iacessibildade Os aplicativos de acessibilidade para ipad Bruna Marcon Goss 1

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1 iacessibildade Os aplicativos de acessibilidade para ipad Bruna Marcon Goss 1 Resumo A penetração cada vez maior dos dispositivos pós-pc chama a atenção para a necessidade de estudar a acessibilidade neste cenário marcado por uma comunicação móvel e conexão ubíqua. Nesse contexto de rápidas evoluções e múltiplas possibilidades para o campo da comunicação, é necessário estudar como a questão da acessibilidade é tratada nesses dispositivos, que têm como interface a tela e que baseiam seus comandos no toque, podendo oferecer dificuldades na utilização por pessoas com mobilidade ou visão reduzidas. Este trabalho pretende analisar os aplicativos para ipad considerados na categoria acessibilidade pela App Store, pensando o jornalismo nesse contexto de acessibilidade móvel, representado pelo aplicativo EARL Palavras-chave: acessibilidade; aplicativos; comunicação móvel: ipad; jornalismo A emergência dos chamados dispositivos pós-pc traz mudanças em diversos aspectos da comunicação e interação. O surgimento dos smartphones e a consolidação dos tablets com o ipad, lançado em 2010, trouxe também novas possibilidades para o uso de aparelhos com acesso à internet. Unida a isso, a maior oferta de planos de dados e a possibilidade de acesso a redes sem fio cria um cenário de comunicação móvel e conexão ubíqua. Não só as formas de interação com os dispositivos foram modificadas, mas o modelo de negócios dos dispositivos passa a ser diferente, centrado nos aplicativos, criando a chamada Appeconomia (CANAVILHAS E SANTANA, 2011). Os 1 Mestranda em Comunicação Social pela PUC-RS, bolsista CAPES-PROSUP. Jornalista formada pela Univerisdade Federal do Rio Grande do Sul. experiência em assessoria de imprensa e produção de conteúdo para empresas de tecnologia. Interessada em jornalismo digital, jornalismo para dispositivos móveis, usabilidade e interfaces. 1

2 aplicativos, utilizados primeiramente nos smartphones pela exigência de uma navegação mais rápida, permanecem nos tablets por oferecerem algumas vantagens sobre o acesso à conteúdos via web como uma estrutura mais simples e apropriada para os dispositivos. Enquanto nos celulares e smartphones os acessos tendem a ser mais curtos, feitos em momentos de espera em filas ou no trânsito - o que se aproxima do conceito de bolhas de ócio (IGARZA, 2009) - o uso dos tablets está ligado a um acesso mais longo e que acontece no final do dia. Conforme pesquisa da Flurry Analytics 2 realizada em 2012, o maior acesso a aplicativos em tablets ocorre entre às 20h e 22h, indicando um uso mais relaxado e atento. Isso tem efeito sobre a estrutura e conteúdos dos aplicativos, que devem apresentar versões diferentes para os dois dispositivos, uma vez que estes são utilizados em momentos distintos. O jornalismo também aproveita a tendência de crescimento na utilização dos dispositivos móveis depois de passar por uma fase de adaptação de conteúdos, muitas vezes disponibilizando arquivos PDF enviados para impressão. Apesar dessa primeira fase, marcada pela utilização tímida de alguns recursos de multimidialidade (CUNHA, 2011, p.115), já existem produtos jornalísticos nativos, que buscam aproveitar de forma mais plena os recursos dos dispositivos, retomando, inclusive, o conceito dos periódicos vespertinos que passam a ser disponibilizados para tablets em compras avulsas ou para assinantes. Como apontam Barsotti e Aguiar, a interação que se estabelece entre a máquina (o tablet) e o leitor rompe com o afastamento até aqui introduzido pelo computador, que só é acessado pela mediação do teclado ou mouse (2013, p. 307). Essa relação de proximidade, porém, torna necessário que se discuta a questão da acessibilidade nesses dispositivos e nos produtos jornalísticos produzidos para eles. Acessibilidade digital e móvel 2 Disponível em: < Acesso em 23 mai

