Nº PGR-RJMB APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTITUCIO- NAL. ADMINISTRATIVO. UNIVERSIDADE. CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU (ESPECIALIZA-

Transcrição

1 Nº PGR-RJMB Eletrônico Relator: Ministro Dias Toffoli Recorrente: Universidade Federal de Pernambuco Recorrido: Ministério Público Federal RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO À EDUCAÇÃO. INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO SUPERIOR. CO- BRANÇA DE MENSALIDADE. CURSO DE PÓS-GRADUA- ÇÃO LATO SENSU. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA NO RE DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À ORIGEM. ART. 543-B DO CPC. 1. É necessária a devolução dos autos ao Tribunal de origem na hipótese em que se examina a possibilidade de cobrança de mensalidade pelo oferecimento de cursos de pós-graduação lato sensu por universidades públicas, porquanto o Supremo Tribunal Federal reconheceu a existência de repercussão geral do tema no RE , no qual se encontra pendente de julgamento. 2. Parecer pela devolução dos autos à origem, com base no art. 543-B, 3º, do CPC e art. 328, parágrafo único, do RISTF. Trata-se de recurso extraordinário, fundamentado no art. 102, III, a, da Constituição Federal, interposto por Universidade Federal de Pernambuco UFPE, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região assim ementado: APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTITUCIO- NAL. ADMINISTRATIVO. UNIVERSIDADE. CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU (ESPECIALIZA-

2 ÇÃO). COBRANÇA DE MENSALIDADES E TAXAS. PRELIMINARES. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO. ALEGAÇÃO DE SENTENÇA EXTRA PETITA. ( ) Os cursos de pós-graduação lato sensu estão enquadrados no conceito de ensino público, conforme o art. 44, inciso III, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pois a educação superior engloba os cursos e programas de mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, oferecidos a candidatos diplomados. O Estatuto da FADE, aliás, em seus artigos 14,15 e 20, estipula que o Conselho de Curadores é constituído por 11 (onze) membros designados pelo Reitor da UFPE, dos quais 9 (nove) serão professores da instituição. Já o Secretário Executivo, será escolhido livremente por ele. O art. 206 da Constituição Federal do Brasil prescreve que os cursos ministrados por instituição pública de ensino superior devem ser gratuitos, mas essa norma merece temperamentos. Para a resolução dos conflitos intersubjetivos é imprescindível observar a possibilidade concreta de efetivação de um determinado comando judicial, sob pena de a realidade fática o ignorar. Essa exigência, aliás, consiste em um dos pressupostos obrigatórios da racionalidade da fundamentação jurídica no seio social. Deveras, com base na informação de inexistência no orçamento da UFPE de dotação financeira para ofertar e operacionalizar tais cursos de especialização, e, apontando o princípio da separação dos poderes do Estado, não caberia ao Judiciário ingressar em seara da competência conjunta do Executivo e do Legislativo. A solução, a única a me parecer razoável para não prejudicar todos aqueles que atualmente estão realizando esses cursos, apresenta-se como a autorização judicial para a cobrança de mensalidades e taxas para fazer frente ao pagamentos dos professores, funcionários e apoio logístico das aulas. Caminhar em sentido diverso poderia implicar na paralisação imediata de todos os cursos e projetos correlatos, envol-

3 vendo cerca de 75 especializações e milhares de alunos, dando enchanças, inclusive, a inúmeras ações judiciais de reparação de danos materiais. Desacolhimento da apelação do MPF/PE, que buscava a proibição de cobrança de mensalidades e taxas nos cursos de pós-gradução lato sensu. ( ) Apelação cível do MPF/PE desprovida e apelações cíveis e remessas oficiais da UNIÃO, da UFPE e da FADE parcialmente providas. (grifou-se) Na origem, o Ministério Público Federal em Pernambuco ajuizou ação civil pública, objetivando a abstenção de cobrança de mensalidades nos cursos de Pós-Graduação ofertados pela Universidade Federal de Pernambuco UFPE e pela Fundação de Apoio à Universidade Federal de Pernambuco FADE. O Juiz de primeiro grau entendeu ser possível a cobrança das mensalidades e taxas nos cursos de pós-graduação lato sensu da Universidade Federal de Pernambuco, em face da necessária ponderação de bens jurídicos envolvidos no presente caso concreto. Além disso, determinou à UFPE a abstenção de diversas práticas irregulares, recomendou ao órgão ministerial a abertura de procedimento investigatório para apurar possíveis irregularidades no âmbito da instituição de ensino em comento, e condenou a União à fiscalizar a regularidade dos cursos e, à FADE, a restituir valores por reputá-los irregulares. Houve apelação pelo Ministério Público Federal, pela UFPE e pela FADE.

