Prevenção de iatrogenias em idosos em unidade de terapia intensiva
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1 Prevenção de iatrogenias em idosos em unidade de terapia intensiva Elizângela Pereira Guedes Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem. Celina Castagnari Marra Docente do Curso de Graduação em Enfermagem. Orientadora. RESUMO Os autores descrevem, a partir de pesquisa bibliográfica, as principais ocorrências iatrogênicas em unidade de terapia intensiva realcionadas à assistência de enfermagem. Relacionam as principais causas e identifica as formas de prevenção, enfocam o papel da enfermagem como provedor de qualidade assistencial voltada ao idoso, já que esta é uma população com dificuldades de adaptação e que necessita da enfermeira uma maior atenção, compreensão e preocupação. Descritores: Iatrogenia; Unidade de Terapia Intensiva; Assistência de Enfermagem. Guedes EP, Marra CC. Prevenção de iatrogenias em idosos em unidade de terapia intensiva. Rev Enferm UNISA 2002; 3: INTRODUÇÃO No decorrer dos estágios de graduação da autora deste trabalho, pode-se observar a precariedade no atendimento ao idoso (pela falta de conhecimento dos profissionais de enfermagem com este público específico), surgiu então a idéia de conhecer esse ser na sua integralidade funcional, biológica, social e psíquica. O olhar como um todo, holístico. Mesmo sendo o envelhecimento um processo diferencial, de acordo com a Organização Mundial da Saúde OMS (1984), a definição de idoso é diferenciada para países desenvolvidos e para países em desenvolvimento, pois está ligada à qualidade de vida. Nos países desenvolvidos são considerados idosos indivíduos com 60 anos e mais. No Brasil é idoso quem tem 60 anos e mais, ou ainda por determinadas ações governamentais, aquelas pessoas que mesmo tendo menos de 60 anos, apresentam acelerado processo de envelhecimento, por dificuldade de vida, como os residentes do Norte e Nordeste do país, em relação aos que habitam outras regiões. Segundo a OMS (1984), uma população é considerada estruturalmente envelhecida quando à proporção de pessoas com mais de 60 anos atinge 7% do total e mantém tendência de crescimento. O Instituto Brasileiro de Geográfico de Estatísticas IBGE (2000), referiu que, o que ocorre no Brasil é que 8,3% de toda a população já eram de idosos e a tendência é que em 2010 teremos 10 % de idosos em todo o país, ou seja, o Brasil não é um país de jovens. De acordo com estes dados a autora do trabalho pôde perceber que está aumentando o número de idosos no Brasil e apesar do que se tem pesquisado existe muito pouco estudo a respeito deste assunto e o Brasil por já não ser um país de jovens, se faz necessário aumentar o número de estudos destinados a essa clientela.é necessário então entender que a palavra iatrogenia derivada do grego é composta por iatro que significa médico e gênese origem, sendo definida ora pela ação prejudicial dos profissionais de saúde, inclusive da equipe de enfermagem, durante a prestação da assistência, ora pelo resultado indesejável relacionado à intervenção terapêutica (PADILHA 1998). Brennam et al citado por PADILHA (1998) considera que iatrogenia sob o enfoque profissional, é definida como negligência, quando decorrente de condutas que se encontram abaixo dos padrões estabelecidos, caracterizando um erro profissional e portanto passível de penalidades. Já Hart et al, também citado por PADILHA, a define como um 57
2 evento indesejável de natureza danosa ou prejudicial ao paciente, conseqüente ou não de falha do profissional envolvido na assistência. Segundo PADILHA a unidade de Terapia Intensiva é, um sistema constituído por importantes sub sistemas porque de suas interações dependem os resultados que dele se espera, ou seja, o paciente (no caso o doente crítico), dentro de um ambiente terapêutico com todos os recursos humanos e materiais necessários para minimizar a ocorrência de situações que possam colocar em risco sua integridade fisica e psicológica. Considerando a um sistema abrangente e complexo, inserida no macro sistema hospitalar, cuja finalidade é o restabelecimento das funções vitais do paciente, visando sua saída da unidade sem que tenha sido colocado em situações de riscos desnecessários ou falha humana. Os objetivos do estudo foram: Relacionar as principais ocorrências iatrogênicas em idosos em Terapia Intensiva Identificar as principais formas de prevenção de iatrogenias em idosos Enfocar o papel da enfermagem no processo de prevenção em Terapia Intensiva, METODOLOGIA Esta