3 Segundo o Censo Brasileiro 3 do IBGE de 2010, existem aproximadamente 46 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência (auditiva, mental, motora e visual), representando 24% da população brasileira. Esse público, infelizmente, é esquecido muitas vezes na producão de softwares e páginas de internet, já que websites se tornaram mais complexos, particularmente com a ascensão da web 2.0 e das tendências de design e código (ELLIS E KENT, 2011, p. 32, tradução livre) que são cada vez mais elaboradas, mas não se encaixam em padrões, tornando difícil para tecnologias como leitores de tela e tablets de Braille permanecerem atualizados e os interpretarem. A preocupação com a acessibilidade digital vem sendo discutida desde os primóridios da Internet, sendo integrante do conceito original da web de Tim-Berners- Lee, que lidera o W3C -World Web Wide Consortium - que visa trazer padrões de alta qualidade para a web e que criou o Web Accessibility Initiative o documento WCAG - Web Contents Accessibility Guidelines, uma série de recomendações para acessibilidade de conteúdos na web. A versão 1.0 do documento foi criada em 1999 e a versão 2.0 em No Brasil, a lei nº , de 1994 estabelece acessibilidade como: Possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 1994). O termo acessibilidade 2.0 preferir à capacidade de acessar informações no formato de escolha enquanto trabalham em um ambiente de conteúdos gerados pelo usuário bastante desestruturado (ELLIS e KENT, 2011, p.25), que centra a questão da acessibilidade no usuário e leva em consideração o fato de que as pessoas acessam a web em diferentes dispositivos. As diferentes telas e aparelhos também precisam ser 3 Disponível em: < Acesso em 20 mai

4 considerados no desenvolvimento de conteúdos; Budiu e Nielsen (2012) afirmam que é essencial para a usabilidade mobile enfatizar os pontos fortes e fracos de cada dispositivo, diminuindo os pontos fracos também, o que se torna ainda mais importante quando se trata de acessibilidade. Alexander (2006) discute os conceitos de acessibilidade e usabilidade, apontando duas principais diferenças: o objetivo do design e o público ao qual o site ou aplicação se destina. Na primeira diferença, o autor aponta que o objetivo da usabilidade é criar uma boa experiência para o usuário, enquanto a acessibilidade visa derrubar as barreiras de acesso à informação. Apesar disso, é possível compreender que, para uma pessoa com deficiência, não conseguir acessar uma página não é uma boa experiência. A segunda diferença, referente ao público, diz respeito ao fato que na acessibilidade o público é o mesmo quase sempre - são pessoas com deficiências ou dificuldades para acessar o conteúdo - enquanto os princípios de usabilidade podem variar de acordo com o objetivo do site. A utilização de princípios de acessibilidade permite que as páginas carreguem mais rápido, independentemente do tipo de conexão (...) e as torna mais fáceis de navegar, independente das condições da pessoa (QUEIROZ, 2006, online). Ellis e Kent (2011) citam o documento Accessibility of Eletronic Commerce and New Service Information Technologies for older Australians and People with Disability da Comissão de Direitos Humanos e Oportunidades da Austrália para afirmar que o design universal - formas de design que possam servir a toda a população - traz melhoras não só para as pessoas com necessidades especiais, mas sim para toda a comunidade por aprimorar a usabilidade de todos nas páginas que estão de acordo com os princípios de acessibilidade. São necessários esforços na produção tanto de hardware quanto de software para se chegar a aparelhos acessíveis, o que é importante de se pensar em dispositivos como o iphone e ipad 4, onde a dificuldade se apresenta desde a essência do aparelho, que é a tela sem nenhum relevo e que funciona como interface para se realizar todas 4 Esse trabalho estuda a acessibilidade nos dispositivos da Apple, sistema operacional ios e App Store. Uma pesquisa realizada na plataforma Android teria outros cuidados e critérios. 4

