A IMPORTÂNCIA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E SUA APLICAÇÃO NAS EMPRESAS DE PETRÓLEO
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- Neuza Amarante Chaves
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROJETO DE FIM DE CURSO Autor: Beatriz Cabral Cezar Camila Neves Martins A IMPORTÂNCIA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E SUA APLICAÇÃO NAS EMPRESAS DE PETRÓLEO Aprovado por: Guilherme Marques Calôba, D. Sc. Rio de Janeiro Maio de
2 CEZAR, BEATRIZ CABRAL MARTINS, CAMILA NEVES A IMPORTÂNCIA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E SUA APLICAÇÃO NAS EMPRESAS DE PETRÓLEO [Rio de Janeiro] 2005 (DEI-POLI/UFRJ, Engenharia de Produção, 2005). p. viii 29,7 cm Projeto de Formatura Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Industrial, Curso de Engenharia de Produção 1 - Responsabilidade Social, 2 Petróleo. ii
3 AGRADECIMENTOS Gostaríamos de agradecer ao Professor Regis pelo apoio, amizade, disponibilidade e liberdade de expressarmos aquilo que pensamos. Ao Corpo Docente da Faculdade de Engenharia de Produção da UFRJ. São responsáveis pela criação de muitos dos nossos valores. Sem a estrutura criada pela vida acadêmica não seríamos pessoas bem formadas e responsáveis. À Agência Nacional do Petróleo - ANP pelo Programa de Recursos Humanos da ANP para o Setor Petróleo e Gás Natural. É um exemplo de oportunidade para os jovens profissionais pois é um formação única de recursos humanos para o Setor de Petróleo e Gás, no qual a autora Camila Martins teve a oportunidade de participar. Aos nossos pais, familiares e amigos. Sempre estão ao nosso lado nos bons e maus momentos. Às vezes nos dão alento. Outras vezes nos fazem refletir. Porém sem a existência dessas pessoas a vida não se justifica de maneira plena e rica. Agradecemos a nossa amiga Luciana Bastos por sua dedicação e lealdade. Sempre presente em momentos críticos e de desespero não sabemos nem como recompensá-la por tais atitudes. iii
4 Resumo do Projeto de Fim de Curso apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Industrial da Universidade Federal do Rio de Janeiro como um dos requisitos necessários para a obtenção de grau de Engenheiro de Produção. A IMPORTÂNCIA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E SUA APLICAÇÃO NAS EMPRESAS DE PETRÓLEO Beatriz Cabral Cezar Camila Neves Martins Maio/2005 Orientador: Regis da Rocha Motta Palavras-chave: 1 - Responsabilidade Social, 2 Petróleo. A responsabilidade social está ganhando espaço no mercado. Sua importância está em foco na estratégia do mercado e tem um futuro promissor na realidade mundial. São elaboradas novas normas e regulamentações para materializar a idéia de responsabilidade social. A elaboração de indicativos sociais, assim como a exposição de balanço social das empresas demonstra uma mudança na postura do mercado. Acidentes e escândalos incentivam um desenvolvimento da responsabilidade das empresas com a sociedade. Uma análise dos indicativos sociais e do balanço social será realizada e uma tentativa de medir a eficiência das ações sociais das empresas será desenvolvida. Depois da quebra do monopólio de exploração da Petrobrás no mercado brasileiro, várias empresas estrangeiras entraram no país. Uma nova preocupação surgiu no setor que antes era totalmente nacional. Há uma grande preocupação perante a postura e as ações dessas empresas na realidade brasileira. Através da análise dos dados da indústria de petróleo, será desenvolvido um trabalho baseado em métodos para traçar um perfil e perspectiva da indústria. Os resultados serão comparados com a realidade de outros segmentos de mercado. iv
