ESTUDO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DO FEIJÃO CAUPI VERDE EM FUNÇÃO DO RALEAMENTO NA REGIÃO DO CARIRI CEARENSE

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1 Área: Sócio-economia ESTUDO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DO FEIJÃO CAUPI VERDE EM FUNÇÃO DO RALEAMENTO NA REGIÃO DO CARIRI CEARENSE Josefa Maria Francieli da Silva 1 ; Francisca Edcarla de Araújo Nicolau 2 ; José Elânio da Silva Santos 1 ; Weslley Costa Silva 3 ; Felipe Thomaz da Camara 4 1 Estudante de Eng Agronômica da Universidade Federal do Ceará Campus Cariri, bolsista do Programa de Extensão Rural (PROEXT) francielisilva39@yahoo.com.br 2 Estudante de Eng Agronômica da Universidade Federal do Ceará Campus Cariri, bolsista PIBIC/CNPq 3 Estudante de Eng Agronômica da Universidade Federal do Ceará Campus Cariri, bolsista PID/UFC 4 Professor de Engº Agronômica da Universidade Federal do Ceará Campus Cariri Resumo O feijão caupi (Vigna unguiculata) é uma das culturas de elevada relevância socioeconômica para o Brasil que é o maior produtor e consumidor mundial dessa leguminosa. O objetivo deste estudo foi avaliar se a prática de raleamento tem viabilidade econômica na cultura do feijão caupi colhido em vagens verdes em função dos preços praticados na região do Cariri Cearense. O experimento foi realizado no Sitio Pintado no município de Missão Velha-Ceará, onde foi conduzida a cultura do feijão caupi irrigado por aspersão. Foram determinados todos os custos referentes às atividades realizadas na instalação, condução e colheita da cultura em função da prática de raleamento. A receita foi calculada a partir da produtividade da cultura e dos preços praticados na região (R$/sc 20,00; 40,00 e 80,00). Verificou-se que a prática do raleamento elevou os custos em R$113,25 por hectare, porém a colheita, apesar de maior produtividade, obteve menor custo em função da maior velocidade de colheita em função da presença de apenas uma planta por cova. Conclui-se que existe viabilidade econômica da prática de raleamento na cultura de feijão caupi, de forma que quando se utiliza o raleamento, ou seja, deixando apenas 01 planta por cova, elevou a produtividade em 20% em relação a área sem raleio nas mesmas condições de solo, temperatura e umidade. A prática de raleio eleva a lucratividade da cultura do feijão caupi colhido em vagens verdes, mesmo nos menores preços praticados na região do Cariri Cearense, evidenciando que esta prática deve ser realizada pelos agricultores. Palavras-chave: Rentabilidade, desenvolvimento, agricultura familiar. Introdução O feijoeiro caupi (Vigna unguiculata) é uma das culturas de elevada relevância socioeconômica para o Brasil. O País é o maior produtor e consumidor mundial dessa leguminosa (CONAB, 2011). Esta cultura é cultivada em praticamente todos os estados brasileiros, com maior ou menor expressão de área colhida e com os mais variados níveis tecnológicos e sistemas de produção (BORÉM e CARNEIRO, 2006). Os principais Estados produtores de feijão de corda são Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Bahia, os quais respondem por mais de 65% da produção nacional. Atualmente, toda a produção nacional de feijão, que alcança três milhões de toneladas anuais, resume-se nas variedades carioca e preta, segundo a EMBRAPA (2005). WANDER (2005) observa que a produção brasileira de feijão tem sido insuficiente para abastecer o mercado interno, devido à redução na área plantada da ordem de 35% nos últimos 17 anos. Mesmo com o aumento de 48% na produtividade, verificado neste período, 1

