A importância da resolução de exercícios de provas anteriores Autor: Dicler Forestieri Ferreira

Transcrição

1 Nobres amigos concurseiros, hoje, ao invés de comentar alguma prova ou alguma parte do programa de Direito Penal usualmente cobrado, venho lhes provar a importância de se conhecer o estilo das questões aplicadas pela banca organizadora do seu concurso. Se encararmos o concurso como uma competição, a banca organizadora representa o nosso adversário. Por isso, ao realizar um concurso, você deve estudar quais são os pontos fortes e fracos de seu adversário. A melhor forma para esse estudo ser feito é através da resolução de exercícios de provas anteriores. Assim é possível saber quais assuntos costumam ser mais cobrados, se ambientar com o jeito das questões da banca e avaliar a qualidade do seu estudo através da quantidade de questões que você acerta ou erra. Vou exemplificar o exposto acima através de nove questões que abordam dois conceitos do Direito Penal bastante cobrados pela Fundação Carlos Chagas (FCC). O primeiro conceito, encontrado nos artigos 10 e 11 do Código Penal, abrange a contagem de prazo e o cômputo de frações na pena. Para sintetizar nosso estudo vou reproduzi los abaixo. Contagem de prazo Art. 10 O dia do começo inclui se no cômputo do prazo. Contam se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. Frações não computáveis da pena Art. 11 Desprezam se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. Desmembrando os artigos temos o seguinte: CONTAGEM DO PRAZO cômputo do prazo => inclui o dia do começo dias meses anos são contados conforme o calendário comum FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA penas privativas de liberdade desprezam se as frações de dia penas restritivas de direito pena de multa => desprezam se as frações de cruzeiro Após esse breve comentário, percebam a semelhança das questões apresentadas abaixo e reparem o pouco espaço de tempo em que esses conceitos foram repetidamente cobrados. 1

2 (TCE PB 2006) 01. Com relação à aplicação da lei penal, considere as assertivas a seguir. I. No cômputo do prazo de cumprimento da pena privativa de liberdade, não se inclui o dia do começo, incluindo se, porém, o do vencimento. II. Não se desprezam nas penas restritivas de direito as frações de dia. III. Desprezam se nas penas privativas de liberdade as frações de dia. Está correto o que se afirma APENAS em a) III b) II c) II e III d) I e III e) I e II GABARITO: A (Delegado de Polícia MA 2006) 02. Carlos foi recolhido ao cárcere para cumprir pena de 4 meses de reclusão, as 22:00 horas do dia 20 de julho de Considerando que julho tem 31 dias, setembro tem 30 dias e outubro tem 31 dias, a referida pena privativa de liberdade findará no dia a) 16 de novembro de 2006 b) 17 de novembro de 2006 c) 18 de novembro de 2006 d) 19 de novembro de 2006 e) 20 de novembro de 2006 GABARITO: D COMENTÁRIOS: Para mostrar a aplicabilidade, achei necessário tecer um breve comentário nessa questão, apesar do conceito já ter sido exposto anteriormente. Como o dia do começo inclui se no cômputo do prazo, o dia 20 de julho de 2006 é computado no cumprimento da pena, apesar de Carlos ficar recolhido apenas 2 horas. Dessa forma, do dia 20 de julho ao dia 19 de agosto temos o cômputo do primeiro mês. Do dia 20 de agosto ao dia 19 de setembro temos o cômputo do segundo mês. Do dia 20 de setembro ao dia 19 de outubro temos o cômputo do terceiro mês. E, por fim, do dia 20 de outubro, ao dia 19 de novembro temos o cômputo do quarto mês. O exato término da pena ocorre às 24 horas do dia 19 de novembro de

