Globalização e Terceirização. Roberto Santiago Vice-Presidente UGT, Presidente do IAEUGT Deputado Federal (2007/ /2015)
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1 Globalização e Terceirização Roberto Santiago Vice-Presidente UGT, Presidente do IAEUGT Deputado Federal (2007/ /2015)
2 Desemprego batendo nos 10% Entre os jovens a situação é pior: 20% Renda do trabalhador em queda (cerca de 11% menor). Comércio e serviço ampliam desemprego; Porém vamos discutir de que forma o capital deve criar emprego.
3 Pode ser um contrassenso mas não podemos permitir que o salve-se quem puder crie uma precarização irreversível. É preciso uma reflexão por parte das lideranças sobre o futuro na organização do trabalho.
4 Não vamos falar dos detalhes de como surgiu a terceirização e onde. A história é importante mas não neste momento de decisão frente a um PL em vias de aprovação. Porém é didático conhecer terceirizações que se transformaram em categorias importantes de trabalhadores. Aprofundar a discussão é importante quando ser contra não é suficiente. Porém um pouco de história pode ser didático para compreender a realidade atual.
5 Usei este titulo, no presente trabalho, pois Globalização e Terceirização são irmãs inseparáveis (embora não siamesas) e seguirão um rumo de expansão, comandadas pelas empresas multinacionais, com amplas alternativas locacionais. Significa, na prática, que se uma multinacional encontrar dificuldades num país migrará para outro onde não tenha tantas restrições. As empresas continuarão ampliando as terceirizações, com objetivos de ganhos de escala e especialização e redução de custos, buscando como resultado conjunto, os ganhos de competitividade.
6 A redução de custos será focado na redução dos custos com a mão-de-obra, seja pelo aumento da produtividade, como pelas reduções relativas de salários e do valor dos benefícios. Como consequência efetiva, os trabalhadores terceirizados terão remuneração relativa menor que os secundarizados, ou seja, os empregados diretos da contratante dos serviços terceirizados. Não há como esconder essa realidade, seja pelos dados atuais como pela própria lógica empresarial ou capitalista com a terceirização. Mas isso não deve ser confundida como precarização das condições de trabalho.
7 Henry Ford tinha ideia de fazer tudo em casa, produzindo dentro do seu grupo empresarial tudo o que ia dentro do seu carro, desde o aço à borracha, integrando as partes sucessivamente e finalizando da sua linha de produção. O conceito da linha de produção prevaleceu. A da verticalização total não. A grande mudança foi promovido pela Toyota, com a organização e gerenciamento da sua cadeia produtiva, integrando sucessivamente compradores e terceiros fornecedores. A cadeia produtiva do toyotismovai do final ao começo.
8 Começa com o justin time, em função da demanda e vai caminhando num processo sucessivo de terceirização, quarteirização, quinteirizaçãoe assim sucessivamente. Com a especificação dos produtos e insumos que devem participar do veículo final. A especificação chega ao ponto de determinar o tipo, granulação e conteúdo do minério de ferro que será utilizado na chapa de aço que irá fazer parte do Corolla, para assegurar a sua qualidade e uniformidade. A cadeia de suprimentos não é uma sucessão de compras comerciais, mas uma rede tecnológica, dentro da qual ocorrem as negociações comerciais. Ou seja uma cadeia de produtores e serviços específicos e especializados.
9 Terceirização consolidada em categoria especifica Asseio e Conservação; Vigilância e segurança. Áreas em que o próprio desenvolvimento da sociedade e segurança no trabalho, exigiram que fossem serviços especializados e que necessitam de investimento constante e modernização. Ambas as categorias se consolidaram.
10 Terceirização da atividade fim e meio O empresário nunca terceiriza a atividade fim de sua empresa: nós é que temos uma visão diferente do que seria a atividade fim (normalmente é onde tem mais trabalhadores!) O que elimina esta discussão? O trabalho especializado. O exemplo são as grandes categorias criadas, citadas anteriormente.
11 A regulamentação hoje se resume ao enunciado (e o código civil) Enunciado 331 Contrato de prestação de serviços. Legalidade -Inciso IV alterado pela Res. 96/2000, DJ I -A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de ). II -A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da administração pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988).
12 III -Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de ) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. IV -O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam articipado da relação processual e constem também do título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de ).