5 as funções no dispositivo. A Apple é criticada forma bastante forte por Ellis e Kent, que apontam a falta de acessibilidade nas primeiras versões do ipod e iphone, este último que sofreu duras críticas da comunidade com necessidades especiais por não apresentar compatibilidade com aparelhos auditivos, tendo acrescentado esse recurso apenas a partir do modelo iphone 4. O software itunes da Apple, utilizado largamente para compra de conteúdos, também é criticado pelos autores, que afirmam que, apesar de operar parcialmente na web, o software não está de acordo com os padrões do W3C e muitos pacotes de software de leitura de telas são incapazes de ler o software itunes completamente, ou conseguem ler apenas uma parte da página, mas não o suficiente para usar o programa (ELLIS E KENT, 2011, p. 33, tradução livre). A Apple fez melhoras nas propriedades de acessibilidade dos produtos, incluindo um leitor de telas, vários recursos controlados por voz, contraste de cores e recursos de alerta de movimento, visíveis e audíveis. Dentre os produtos da empresa, o ipad, que incorporou os recursos de acessibilidade desde o seu lançamento em 2010, foi visto como portador de mais facilidades para pessoas com necessidades especiais: A tela maior torna o dispositivo potencialmente mais fácil de utilizar que seus predecessores para pessoas com diversas dificuldades. Esses dispositivos estão sendo abraçados pelas pessoas conforme aperfeiçoam a comunicação e acessibilidade para pessoas com deficiências incluindo aquelas que afetam a coordenação motora e função cognitiva, que conseguem melhor acesso com uma tela maior (ELLIS E KENT, 2011, p. 37, tradução livre). Paralelo aos desenvolvimentos feitos pela própria empresa, a possibilidade - ainda que regulada pela Apple - de se produzir aplicativos também trouxe recursos interessantes para as pessoas com necessidades especiais que estão emergindo como um público importante, já que muitos apps têm sido criados para e por esse nicho, para resolver uma variedade de problemas sociais (ELLIS E KENT, 2011, p. 40, tradução livre). As pesquisas de usabilidade de Budiu e Nielsen (2012) mostraram que a taxa de sucesso na utilização de aplicativos é de 74%, enquanto a utilização de sites mobile 5

6 apresenta uma taxa de 64%, o motivo dessa taxa de sucesso consideravelmente maior, para o autor, é que a estrutura dos apps tende a ser mais simples, apontando que, quanto mais funções são incluídas em um aplicativo, maior a complexidade e, por consequência, a probabilidade de falha. O tempo passado nos aplicativos também vem crescendo consideravelmente, entre dezembro de 2011 e dezembro de 2012, o tempo de uso de aplicativos aumentou 35%, enquanto o tempo de navegação caiu 2,4% 5, demonstrando sua importância no uso mobile. Por isso acreditamos ser importante a pesquisa de aplicativos de acessibilidade na App Store, uma vez que está se tornando mais simples criar e disponibilizar apps - com o centro de desenvolvimento de Apple 6 e o download de ferramentas como o Xcode 7. A Apple também inclui recursos de acessibilidade nos UIKits disponíveis para produção de aplicativos, bem como kits para teste de acessibilidade - tornando a tarefa de criação de apps para quem utiliza o kit padrão de usabilidade. Pesquisando pela palavra Accessibility na App Store em 20 de junho de 2013 obteve-se 70 aplicativos para ipad, 40 deles gratuitos. Desse resultado, buscamos apenas aplicativos voltados para o público com necessidades especiais, que buscam permitir uma interação mais acessível com um mundo física e culturalmente estruturado para excluir pessoas com deficiência (ELLIS E KENT, 2011), chegando a 15 opções, disponíveis na tabela abaixo: TABELA1: Aplicativos selecionados na busca por Accessibility Fonte: Autores (2013) Aplicativo Categoria (segundo App Store) Descrição VisualBraille Lite Educação Transforma textos em braille para 5 Disponível em: < Acesso em 23 mai Disponível em: < Acesso em 20 jun Editor de aplicativos da Apple. Disponível em : < Acesso em 20 jun

7 auxiliar pessoas a ler e compreender Braille EARL Notícias Aplicativo de notícias baseado em voz que lê notícias de jornais e revistas dos Estados Unidos. Color Id Utilidades Tira fotos de objetos e apresenta as cores. Wheelpmap Navegação Mapa com informações sobre acessibilidade OpenMap Produtividade Navegador especial para pessoas com dislexia que utiliza fontes específicas e sombreamento parágrafos. Pastime Entretenimento Tocador de audiobooks e podcasts. Voice Vision Utilidades Converte imagem da câmera de vídeo em som, escaneando a imagem um segundo por vez da esquerda para a direita. Map4All Navegação Mapa de acessibilidade de 7