é uma revisão bibliográfica realizada a partir de uma pesquisa feita no banco de dados DEDALUS e LILACS, onde foi realizada uma pré seleção de 28 artigos científicos que tratavam o tema iatrogenia todos em língua portuguesa e publicados nos últimos dez anos (de 1991 a 2001 no Brasil em periódicos da área da SAÚDE e ENFERMAGEM. Destes foram recuperados 06 artigos científicos que tratavam especificamente da questão iatrogenia relacionada com assistência de enfermagem ao idoso em unidade de terapia intensiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização do idoso Atualmente, temos observado e a literatura relata um grande aumento da população idosa no mundo, o que, conseqüentemente, compromete cada vez mais leitos hospitalares, principalmente os da UTI. Esses idosos têm, em relação aos pacientes de outras faixas etárias, maiores dificuldades de adaptação pelo processo de envelhecimento, que lhes proporciona alterações tanto fisiológicas quanto psicológicas e sociais. PEDREIRA (2000), observa que esses idosos, muitas vezes, apresentam comportamentos, quando estão internados e principalmente na UTI, que diferem dos comportamentos apresentados por pacientes de outras idades como: desorientação, não aceitação ao tratamento e aos cuidados, entre outros, sendo, por vezes, tidos como desorientados, agitados, avessos ao tratamento ou esclerosados. Quando, na verdade, podem estar apenas apresentando dificuldades de adaptação em um ambiente que não é o seu, ao lado de pessoas com as quais não convive, em uma situação nova e estressante. Assim, é importante atentar para o que está velado, oculto por trás de queixas, agitações e não aceitação ao tratamento. A autora acredita que ao se avaliar a saúde de uma pessoa idosa, não se pode fazê lo apenas em termos biomédicos. As dimensões física, psíquica e social devem ser contempladas. Isso denomina se avaliação geriátrica abrangente ou avaliação global holística, na qual são utilizadas medidas objetivas dos diferentes desempenhos. FERNANDES (1999) apud Rubenstein (1995) ressalta que a avaliação funcional em geriatria visa ao desenvolvimento de um plano abrangente para a terapia e acompanhamento a longo prazo, e constitui um diagnóstico multidisciplinar, designado para quantificar os problemas e capacidades funcionais, médicas e psicossociais de um indivíduo idoso. Para TAVARES; SANTORO (1999), o idoso necessita receber assistência de enfermagem de forma sistematizada, cientificamente fundamentada e com visão holística. CARVALHO et al. (1996), em estudo das complicações iatrogênicas mais freqüentes em indivíduos idosos afirmam que, todos os setores do organismo são afetados pelo processo de envelhecimento. Em decorrência dessas modificações, há progressiva perda da capacidade de adaptação ao meio ambiente e maior vulnerabilidade do indivíduo às diversas formas de agressão, como por exemplo, as intervenções diagnósticas e terapêuticas. Existe então uma maior incidência de processos patológicos e com o progredir da idade, as afecções se tomam mais freqüentes. Assim, arteriosclerose, hipertensão arterial, osteoporose, ostoartrose, bronquite, infecção urinária, catarata, surdez são alguns exemplos de processos habituais do idoso que necessitam manuseio diagnóstico e terapêutico, aumentando a probabilidade de iatrogenia. A autora concorda com FERNANDES (1999) apud Nettina (1998), que a avaliação funcional é essencial na assistência ao idoso, porque: Oferece uma abordagem sistemática para avaliar déficits da pessoa idosa que geralmente passam despercebidos; Ajuda o enfermeiro a identificar problemas e utilizar recursos adequados (tipo de tratamento); Proporciona um meio para avaliar o progresso e a deterioração com o passar do tempo; FERNANDES (1999), considera ainda que a pessoa idosa apresenta peculiaridades distintas do adulto jovem, e é importante que o enfermeiro ao avaliar suas condições físicas, psíquicas e sociais, focalize suas incapacidades, assim como sua capacidade funcional residual. Prncipais iatrogenias Como iatrogenia não é somente sinônimo de procedimento errado, a autora destaca e concorda com VEIGA (1995) apud Coura (1989), que as iatrogenias podem ser classificadas em: IATROGENIA FÍSICA mais comum e generalizada, causada por intervenções instrumentais e manobras semióticas, especialmente os métodos ditos invasivos, uso de medicamentos, contrastes e vacinas, irradiações e toda tecnologia empregada na chamada medicina moderna. IATROGENIA PSÍQUICA é a mais sutil e de diagnóstico negligenciável; causada por inadvertência, ignorância e até 58
