Viagens na Minha Terra. Almeida Garrett
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- Therezinha Lombardi Aquino
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1 Viagens na Minha Terra Almeida Garrett
2 Principais dados sobre o Autor: Almeida Garrett nasceu no Porto a 4 de Fevereiro de 1799,o nome de batismo era João Leitão da Silva. Quando estudante em Coimbra adotou o nome que o tornou célebre: Almeida Garrett, sendo o último nome da avó paterna. Grande escritor, a tradição reteve de Garrett a imagem do homem elegante, do dandy que ditava moda no Chiado. Dominava tanto a prosa como o verso. Morreu em 9 de Dezembro de 1854, quando trabalhava no romance HELENA. Garrett sedutor A vida de Garrett foi tão apaixonante quanto a sua obra. Revolucionário nos anos 20 e 30, distinguiu-se posteriormente sobretudo como o tipo perfeito do dandy, ou janota, tornando-se árbitro de elegâncias e príncipe dos salões mundanos. Foi um homem de muitos amores, uma espécie de homem fatal. Separado da esposa, passa a viver em mancebia com D. Adelaide Pastor até à morte desta em A partir de 1846, a sua musa é a viscondessa da Luz, Rosa Montufar Infante, inspiradora dos arroubos românticos das Folhas caídas. Em 1851, Garrett é feito visconde de Almeida Garrett em duas vidas, e em 1852 sobraça, por poucos dias, a pasta dos Negócios Estrangeiros em governo presidido pelo Duque de Saldanha. Falece em 1854, vítima de cancro.
3 Nasceu no Porto, em 4 de fevereiro de 1799; morreu em Lisboa em 9 de dezembro de Filho segundo do selador-mor da Alfândega do Porto, acompanhou a família quando esta se refugiou nos Açores, onde tinha propriedades, fugindo da segunda invasão francesa, realizada pelo exército comandado pelo marechal Soult que entrando em Portugal por Chaves se dirigiu para o Porto, ocupando-o. Passou a adolescência na ilha Terceira, tendo sido destinado à vida eclesiástica, devendo entrar na Ordem de Cristo, por intercedência do tio paterno, Frei Alexandre da Sagrada Família, bispo de Malaca e depois de Angra. Neste momento da vida de Garrett podemos notar duas aproximações com as Viagens na minha terra, sabemos que Carlos assim como muitos liberais passaram muitos anos na ilha Terceira que durante algum tempo foi o único reduto dos liberais portugueses. Seu tio sendo Frei intercedendo para que ele siga a vida religiosa lembra-nos o Frei Dinis que se preocupava com a educação de Carlos.
4 Em 1816, tendo regressado a Portugal, inscreveu-se na Universidade, na Faculdade de Leis, sendo aí que entrou em contacto com os ideais liberais. Mais um ponto de contato com Carlos que também se envolveu com as ideias liberais quando cursava a universidade. Participa entusiasticamente na revolução de Carlos também irá participar das guerras liberais. A Vilafrancada, o golpe militar de D. Miguel que, em 1823, acaba com a primeira experiência liberal em Portugal, leva-o para o exílio. Volta ao exílio em junho de 1828, devido ao restabelecimento do regime absoluto por D. Miguel. De 1828 a dezembro de 1831 vive em Inglaterra, indo depois para França, onde se integra num batalhão de caçadores, e mais tarde, em 1832, para os Açores integrado na expedição comandada por D. Pedro IV.
5 Também Carlos nos conta que viveu na Inglaterra, onde conheceu Georgina e suas duas irmãs. Na carta apresentada nos últimos capítulos da obra temos uma descrição detalhada sobre o tempo que Carlos esteve entre os amores das três irmãs. Participa na expedição liberal que desembarca no Mindelo e ocupa o Porto em julho de Envolve-se com o Setembrismo, dando assim origem à sua carreira parlamentar. Eleito deputado nas eleições para a nova Câmara dos Deputados cartista, recusa qualquer nomeação para as comissões parlamentares, como toda a esquerda parlamentar. No ano seguinte ataca violentamente o governo cabralista, que compara ao absolutista. Lembrar que Carlos, segundo frei Dinis ainda vai tornar-se deputado sendo este um dos tristes fins que o narrador das Viagens na minha terra previa para ele. O outro é que se tornaria barão conforme aconteceu.