5 SUMÁRIO 1 ANÁLISE DO TEMA: RESPONSABILIDADE SOCIAL COMO SURGIU A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA TIPOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL BENEFÍCIOS EMPRESARIAIS CENÁRIO ATUAL O BALANÇO SOCIAL O QUE É BALANÇO SOCIAL ORIGENS DO BALANÇO SOCIAL MODELO PROPOSTO PELO IBASE OUTRAS INSTITUIÇÕES E INDICADORES SOCIAIS O Instituto Ethos Observatório Social SA GRI Global Reporting Initiative RESPONSABILIDADE SOCIAL E A INDÚSTRIA DE PETRÓLEO IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO EM RSE A ESTRUTURA DO SETOR NO BRASIL A LEI 9.478/97 LEI DO PETRÓLEO MUDANÇAS NO SETOR A ANP A PET ROBRÁS E A ANP PARTICIPAÇÕES GOVERNAMENTAIS A RESPONSABILIDADE SOCIAL NO SETOR CENÁRIO ATUAL CASO URUCU E QUISSAMÃ CIDADE DE URUCU NASCIMENTO COM O PETRÓLEO FISCALIZAÇÃO EM URUCU IMPACTO SOCIAL EM URUCU E ARREDORES A RIQUEZA DE URUCU E O GASODUTO URUCU-PORTO VELHO QUISSAMÃ E SUA HISTÓRIA ECONOMIA DE QUISSAMÃ TRANSFORMAÇÕES SÓCIO-ESPACIAIS O NOVO RUMO IMPLEMENTAÇÃO DA PETROBRÁS A NOVA REALIDADE DE QUISSAMÃ CONCLUSÃO...63 SITES CONSULTADOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS OBRAS CONSULTADAS ANEXO ANEXO v
6 LISTA DE SIGLAS RSE Responsabilidade Social Empresarial FMI Fundo Monetário Internacional ONG Organizações Não-Governamental USP - Universidade de São Paulo CPT - Comissão Pastoral da Terra TCU - Tribunal de Contas da União IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis EIA/RIMA - Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental UNBSOL Unidade de Negócios de Exploração e Produção da Bacia do Solimões UPGN - Unidade de Processamento de Gás Natural REMAN - Refinaria de Manaus BOE Barril de Óleo Equivalente IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas ANP Agência Nacional do Petróleo ADCE - Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas ONU Organização das Nações Unidas CVM - Comissão de Valores Mobiliários CUT - Central Única dos Trabalhadores CEDEC - Centro de Estudos de Cultura Contemporânea DIEESE - Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos UNITRABALHO - Rede Inter-Universitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho OIT - Organização Internacional do Trabalho SA - Social Accountability GRI Global Reporting Initiative IBP - Instituto Brasileiro de Petróleo CNP - Conselho Nacional do Petróleo FRONAP Frota Nacional de Petroleiros BS Balanço Social vi
7 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 As 5 Forças de Porter Figura 2 Figura 3 Estrutura de petróleo e gás natural em Urucu Vista de vilarejo ribeirinho na Amazônia Figura 4 Figura 5 Vista aérea de clareira para a perfuração de um poço em Urucu Mapa do Norte Fluminense vii
8 INTRODUÇÃO A responsabilidade social no ambiente empresarial está sendo muito exigida pela sociedade e pelo governo. Esse aspecto está cada dia mais sendo materializado e dividido entre vários segmentos da sociedade. Atualmente, há uma grande interação entre as 3 maiores partes atuantes nesse processo: governo, empresa e sociedade. A sociedade está cada vez mais exigente e consciente, atenta aos acontecimentos e preocupada com o futuro do planeta. Não quer consumir produtos que sejam elaborados a partir da degradação do meio ambiente. Não toleram empresas que praticam casos de preconceitos ou racismo, ou ainda, qualquer abuso ou discriminação relacionada às mulheres, à exploração da mão-de-obra infantil, aos deficientes etc. Segundo Torres (1998) tais problemas vão ficando cada vez mais difíceis de se ocultar neste mundo globalizado. Quando se imagina a figura da responsabilidade social o retrato de atos de filantropia vem a cabeça. Ações e projetos sociais feitos pelas empresas resumem na maioria das vezes a preocupação corporativa com as questões sociais. A responsabilidade social é o conjunto de ações que as organizações praticam em resposta à demanda e às necessidades de todos que estão de maneira direta ou indireta em contato com a empresa. A utilização de várias bases teóricas (livros especializados no assunto) e a coleta de dados de inúmeros Institutos que são referências em assuntos de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável, faz com que escopo desse trabalho seja muito diversificado. Há o intuito de mostrar um panorama da responsabilidade social internamente nas empresas (através das ações de todo o corpo de funcionários) e fora desta. Este trabalho mostra a importância atual da responsabilidade social empresarial como um tema cada vez mais fundamental e presente no comportamento das organizações e de seus acionistas, de forma a exercer impactos nos objetivos e no estabelecimento das estratégias das empresas. 1
