PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1 ª REGIÃO 30.ª VARA DO TRABALHO DO RIO DE JANEIRO R.J.

Transcrição

1 ATA DE AUDIÊNCIA PROC. N.º Aos dias do mês de julho de dois mil e dezesseis, às, na sala de audiência desta Vara, foram apregoadas as partes, MOISES DIMAS DE OLIVEIRA, reclamante, e LIGHT SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S.A., réu, ausentes. Observadas as formalidades legais, foi proferida a seguinte Vistos etc. D E C I S Ã O I- MOISES DIMAS DE OLIVEIRA, já qualificado, propôs reclamação trabalhista em face de LIGHT SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S.A. pelos fatos e fundamentos narrados na inicial, pretendendo sua condenação nos títulos elencados. Citada, defendeu-se a ré pelas razões de fls. 56/82, arguindo prejudicial, contrariando as alegações autorais e esperando, ao final, a improcedência. Produzida prova documental. Laudo pericial médico produzido às fls. 276/284. Colhidos depoimentos pessoais. Inquiridas testemunhas. Encerrada a instrução. Razões finais remissivas. Inconciliadas as partes. Relatados, decido. II- PRESCRIÇÃO QUINQUENAL Acolho a prejudicial para declarar prescritas as parcelas cuja exigibilidade seja anterior a 18/12/2004, nos termos do art. 7.º, da CF/88, excetuados os depósitos do FGTS não realizados (competências), que no caso continuam se submetendo ao prazo prescricional de trinta anos, por iniciado antes da decisão do STF, proferida em 13/11/2014, que afastou a natureza tributária dos depósitos, diante da modulação adotada. III- RETIFICAÇÃO DA CTPS Alega o autor, admitido em 06/07/1989 na função de Ajudante de eletricista de rede, que desde 01/08/1997 exerce a função de Supervisor, sem a devida anotação em sua CTPS. 1

2 A ré nega o exercício da função de supervisor, todavia, seu preposto, em depoimento pessoal, confessa que o obreiro trabalhou como líder na supervisão, o que é corroborado pelos depoimentos das duas testemunhas trazidas, inclusive a da ré, seu coordenador de manutenção, a quem o autor era subordinado. Procede o pedido, devendo a ré retificar a função na CTPS do autor, para que conste o labor na função de Supervisor, a partir de 01/08/1997, data que admito correta, ante a ausência de provas em sentido contrário e total prejuízo da tese defensiva. IV- HORAS EXTRAS Alega o autor que trabalhava das 08h30 às 17h00, de segunda a sexta, sem intervalo intrajornada, e sem receber pelas horas extras prestadas. A ré sustenta que o autor sempre fruiu de uma hora de intervalo intrajornada e que eventuais horas extras prestadas foram corretamente pagas; que a partir de setembro/2003 foi dispensado qualquer controle formal de frequência, conforme estabelecido em norma coletiva; que possui relatório de detalhamento de controle de acesso, o qual não serve como controle de horário. Inicialmente, registro a ineficácia da norma coletiva que dispensa a empresa de controle formal de seus empregados, eis que viola o disposto no art. 74, da CLT, norma de ordem pública. Esse é inclusive o entendimento deste Regional, consignado em sua súmula nº 14. Ainda que assim não fosse, a prova oral produzida deu conta de que o ponto era registrado por crachá eletrônico, bem como por uma folha de serviços. Não havendo impugnação aos relatórios de detalhamento de acesso, considero que labor do autor se deu nos horários consignados nos referidos documentos, trazidos pela ré às fls. 116/131, devidamente acrescidos dos horários registrados nos documentos de fls.21 e seguintes, quando relativos ao período imprescrito, eis que os endereços eletrônicos indicados são corporativos, contemporâneos ao contrato de trabalho e ao exercício da função de supervisor pelo autor. Quanto ao intervalo intrajornada, o próprio preposto reconheceu em seu depoimento pessoal que as turmas que trabalhavam na rua e atendiam a chamados emergenciais, tinham seu intervalo intrajornada prejudicado. A testemunha trazida pelo autor, que integrou sua equipe, comprovou que em decorrência da quantidade de serviço, o intervalo era prejudicado e, ordinariamente, não havia revezamento entre os membros da equipe para que se alimentassem, mesmo composta por 07 pessoas. Já a testemunha da ré, chefe do autor, disse que não havia ordem para que esse intervalo não fosse 2