6 No ano de 1843, começou a publicar, na Revista Universal Lisbonense, as Viagens na Minha Terra, descrevendo a viagem ao vale de Santarém começada em 17 de julho. Em 1852 é eleito novamente deputado, e de 4 a 17 de agosto será ministro dos Negócios Estrangeiros. A sua última intervenção no Parlamento será em março de 1854 em ataca o governo na pessoa de Rodrigo de Fonseca Magalhães. Morre neste ano devido a um cancro de origem hepática, tendo sido sepultado no Cemitério dos Prazeres.
7 Ação principal: O autor resolve fazer uma viagem de Lisboa a Santarém de comboio, com a intenção de conhecer as ricas várzeas desse Ribatejo, e assim saudar do alto cume a mais histórica e monumental das vilas de Portugal. Paralelamente as paisagens visitadas o autor e narrador, presenteiam os presentes com um romance de amor. O Contexto Histórico A 1ª. metade do séc. XIX As lutas liberais: a guerra civil entre absolutistas e liberais; As invasões napoleônicas; A mudança do regime político: o absolutismo versus o liberalismo.
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9 O Título O pluralismo do substantivo "Viagens": A coexistência de múltiplas viagens: A viagem real de Lisboa a Santarém; A viagem sentimental: a história de Joaninha; As viagens imaginárias: ao passado do narrador;
10 Reflexões críticas ao contexto histórico. O determinante possessivo "minha": O sentimento de posse; A relação de intimidade; O caráter subjetivo do discurso; O estatuto do narrador: autodiegético. O substantivo "terra": A ligação telúrica do autor à Pátria; O nacionalismo.
11 A viagem enquanto concretização de um objetivo Fuga ao cotidiano; Busca de prazer e de diversão; Viagem Deslocação espacial de natureza física; Interiorização; Devaneios; Voos de imaginação; Viagem espiritual. Viajar versus Sentir Defesa de uma doutrina que fundamenta a existência no primado da sensação; Concepção de um real multifacetado; Viagem enquanto trajeto de experiência da aprendizagem e aperfeiçoamento; Um ato consciente que visa o aperfeiçoamento.
12 Cap. I Crônica (de chronos = tempo): relato de acontecimentos que é feito segundo uma ordem cronológica. Intenção: Conhecer o espaço geográfico de Portugal; Fazer crônica do real nos seus elementos vistos, ouvidos, pensados e sentidos; Fazer crônica do passado e a história do presente; Reflexão e análise. A marcha do progresso social EU narrador: Pensar - reflexões de caráter histórico, político, moral, social e filosófico. Mundo interior: Sentir - tristeza, mágoa, espanto e indignação. Mundo exterior: Ver - paisagem (Charneca, Vale de Santarém, Vilas, Monumentos,etc.); Ouvir - a História de Joaninha.
13 Reflexão e análise real: A marcha do progresso social de Portugal Antigo Regime Absolutismo Novo Regime Liberalismo D. Quixote Sancho (Frade) (Barão)
14 Guerra Civil: A Marcha do Progresso Social No domínio sócio-político: A mudança do regime: Absolutismo - Liberalismo. A guerra civil origina lutas e espalha a dor, a morte. A substituição do Frade pelo Barão argentário. O desenvolvimento da mentalidade materialista. Crescimento das desigualdades e injustiças sociais. O desprezo pelo trabalho agrícola em favor do desenvolvimento industrial.
15 No âmbito da história: a perversão do gosto artístico na arquitetura portuguesa dá origem: À alteração do traçado original dos monumentos e igrejas antigas, resultando sem gosto ou estilo; à construção de novos edifícios ao lado dos antigos "ridiculares, absurdas e vilãs"; ao abandono, à destruição, à demolição dos antigos monumentos; à transformação de monumentos em quartéis, armazéns (substituição da arte pelo utilitarismo).
16 Cap. II, XIII A Tese Garrettiana: A Concepção Dialética da História O materialismo e o espiritualismo enquanto entidades motrizes do progresso social (visão filosófica). A coexistência, numa época, destes dois tipos opostos que prevalecem um sobre o outro. A polarização dos termos da antítese, numa nova síntese, mas em ordem inversa. Consequências A impossibilidade de progresso da civilização; Situação de impasse e regressão (lutas civis, estagnação econômica e cultural); O simbolismo universal de Sancho Pança e D. Quixote; A sua correspondência ao nível das personagens Carlos e Frei Dinis: paradigmas do Portugal Novo e Liberal e do Portugal Velho e Absolutista;
17 A perspectiva crítica de Garrett: a defesa dos valores espirituais de uma nação e do indivíduo; a condenação das atitudes materialistas responsáveis pelo atraso cultural, econômico e social do Portugal oitocentista.