2 ainda registrou-se uma diminuição de 4% na produção, não sendo suficiente para atender à demanda. É reconhecida como cultura de subsistência em pequenas propriedades, muito embora tenha havido, nos últimos 20 anos, crescente interesse de produtores com grandes áreas de terra adotando tecnologias avançadas, incluindo o sistema de irrigação. ZIMMERMANN et al. (1988) esclarecem que os problemas que influenciam na comercialização do produto não mudaram muito nas últimas décadas, pois a oscilação dos preços do produto pago ao agricultor continua variando de uma safra para outra. Atualmente, a comercialização, conforme observa WANDER (2005), é a mais variada possível, com predomínio de um pequeno grupo de atacadistas que concentra a distribuição da produção, gerando, muitas vezes, especulações quando ocorrem problemas na produção. O objetivo deste estudo foi avaliar se a prática de raleamento tem viabilidade econômica na cultura do feijão caupi colhido em vagens verdes em função dos preços praticados na região do Cariri Cearense. Material e Métodos O experimento foi realizado no Sitio Pintado no município de Missão Velha-Ceará, com localização geodésica definida pelas coordenadas 07º14 latitude sul e 39º08' longitude oeste, com altitude média de 360 m. A região apresenta temperatura média anual de 26ºC, umidade relativa média de 62%, precipitação média anual de 930 mm e pressão atmosférica de 96,8 kpa. O clima da região, segundo a classificação de Köeppen, é do tipo Bsh, definido como semiárido quente. O solo da área experimental foi classificado como Argissolo Amarelo de textura franco-arenosa. A seguir serão detalhadas todas as atividades realizadas para a produção do feijão caupi na região do Cariri cearense. Para o preparo do solo foi utilizado um trator com tração 4 x 2 da marca Ford, modelo 5610 com potência no motor de 62,56 kw (85 cv) e uma grade leve em tandem com 12 discos recortados e largura de 1,5 m. Foi determinada a capacidade de campo operacional (CCO) com base na largura de trabalho real da grade, na velocidade real de deslocamento do conjunto e da eficiência de campo da grade, segundo BALASTREIRE (1987). A semeadura foi realizada manualmente com matraca depositando três sementes por cova, com espaçamento entre fileiras de 50 cm e com população inicial de plantas por hectare. A quantidade de sementes utilizadas foi calculada em função da massa de mil sementes e o número de sementes utilizadas por hectare, em função da população inicial desejada. O custo da semente foi de R$ 5,00 o quilo. Foi realizado o desbaste manual em função da emergência de duas ou três plantas de feijão por cova, visando deixar no campo apenas uma planta por cova em parte do experimento, enquanto que em outras parcelas não foi feito o raleamento. Em todas as parcelas foi necessária a aplicação de inseticida Lorsban 480 BR, para controle do pulgão e mosca branca, pragas chave da cultura. Tal aplicação foi realizada em duas épocas, sendo a primeira no dia 30/08/2012 (20 DAS) e a segunda no dia 19/09/2012 (40 DAS). Na primeira aplicação foram utilizados 0,6 L/ha e na segunda 0,7 L/ha. O custo do inseticida no mercado local foi de R$ 35,00 por litro. Esta atividade foi realizada manualmente com pulverizador costal com tanque com capacidade de 20 L de calda. Foram realizadas duas capinas, sendo a primeira no dia 24/08/2012 (14 DAS) e a segunda no dia 2

3 17/09/2012 (38 DAS). Tal atividade foi realizada manualmente com enxada. Durante a condução da cultura do feijão caupi não ocorreram precipitações atmosféricas, portanto, a cultura foi irrigada por 2 horas a cada três dias, totalizando 23 dias e/ou 46 horas com o sistema de irrigação ligado durante o ciclo da cultura. Para a irrigação foi utilizado um motor de 2 cv de potência. O sistema de irrigação possuía 2 aspersores com capacidade de irrigar uma área de 405 m 2. Para a determinação do consumo de energia, os tempos gastos foram extrapolados para um hectare. A colheita foi realizada manualmente em três momentos com as vagens verdes, em função da maturação desuniforme, para colher um produto com melhor qualidade. Foram determinados os custos das atividades envolvidas na cultura do feijão caupi (Vigna unguiculata) para ser comercializado verde em sacos de 25 kg, considerando o uso do raleamento ou não para reduzir a competição entre as plantas. Ressalta-se que os agricultores da região não realizam o desbaste por considerarem uma prática demorada e cansativa, sem trazer rendimentos significativos. Os custos do aluguel do trator e grade para o preparo do solo foi de R$ 70,00 a hora de trabalho, valor praticado na região do Cariri-CE. O valor das diárias foi de R$ 25,00 para oito horas de trabalho diário, sendo este valor praticado pelos produtores rurais da região do Cariri cearense. Em função da seca ocorrida no Cariri cearense, os preços do saco de 25 kg de feijão caupi em vagens verdes atingiu valores médios de comercialização no ano agrícola de 2012 de R$ 80,00, porém em anos normais, a média de preço praticado é de R$ 40,00, podendo ser vendido a R$ 20,00 quando ocorre grande oferta. Desta forma, foi analisada a viabilidade econômica da produção de feijão caupi com os três valores observados na região. Resultados e Discussão Na tabela 1, verificam-se os custos para a produção de um hectare de feijão caupi em função da prática de raleamento, observa-se que o preparo do solo, semeadura, capinas e pulverizações foram iguais nas duas operações em virtude de ser independente da prática de raleio. Porém com o manejo de raleamento houve um acréscimo nos custos de R$113,35 por hectare. Outra operação que sofreu influência do raleamento foi a colheita, pois o número de plantas e produtividade interferiram diretamente nos custos desta atividade. Verifica-se que na primeira e segunda colheitas, foram obtidos maiores custos com a prática de raleio em função da maior produtividade alcançada nestes períodos, fato que foi invertido na terceira colheita, pois devido a maior competição na área sem raleio, a maior produção foi observada na terceira colheita, fato que, aliado a maior dificuldade e demora na colheita em função do maior número de plantas por cova, elevaram os custos. Os custos com insumos, tais como, sementes, defensivos químicos e energia elétrica foram iguais para os dois manejos uma vez que, a quantidade inicial de sementes foi igual, pois o raleio ocorreu apenas 15 dias após a semeadura bem como a quantidade de inseticida e de irrigação ter sido realizada da mesma forma. No entanto quando se observa a produtividade, nota-se que quando se utiliza a prática de raleamento eleva a produtividade em 21%, fato que contradiz a sabedoria popular dos agricultores que acreditam que essa prática não é significativa. Analisando-se as receitas e lucros em função da grande variação nos preços praticados na região do Cariri 3

