Monitorização de longo prazo de níveis de ruído
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1 Monitorização de longo prazo de níveis de ruído Clara Ribeiro, Miguel Coutinho e Carlos Borrego, IDAD Instituto do Ambiente e Desenvolvimento, Campus Universitário, 89 Aveiro, Departamento de Ambiente e Ordenamento, Universidade de Aveiro Sumário A avaliação do ruído de forma a proteger os receptores sensíveis em coexistência com fontes sonoras, adequando o Regime Legal da Poluição Sonora (DL 9/ de de Novembro) tem sido um desafio, nem sempre bem conseguido. A avaliação quantitativa do nível de ruído provocado por uma determinada fonte sonora exige a determinação precisa do acréscimo de pressão sonora induzido pela fonte perturbadora. Quando esta avaliação do ruído é feita através de medições no terreno é necessário contabilizar um determinado número de perturbações e incertezas associadas. O Programa de Monitorização Externa da Central de Incineração de Resíduos Sólidos Urbanos LIPOR II foi concebido em 997, com o desenvolvimento dos trabalhos no terreno em 998. Desde então que os níveis de ruído na envolvente da unidade têm vindo a ser monitorizados, integrando fases distintas no processo de evolução da LIPOR II. A principal conclusão da monitorização de ruído reside no facto do funcionamento da LIPOR II não induzir a graves problemas de poluição sonora na envolvente da unidade. De facto, tem sido apenas num ponto, que em determinadas vezes ocorre a ultrapassagem dos critérios do DL9/. Esta inconformidade legislativa está intimamente relacionada com o facto dos níveis de ruído residual serem bastante variáveis. Os resultados obtidos revelam uma incerteza associada às medições de ruído residual elevada, o que sugere grande variabilidade nas medições. Palavras-chave Monitorização, ruído residual, ruído ambiente Introdução Actividades ruidosas, de acordo com a definição referida no Decreto-Lei nº9/, de de Novembro, são todas as actividades susceptíveis de produzir ruído nocivo ou incomodativo, para os que habitem, trabalhem ou permaneçam nas imediações do local onde decorrem. A avaliação de ruído de actividades ruidosas permanentes é pois fundamental e de carácter obrigatório, realizando-se de acordo com as regras definidas no regime legal sobre a poluição sonora, articulando-as com os procedimentos estabelecidos na legislação específica a respeitar em cada caso. As medições de ruído do Programa de Monitorização Externa da Central de Incineração de Resíduos Sólidos Urbanos LIPOR II (IDAD, 997), efectuadas em 997, corresponderam aos níveis de ruído da situação de referência, em 998 e 999 a diferentes fases nas actividades de construção e arranque da LIPOR II. A partir do ano, os trabalhos de monitorização dos níveis de ruído correspondem ao funcionamento normal da central. As principais fontes de ruído na envolvente à LIPOR II estão associadas ao funcionamento da própria unidade e ao tráfego rodoviário (IC). Podem ainda referir-se outras fontes secundárias passíveis de afectar o ambiente acústico, tais como: funcionamento de outras unidades industriais, tráfego nas estradas locais e ainda o quotidiano dos habitantes locais. A Central tem um funcionamento contínuo, laborando durante os períodos diurno e nocturno, enquanto que o volume de tráfego do IC varia durante estes períodos afectando claramente os níveis de ruído da envolvente. Descrição do Trabalho As medições de ruído ambiente na envolvente da LIPOR II são efectuadas trimestralmente, sendo as medições de ruído residual efectuadas aquando as paragens da central, que podem ou não ser anuais e programadas. A caracterização dos níveis de ruído incluiu cinco locais integrados na zona de implantação do projecto e respectiva envolvente, em particular junto de zonas consideradas particularmente sensíveis (nomeadamente habitações) (Figura ).
