇÃO, sendo Agravante EMATER RJ EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO e Agravado ALUÍSIO PUGLIA DE AZEVEDO. Inconformada com a r. decisão de fls. 424, da 1ª Vara do Trabalho de Itaperuna, proferida pelo MM Juiz Filipe Ribeiro Alves Passos, que julgou improcedentes os Embargos à Execução de fls. 399/406, a reclamada interpõe o Agravo de Petição de fls. 426/435. Pugna, em síntese, por excesso na execução. Pede a liberação de valor bloqueado. Defende, ainda, a impenhorabilidade de valores destinados à prestação de serviço público. Regular a representação da agravante (fls. 420). Sem contraminuta do autor, apesar de regularmente notificado para apresentá la (fls. 438). Manifestação da Advocacia Geral da União às fls. 452/454. Manifestação do Ministério Público do Trabalho, às fls. 456, da lavra do i. Procurador Eduardo Andrea, opinando pelo parcial provimento do recurso. É o relatório. V O T O CONHECIMENTO Conheço do Agravo de Petição, uma vez presentes os pressupostos legais de admissibilidade. MÉRITO

2 EXCESSO DE EXECUÇÃO BLOQUEIO DE CONTA CORRENTE Alega, em síntese, a agravante que foi realizado bloqueio de valores em duplicidade. Pede o imediato desbloqueio. Sem razão. Pela sentença de fls. 335/339, foi deferida, apenas, indenização por dano moral (R$ ,00, à época). Fez se coisa julgada. Valor atualizado da execução: R$ ,56. Para satisfazer integralmente o crédito obreiro, o MM Juízo assim procedeu (transcrição da decisão alvejada que é bastante explicativa fls. 424): Os cálculos de fls. 366 apresentaram um total de R$ ,56. O Juízo, considerando os depósitos recursais já atualizados, nos valores de R$ 3.031,03 e R$ ,17 (fls. 375 e 376), efetuou bloqueio de R$ 3.179,36, conforme fls. 378 (depósito de fls. 381). No mesmo momento em que determinou a transferência do valor bloqueado na conta do Bradesco da Reclamada, o Juízo determinou o desbloqueio do valor no Banco do Brasil, como se verifica de fls Desta forma, tem se que os depósitos existentes somam exatos R$ ,56, sem qualquer excesso. O BacenJud é ferramenta eletrônica que permite o bloqueio de numerário disponível em instituições financeiras submetidas ao Banco Central do Brasil. Tudo objetivando o legítimo e célere cumprimento da obrigação pelo devedor. O sistema promove, automática e indistintamente, o bloqueio nas contas correntes das empresas reclamadas. Cabe ao Juízo manter bloqueado o exato montante devido e providenciar a liberação do excedente. Esta é a praxe. O MM Juízo originário, atento às regras, desta forma procedeu. Neste sentido, ordenou tempestivamente, via sistema, o desbloqueio do valor antes bloqueado no Banco do Brasil. Manteve, apenas, a constrição no Bradesco. Assim demonstra o documento de fls. 378/379. Não procede a argumentação da agravante. Registre se que a parte não trouxe nenhum extrato bancário atual para demonstrar sua alegação. Para o bom direito, fácil é a prova. Nego provimento. EMPRESA PÚBLICA ESTADUAL ALEGAÇÃO DE IMPENHORABILIDADE DE BENS