8 ViA Educação Aplicativo do The Braille Institute que serve como guia de aplicativos para pessoas com problemas de visão. Brisbane Access Map Navegação Mapa de acessibilidade. Brisbane, Austrália. Big Player Música Tocador de música com botões grandes e pouco texto, design pensado especialmente para facilitar o uso. Blue Badge Style Estilo de Vida Guia de locais estilosos preparados pessoas necessidades para com especiais, faz um ranking dos locais, classificando de um a três ticks. DysLektz Livros Leitor de ebooks e epubs desenvolvida para leitores com dislexia, utiliza interface adaptada para esse grupo e fonte especial. 8

9 Tradeblock Café Educação Aplicativo que fornece tradução de algumas frases para linguagem dos sinais. Switch box Invaders Educação Jogo voltado para o público infantil com necessidades especiais que usam tecnologia assistiva via Bluetooth. Também pode ser utilizado tocando qualquer parte; oferece modo alta visibilidade para pessoas com dificuldades de visão. Analisando os resultados da tabela, pode-se perceber que os aplicativos de navegação são os mais comuns, sendo três tipos diferentes de mapas, do qual o Map4All - criado pela Fundação Equipara, da Espanha - permite que as pessoas forneçam informações sobre locais de interesse acessíveis; o aplicativo permite filtrar por tipos de locais, como restaurantes, serviços públicos e pontos turísticos. Os aplicativos de educação atuam mais como dicionário, como no caso do VisualBraille - que traduz frases em inglês para braille no intuito de ensinar pessoas a reconhecer a escrita - ou do Tradeblock Café, que traduz frases para linguagem dos sinais. Apesar de não serem exatamente criados para o uso de pessoas com 9

10 necessidades especiais, esses aplicativos dicionário auxiliam na diminuição das barreiras entre pessoas, permitindo que se aprenda e se comunique com pessoas com necessidades especiais de forma mais adequada, ajudando a evitar uma construção social da deficiência no mundo online simplesmente que espelhará discriminações pré-existentes (ELLIS E KENT, 2011, p. 30, tradução livre). Os aplicativos da categoria de Utilidades buscam utilizar o dispositivo para auxiliar pessoas com dificuldades de visão; o Voice Vision utiliza a câmera do ipad para captar imagens, a qual transforma em sons a cada segundo e apresenta sons de acordo com a forma e proximidade de objetos da imagem, como os pixels da parte de cima da imagem, que geram um som de alta frequência. O aplicativo, segundo seus desenvolvedores, pode ser utilizado para auxiliar pessoas com pouca visão detectar portas e paredes, utilizando fones, a pessoa pode saber se o objeto está a direita ou à esquerda. Na categoria de Produtividade o navegador Open Map abre páginas da web utilizando a fonte open-source OpenDyslexic, que é fácil de ler, especialmente para pessoas com dislexia. Só existe um aplicativo relacionado à área de notícias e informação, chamado EARL, o qual será explicado com detalhes a seguir. EARL: notícias acessíveis O aplicativo EARL foi criado pela empresa norte-americana Angle inspirado em um senhor que dá nome ao app que perdeu a visão e, por consequência, não pôde mais ler os jornais e revistas dos quais mais gostava. O aplicativo lê notícias de 250 jornais norte-americanos, diversas revistas e milhares de livros disponibilizados pelo Projeto Gutenberg 8 - que oferece livros clássicos para download de graça. O aplicativo pode ser baixado sem custos, e oferece 15 minutos de leitura diários 8 Disponível em < Acesso em 25 jun

