Supremo Tribunal Federal

Transcrição

1 HABEAS CORPUS CEARÁ RELATORA PACTE.(S) IMPTE.(S) COATOR(A/S)(ES) : MIN. CÁRMEN LÚCIA :JOSE ROBERTO DA SILVA :MARIA ERBENIA RODRIGUES :SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DECISÃO HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE PRAZO DA PRISÃO PROVISÓRIA DO PACIENTE. AUSÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE JURÍDICA. LIMINAR INDEFERIDA. VISTA AO PROCURADOR- GERAL DA REPÚBLICA. Relatório 1. Habeas Corpus, com requerimento de medida liminar, impetrado por Maria Erbenia Rodrigues e Fernando Soares da Silva, em favor de José Roberto da Silva, contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que, em , denegou a ordem no Habeas Corpus n , Relator o Ministro Gilson Dipp. 2. Tem-se nos autos que, em , o Paciente, juntamente com Alípio Vicente Ferreira Júnior, Weider Bezerra Pereira e Ana Karla de Sousa, foi denunciado como incurso nos arts. 33 e 35 da Lei n /06. Expõe a denúncia: Noticiam os fólios que no dia 20 de outubro de 2010, por volta das 09:30hs, na Praça, em frente a Igreja da Glória, os Delatadas foram Presos em Flagrante Delito na feição de ter em depósito /guarda sem autorização legal ou regulamentar, com Vinte Pacotes

2 de Cocaína, Totalizando Vinte Mil e Duzentas e Quinze Gramas, Dois Veículos, Dois Aparelhos de Telefones Celular, Cartões Bancários, e Mais Outros Tantos Objetos Descritos no Auto de Apreensão e Apresentação, fls. 17/18, e na Materialidade de fls. 64/71, destes Autos de IP. Há mais de Trinta dias antes da Prisão Flagrancial dos Malfeitores, ora Delatados, a Polícia Federal tinha recebido Informações sobre o Proscrito KIKI alcunha do Primeiro Denunciado, já Velho Conhecido da Polícia, por contra de Outras Prisões por Tráfico de Entorpecentes, teria retornado ao Mau hábito, vale dizer, Traficar Drogas. A partir daí, o mesmo passou a ser Monitorado. Durante as Vigilâncias em torno do Meliante KIKI, foram Identificados os Veículos VW/Golf Preto, placas MYV 9486, e um Fiat/Pálio Azul, placas NUX-7673, Conduzidos pelo Investigado. No dia , no estacionamento do Iguatemi, foi possível presenciar o encontro entre o primeiro Acusado, e um homem até então desconhecido. Trocaram de Carro. O Crossfox preto, agora conduzido por José Roberto, foi seguido até a Cidade de Eusébio. As Equipes no dia seguinte, voltaram à Vigilância. O Crossfox seguiu para Fortaleza, estacionando o Veículo em frente a Igreja da Glória, ao lado de um Pálio Azul, o mesmo da noite anterior, e seu Condutor, também o mesmo, Identificado agora como sendo Weider Bezerra Pereira, agora acompanhado por uma Mulher, Ana Karla de Sousa. Os Carros estacionados um ao lado do outro, começaram, através da mulher Ana Karla e Weider Bezerra, a Transferir Bagagens. Diante dos Fatos, Caracterizou-se a Situação de Flagrância. Os Veículos foram levados até a Sede da Polícia Federal, onde Toda a Droga foi encontrada nos forros das portas laterais do Veículo Crossfox. Foi dada então Voz de Prisão aos ora Acusados de Traficantes. Após os primeiros Pacotes da Droga serem descobertos, o Acompanhante de José Roberto, Alípio Vicente Ferreira Júnior, indicou ao Condutor desta Prisão, onde estava escondido o restante do Entorpecente, indicando ainda a Quantidade de Pacotes que foram encontrados. O auto de apreensão e o Exame Definitivo realizado com a 2