9 A realidade das empresas de petróleo mostra uma grande preocupação com as questões ambientais. Grandes desgraças no exterior já assustaram a humanidade como, por exemplo, um dos maiores acidentes aconteceu com o petroleiro Exxon-Valdez em 1989, quando o vazamento destruiu parte da fauna da costa do Alasca. No capítulo 1 é feita uma revisão bibliográfica sobre o tema responsabilidade social, ressaltando a sua importância e os benefícios gerados para as empresas. Encontra-se uma visão do cenário nacional das empresas quanto à responsabilidade social. Abrangendo todos os setores da Economia, são explicitadas a participação, adesão e consciência das empresas. No capítulo 2 é estudada a metodologia para a elaboração de um balanço social. São apresentados os indicadores utilizados para avaliar uma empresa. No capítulo 3 a responsabilidade social é inserida dentro do contexto das empresas do petróleo. É feito um rápido estudo sobre este tipo de indústria, sua legislação, áreas de atuação e impactos ambientais. No capítulo 4 são apresentados casos reais sobre a mudança de regiões decorrente a descoberta do petróleo. São descritos os benefícios e os problemas causados pelo desenvolvimento dessa atividade. 2
10 1 ANÁLISE DO TEMA: RESPONSABILIDADE SOCIAL 1.1 Como Surgiu A Responsabilidade Social Corporativa Podemos explicar a origem da responsabilidade social analisando o propósito inicial do mercado. Segundo SCHROEDER (2004) 1, inicialmente, o mercado foi concebido como grande fonte de melhoria da condição humana, mas provou não ser o que se idealizou. Seu grande foco passou a se concentrar excessivamente na geração de lucro, e a condição humana e social, que deveria ser o propósito de todas as instituições, passou a ser colocada em segundo plano. Restava ao Estado assumir, então, o papel de garantir as necessidades básicas do cidadão. Porém, o Estado, com seus serviços de baixa qualidade, aliados à falta de recursos financeiros, teve dificuldades para atender às demandas sociais que se lhe apresentavam. Esse fato gerou uma crise de confiança na capacidade do Estado, exigindo a busca de novas alternativas para o suprimento das necessidades sociais. Inseridas nesse contexto, as empresas encontraram lugar para exercer um papel diferenciado do tradicional: de provedoras de bens e de serviços, elas foram reconhecidas pela sociedade como grandes exportadoras e geradoras de riquezas materiais, e viu-se que elas também poderiam e deveriam assumir mais responsabilidades perante a sociedade, participando de causas sociais. Assim, a falência do Estado como fonte provedora do bem-estar social, juntamente com a escassez de empregos - especialmente no final do século XX -, abriram espaço e necessidade para o fenômeno da responsabilidade social corporativa. A empresa, então, deixou de ser apenas a produtora de bens e de serviços, influenciando e participando diretamente de outras dimensões sociais. 1 Este tópico baseia-se em SCHROEDER (2004), exceto quando mencionado. 3