4 O Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em acórdão fundamentado nos termos da ementa antes transcrita, desproveu a apelação ministerial. O MPF/PE opôs embargos de declaração, sustentando a omissão quanto aos arts. 206, IV, e 208, V, da CF e aos art. 3º, I e VI, da Lei 9.394/96. Reconhecendo a omissão, o Tribunal deu, por unanimidade, provimento aos aclaratórios, atribuindo-lhes parciais efeitos infringentes, consoante a seguinte ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTITUCIONAL. ADMI- NISTRATIVO. UNIVERSIDADE. CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATO SENSU (ESPECIALIZAÇÃO). COBRANÇA DE TAXA E MENSALIDADE. POSSIBILI- DADE. OMISSÃO. GRATUIDADE PARA HIPOSSUFI- CIENTE. Considerando que os cursos de especialização promovidos por entidade pública de ensino, em convênio com fundação privada, deveriam ser gratuitos cuja cobrança está sendo autorizada excepcionalmente, em observância ao princípio do possível, diante da falta de dotação orçamentária, representaria um paradoxo e afronta ao princípio da isonomia não dispensar os hipossuficientes de taxas e mensalidades. Precedente específico na matéria: AC n.º CE, Relator o Desembargador Federal José Maria Lucena, Primeira Turma, unânime, julgado em , DJ de ). Embargos de declaração providos, atribuindo-lhes parciais efeitos infringentes. Dessa decisão, a UFPE opôs embargos de declaração, rejeitados pelo Tribunal estadual ao entendimento de que inexistiria omissão ou contradição no acórdão impugnado.

5 Insatisfeita, interpôs o presente recurso extraordinário, aduzindo a repercussão geral do caso sob o ponto de vista social e econômico, uma vez que inúmeras pessoas poderão pleitear cursos de especialização nas Universidades Federais de forma gratuita sem que exista orçamento que viabilize a perpetuação dessas atividades educacionais. No mérito, sustenta a violação do art. 2º da CF, visto que o Judiciário estaria atuando como legislador positivo, bem como afirma ofendidas a necessidade de previsão orçamentária, bem como a autonomia das universidades inscrita nos arts. 165, I, II, III, 1º e 207, da CF. Contrarrazões apresentadas. Em síntese, são os fatos de interesse. Preenchido o requisito do prequestionamento da temática constitucional, tendo em vista ter o recorrente suscitado na apelação e a questão ter sido debatida nas instâncias ordinárias. No RE RG, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a existência de repercussão geral sobre a questão da cobrança de mensalidade pelo oferecimento de cursos de pós-graduação lato sensu por universidades públicas à luz dos arts. 205, 206, I, 208, VII, e 212, 3º, da Carta Magna, em aresto assim ementado: Ementa: CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. UNIVER- SIDADE PÚBLICA DE ENSINO SUPERIOR. CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU. MENSALIDA- DE. COBRANÇA. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. (RE RG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Dje )

6 Nesse passo, a teor do decidido no RE QO (Rel. Min. Cezar Peluso, DJe ) e no AI QO (Rel. Min. Ellen Gracie, DJe ), devem os autos ser devolvidos ao Tribunal de origem para os fins do art. 543-B, 3º, do Código de Processo Civil e do art. 328, parágrafo único, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. Ante o exposto, opina a PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA pela devolução dos autos à origem, com base no art. 543-B, 3º, do CPC e art. 328, parágrafo único, do RISTF. Brasília (DF), 22 de maio de Rodrigo Janot Monteiro de Barros Procurador-Geral da República wsc