11 gratuitamente - para mais tempo de leitura é possível fazer uma assinatura mensal por US$ 9,99 ou anual por US$ 99,99. O aplicativo é organizado da seguinte maneira 9 : Menu Principal - lista os tipos de conteúdos disponíveis - livros, revistas, sites ou livros; Menu de Jornais, Revistas, Sites ou Livros - citando as publicações disponíveis dentro da categoria escolhida; Menu de Seções - lista as seções ou editorias da publicação escolhida; Menu de Artigos - lista os artigos ou capítulos disponíveis na publicação escolhida; Artigo ou capítulo - conteúdo do artigo ou capítulo selecionado; Para prosseguir na navegação do aplicativo é necessário dar um toque duplo na tela e esperar por um sinal sonoro; após o sinal é necesário falar o comando que deseja - para escolher a categoria Revistas, por exemplo, é necessário tocar na tela, esperar o sinal e falar Magazines, após falar o comando, o aplicativo emite outro sinal para sinalizar que terminou de escutar, se o comando tiver sido entendido, outro sinal é emitido, seguido por uma série de outros sons que indicam que o aplicativo está processando a solicitação. É possível parar a leitura, pular parágrafos e pedir para ler novamente - tudo por comando de voz. É possível também realizar alguns comandos por toques a telas. Dentro do aplicativo é possível criar listas personalizadas de conteúdos personalizadas. A interface do EARL é extremamente simples, apresentando as características que Budiu e Nielsen (2012) apresentam sobre a usabilidade de aplicativos a 9 Disponível em < Acesso em 23 jun Tradução livre. 11

12 simplificação de interfaces que permite o acesso às funcionalidades com poucos comandos, nas quais o usuário consegue entender o que o aplicativo faz, bem como o fluxo de tarefas e a estrutura (BUDIU e NIELSEN, 2012). É interessante pensar a questão do jornalismo nesse ambiente em que o fluxo de informações é muito grande e onde independente do local e do horário em que acontecer um fato de interesse jornalístico, sempre haverá pessoas ávidas por informações (MIELNICZUK, 2013, p. 122). Além disso, a multiplicidade de fontes de informação abre espaço para uma realidade na qual: O cidadão não se informa mais apenas através de veículos jornalísticos consagrados, nem aceita a definição de terceiros sobre o que é crível ou que tenha boa reputação. Um interagente na cibercultura consome toda e qualquer informação que tiver contato, segundo suas estratégias particulares de interação na rede (PRIMO, 2011, p. 141). É importante perceber, porém, que existe uma parcela considerável da população que não vive nessa realidade, já que as condições de acessibilidade ainda não permitem que se acessem essas diversas fontes, ficando, de certa forma, restrito não por questões ideológicas, mas por uma impossibilidade física. Isso é percebido no vídeo de apresentação do aplicativo EARL, no qual Bill Spiry, cego, fala da dificuldade de se acessar notícias é difícil, é uma luta, ou alguém tinha que ler o jornal para mim ou tinha que ir mexer na internet, não era eficiente. Augusto (2012), avaliou os 10 maiores portais de notícia do Brasil com o avaliador brasilieiro DaSilva, que utiliza os padrões WCAG 1.0 do W3C. Como resultado dessa avaliação, apenas um portal foi considerado acessível. Para Bez, Montardo e Passerino (2008) existe um certo descaso por parte de algumas empresas com pessoas com necessidades especiais, para as autoras o discurso substitui a ação em parte de acessibilidade digital por parte dos atores (BEZ, MONTARDO E PASSERINO, 2008, p. 14). 12