11 Atualmente, esta questão da participação das empresas privadas na solução de necessidades públicas ainda é muito discutida. Pode-se observar que muitas têm levado a sério suas relações com a comunidade, com o meio ambiente e com o próprio corpo de funcionários. Porém há quem afirme que a responsabilidade das empresas privadas na área pública limita-se ao pagamento de impostos e ao cumprimento das leis. Correntes ligadas à visão econômica clássica, A mão invisível de Adam Smith, defendem o desempenho econômico e a maximização dos lucros como a única responsabilidade das empresas para com a sociedade. Para FRIEDMAN (1970) apud ASHLEY (2003, P.10) gerar novos empregos, pagar salários justos, melhorar as condições de trabalho e pagar impostos são contribuições suficientes que as empresas podem dar ao desenvolvimento e a melhoria da sociedade. Lima Gonçalves (1984) defende idéia dizendo que aos poucos se cristaliza a idéia de que a otimização do lucro não pode permanecer o objetivo único da atividade empresarial ; salienta-se que a empresa existe para o cumprimento de objetivos de natureza econômica e de natureza social. Para as empresas, como grandes centros de poder e detentoras de grandes volumes de recursos financeiros e humanos, têm papel fundamental no combate a essas questões estruturais. Pois, assumindo causas sociais, as empresas estariam devolvendo à sociedade parte dos recursos humanos, naturais e financeiros que consumiram para aumentar o lucro de suas atividades. A responsabilidade social torna -se, portanto, abrangente, implicando um dever cívico diante de toda a cadeia produtiva da empresa: clientes, funcionários e fornecedores, além da comunidade, da sociedade como um todo e com o meio-ambiente. 4
12 1.2 Tipos De Responsabilidade Social A responsabilidade social pode ser vista como um compromisso ético a fim de criar valores para todos os pontos da sociedade: clientes, funcionários, acionistas, governo, meio ambiente (Instituto Ethos, site oficial). A responsabilidade social empresarial é um movimento crescente no Brasil e no mundo, que tem na adesão voluntária das empresas a sua maior força. Vários pontos estão sendo discutidos e apurados por entidades governamentais e empresas particulares. Pelo ponto de vista econômico podemos ter um panorama com uma realidade diferente para cada tipo de empresa. Para entidades do terceiro setor, o fator econômico pode ser um fator pouco relevante quando comparado ao valor da ética e da filantropia. Para empresas do mercado a questão da responsabilidade social ainda está muito ligada a maiores custos e não a uma visão estratégica em busca do lucro. Adequações impostas pela lei e uma revisão das atitudes de uma empresa implicam em grandes custos, sem nenhuma garantia de lucro em um curto prazo. O papel do Governo nas ações de responsabilidade social está cada vez mais se difundindo. Alguns anos atrás, a sociedade só cobrava do Governo melhorias no plano social. Atualmente, todos os cidadãos têm seu papel e sua responsabilidade com a sociedade. Essa conscientização foi formalizada e atualmente muitas normas legais da área social devem ser cumpridas por todas as empresas para não serem punidas. Normas regulamentadoras e uma parcela mínima de investimentos sociais são alguns exemplos dessas realidades. Há uma grande tendência de confusão entre filantropia e responsabilidade social. A Filantropia de ações sociais externas da empresa, tendo como beneficiária a comunidade (conselhos comunitários, organizações não-governamentais, associações comunitárias etc.) e organização. A responsabilidade social foca a cadeia de negócios da empresa e engloba preocupações com acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, 5
13 consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente cujas demandas e necessidades a empresa deve buscar entender e incorporar em seus negócios. Assim, a responsabilidade social trata diretamente dos negócios da empresa e como ela os conduz. De acordo com o presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew um dos idealizadores e membro do Comitê Organizador e do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial - A filantropia é apenas parte da Responsabilidade Social. Mas não adianta promover uma ação social isolada, se a companhia joga lixo no rio ou é conivente com atos de corrupção, O conceito de Responsabilidade Social também não se confunde com o de marketing social, cujo principal objetivo é alavancar os negócios da empresa através da divulgação de uma imagem positiva perante a opinião pública e o consumidor 6