18 Cap. III e V O Estatuto do Narrador Perspectivas: Autodiegético: enquanto personagem principal de uma crônica de viagem e herói de um drama romântico; Onisciente: detentor e controlador de toda a informação. A Comunicação Narrativa A relação dialógica narrador/narratário: atitude coloquial; tom irônico; intenção formativa e informativa: a carta que Carlos escreve a Joaninha. A Caracterização do Escritor Romântico: A crítica à falta de originalidade, talento e cultura; A atitude plagiadora em relação aos mestres da literatura estrangeira.
19 A obra e a Estrutura: As atitudes dramáticas e sentimentalistas; O caráter estereotipado do romance romântico; A incoerência do enredo; A inexpressividade das personagens. A literatura romântica enquanto expressão incoerente de uma sociedade materialista: A literatura "hipócrita": despropositadamente, excessivamente, absurdamente espiritualista.
20 A Novela Sentimental. Cap. XI a XXV I. Ação 1.ª Sequência: O cotidiano da casa do Vale; Apresentação dos protagonistas da ação; Conhecimento de alguns antecedentes da ação: a vida secular e religiosa de Frei Dinis. A vida de Carlos antes da ida para Coimbra; A notícia do acontecimento: Crise: o mistério que envolve a família do Vale.
21 Cap. XXXII a XXXV 2.ª Sequência: O quadro da guerra civil; O idílio entre Carlos e Joaninha; O ferimento de Carlos. 3.ª Sequência: A convalescência de Carlos; O reencontro de Carlos e Joaninha; A revelação da paternidade de Frei Dinis; A explicação dos homicídios.
22 Desfecho Trágico: A morte de Joaninha; A fuga de Carlos; A entrada na vida religiosa de Georgina; A agudização do sofrimento de D. Francisca e de Frei Dinis. Vale de Santarém Mistério Aberto / Fechado Hospital Revelação Exterior / Interior Convento Calma Amplo / Reduzido Cela Emotividade
23 Tempo Analepses, Ação (recuos no tempo). Antecedentes da ação 1.ª Sequência: A vida de Carlos; A vida secular e religiosa de Frei Dinis. 2.ª Sequência: A paternidade de Carlos; A autoria dos homicídios.
24 Caracterização das personagens Joaninha - 16 anos, branca, rosto sereno, nariz aquilino, boca pequena e delgada, cabelos quase pretos, sobrancelhas quase pretas, olhos verdes, vestido azul escuro, pé breve e estreito, perna admirável ideal e espiritualíssima, figura serena, pura e feliz. (protótipo da mulher-anjo) Francisca - velhinha cega, martirizada, vítima do destino, paciente, resignada (protótipo da vítima) Carlos - estatura mediana, 30 anos, corpo delgado, cabelos pretos, testa alta, olhos pardos, peito largo e forte. Franco, leal, generoso, fácil no perdão, fácil na ira, dúvida, incerteza, vaidade, mentira, sentimental, poeta, descrente, acomodado, barão (protótipo do homem social) D. Dinis (Dinis de Atayde - Frei Dinis) - Corregedor, vida mundana, destruidor da família do Vale, encarnação do destino, pálido, enfiado descorado, amarelo atormentado, inflexível, austero, rígido, extraordinário (protótipo do mal) (protótipo do espiritualista)
25 O papel desempenhado pelas personagens na tragédia familiar D. Francisca A cumplicidade na relação adúltera da sua filha com D. Dinis de Ataíde; A culpabilidade (embora indireta) nos homicídios. Modo de expiação do pecado cometido: auto-punição. Joaninha A mulher angélica, pura e inocente; A mulher marcada pelo destino. Modo de expiação (por ser filha do pecado): a Morte.
26 Frei Dinis A rigidez e a austeridade de princípios; A defesa do liberalismo e das doutrinas constitucionais pelo excesso de materialismo que contêm, apesar de uma faceta exterior de espiritualidade; Ligado ao mundo exterior pelo sofrimento: paternidade em relação a Carlos; cumplicidade no crime. Modo de expiação do pecado praticado: torna-se Frade.