13 Considerações finais A acessibilidade digital é um assunto cada vez mais importante conforme os dispositivos evoluem e a sociedade intensifica a sua presença online e com conexões ubíquas. É importante perceber que avanços têm sido feitos por parte dos dispositivos, mas ainda é necessário ir além e permitir o acesso total a pessoas com necessidades, de modo que se chegue próximo ao objetivo de Goggin e Newell s (2003 apud ELLIS E KENT, 2011) de considerar a deficiência como uma identidade social como raça e gênero. Com o crescimento do modelo de aplicativos, podemos perceber que existe uma oferta interessante de softwares para o público com necessidades especiais. As ferramentas para produção e a possibilidade de disponibilizar esses aplicativos de forma gratuita auxiliam o surgimento de novas iniciativas de acessibilidade, como alguns dos aplicativos citados nesse trabalho. Dentro desse contexto, chamamos a atenção para o sistema operacional ios7, anunciado em junho de 2013, que trará consigo mudanças tanto nos recursos de acessibilidade da Apple quanto nas adequações nos aplicativos, o que poderá trazer novas tendências e recursos. É importante notar que, com cada vez mais modelos de dispositivos e atualizações de software, a questão da criação e disponibilização de aplicativos pode sofrer dificuldades, uma vez que se tornará cada vez mais difícil para desenvolvedores manterem atualizados e funcionais seus aplicativos. O jornalismo, nesse sentido, está em xeque, não só pela necessidade de encontrar seu local no ambiente mobile, mas porque além de pensar questões sobre o conteúdo será criado e apresentado também é necessário ter-se em mente a necessidade de fornecer informações acessíveis e de qualidade para todas as pessoas tendo em mente também o impacto que isso pode trazer às redações, que muitas vezes já produzem conteúdo para múltiplas plataformas. No jornalismo para desktop não se viu muita preocupação com as pessoas com necessidades especiais, logo precisa-se considerar como aproveitar as características dos dispositivos móveis para incluir essa parcela significativa da população. Nesse 13

14 sentido, o aplicativo EARL se apresenta como uma tendência de aplicativos que ainda podem ser criados para se oferecer um acesso real e universal à informação. Existem muitas possibilidades de difusão da informação e produção de conteúdos que foram possibilitadas pela web 2.0 e que são potencializadas pela conexão permanente nos dispositivos móveis, mas, para que isso seja possível é preciso considerar a acessibilidade, uma vez que as oportunidades precisam estar disponíveis para toda a população. Referências bibliográficas AGUIAR, Leonel; BARSOTTI, Adriana. Produção de notícias para dispositivos móveis: a lógica da sensação e o infotenimento. In: CANAVILHAS, João (Org.). Notícias e Mobilidade: o jornalismo na era dos dispositivos móveis. Livros Labcom, Covilhã, pp , ALEXANDER, Dey. Usability and accessibility: best friends or worst enemies? Disponível em: < Acesso em 10 jun AUGUSTO, Hudson. Acessibilidade Web dos Portais de Notícias Brasileiros dez Disponível em < Acesso em 20 jun BEZ, R.; PASSERINO, L. M.; MONTARDO, S. M. Acessibilidade digital em blogs: limites para socialização on-line de Pessoas com Necessidades Especiais (PNE).Disponível em < Acesso em 15 mai BUDIU, Raluca, NIELSEN, Jakob. Mobile Usability. New Rider, Berkeley, CANAVILHAS, João; SANTANA, Douglas Cavallari de. Jornalismo para plataformas móveis de 2008 a 2011: da autonomia à emancipação. São Paulo: Líbero, v. 14, n. 28, 2011, p CENSO Disponível em < Acesso em: 20 mai CUNHA, Rodrigo do Espírito Santo da. Revistas no cenário da mobilidade : a interface das edições digitais para Tablets. Salvador: UFBA, Dissertação 14

15 (Mestrado) Programa de Pós Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas, Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, EARL. Frequently Asked Questions. Disponível em: < Acesso em 10 jun ELLIS, Katie, KENT, Michael. Disability and New Media.,Taylor & Francis e- Library, Nova York, IGARZA, Roberto. Burbujas de Ocio. La Crujia, MIELNICZUK, Luciana. O celular afronta o jornalismo. In: Jornalismo e Tecnologias Móveis. Mielniczuk, Luciana; Barbosa, Suzana (org.), Covilhã, Livros LabCom, 2013, pp PRIMO, ALEX. Transformações no jornalismo em rede: sobre pessoas comuns, jornalistas e organizações; blogs, Twitter, Facebook e Flipboard. Intexto, Porto Alegre, UFRGS, v.02, n.25, p , dez QUEIROZ, M. A. (2006) Acessibilidade web: tudo tem sua primeira vez. Disponível em < Acesso em 20 jun W3C. Web Content Accessibility Guidelines (WCAG) 2.0. Disponível em < Acesso em 01 mai Why we made EARL. Vídeo explicativo do aplicativo Disponível em: < Acesso em 15 jun