14 1.3 Benefícios Empresariais Toda empresa é uma comunidade de pessoas voltadas à produção, administração e/ou serviços. A relação com outras empresas, bancos, setores do poder público e a mídia é extremamente importante para o sucesso de qualquer negócio. Se os pontos de partida de uma empresa são a criatividade e o investimento do empresário, o ponto de chegada é o público. O equilíbrio dá-se entre esses dois pontos 2. Para o empresário, sua empresa pode ser apenas uma galinha dos ovos de ouro, destinada a multiplicar o patrimônio de sua família. Para o público, a empresa é sempre encarada como um serviço. Uma empresa é a qualidade de seu produto ou serviços, somada à imagem que projeta na opinião pública. Essa imagem é tão importante a ponto de mobilizar bilhões de dólares anuais, através de agências de publicidade e veículos da mídia. Uma empresa que mantém duas caras sabe que corre o sério risco de desabar sob a perda de credibilidade. Qualquer deslize pode prejudicar eternamente a uma boa imagem de uma empresa no mercado. É muito difícil encontrar solidariedade entre empresas. O capitalismo parece ser uma grande guerra sem muitas regras. Por outro lado, as relações com o poder público e os bancos também não são nada fáceis. A burocracia emperra os negócios; sem lobby não se avança, os fiscais nem sempre atuam com transparência. Um bom relacionamento com todas essas frentes facilita muito um andamento de sucesso de qualquer dos negócios. Uma empresa convencida de sua responsabilidade social não se restringe a cumprir rigorosamente as leis trabalhistas. Ela avança na direção de constituir-se numa comunidade. Transformar a empresa numa comunidade não consiste apenas em recusar mão-de-obra infantil e oferecer aos funcionários condições dignas de trabalho e benefícios. Se a empresa oferece à família oportunidades de educação e lazer, serviços de saúde e qualificação profissional, possivelmente ela caminhará para se transformar em comunidade. 2 Frei Betto, Valor Econômico, Empresas & Tecnologia, 25 de abril de 2001, pág B2 7
15 A elevação do clima de confiança terá seu reflexo no bom andamento da empresa. Podemos observar alguns benefícios 3 responsabilidade social: para empresas que investem fortemente em? Fortalece a lealdade à empresa, ajudando a atrair e manter bons funcionários;? Agrega valor ao clima organizacional;? Aumenta a satisfação dos funcionários;? Proporciona maior motivação e confiança para a resolução dos problemas na empresa;? Incentiva a criatividade, a confiança, a persistência e o trabalho em grupo;? Funcionários voluntários ajudam a garantir o bom aproveitamento de recursos doados ou investidos;? Promove a marca da empresa e dos seus produtos ou serviços, através do reforço positivo da imagem, junto ao público beneficiado e aos seus clientes em geral;? Favorece o maior reconhecimento e valorização dos consumidores;? Promove resultados eficazes e duradouros com custos financeiros mínimos;? Demonstra o compromisso da empresa com o crescimento do país. Por um outro ponto de vista, a responsabilidade social também muda a postura dos funcionários:? Possibilita a prática de novas funções e o desenvolvimento de habilidades pessoais e profissionais;? Fortalece o espírito de equipe;? Promove a lealdade, satisfação, respeito e admiração à empresa e ao local de trabalho;? Estimula o crescimento pessoal. Em relação à sociedade podemos observar mudanças como:? Melhora a qualidade de vida de um grupo ou comunidade;? Contribui para a redução dos problemas sociais