3 (ISS SP 2007) 03. Na contagem dos prazos penais, a) inclui se o dia do começo. b) considera se como termo inicial a data da intimação. c) considera se como termo inicial a data da juntada do mandado aos autos. d) considera se como termo inicial o dia seguinte ao da intimação. e) descontam se os feriados. GABARITO: A (MPU 2007) 04. A respeito da aplicação da lei penal, no que concerne à contagem dos prazos, de acordo com o Código Penal, é correto afirmar que a) o dia do começo não se inclui no cômputo do prazo, mas inclui se fração deste. b) o dia do começo inclui se no cômputo do prazo, mas não se inclui fração deste. c) o dia do começo ou fração deste não se inclui no cômputo do prazo. d) o dia do começo ou fração deste inclui se no cômputo do prazo. e) Os prazos em meses são contados pelo número real de dias e não pelo calendário comum. GABARITO: D Pois é, creio ser muito difícil o candidato do MPU que fez os exercícios da prova do TCE PB, do Delegado de Polícia MA e do ISS SP ter errado a questão. O segundo conceito exemplificativo, que é encontrado no artigo 327 do Código Penal, versa sobre funcionário público. Conforme o conceito anterior, vou reproduzi lo abaixo. Funcionário público Art. 327 Considera se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. 1º Equipara se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. 2º A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. Vamos desmembrar o artigo acima. Para ser considerado funcionário INDEPENDE de: da atividade ser transitória ou não, de existir remuneração ou não, e de estar exercendo cargo, emprego ou função pública, pois todos são abrangidos pelo conceito. 3

4 São EQUIPARADOS a funcionário público: aquele que exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, aquele que trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da administração pública. É o caso daquele que trabalha para uma AUTARQUIA, pois este tipo de entidade exerce atividade típica da administração pública. Condições para a pena ser aumentada de 1/3: o autor do crime ocupar cargo em comissão, ou o autor do crime ocupar função de direção ou assessoramento. Desde que o cargo ou função sejam ocupados em: órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública, ou fundação instituída pelo poder público. Após esses despretensiosos comentários, vejam as questões da FCC que tratam do tema e percebam como os conceitos se repetem. (TCE SE 2002) 05. Para efeitos penais, considera se funcionário público a) apenas quem exerce cargo ou emprego público. b) apenas quem exerce cargo ou função pública. c) apenas quem exerce emprego ou função pública. d) quem exerce cargo, emprego ou função pública, desde que efetivos. e) quem exerce cargo, emprego ou função pública, ainda que sem remuneração. GABARITO: E (PROCURADOR MA 2003) 06. Para efeitos penais, considera se funcionário público quem exerce a) cargo ou emprego público, mas não função pública transitória. b) cargo, emprego ou função pública, ainda que sem remuneração. c) emprego ou função pública, mas não cargo público remunerado. d) cargo, emprego ou função pública, desde que remunerados. e) cargo ou função. 4

5 (TRT 2 a REGIÃO 2004) 07. A respeito do conceito de funcionário público para os efeitos penais, é correto que o a) estudante em estágio junto à Defensoria Pública não pode ser considerado funcionário público. b) empregado de autarquia ou de entidade paraestatal é equiparado ao funcionário público. c) serventuário da justiça não remunerado pelos cofres públicos não pode ser considerado funcionário público. d) suplente de vereador que substituiu o titular não pode ser considerado funcionário público, pela transitoriedade da função. e) perito nomeado para determinado processo judicial não pode ser considerado funcionário público. (BACEN 2005) 08. Para efeitos penais, considera se funcionário público quem exerce a) cargo ou emprego público, mas não função pública transitória. b) cargo, emprego ou função pública, ainda que sem remuneração. c) emprego ou função pública, mas não cargo público remunerado. d) cargo, emprego ou função pública, desde que remunerados. e) cargo ou função pública, mas não emprego público transitório. (ISS SP 2007) 09.Para efeitos penais, a) não se considera funcionário público quem exerce cargo público transitório, embora remunerado. b) considera se funcionário público quem trabalha para empresa prestadora de serviços contratada para a execução de atividade típica da administração pública. c) considera se funcionário público apenas quem exerce cargo em entidade paraestatal. d) não se considera funcionário público quem exerce função pública não remunerada. e) não se considera funcionário público quem exerce emprego público transitório e não remunerado. Saibam que o mesmo acontece com as outras matérias (Direito Administrativo, Direito Constitucional, Direito Civil, Direito Tributário, Contabilidade) e também com outras organizadoras de concurso (NCE, ESAF e CESPE). Para finalizar nossa conversa de hoje, espero que estes comentários possam ajudar seu estudo na busca da sonhada vaga e desejo boa sorte aqueles que irão prestar o concurso para o TRF 4 a REGIÂO no próximo fim de semana. Aos que irão prestar o concurso do TJ PE, a ser realizado pela FCC em maio deste ano, me comprometo a comentar algumas questões de Direito Penal e tentar, humildemente, auxiliá los na preparação para esta prova. 5

6 Abraços e até a próxima. Dicler 6