3 substância entorpecente apreendida comprovaram a quantidade e que se trata da Droga conhecida popularmente como Cocaína, fls. 64/71. (Evento 6, ff. 1/2) 3. Narra-se na inicial: Em 06 de janeiro de 2011, setenta e seis dias após a sua prisão, o paciente foi posto em liberdade, conforme Alvará de Soltura em anexo, por força de Decisão monocrática da lavra do Excelentíssimo Desembargador José Mário dos Martins Coelho, do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará-TJCE, que, liminarmente, aplicou em favor do ora paciente, a previsão do artigo 580 do Código de Processo Penal, baseado no relaxamento da prisão do Córreu, Alípio Vicente Ferreira Júnior, por Excesso de Prazo na Formação da Culpa, tendo sido esta decisão também proferida em sede de liminar, nos autos do Habeas Corpus nº TJCE. Em 21 fevereiro de 2011, no julgamento do Habeas Corpus suso mencionado, a Colenda 2ª Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Ceará, denegou a ordem impetrada, cassando a medida liminar anteriormente concedida, determinando a expedição de Mandado de Prisão em desfavor do ora paciente, e, ante o gravame desta decisão, o douto Colegiado requereu ao Juízo de Primeiro Grau a antecipação da audiência de instrução e julgamento designada para o dia 25 de maio de 2011, tendo em vista se tratar de réus presos.( conforme se extrai da documentação em anexo). (Evento 2, ff. 4/5). 4. Contra a decisão de 2ª instância, impetrou-se o Habeas Corpus n no Superior Tribunal de Justiça. Em , foi a ordem denegada em acórdão assim ementado: CRIMINAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PACIENTE PRESO EM FLAGRANTE. EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA. RETARDO DA DEFESA EM APRESENTAR DEFESA PRÉVIA. SÚMULA 64/STJ. PLURALIDADE DE RÉUS. PRISÃO PREVENTIVA. 3

4 DECISÃO FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. GRANDE QUANTIDADE DE DROGAS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. ORDEM DENEGADA. I. In casu, o atraso no andamento do processo não pode ser atribuído ao Juiz ou ao Ministério Público, mas à pluralidade de réus e pela demora da Defesa em apresentar defesa prévia, não restando configurada flagrante ilegalidade no caso. Incidência da Súmula 64 desta Corte Superior. II. O prazo legalmente estabelecido para a conclusão da instrução criminal não é absoluto e o constrangimento ilegal por excesso de prazo só pode ser reconhecido quando a demora for injustificada, o que não se vislumbra na presente hipótese. III. A prisão preventiva é medida excepcional e deve ser decretada apenas quando devidamente amparada pelos requisitos legais, em observância ao princípio constitucional da presunção de inocência ou da não culpabilidade, sob pena de antecipar a reprimenda a ser cumprida quando da condenação definitiva. IV. A segregação cautelar encontra-se fundamentada em circunstância fática justificadora da necessidade da custódia para garantia da ordem pública, consistente na grande quantidade de droga apreendida a revelar a real periculosidade do paciente. V. Ordem denegada. (Evento 18, f. 1) inicial: 5. Esse julgado é o objeto da presente ação. Alega a Impetrante na A referida decisão do STJ foi proferida em 20 de junho de 2012 e por se encontrar a Ação Penal em fase mais adiantada a defesa pemaneceu à espera da entrega da prestação jurisdicional de Primeira Instância, sem concordar, no entanto, com a decisão do Superior Tribunal de Justiça, ante a inconsistência do Julgado. Ocorre que, a despeito de um longo lapso temporal após a decisão do STJ, a causa ainda não foi resolvida na Primeira Instância, tornando forçosa a persistência da defesa na busca do Direito, pois já se tem mais que ultrapassado o limite da razoabilidade no tocante à espera da entrega 4

5 da prestação jurisdicional. A Jurisprudência predominante neste Pretório Excelso é no sentido de que não se admite o cumprimento de pena antecipada e isto é o que se afigura no presente caso, ou seja, um cumprimento de pena sem sentença. A Constituição Federal impõe a obediência ao devido processo legal, com a observância ao princípio da legalidade, onde a liberdade é a regra e a prisão é exceção. Quando a prisão se torna ilegal, deve ser imediatamente relaxada pela autoridade judiciária competente. A clausura sem condenação é admissível tão-somente à luz da legalidade, neste caso, o excesso de prazo está configurado pela demora na entrega da prestação jurisdicional, vez que transcorridos MAIS DE 02 ANOS E CINCO MESES, do início da relação processual, ainda se encontra pendente o julgamento do feito. Para um melhor esclarecimento da demanda em apreço, vale inserir no presente contexto questionamentos aventados na demanda afora perante o Superior Tribunal de Justiça, consistente no seguinte. (Evento 2, ff. 3/4) 6. Este o teor dos pedidos: Ante o exposto requer: 1- Que seja recebida e processada a presente ordem de Habeas Corpus. 2- Que seja concedida a ordem em caráter liminar, ante a flagrante ilegalidade da prisão do paciente, tendo em vista que apesar de ter se encerrado a instrução processual, e a defesa ter apresentado Alegações Finais na data de 24 de Setembro de 2012, seja, há mais de SEIS MESES, o MM. Juiz de Primeiro Grau até a presente data não prolatou a sentença, caracterizando constrangimento ilegal pelo Excesso de Prazo na ultimação do feito. 3- Que seja expedido o competente Alvará de Soltura em favor da paciente JOSÉ ROBERTO DA SILVA e, quando da análise do mérito, seja concedida a ordem, tornando definitiva a medida liminar. (Evento 2, ff. 6/7) 5