3 desfrutado, porém não soube dizer se efetivamente o era. Registro que, embora, chefiasse o autor, não ia a campo. Assim, tenho que o intervalo intrajornada era fruido irregularmente. Procede o pedido, sendo devidas como extras as horas excedentes ao módulo semanal de 44 horas, além de uma hora por dia trabalhado pela fruição irregular do intervalo intrajornada, que serão quantificadas em liquidação, observando-se a variação salarial havida, o acréscimo do adicional de 50%, o divisor 220, deduzindo-se os valores pagos sob idênticos títulos. Por habitual o labor em sobrejornada, devidos os reflexos no RSR e, em conjunto no FGTS, integrando a remuneração para efeito de cálculo das férias com 1/3, 13os salários e resilitórias. V- ACIDENTE DE TRABALHO. INDENIZAÇÃO Diz o autor, admitido em 06/07/1989 na função de Ajudante de eletricista de rede, que em 01/07/2008 foi demitido, quando completava 61 dias após o término da prorrogação de seu benefício previdenciário de auxílio-doença acidentário; que em 05/2007 teve o tendão de Aquiles direito rompido, por estar enfraquecido em decorrência do labor subindo e descendo escadas para acessar a rede de cabo telefônico; que foi operado e seu benefício teve início em 11/06/2007, com alta em 30/04/2008; diz que não poderia ser dispensado face a estabilidade provisória decorrente do acidente de trabalho. A ré em sua defesa aduz que o reclamante nunca foi afastado do emprego por acidente de trabalho, tampouco recebeu benefício previdenciário na espécie B91, mas sim auxílio-doença na espécie B31, o que não enseja a estabilidade provisória alegada pelo autor. Da análise dos documentos trazidos aos autos, verifico que, de fato, o autor esteve afastado do emprego por motivo de doença, percebendo benefício previdenciário na espécie B31, não caracterizando o INSS o acidente de trabalho. O bem elaborado laudo pericial do perito do Juízo, Dr. Paulo Campanha Lourenço, às fls. 276/284, descreveu as funções e tarefas exercidas pelo autor, concluindo que tais atividades não implicavam risco ergonômico específico para os membros inferiores. Com base também no estudo clínico desenvolvido, em suas conclusões diagnósticas, o perito afastou o trabalho como causa ou concausa da lesão desenvolvida, aduzindo ainda que não houve evidência clínica sobre a inaptidão do autor para a função no momento da 3

4 rescisão contratual em 01/07/2008, afastando a caracterização do acidente de trabalho. Improcede o pedido de indenização pela estabilidade provisória, bem como o de danos morais, ante a sua causa de pedir. VIII- GRATUIDADE E HONORÁRIOS Defiro ao autor a gratuidade de justiça, diante da afirmação contida na inicial e dos termos do art. 790, 3.º, da CLT, o que se estende aos atos registrais. Considerados os termos do Enunciado n. 79, aprovado na 1a. Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho realizado pelo TST e ANAMATRA (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), in verbis: II HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS DEVIDOS NA JUSTIÇA DO TRABALHO. I - Honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho. As partes, em reclamatória trabalhista e nas demais ações da competência da Justiça do Trabalho, na forma da lei, têm direito a demandar em juízo através de procurador de sua livre escolha, forte no princípio da isonomia (art. 5º, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil) sendo, em tal caso, devidos os honorários de sucumbência, exceto quando a parte sucumbente estiver ao abrigo do benefício da justiça gratuita. e que a parte autora está assistida por advogado por ela escolhido livremente; que necessitou demandar em juízo para ver cumprida, por parte da ré, a legislação trabalhista; que não é razoável diante do princípio da reparação integral que venha a sofrer diminuição patrimonial pelo exercício de seu direito à assistência jurídica, condeno a ré a pagar ao advogado que assiste o autor honorários sucumbenciais de 20% sobre o valor da condenação, por aplicação dos artigos 5.º, caput, da CF/88 e 20, do CPC. POSTO ISTO, julgo PROCEDENTE EM PARTE o pedido para condenar a ré no prazo legal, a pagar ao autor, conforme quantificado em liquidação, os valores relativos aos títulos deferidos na fundamentação que este dispositivo integra. Devidos honorários sucumbenciais. 4

5 Acresçam-se juros e atualização monetária nos termos da legislação vigente às épocas próprias, observando-se a Sum. 381/TST. Deduzam-se os valores pagos sob idênticos títulos. Admitir-se-á em execução a dedução da cota previdenciária incidente, observando-se as parcelas deferidas de natureza salarial, nos termos da lei 8212/91, com redação dada pela lei /09. Quanto ao imposto de renda, tributável no momento do recebimento, aplicar-se-ão as disposições contidas no art. 12-A, da Lei 7.713, de 22/12/88, inserido pela Lei /2010, observando-se a quantidade de meses do período liquidando e a tabela progressiva mensal correspondente ao mês do recebimento, excluída da base de cálculo os juros de mora, de natureza indenizatória, conforme entendimento do STJ quanto ao artigo 404, do CCB. Nos termos da lei /00 incide contribuição previdenciária sobre horas extras, RSR. Custas de R$ 240,00 pela ré, calculadas sobre o valor ora atribuído à condenação de R$ ,00, para efeitos fiscais. Intimem-se. NÉLIE O PERBEILS Juíza do Trabalho 5