27 Carlos Complexo por natureza; Dividido por conflitos que corporiza: Homem Natural/Espiritual vs Homem Social. Condenado à vivência de uma problemática: conflito Materialismo/Espiritualismo que o impede de partilhar o prazer de uma vida conjugal. Subordinado a um fatalismo sentimental bem expresso na sua carta a Joaninha. Modo de expiação do pecado praticado: torna-se Barão.
28 Carlos, representa, de certo modo, o auto-retrato do autor - Almeida Garrett: Impulsivo; Instável; Apaixonado; Capaz de morrer por um ideal político que, finalmente, atraiçoa ao aceitar o título de Barão.
29 Características Românticas Nível Temático O retrato de Carlos como herói romântico A sobreposição do sentimento à razão; A incapacidade de resolução dos problemas; A atitude narcísica na manifestação de sentimentos; A insegurança, o conflito psicológico; A incapacidade de realização amorosa. Joaninha o ideal feminino romântico A mulher-anjo; Vivência intensa do amor; Entrega total à paixão; A sobreposição dos sentimentos à razão; A fragilidade física e psicológica; A pureza, a ingenuidade; O aniquilamento físico e psicológico: A loucura; A morte.
30 A concepção romântica do amor A impossibilidade de realização de um amor sublime e puro: ex: Carlos/Georgina; Carlos/Joaninha. A ideologia de Rousseau A recuperação do mito do "bom selvagem"; A nostalgia do paraíso perdido. A temática da Natureza O amor pelas coisas da terra. A contextualização histórica da novela O liberalismo. A crónica de viagem Com carácter literário. Defesa do patriotismo A concepção do escritor romântico O homem culto, erudito, detentor e manipulador dos conhecimentos que pretende instruir os leitores.
31 Nível Formal e Estrutural Linguagem corrente, por vezes familiar; Estilo coloquial; Teatralidade - ao nível da novela; Liberdade na ordenação da narrativa - o seu caráter digressivo.
32 O Anti-Romantismo: Apreciação Crítica ao Romantismo Cap. V A estratificação na construção do universo actancial de um romance; A falta de originalidade da literatura romântica nacional: A importação dos modelos estrangeiros; A adoção do estereótipo, na criação de situações, na seleção de vocabulário, no traçado do perfil das personagens. A imitação e a prática de plágio. Cap. III A descrição da estalagem de Azambuja; O desajuste entre a época (materialista) e a literatura que a serve (espiritualista): Hipocrisia da literatura. A exploração de sentimentos fortes e emoções; O recurso, em excesso, ao perigo e ao melodramático.
33 Características Românticas A paisagem que conduz ao sonho: o Vale de Santarém (cap. X); charneca ao pôr do sol (cap. VIII); a casa antiga mas não dilapidada (cap. X); a janela da Casa do Vale (cap. X); os rouxinóis (cap. X e XX); a paisagem que serve de enquadramento ao reencontro de Carlos e Joaninha (cap. XX); O isolamento, a solidão ou a morte como solução para os problemas amorosos (Georgina e Joaninha); É ao pôr do Sol que acontecem alguns fatos importantes: encontro de Carlos com Joaninha (cap. XX); as visitas de Frei Dinis à Casa do Vale; a entrada de Carlos no hospital de Santarém, gravemente ferido (cap. XXXII). A opção de Carlos pelo liberalismo que o leva ao exílio em Inglaterra; O subjetivismo; O nacionalismo; A figura de Joaninha (mulher-anjo); O individualismo; A intervenção crítica; A auto-análise e a autopunição (carta final); Os sentimentos das personagens: o remorso (Frei Dinis); o amor inconstante (Carlos); o amor puro que leva ao sofrimento, à loucura e à morte (Joaninha);
34 a angústia e o sofrimento (a cegueira) trazidos pela vida passada (a Avó); a paixão arrebatadora que leva à clausura (Georgina). Características Modernas O plano aparentemente desordenado; O estilo coloquial e digressivo; A relação narrador/narratário; A crítica (a ironia e a sátira) à sociedade em especial à exploração do homem pelo homem, ao materialismo e à corrupção (Cap. III); A expressividade da pontuação; A linguagem: a mistura de níveis de língua; o valor da adjetivação; o uso de estrangeirismos e neologismos.
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