3 Alega a agravante que são impenhoráveis os valores pertencentes à pessoas jurídicas de direito público ou afetados à prestação de serviço público. Invoca, ainda, a origem pública dos recursos disponíveis. Pondera que desenvolve atividade de interesse público. Argumenta que a constrição sofrida põe em risco suas atividades. Sem razão a agravante. A EMATER RJ é uma empresa pública estadual, destinada ao fomento da atividade agrária no Estado. Por certo, é órgão da administração pública indireta estadual. Nesta condição, sujeita se ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias. Assim pontifica o art. 173, 2º, da Magna Carta. Questão que se sobrepõe. Nesta linha de entendimento, não há falar em impenhorabilidade de seus bens. Neste idêntico sentido são as decisões proferidas neste Regional e no C.TST (verbis): ACÓRDÃO EM AGRAVO DE PETIÇÃO PENHORA DE BENS DE EMPRESA PÚBLICA. EMATER. POSSIBILIDADE. Por se tratar de empresa pública, dotada de personalidade de direito privado, se sujeitando ao regime jurídico destas, inclusive quanto às obrigações trabalhistas, nos termos do disposto no artigo 173, 1º, II da Constituição Federal os bens da EMATER não são impenhoráveis. Somente eventuais valores vinculados aos convênios firmados por esta empresa com a União e Municípios é assegurada esta característica, nos termos do artigo 649, IX do CPC (TRT 1ª Região, 10ª Turma, AP , publ. 21/10/2013) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. PENHORA DE BENS DE EMPRESA PÚBLICA. EMATER. OFENSA A PRECEITO CONSTITUCIONAL NÃO CONFIGURADA. É do entendimento majoritário desta Corte Superior da Justiça do Trabalho de que são passíveis de penhora os bens das empresas públicas que exploram atividade econômica, como no caso da reclamada, porquanto, consoante estabelecido no art. 173, parágrafo 1º, II, da Constituição Federal, essas pessoas sujeitam se ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações trabalhistas. Agravo conhecido e desprovido (TST, AIRR , julg. 07/12/2005). MANDADO DE SEGURANÇA. EMPRESA PÚBLICA. EXECUÇÃO. PENHORA DE BENS. 1. Mandado de segurança impetrado contra ato judicial que determina a penhora de linhas

4 telefônicas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará EMATER/CE. 2. Passíveis de penhora os bens das empresas públicas, na medida em que o art. 173, 1º, da CF/88 sujeita ao regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações trabalhistas e tributárias, as entidades que explorem atividades econômicas. 3. Inexistência de direito líquido e certo à impenhorabilidade dos bens da empresa pública. 4. Recurso ordinário a que se nega provimento (TST, SDI II, ROMS , julg. 29/02/2000) Acrescente se que as atividades desenvolvidas pela EMATER RJ são financiadas por entes públicos e privados. Em pesquisa ao site da instituição ( Relatório 2011) constata se que a entidade recebeu recursos da Global Enviroment Facility (GEF) e do Banco Mundial (BIRD). Não há como garantir que o valor bloqueado tenha origem exclusivamente estatal. Muito menos que se trata de verba oriunda do erário federal (preocupação maior da AGU fls. 452/454 transcrição parcial ao final). Apesar das alegações, a EMATER não produziu qualquer prova concreta e específica sobre a alegada origem pública do valor objeto de constrição. Finda a instrução probatória. Indiferente o aporte de valores pelo Governo do Estado, seu único titular. Não fosse assim, o próprio surgimento da EMATER estaria comprometido. Convém registrar que o reclamante era empregado da EMATER (CTPS às fls. 15/20 e TRCT às fls. 25). É de se esperar no mínimo que o órgão disponha de receitas para o regular pagamento de seus empregados. A par disso, tem se que o valor bloqueado (ínfimos R$ 3.179,36) não é suficiente para comprometer as atividades da instituição. Satisfeito, a todo tempo, o disposto no art. 620, do CPC (de aplicação controvertida em nosso âmbito antecipe se). Saliente se, por fim, que a decisão proferida é congruente com a ordem constitucional e legal. Nego provimento. MANIFESTAÇÃO DA ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO EVENTUAL ORIGEM FEDERAL DOS RECURSOS NADA EFETIVAMENTE PROVADO Em sua manifestação (fls. 452/454) a AGU assim se expressa (transcrição parcial):... e em caso de se confirmar ser a verba pública federal e se mantida a penhora, seja sempre intimada a União para que se proceda às medidas judiciais pertinentes, sob pena de nulidade

5 Como já mencionado antes, nada foi demonstrado pela EMATER sobre a efetiva e específica origem do valor bloqueado. À míngua de provas concretas, desnecessária a notificação da União. CONCLUSÃO Pelo exposto, CONHEÇO do Agravo de Petição e, no mérito, NEGO LHE PROVIMENTO, nos termos da fundamentação supra. Desnecessária a notificação da União, ante a ausência de prova sobre a origem federal do valor bloqueado. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Oitava Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, CONHECER do Agravo de Petição e, no mérito, por unanimidade, NEGAR LHE PROVIMENTO, nos termos da fundamentação. Desnecessária a notificação da União, ante a ausência de prova sobre a origem federal do valor bloqueado. Rio de Janeiro, 28 de Janeiro de MARIA APARECIDA COUTINHO MAGALHÃES Desembargadora Relatora RG/