2 Figura Pontos de Medição de Ruído da LIPOR II. O ponto, situado a Norte da LIPOR II, mantém contacto visual com a central de incineração, estando por isso sujeito à propagação directa das ondas sonoras provenientes das actividades de funcionamento da LIPOR II. Neste ponto, os níveis de ruído registados resultam da laboração do aerocondensador e, apenas no período diurno, do transportador de cinzas para a unidade de inertização. Os trabalhos realizados no aterro da LIPOR II podem também ser responsáveis pelos níveis sonoros aqui verificados, dado que poderá desenvolver uma actividade de recepção de resíduos em ambos os períodos. O ponto a localiza-se no interior da habitação localizada junto ao ponto. Nos pontos, e, a principal fonte de ruído está associada às operações gerais de laboração da LIPOR ll, de obras de construção civil (dada a actividade da zona) e ainda ao tráfego do IC. No ponto, devido à sua proximidade ao IC, observaram-se valores do nível sonoro contínuo equivalente mais elevados e mais inconstantes, relativamente aos restantes pontos de medição. Neste ponto, os níveis sonoros verificados resultam principalmente do tráfego de veículos pesados no IC. O equipamento de medição utilizado nas medições de ruído da LIPOR II é constituído por um sonómetro de precisão (tipo ) Brüel & Kjær mod., equipado com um pré-amplificador Brüel & Kjær mod. ZC e um microfone Brüel & Kjær mod. 89, dotado de um pára-vento. O equipamento é calibrado com um calibrador de precisão Brüel & Kjær mod., antes e depois de efectuar as medições, de acordo com as especificações do fabricante, a fim de detectar e corrigir eventuais desvios, sendo anualmente verificação num entidade competente. O parâmetro energético utilizado para efectuar a caracterização do ambiente sonoro foi o nível sonoro contínuo equivalente, ponderado A, L Aeq. A determinação do parâmetro L Aeq foi efectuada de acordo com a técnica descrita na Norma Portuguesa (NP) 7, Parte, e, edição de Outubro de 99 e de acordo com as normas de qualidade do laboratório do IDAD.
3 Apresentação e Discussão dos Resultados Tal como referido anteriormente as medições de ruído na envolvente da LIPOR II ocorrem desde 997. A medição dos níveis de ruído residual (LIPOR II parada) é pois efectuada desde essa altura, sendo que coincidem normalmente com as paragens anuais da unidade. Na análise efectuada de seguida apenas se consideraram as medições a partir de por se considerar que só a partir deste ano o volume de tráfego do IC estabilizou. Nas Figuras e apresentamse os valores de L Aeq do ruído residual nos pontos anteriormente mencionados.. Nov Maio Set Mar Nov Jun Fev Nov Média Log L Aeq db(a) Pontos de Medição Figura Medições de ruído residual realizadas na envolvente da LIPOR II período diurno. Nov Maio Set Mar Nov Jun Fev Nov Média Log L Aeq db(a) Pontos de Medição Figura Medições de ruído residual realizadas na envolvente da LIPOR II período nocturno. Analisando as Figuras e é de notar grande variabilidade nos valores medidos de ruído residual, causa de grandes diferenças na análise da conformidade legislativa na envolvente da LIPOR II. Assim, calcularam-se as médias logarítmicas das medições efectuadas desde e o respectivo desvio padrão, de forma a avaliar a dispersão dos valores medidos. O desvio padrão permite identificar a variação dos níveis de ruído em cada ponto, ao longo do programa de monitorização. Com a média e o desvio padrão poder-se-á obter um patamar de ruído residual, para cada ponto, com o qual se realizará a comparação das medições de ruído ambiente efectuadas em cada campanha de monitorização. No Quadro apresentam-se as médias e os respectivos desvios padrão, para os períodos diurno e nocturno.
4 Quadro Médias logarítmicas e desvios padrão das medições de ruído residual na LIPOR II. Pontos L AeqRR diurno L AeqRR nocturno,8 ±, 8,7 ±, a, ±, 8, ±,, ±,8, ±,8 9, ±,, ±, 9,7 ±,8,7 ±,, ±, 7, ±.8 Analisando o Quadro verifica-se que a dispersão dos valores de ruído residual pode ser elevada, chegando mesmo, em alguns casos, a ocorrer valores de db(a) de desvio padrão (ponto a, período nocturno). Do ponto de vista estatístico, e no que diz respeito aos desvios padrão calculados registam-se diferenças substanciais em relação ao valor médio, na maioria dos pontos de medição, o que comprova a grande variabilidade nas medições. Esta dispersão de dados irá influenciar a comparação com a legislação já que dependendo do desvio obtido poderá ou não existir incumprimento legislativo. Um dos critérios a verificar na legislação em vigor referese ao requisito imposto no Artigo 8º - Actividades Ruidosas Permanentes do Regulamento Geral do Ruído (critério dos acréscimos). De acordo com este Artigo a diferença entre o valor do nível sonoro contínuo equivalente, ponderado A, L Aeq, do ruído ambiente determinado durante a ocorrência do ruído particular da actividade ou actividades em avaliação e o valor do nível sonoro contínuo equivalente, ponderado A, L Aeq, do ruído ambiente a que se exclui aquele ruído ou ruídos particulares, designado por ruído residual, não poderá exceder db(a) no período diurno e db(a) no período nocturno, consideradas as respectivas correcções. O valor do L Aeq do ruído ambiente determinado durante a ocorrência do ruído particular deverá ser corrigido de acordo com as características tonais ou impulsivas do ruído particular, passando a designar-se por nível de avaliação L Ar. Tendo em vista a determinação do nível de avaliação, L Ar, devem ser efectuadas correcções aos valores de L Aeq, do ruído ambiente, de acordo com a seguinte fórmula: L Ar = L Aeq + K + K Eq. Onde k é a correcção tonal aplicável ao intervalo de referência e K a correcção impulsiva aplicável ao intervalo de tempo de referência. Estes valores serão de K = db ou K = db se forem detectadas as componentes tonais ou impulsivas, respectivamente. Dever-se-á também ter em conta que, aos valores limite da diferença entre o L Aeq do ruído ambiente e o L Aeq do ruído residual, estabelecidos no n.º do Artigo 8º, deverá ser adicionado um valor D, em função da duração acumulada de ocorrência do ruído particular, este valor pode ir desde a db(a). O funcionamento da LIPOR II é contínuo, sendo que o valor de D será então igual a. Considerando o funcionamento anteriormente referido, a LIPOR II deverá obedecer ao seguinte critério dos acréscimos: L Ar -L Aeqrr db(a), para o período diurno L Ar -L Aeqrr db(a), para o período nocturno Aplicando a legislação o critério do acréscimos anteriormente referido e considerando as medições de ruído residual apresentadas no Quadro, apresenta-se na Figura um exemplo da comparação, de quatro campanhas realizadas em e, com os valores limite referidos.