16 1.4 Cenário Atual Apesar da relação entre empreendedor e mercado ser muito forte há uma série de relações que devemos considerar nesse ambiente. Uma empresa não pode ignorar a conjuntura social e histórica em que se situa. Como uma família, ela deve possuir um código de ética, que deve valer tanto para a vida interna da empresa, quanto para a sua inserção no contexto social em que se encontra. Qualquer empresa estabelecida no Brasil (sendo ela brasileira ou estrangeira) terá que saber lidar com problemas sociais. Há 170 milhões de habitantes, dos quais 64 milhões são trabalhadores e, desses, 8% encontram-se desempregados. Em 2004, só 61,3% têm carteira de trabalho assinada. O índice de 1992 era de 64%. Enquanto na Europa a distância salarial/de renda entre os mais ricos e os mais pobres é de 1 para 9, aqui é de 1 para 30. Segundo o IBGE 4, a participação dos 10% mais ricos na renda nacional é de 45,7%. A pobreza que atinge 52 milhões de brasileiros, somada à miséria de mais 35 milhões totaliza 87 milhões. Não podemos apontar culpados nem justificar a situação por alguns fatos comprovados. Não é a cultura do país, condições climáticas ou a falta de bom senso que explica as dificuldades do país. Podemos constatar que há uma história que insiste manter o Brasil como nação periférica, dependente e excludente. Forças governamentais nunca promoveram de fato a reforma agrária, apesar dos 600 milhões de hectares agricultáveis. Mesmo considerando que a zona rural abriga apenas 20% da população brasileira, é a agricultura que mais emprega mão-de-obra, cerca de 23%, bem acima da indústria de transformação, que caiu de 28% para 12%, e pouco acima dos serviços, com 20% da população economicamente ativa. Ainda há muitas ações focadas na realidade brasileira para serem desenvolvidas. Além de uma política agrícola polêmica para a realidade do país, o governo possui planos de privatizações que ganha muitos opositores a cada dia. O FMI tem um grande poder de 4 9
17 influência nas atitudes do Brasil. Há uma grande dívida externa do país e essa situação é muitas vezes a justificativa para um não haver um maior nível de investimento interno do governo (em infra-estrutura, por exemplo) pois há uma necessidade de pagamento do serviço (juros e amortização) dessa dívida externa. A globalização exige maior estreitamento de relações comerciais entre países. A carga tributária do Brasil equivale a 35% do PIB 5, uma das mais altas entre todos os países, sobretudo considerando a baixa qualidade dos serviços oferecidos pelo governo. Nessa conjuntura, o que significa responsabilidade social da empresa? Em primeiro lugar, envolver-se com projetos que visem minorar as contradições sociais, como propõe o Instituto Ethos e fazem a Fundação Abrinq, a Fundação Roberto Marinho e tantas outras instituições e empresas. Há bons exemplos de empresas com responsabilidade social, os quais investem na cidadania de seus quadros, ampliando o nível de cultura e de consciência cívica. A Ford do Brasil criou a Gerência de Responsabilidade Social e, em termos concretos, apóia entre outros projetos ambientais e educacionais, o programa governamental de Alfabetização Solidária. O Brasil é um país com um grande número de movimentos sociais. Todos eles, dos que atuam junto aos sem-terra ou sem-teto, aos que se empenham em questões ecológicas, precisam de parceria com empresas. Isso traria benefícios para ambos os lados. Mas, para que se torne realidade, faz-se necessário quebrar tabus e preconceitos. Podemos observar, no contexto atual, que houve uma mudança no mercado. As empresas começaram a tomar atitudes para o desenvolvimento do seu lado social. No setor de petróleo não foi diferente. Empresas como a BP e a Shell fizeram uso de instrumentos de relações públicas para garantir o desenvolvimento sustentável (CARVALHO, 2003). As demandas do mercado e público fizeram parte da mudança da visão das empresas. Uma
18 grande preocupação com o meio ambiente e com o social passou a ter um papel estratégico para as empresas. 11