13 Na espera de votação pelo Senado, temos o PL 4330 (PLC 30 Senado) Art. 2º Para os fins desta Lei, consideram-se: I -terceirização: a transferência feita pela contratante da execução de parcela de qualquer de suas atividades à contratada para que esta a realize na forma prevista nesta Lei; II -contratante: a pessoa jurídica que celebra contrato de prestação de serviços determinados, específicos e relacionados a parcela de qualquer de suas atividades com empresa especializada na prestação dos serviços contratados, nos locais determinados no contrato ou em seus aditivos; e capacidade econômica compatível com a sua execução.
14 Art. 15. A responsabilidade da contratante em relação às obrigações trabalhistas e previdenciárias devidas pela contratada é solidária em relação às obrigações previstas nos incisos I a VI do art. 16 desta Lei.
15 Art. 16. A contratante deve exigir mensalmente da contratada a comprovação do cumprimento das seguintes obrigações relacionadas aos empregados desta, que efetivamente participem da execução dos serviços terceirizados, durante o período e nos limites da execução dos serviços contratados: I pagamento de salários, adicionais, horas extras, repouso semanal remunerado e décimo terceiro salário; II concessão de férias remuneradas e pagamento do respectivo adicional; III concessão do vale-transporte, quando for devido; IV depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -FGTS; V pagamento de obrigações trabalhistas e previdenciárias dos empregados dispensados até a data da extinção do contrato de terceirização; VI recolhimento de obrigações previdenciárias.
16 CÂMARA DOS DEPUTADOS III -contratada: as associações, sociedades, fundações e empresas individuais que sejam especializadas e que prestem serviços determinados e específicos relacionados a parcela de qualquer atividade da contratante e que possuam qualificação técnica para a prestação do serviço contratado e capacidade econômica compatível com a sua execução.
17 O Pl4330 acaba com a insegurança jurídica? Extinguir a distinção entre atividade-fim e atividade-meio elimina uma insegurança jurídica, pois a interpretação sobre o que é atividade-fim de uma empresa depende do fiscal, do procurador ou do juiz. Não há uma definição objetiva e também é uma distinção obsoleta na Teoria Geral da Administração. O PL 4330 cria, no entanto, outra: Diz que a empresa pode terceirizar parcela de qualquer das suas atividades, mas não define que parcela. Acaba deixando a cargo da interpretação das autoridades
18 Com a globalização enfrentamos algo mais complexo e que vai exigir muito de nossa criatividade e capacidade de transformação. Falamos de um modelo Sindical de Desde a consolidação das leis trabalhistas, o Brasil promulgou 3 novas constituições, sem que a CLT sofresse alteração substancial; Podemos resistir? Vale a pena para o trabalhador?
19 A mudança no mundo do trabalho provocou uma série de desafios para o movimento Sindical; Trabalhador não cria emprego e as mudanças que ocorrem tem que ser administradas e sempre procurar defender o que é mais precioso: emprego e salário. Porém a compreensão do momento em relação a terceirização é fundamental.
20 A contraposição Sindical a terceirização A realidade que temos a enfrentar é que com a implantação das cadeias produtivas teve como objetivo principal da empresa a qualidade do produto. Porém estabelecida as suas bases, a negociação comercial leva à pressões para minimização dos custos dentro dos padrões de qualidade estabelecidos. O principal fator de gerenciamento dos custos é o da mão-deobra, onde influem as condições de qualificação dos trabalhadores e a sua organização, em torno de Sindicatos. Para superar a força dos Sindicatos as multinacionais espalharam as suas unidades produtivas por todo o mundo, buscando sucessivamente países e regiões internas onde encontrassem dois fatores principais:
21 Mão-de-obra qualificada ou com formação básica para serem qualificados; Menor organização sindical ou força dos sindicatos. A pauta das reivindicações sindicais partem sempre de uma situação existente, lutando por uma melhora ou para evitar uma piora: Principalmente a redução do contingente de trabalhadores empregados. Diante da percepção de fuga da pressão sindical com a diversificação da cadeia produtiva pelo mundo, os sindicatos se opõe à globalização e à terceirização: Com poucos resultados práticos.
22 O confronto entre os empregadores e os sindicatos nas cadeias produtivas As empresas multinacionais acharam um caminho para vencer as forças sindicais: Globalizaram a sua cadeia de suprimentos. Vão atrás de instalações, para suas atividades, ou de terceiros, onde o poder e a resistência sindical seja mais fraca. Um dos principais motivos senão o principal da globalização produtiva industrial é a disputa sindical.
23 Os trabalhadores e seus sindicatos não encontraram o caminho para se contrapor a essa estratégia dos empregadores: Manifestam-se publicamente e em conferências internacionais contra a globalização, mas não conseguem alterar o curso da história que avança cada vez mais para a ampliação da globalização, embutindo a terceirização. Ou seja a terceirização como unidades autônomas, especializadas.