5 Dezembro Dezembro Novembro Novembro Março Março Setembro Setembro Figura - Critério dos acréscimos períodos diurno (esquerda) e nocturno (direita). Analisando a Figura verifica-se a possibilidade de ocorrência de incumprimento da legislação dada a proximidade do valor L AeqRA - L AeqRR do limite de db(a), no ponto, em Dezembro de. No que diz respeito ao período nocturno, verifica-se que a possibilidade de ocorrência de valores de L AeqRA - L AeqRR superiores ao limite de db(a) é bastante elevada. Poderá ocorrer incumprimento nos pontos, e em Novembro de e nos pontos e a, respectivamente, em Dezembro de e Março de. Constata-se ainda que a possibilidade de ultrapassagem do valor limite diurno é nula, para Setembro de. Contudo, verifica-se a ocorrência de incumprimento da legislação, no período nocturno, dado que o valor de L AeqRA - L AeqRR excede o limite de db(a), no ponto a (interior da habitação). Poderá também ocorrer incumprimento nos pontos e, dado que o desvio padrão é elevado e o seu limite superior aproxima-se e ultrapassa os db(a).
6 Conclusão As diversas medições de ruído residual, efectuadas no âmbito do Programa de Monitorização Externa da Central de Incineração de Resíduos Sólidos Urbanos LIPOR II, revelam uma grande variabilidade no ambiente acústico da área envolvente. A aplicação de médias logarítmicas às várias medições e o cálculo do respectivo desvio padrão revela uma incerteza associada às medições de ruído residual elevada. Esta incerteza influencia a comparação com a legislação, já que dependendo do desvio obtido poderá ou não existir inconformidade legislativa. Uma avaliação legislativa feita através de medições pontuais no terreno deste tipo e a realização de medições com a fonte perturbadora inactiva revela, em muitos casos, uma grande variabilidade de sons, provocados pelo somatório em simultâneo, de tráfego automóvel, de pequenas actividades comerciais e industriais, do cantar dos pássaros ou o ladrar longínquo de um cão. É então necessário optar por um tempo de amostragem adequado para atenuar a variabilidade intrínseca ao ruído residual, sendo também importante avaliar até que ponto as condições circundantes ao local da medição são representativas. Esta avaliação tem-se revelado demasiado complexa e subjectiva: O tráfego automóvel é típico? O piso da estrada costuma estar molhado ou seco? A direcção do vento é a mais frequente? A vida quotidiana das pessoas na envolvente é típica? Assim, a avaliação do ruído de forma a proteger os receptores sensíveis é de facto uma tarefa complexa, sendo que a avaliação quantitativa do acréscimo de pressão sonora induzido por uma fonte perturbadora nem sempre é conseguida. Apenas um planeamento do território criterioso na localização de fontes sonoras e receptores sensíveis permitirá a médio longo/prazo harmonizar a utilização dos espaços, evitando usos conflituosos do solo. Agradecimentos Os autores agradecem à Central de Incineração de Resíduos Sólidos Urbanos LIPOR II o acesso aos dados de monitorização de ruído utilizados neste trabalho. Referências Bibliográficas IDAD, (997): Programa de Monitorização Externa da LIPOR II, REL / Decreto-Lei n.º 9/ de de Novembro Norma Portuguesa NP7,,, 99
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