19 2 O BALANÇO SOCIAL Neste capítulo apresentamos o balanço social como uma forma de demonstração dos resultados obtidos pelas empresas no plano social. Utilizaremos como base o modelo desenvolvido pelo IBASE, mas será mencionado, também, o relatório de sustentabilidade proposto pelo GRI (Global Reporting Initiative). O motivo de se apresentar o balanço social neste trabalho é que é a partir deste que podemos avaliar e analisar os desempenhos, na área social, das empresas de petróleo. Segundo HERBERT DE SOUZA (BETINHO) A idéia do Balanço Social é demonstrar quantitativa e qualitativamente o papel desempenhado pelas empresas no plano social, tanto internamente quanto na sua atuação na comunidade. Os itens dessa verificação são vários: educação, saúde, atenção à mulher, atuação na preservação do meio ambiente, melhoria na qualidade de vida e de trabalho de seus empregados, apoio a projetos comunitários visando a erradicação da pobreza, geração de renda e de novos postos de trabalho. 12
20 2.1 O Que É Balanço Social O Balanço Social é um documento publicado anualmente reunindo um conjunto de informações sobre as atividades desenvolvidas por uma empresa, em promoção humana e social, dirigidas a seus empregados e à comunidade onde está inserida. Através dele a empresa mostra o que faz pelos seus empregados, dependentes e pela população que recebe a sua influência direta. Segundo o INSTITUTO ETHOS (2004) o balanço social é uma ferramenta de gestão e de diálogo com partes interessadas. Utilizado como ferramenta de gestão pois, na medida em que seja utilizado para a consolidação de práticas empresariais que estejam inseridas num processo maduro de diagnóstico, planejamento e implementação, avaliação e transparência de suas ações, resulta em um documento que revela os resultados que a organização obteve e as metas a que se propõe para o ciclo seguinte. Utilizado como um instrumento de diálogo com as partes interessadas, pois é a comunicação das oportunidades e desafios sociais, econômicos e ambientais em superioridade à simples resposta a uma solicitação de informação. O Balanço Social, por ser um instrumento de demonstração do que se passa com uma empresa, não deve refletir o que não foi feito. Segundo Cândido Grzybowski 6 O Balanço social não é apenas um relatório institucional, necessário e legítimo. Mas é demonstração com dados transparentes, mensuráveis, como é próprio de um balanço, como tal. Embora tenha sua origem na contabilidade, não pode ser confundido com a vitalidade econômica da empresa, medida por clássicos indicadores de seu desempenho econômicofinanceiro e investimento tecnológico. É preciso que as empresas demonstrem, com indicadores claros, o cumprimento de sua responsabilidade social. O Balanço Social favorece a todos os grupos que interagem com a empresa. Aos dirigentes fornece informações úteis à tomada de decisão, no que se refere aos programas sociais. Os 6 Cândido Grzybowski, sociólogo, diretor do IBASE. 13
21 indicadores do balanço social estimulam a participação voluntária dos empregados na escolha dos programas sociais da empresa, acarretando em um grau mais elevado de integração nas relações entre dirigentes e funcionários. Aos fornecedores e investidores informa como a empresa encara suas responsabilidades quanto aos seus recursos humanos, o que é um indicador da forma como a empresa é administrada. Para os consumidores fornece uma idéia da mentalidade dos dirigentes da empresa, que se associa à qualidade do produto ou serviço oferecido. Ao Estado ajuda na formação das políticas públicas. Para JOÀO SUCUPIRA (1998) publicar o balanço social é mudar a visão tradicional, em que a empresa deveria tratar apenas de produzir e obter lucro, ignorando o seu ambiente interno (qualidade das relações e condições de trabalho) e ambiente externo (sociedade e meio ambiente); para uma visão moderna em que os objetivos da empresa incorporam sua responsabilidade. 14