24 Os efeitos sobre os trabalhadores Dois são os efeitos diretos desse processo: um bom e outro ruim. O bom é o aumento global de empregos, com as unidades descentralizadas das cadeias produtivas gerando mais empregos, massa salarial e maior poder de consumo nesses locais; O ruim é a perda de empregos dos trabalhadores das unidades com produção reduzida ou encerrada: Eles tem que buscar outros empregos, com menor remuneração, trabalhar por conta própria, migrar para outros países e ficar desempregado.
25 A remuneração média dos trabalhadores cai, mas esse elemento é apenas um indicador estatístico, pois não existem mecanismos de relacionamento internacional entre os trabalhadores. Isso só ocorre nas cúpulas da organização sindical, com baixa representatividade. A redução de grandes contingentes de trabalhadores, pela descentralização da cadeia de suprimento, pode dar origem a crises internacionais.
26 A terceirização dos serviços O principal foco das discussões e regulação da terceirização é a dos serviços, o que envolve uma distinção entre os ditos tradebles(comercializáveis ou exportáveis ) e os nontradebles : Os tradeblessão os serviços que podem ser feitos fora da empresa e até importados; Osnontradeblessão os que precisam ser feitos localmente, não podendo ser importados, sendo que alguns precisam ser prestados dentro da empresa contratante final dos serviços.
27 São, por exemplos, os serviços de faxina, segurança, e outros. Serviços médicos podem ser contratados pela empresa para atender aos seus funcionários para serem tratados nas clínicas ou hospitais localizados fora da empresa: Eventualmente a empresa precisa manter um serviço de atendimento a emergências, em caso de acidentes
28 Mudanças na organização dos serviços Com a evolução tecnológica e especialização profissional já houve e continua havendo grandes alterações na organização empresarial dos serviços, alterando os modelos tradicionais. A mudança mais visível ocorreu nos serviços de atendimento e comunicação telefônica, com a instalação dos chamados call center.
29 Os call centers tem, atualmente âmbito internacional: As companhias aéreas de todo o mundo reservam e vendem passagens nos callcenters localizados na Índia. Os atendimentos dos chamados help desk, ou seja, assistência remota a problemas com computador são feitos também por contactcenter localizados na Índia ou em qualquer outra parte do mundo, inclusive no Brasil (caso da IBM); Os SACs(serviços de atendimento ao consumidor) para ouvir e anotar, principalmente, as reclamações dos consumidores estão em todo mundo.
30 A terceirização dos chamados Call Centers Os contactcenters, e mais especificamente o CallCenter são os principais alvos das restrições de terceirização, com a desconsideração como serviços contratados, caracterizando os empregados da fornecedora como empregados da contratante.
31 A primeira grande dificuldade é caracterizar quem trabalha para quem? Quem trabalha para bancos e terá que se tornar bancário; Quem trabalha para companhia aérea e será considerada aeroviária; Quem trabalha na cobrança de uma siderúrgica e se tornará um metalúrgico? E se pelo rodízio de empregados, mudar de posto e passar a atender a uma outra empresas? Terá que mudar de Sindicato?
32 Se for estabelecida a restrição à terceirização dos callcenter, as prestadoras de serviços irão migrar para os países vizinhos, principalmente Argentina, Paraguai e Uruguai, por estarem no Mercosul e as que estão no pais irão prestar serviços apenas a empresas estrangeiras, para evitar as equiparações sindicais e remuneratórias. Algumas farão uma triangulação, contratando a empresa ou unidade instalada no Uruguai que, por sua vez subcontrata a unidade brasileira. Os trabalhadores brasileiros continuam trabalhando no Brasil, atendendo a usuários nacionais, mas formalmente trabalham para uma empresa exportadora.
33 A empresa prestadora dos serviços poderá ser considerada uma interposta pessoa, mas as empresas gerarão uma complexa rede internacional para a sua descaracterização. Os Sindicatos irão reclamar, o Ministério Público do Trabalho irá promover ações de difícil execução, pois envolverão intrincadas relações com diversos países, para as quais as multinacionais estarão preparadas e as instituições nacionais não.
34 Não se trata de um desalento acerca da luta em relação a terceirização. E sim colocar em discussão que temos algo maior em jogo que não se limita a pressão sobre o legislativo para que vote ou deixe de votar. Hoje temos cerca de 12 milhões de trabalhadores na posição de terceirizados que merecem uma regulação.
35 Muito obrigado!
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