TERRENOS DE MARINHA. O Sr. FEU ROSA (PP-ES) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, a

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1 TERRENOS DE MARINHA O Sr. FEU ROSA (PP-ES) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, a PEC n 603, de 1998, de autoria da Deputada Laura Carneiro e demais signatários, propõe a revogação do 3 ao art. 40 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, excluindo, assim, a aplicação da enfiteuse aos terrenos de marinha situados na faixa de segurança na orla marítima. A proposta passou pela Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, que opinou unanimemente por sua admissibilidade, nos termos do Parecer do Relator, Deputado Jairo Carneiro. No momento, a proposição aguarda parecer da Comissão Especial, tendo sido designada como relatora a Dep. Telma de Souza. Na condição de presidente da Comissão Especial destinada a proferir parecer sobre a Proposta de Emenda à

2 2 Constituição nº 603, de 1998, desejo, pois, encarecer a atenção dos membros desta Casa e da sociedade em geral acerca desse assunto, visando o amplo debate das questões, o estudo pormenorizado de cada um dos diversos aspectos envolvidos no caso e, por fim, a decisão consciente e mais acertada. Nesse sentido, cumpre tomar algumas providências que, com certeza, permitirão reunir mais informações e elementos de convicção antes da apreciação da matéria pelo Plenário. Em atendimento ao requerimento apresentado pela deputada Telma de Souza, a Comissão Especial sobre Terrenos de Marinha promove, então, audiência pública para debater o fim da aplicação de enfiteuse aos terrenos de marinha situados na faixa de segurança da orla marítima. Deverão participar da reunião a Secretária de Patrimônio

3 3 Público da União, Alexandra Reschke, e autoridades estaduais. A enfiteuse ou aforamento é o instituto jurídico que permite a alguém exercer o pleno direito sobre um imóvel, com a obrigação de não deteriorá-lo e de pagar uma taxa anual ao proprietário, ou seja, a União. Com características herdadas do sistema feudal, a enfiteuse contempla o Poder Público ou seus favorecidos, com uma renda efetiva, a partir da divisão do domínio sobre o bem: o domínio direto que o Estado atribui para si e outro dado ao enfiteuta, o direito de utilização do imóvel, ou seja, o domínio útil, pelo qual paga uma taxa anual chamada foro e, no caso de transferência da propriedade, o laudêmio. Conforme ressalta a Deputada Laura Carneiro, autora da PEC, o referido instituto vem gerando problemas tanto para quem obteve o domínio, que muitas vezes não tem

4 4 como pagar os altos valores cobrados; quanto para a União, que enfrenta dificuldades burocráticas para receber as taxas. A autora da proposição, pelas razões que apresenta, considera inútil e descabida, nos dias atuais, a existência da enfiteuse, acusando ainda o caráter anti-social e antidemocrático do instituto jurídico em questão, principalmente nos casos de terreno de marinha localizados no litoral, o que, segundo afirma a Deputada Laura Carneiro, representa, inclusive, um entrave ao desenvolvimento da indústria do turismo no País. Entende-se que a atribuição à União da propriedade exclusiva sobre os terrenos de marinha e seus acrescidos não mais se justifica também no tocante à questão da segurança. Ao criticar a enfiteuse e justificar a apresentação da PEC, menciona-se a origem remota e o anacronismo daquele

5 5 instituto jurídico, bem como o fato de que a fixação dos chamados terrenos de marinha remonta ao Aviso Imperial de 12 de julho de 1833, nos seguintes termos: todos os que, banhados pelas águas do mar ou rios navegáveis, em sua foz, vão até a distância de 33 metros para a parte de terra, contados desde o ponto em que chega a preamar média. Equivale dizer que os terrenos de marinha são as faixas de terra com 33 metros contados a partir da linha média da maré alta, adjacentes ao mar, rios e lagoas, no continente ou em ilhas. No entanto, constata-se que essa linha, hoje, está totalmente alterada, principalmente por aterros. Apresentase, pois, a PEC n 603, de 1988, com o objetivo de acabar com a aplicação de enfiteuse aos terrenos de marinha situados na faixa de segurança da orla marítima. Trata-se, evidentemente, de questão complexa, exigindo o exame cuidadoso de diversos pontos,

6 6 abrangendo: a história do instituto, atualmente encontrado apenas na legislação de Portugal, Brasil e Itália; análise comparativa entre a enfiteuse comum e a que se aplica aos terrenos de marinha e seus acrescidos; os impedimentos relativos aos imóveis aforados; a subenfiteuse; o desdobramento do domínio direto e do domínio indireto em relação também ao direito de superfície, instituto recriado no direito brasileiro pelo Código Civil de 2002 (arts a 1.377); as repercussões da medida sobre o regime patrimonial dos terrenos de marinha etc. Em conclusão, esperamos contribuir, da melhor maneira possível, para o êxito dos trabalhos da Comissão, contando com o apoio e a atenção dos parlamentares e da sociedade, de modo que todos os esclarecimentos necessários possam ser prestados até a apreciação da matéria pelo Plenário. Muito obrigado.

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