3 má fé, como nos casos freqüentes de exagero pelo médico para cobrar mais caro por seu tratamento. IATROGENIA SOCIAL identificada quando da explicitação pública de diagnósticos incorretos ou exagerados, que podem levar o paciente à discriminação social e isolamento, dentro inclusive do seu próprio núcleo familiar. A autora destaca que é preciso que a enfermeira saiba realmente intervir e questionar o número de intervenções médicas e de enfermagem para que não recaia no mesmo erro, pois a falta de intervenções também pode ocasionar ou até promover iatrogenias ao cliente pela escassez de procedimentos, o que comumente acontece com os indivíduos idosos. Quanto ao tipo de ação, as iatrogenias podem ser causadas por excesso, omissão, erro e acidente. Destes, a omissão parece ser o mais freqüente. O excesso de intervenções, de medicamentos e de realizações de exames, muitos dos quais desnecessários, determina comumente, danos físicos e psíquicos aos pacientes, VEIGA (1995). Entendendo por iatrogenia a ocorrência de uma alteração indesejável, de natureza prejudicial ou danosa ao paciente, desencadeada por omissão ou ação inadvertida ou falha, voluntária ou involuntariamente praticada por quem assiste o paciente, parece que, mais importante do que apontar quais são, já que podem ser inúmeras, seria identificar em que circunstâncias elas podem ocorrer. Com base nesta afirmativa, poderíamos dizer que as iatrogenias aconteceriam segundo três hipóteses: a) Quando a demanda do sistema é maior do que a performance de quem cuida, isto é, quando o profissional está sujeito a uma sobrecarga de entradas (solicitações, informações) maior do que é capaz de processar. Esse tipo de situação pode ser comum na UTI, quando se tem uma porcentagem de ocupação muito alta, com muitos pacientes instáveis, com deficiência de recursos humanos, na vigência de intercorrências como parada cárdio-respiratória, admissão e alta de pacientes, solicitação de familiares e visita, dentre outros. Nessas circunstâncias, teríamos uma causa isolada de ocorrência iatrogênica. b) Quando existe uma queda ou baixo desempenho profissional do indivíduo que presta assistência direta ao paciente. Neste sentido, cabe ressaltar que são vários os fatores que levam o indivíduo a ter um desempenho desfavorável na UTI: - Despreparo do profissional (baixos níveis de conhecimento técnico científico; inexperiência de trabalho em UT1; inexperiência no manuseio do paciente crítico); - Grau de fadiga ( no nosso meio, cabe salientar que grande número de profissionais tem duplo e até triplo emprego); - Condições de saúde do profissional; - Condições desfavoráveis de trabalho (insatisfação quanto à remuneração salarial), quanto aos dias de folga, problemas de relacionamento pessoal, insatisfação por estar alocado na UTI, etc.) E por fim, a terceira hipótese que se dá quando existe a combinação desses dois fatores, ou seja, a diminuição da performance do profissional e o aumento da demanda do sistema, o que parece caracterizar a situação da maioria das UTIs brasileiras. Um ponto que vale também ressaltar e que constitui fator significativo para a ocorrência de iatrogenias e que não pode ser esquecido é a própria falibilidade do ser humano. Esta, apesar de certa, é imprevisível e sobre a qual não se tem como interferir, fazendo crer que as iatrogenias podem ser em muito minimizadas, porém nunca totalmente abolidas, PADILHA (1992). Distribuição de iatrogenias por procedimentos de enfermagem segundo VEIGA (1995). Procedimentos e latrogenias: - Sondagem nasogástrica obstrução por resíduos alimentares lesão de aleta nasal, ectópica; - Contenção mecânica escoriação e edema no local da contenção, contenção de membro fraturado, edema e rubor no local da contenção, edema de extremidade de membro contido; - Punção venosa com dispositivo jelco rubor e calor no local da punção, edema no local da punção, obstrução do cateter por término da solução em uso; - Punção venosa com dispositivo scalp calor e rubor no local da punção, obstrução da agulha por término da solução em uso, punção em sentido contrário à circulação venosa, edema por extravasamento de solução no local da punção; - Sondagem vesical adaptação a sistema aberto de drenagem improvisado em frasco de solução venosa, sangramento uretral na introdução do cateter, coletor colocado dentro do balde de lixo; - Oxigenoterapia administração de 02 seco, por término de solução no umidificador; - Dedo de luva - edema de pênis por garroteamento, maceração de pênis; - Administração