22 2.2 Origens Do Balanço Social Na década de 60, nos Estados Unidos, surgiu a preocupação por parte das empresas em prestar informações ao público sobre suas atividades no campo social 7. O repúdio da população à guerra do Vietnã deu início a um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações de empresas que, de alguma forma, estavam ligadas a esse conflito armado. Várias instituições da sociedade civil passaram a denunciar o uso de armamentos sofisticados que dizimavam civis inocentes, afetavam negativamente o meio ambiente e colocavam em risco a própria sobrevivência do homem no planeta. Visando reagir às pressões da sociedade, que exigia nova postura ética, as empresas passaram a prestar contas de suas ações justificando seu objetivo social, com o intuito de melhorar a sua imagem junto aos consumidores e acionistas. A pressão dos cidadãos dos cidadãos através de associações, sindicatos, clubes de investidores e, conseqüentemente, a resposta das empresas, elaborando e divulgando relatórios com informações de caráter social, resultou no referido Balanço Social. Ainda na década de 60, no Brasil começou a ser discutida a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE). Um dos princípios desta associação baseia-se na aceitação por seus membros de que a empresa, além de produzir bens e serviços, possui a função social que se realiza em nome dos trabalhadores e do bem estar da comunidade. Em 1965 a ACDE lança a Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresa. Em 1971, com a Resolução do Conselho Econômico e Social da ONU, iniciam-se estudos sobre o papel e os efeitos das multinacionais no processo de desenvolvimento dos países emergentes e sua interferência nas relações internacionais, e discute-se a criação de um Código de Conduta dirigido às empresas transnacionais. A empresa Singer, em 1972, publica o que foi reconhecido como o primeiro balanço social no mundo. 7 As informações contidas neste tópico foram extraídas do Guia de Elaboração do Balanço Social 2004 emitido pelo Instituto Ethos e da revista Orçamento & Democracia - edição de junho de
23 Se as empresas americanas foram as pioneiras na prestação de contas ao público, foi a França a primeira nação a tornar obrigatória a sua publicação. A partir dos anos 70, também como resultado das pressões sociais, as empresas francesas deram início à publicação de quadros com dados relativos à gestão do pessoal, às condições sociais, juntamente com as tradicionais demonstrações financeiras. A lei nº / 77 tornou obrigatória a elaboração do balanço social para empresas, primeiramente com mais de 750 empregados e em 1982 a obrigatoriedade passou a valer para empresas com 300 empregados ou mais. Em 1977 mereceu destaque a ponto de ser tema central do 2º Encontro Nacional de Dirigentes de Empresas. Mas somente em 1984 é publicado o primeiro balanço social de uma empresa brasileira, a Nitrofértil. Oito anos depois, o Banco do Estado de São Paulo (Banespa) publica um relatório completo divulgando todas as suas ações sociais; e a partir de 1993, várias empresas de diferentes setores passam a divulgar o balanço anualmente. Mas a proposta só ganha maior destaque na mídia e visibilidade nacional quando o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lança, em 16 de junho de 1997, uma campanha pela divulgação do balanço social. Com o apoio de lideranças empresariais, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia do Ministério da Fazenda que fiscaliza as bolsas de valores; da Gazeta Mercantil, o mais importante jornal especializado em economia e negócios do Brasil; de muitas empresas (Xerox, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Glaxo Wellcome, Usiminas, entre outras); e de suas instituições representativas (Firjan, Abrasca, Abamec, Febraban, Associação Comercial do Rio de Janeiro), a campanha decolou e vem suscitando uma série de debates através da mídia e em seminários, encontros e simpósios. Em novembro de 1997, novamente em parceria com a Gazeta Mercantil, o IBASE lança o Selo do Balanço Social para estimular a participação das companhias. O selo, num primeiro momento, será oferecido a todas as empresas que divulgarem o balanço social no modelo proposto pelo IBASE. 16
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