4 Cearense no ano agrícola de 2012, observa-se que, mesmo para os menores preços praticados na região, o cultivo de feijão caupi em vagens verdes é viável economicamente, com lucro de R$ 476,41 com a prática de raleio, valor 275% superior a não realização desta prática (R$ 126,91). O aumento na lucratividade da cultura com a prática de raleio é mais evidente com a elevação nos preços praticados para R$ 80,00 o saco de 25 kg. Nesta situação, o lucro foi R$ 1609,50 superior para a prática de raleamento. Tabela 1. Análise da viabilidade econômica da cultura do feijão caupi na região do cariri cearense em função da população inicial. CUSTOS E RECEITAS COM RALEAMENTO SEM Custo com Operações Preparo do Solo 107,80 107,80 Semeadura 40,25 40,25 Raleamento 113,25 0 Primeira Capina 220,00 220,00 Segunda Capina 202,50 202,50 Primeira Pulverização de inseticida 57,75 57,75 Segunda Pulverização de inseticida 77,25 77,25 Primeira Colheita 235,75 171,50 Segunda Colheita 278,75 225,00 Terceira Colheita 182,25 343,00 Total Custo com Operações 1515, ,05 Custo com Insumos Sementes de feijão caupi 198,00 198,00 Inseticida Lorsban 480 BR 45,50 45,50 Energia elétrica 384,54 384,54 Total Custo com Insumos 628,04 628,04 CUSTO TOTAL 2143, ,09 PRODUTIVIDADE (sc 25 kg/ha)

5 RECEITA (R$ 20 por sc 25 kg) 2620, RECEITA (R$ 40 por sc 25 kg) 5240, RECEITA (R$ 80 por sc 25 kg) 10480, LUCRO (R$ 20 por sc 25 kg) 476,41 126,91 LUCRO (R$ 40 por sc 25 kg) 3096, ,91 LUCRO (R$ 80 por sc 25 kg) 8336, ,91 Conclusões Conclui-se que existe viabilidade econômica da prática de raleamento na cultura de feijão caupi, de forma que quando se utiliza o raleamento, ou seja, deixando apenas uma planta por cova, mesmo para os menores preços praticados no mercado local, o lucro é superior às áreas que não foi realizado esta operação. Referências BORÉM, A.; CARNEIRO, J. E. S. A cultura. In: VIEIRA, C.; PAULA JÚNIOR, T. J.; BORÉM, A. Feijão. 2. ed. atual. e ampl. Viçosa, MG: Ed. UFV, p EMBRAPA AGÊNCIA DE INFORMAÇÃO DO FEIJÃO Disponível em: < Acesso em: 26 maio WANDER, A.E. Cultivo do feijão irrigado na região noroeste de Minas Gerais. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, Disponível em: < Acesso em: jun ZIMMERMANN, M.J.de O.; ROCHA, M.; YAMADA, T. Cultivo do feijoeiro: fatores que afetam a produtividade. Piracicaba: Potafos, p. 5

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