Bruna Aguiar CONTOS DE UMA VIVÊNCIA

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Elisa Paranhos Corte-Real
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1 B Bruna Aguiar CONTOS DE UMA VIVÊNCIA

2 IMPRESSÕES Unidade, diversidade, solidariedade Idealização, utopia? Não! Interesse, economia, bajulação Corrupção. Luta, esperança Confiança Levanta, acredita No que uma primavera alcança.

3 PROTOCOLO N Jaqueline da Silva Idade: 16 anos Solteira Negra Natural de Natal/RN Residente na comunidade Nossa Senhora da Apresentação Primeira Gestação Apresenta quadro de hipertensão gestacional identificado desde o 4 mês de gestação. Jaqueline estava assustada. Tinha feito uma longa viagem de sua casa até a maternidade Januário Cico. Estava cansada, sozinha e com fome. Doía. Ela contou sua necessidade. Foi pouco ouvida. Vários jalecos passvam, ninguém a via. Os relógios pareciam estar quebrados e aqueles ponteiros pareciam não girar. Doía. Uma sala. Pequena demais para aquele tanto de gente. Barulho, correria, entra e sai. Ela agora era mais um aparelho na sala. Doía. Induziram as contrações. Doía. Ignoraram seus pedidos. Doía. Invadiram a sala. Doía. Invadiram seu corpo. Doía. Invadiram sua identidade. Ela já não era mais a Jaqueline. Protocolo n

4 PROTOCOLO N Mulheres são violadas todos os dias por um sistema que nos desumaniza e não nos ouve. Precisamos de mulheres nos espaços de deliberação sobre nossas políticas de saúde. Nós queremos entrar no Congresso Nacional!!! Constituinte quando? Já! Anna Camila Augusto Neto Bruna Aguiar Diego Vasconcelos Gaby Varela Gerson Silva Evelyn Capistrano Lara Carvalho Lorena Marcelino Luiz Otávio

5 HÁ BRAÇOS Há braços Numa roda, cheia de pontos Sem fim... Trazendo uma chuva Cheia de histórias assim E elas se repetem Infelizmente E constantemente Elas entristecem Há braços Trêmulos, ofegantes Fortes Porem vacilantes Mas esses braços, Nesses braços Há um laço Laço de luta E por mais que não exija Peço ajuda Pois a caminhada solitária Não traz o prazer da que faço com você Por isso, sem perder tempo Agradeço o que esses braços podem me fazer Quando um coração acelerado Perdido Atordoado É agarrado e invadido De paz, respiração, calor E que naquele momento Esqueceu toda a dor Pois aqui há braços Abraços

6 HOJE ME ENCONTREI Hoje eu me encontrei Mas não me reconheci Era eu em outro mundo E aí... Aí me entristeci Me perguntei Como pode eu ter ficado assim? Como pode? Me respondi: Você não me viu esse tempo todo E esse tempo todo eu estive aqui E eu não entendi Será esse meu fim? Te olho e me vejo assim Tão igual Tão diferente Tão parte de mim Porque assim? Então veio o arrepio Dentro do coração E aí entendi o frio O descaso E pensei que não Não vou deixar isso acontecer Hoje não me encontrei por acaso Achei uma luta pra fortalecer.

7 MUDANÇA Entre tanta confusão cotidiana e urbana a meu redor vi uma estrada. Ela era escondida e poucas pessoas a puderam ver. Junto de mim alguns curiosos por natureza se juntaram. E nós caminhamos. Não sabíamos onde aquele caminho todo ia nos levar. Não sabíamos se íamos chegar a algum lugar. E eu não sabia se aquilo a que me ousava aventurar iria me mudar. Era bonito, parecia música. Parecia música o ritmo de todos aqueles pés dando diversos passos. Passos, passos curiosos, passos indecisos, passos desconfiados, mas passos em frente. Uns um pouco mais largos, outros menores, mas todos sempre em movimento. Nenhum daqueles cento e poucos pés estava parado. Não nos permitiríamos tal coisa, afinal, a pergunta predominava no ar e já estava cravada em nossas mentes: o que vamos encontrar? Mas então o sol se pôs e as coisas começaram a ficar um pouco mais difíceis, escuras. Eu já não sabia mais onde estava pisando e aquela situação me desconsertou. Eu gosto de saber onde estou pisando, eu gosto de saber por onde estou caminhando. Mas eu também tenho recheio e essência curiosa e não deixei com que a cegueira momentânea me parasse. Sem muito conseguir ver, senti uma mão na minha.

8 MUDANÇA Busquei outra mão e arrisquei um passo. Arriscamos mais outro, e outro e outro, até que a caminhada tivesse se tornado menos complicada de ser feita. Em um ritmo cada vez mais coeso, cada vez mais bonito, contagiante e forte nós continuamos. Andamos até que o primeiro raio de sol aparecesse por entre as árvores, de mãos dadas, pés determinados, mente aberta e coração apaixonado por todo aquele processo. Acho que chegamos, pessoal. Podem abrir os olhos. Olhem só! Olhem onde chegamos! Mas espera... olho pra ele, olho pra ela... olho pra você... quem são vocês? Não os reconheço. Vocês me reconhecem? Olho pras minhas mãos, pras suas mãos. Estão todas ligadas. Estamos ligados pela mudança.

9 SOBRE ACORDAR Estava adormecida, dormente. Ela estava vivendo dentro do sonho que seus olhos fechados a proporcionavam. Ali dentro era bom, mas lhe faltava alguma coisa. Ali dentro era confortável, mas lhe parecia sempre que algo não estava sendo mostrado. Até que um dia caiu da cama. O impacto a assustou. ela abriu os olhos e observou. Ficou parada, era muita informação pra processar. Era muita coisa nova pra se aventurar. Seus olhos, agora abertos, não sabiam onde se fixar, era muita informação pra processar. Depois do momento estático, ainda hesitante, deu um passo. Deu mais outro. Mais um... encontrou muita coisa. Entendeu muita coisa. Aprendeu muita coisa. Ainda aprende. Ainda vive. Até que se deitou pra cochilar. Mais uma vez se viu naquele reino dos sonhos. Naquele uma vez Maravilhoso lugar. Mas então ouviu lá de longe: Porque você foi olhar pro outro lado? - Eu não sei, acordei ali Você está muito diferente - Eu não sei, apenas andei por lá

10 SOBRE ACORDAR Mas os olhares permaneceram. Os comentários também. Então ela pensou: Não sei muito bem por onde perambular, mas parada não vou ficar. Mais uma vez, vou acordar.

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