6 Examinada a matéria posta à apreciação, DECIDO. 7. Neste exame preambular, a exposição dos fatos e a verificação das circunstâncias presentes e comprovadas na ação conduzem ao indeferimento da medida liminar requerida, não se verificando, de plano, plausibilidade jurídica dos argumentos apresentados na inicial. 8. Tem-se no voto condutor do julgado objeto da presente impetração: Quanto ao excesso de prazo para a formação da culpa, o Tribunal de Justiça fundamentou o decisum nos seguintes termos: "É de observar que o processo conta com quatro réus denunciados, o que por si só já justificaria o atraso, levando-se em conta o princípio da razoabilidade. Por outro lado, vislumbra-se que, notificados os denunciados para apresentação de Defesa Preliminares em 23 e 27 de dezembro de 2010, em que pese ter sido informado erroneamente como tendo sido no mês de outubro, esses só o fizeram em 19 e 21 de janeiro de 2011, extrapolando o prazo legal em mais do que o dobro, não se podendo imputar o atraso à formação da culpa ao Poder Judiciário ou ao Ministério Público. (...). Assim, descabe o reconhecimento de excesso e prazo no caso, tendo em vista a pluralidade de acusados e ter a Defesa contribuído para o atraso, apresentando suas manifestações fora do prazo legal." (grifei) (fls. 13/15) Desse modo, o atraso no andamento do processo não pode ser atribuído ao Juiz ou ao Ministério Público, mas à pluralidade de réus e pela demora da Defesa em apresentar defesa prévia, não restando configurada flagrante ilegalidade no caso. Ressalte-se que eventual dilação é aceitável devido à observância aos trâmites processuais e formalidades legais. 6

7 Outrossim, o prazo legalmente estabelecido para a conclusão da instrução criminal não é absoluto e o constrangimento ilegal por excesso de prazo só pode ser reconhecido quando a demora for injustificada, o que, como dito, não se vislumbra na presente hipótese. (Evento 19, ff. 3/4) 9. A decisão guarda consonância com a jurisprudência deste Supremo Tribunal, no sentido de que não procede a alegação de excesso de prazo quando a demora na conclusão da instrução processual se dá em razão da complexidade do processo (HC , Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJ ). Na mesma linha, HC , Relator o Ministro Cezar Peluso, DJ ; HC , Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ ; HC , Relator o Ministro Cezar Peluso, DJ 1º ; HC , Relator o Ministro Ayres Britto, DJ ; HC , Relator o Ministro Cezar Peluso, DJ ; e HC , Relator o Ministro Nelson Jobim, DJ Não se verifica, de plano, no caso, qualquer ilegalidade ou abuso, não estando devidamente caracterizada a desídia do juízo de 1ª instância quanto à tramitação da ação penal em que o Paciente figura como réu. 11. Conquanto ausentes os fundamentos necessários ao deferimento da liminar, os argumentos carreados aos autos impõem o prosseguimento da presente ação para análise da questão de forma mais detida, após a complementação da instrução do pedido com as informações a serem prestadas pelo juízo da 3ª Vara de Delitos de Tráfico de Drogas de Fortaleza/CE e com o parecer da Procuradoria-Geral da República. 12. Pelo exposto, sem prejuízo de melhor exame no julgamento de mérito, indefiro a medida liminar requerida. Oficie-se ao juízo da 3ª Vara de Delitos de Tráfico de Drogas de 7

8 Fortaleza/CE, para, com urgência e por fax, prestar informações pormenorizadas quanto ao alegado na presente impetração e fornecer cópia do andamento atualizado da ação penal do Paciente e de outros documentos que considerar pertinentes. Remeta-se com o ofício, a ser enviado com urgência e por fax, cópia da inicial e da presente decisão. 13. Prestadas as informações, vista ao Procurador-Geral da República. Publique-se. Brasília, 11 de abril de Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora 8