de medicação venosa - infiltração subcutânea, erro de dosagem, diluição com quantidade inadequada de solução, diluição com substâncias impróprias; - Mobilização de pacientes - queda do leito, mobilização inadequada de paciente com trauma raquimedular; - Curativo - avulsão de dreno de Penrose, corte do cuff de cânula de traquestomia, limpeza de ferida cirúrgica utilizando balde de lixo como suporte para o membro; Principais formas de prevenção Entre as complicações que podem ser evitadas por medidas preventivas, temos como as mais freqüentes os traumas e as escaras. Pacientes com afecções neurológicas são os mais sujeitos a quedas, porém também são fatores de risco medicamentos anti hipertensivos, ansiolíticos, hipnóticos e sedativos. Para evitar essa complicação, diversas medidas devem ser tomadas pela equipe que atende o paciente: - Mostrar a localização e o funcionamento de todos os sistemas de comunicação; - Manter discreta luminosidade no quarto; - Utilizar grades no leito; - Evitar superfícies escorregadias, degraus, tapetes; - Colocar corrimão em todos os locais onde o idoso se locomove. Em relação as úlceras de decúbito ou escaras medidas 59
4 preventivas são de grande importância, tendo sido demonstrado que podem reduzir a incidência de escaras em 50%. Estas medidas visam eliminar os fatores de risco e, principalmente, mobilizar constantemente o paciente. CARVALHO et al (1996) apud Seiler e Stähelin (1985), as seguintes manobras são indicadas em pacientes com risco de desenvolver escara: - Virar o paciente a cada duas horas; - Colocar em posição oblíqua com 30' de inclinação para evitar pressão no sacro, grande trocanter, maléolo lateral e calcanhar; - Não elevar a cabeceira da cama mais de 30', para evitar forças tangentes no local da compressão; - Elevar pacientes sentados durante dez segundos a cada dez minutos, para prevenir escaras sacrais; - Empregar colchões macios de espuma, água ou ar; - Manter condições higiênicas, evitando umidade e irritação cutâneas nos locais de pressão. PADILHA (1997), ressalta que a deficiência de recursos materiais e condições clínicas do paciente são apontados como fatores predisponentes, o que demonstra que enfermeiros visualizam a ocorrência iatrogênica como resultante de vários fatores e não só os relativos ao profissional. Dentro da estruturação física da UTI cabe salientar que muitos elementos que lhe são inerentes podem contribuir para que essa segurança se dê e conseqüentemente para que as iatrogenias não ocorram, podendo se citar entre eles: - Dimensionamento da área física e da unidade do paciente, que devem proporcionar ampla visualização, bem como fácil acesso ao cuidado; - Condições adequadas de ventilação e iluminação que facilitem a avaliação do paciente, bem como a prestação de cuidados, além de evitar ocorrência de problemas emocionais; - Lavabos em quantidade satisfatória de modo a possibilitar higienização freqüente das mãos; - Área que prevê fluxo adequado de material estéril e contaminado; - Sistema de canalização de gases e vácuo que sejam adequados e seguros; - Presença de local específico para a guarda de material e equipamento, visando a total liberação da área de atendimento, dentre outras. Assim, diante desse panorama, resta questionar o que fazer para prevenir o acontecimento de iatrogenias, em condições muitas vezes precárias e deficitárias, sem contudo cair ao nível do desesperador, do conformismo ou da imobilidade. Acredita se que algumas medidas possam ser prontamente adotadas. Uma delas seria o investimento mesmo que individual no próprio desenvolvimento técnico científico. Outro item a ser enfatizado e praticado é a atuação em equipe, a solidificação de um trabalho conjunto onde a identidade do grupo, a sua unidade, a sua confiabilidade sirvam não só para uma melhoria da qualidade de assistência, como também dê força e poder político para se obter das instâncias decisórias da instituição, modificações e recursos necessários que são indispensáveis ( PADILHA, 2000). Autoras como VEIGA(1995); PADILHA (1992); concordam que em relação à estrutura física, há elementos que contribuem para a segurança do paciente, sendo eles: - Espaço físico e da unidade do paciente que possibilite fácil visualização e acesso ao cuidado; - Adequadas condições de ventilação e iluminação, favorecendo a avaliação do paciente e prestação do cuidado; - Quantidade satisfatória de lavabos, facilitando a higienização freqüentes das mãos. - Trânsito adequado de material estéril e contaminado; - Adequado sistema de canalização de gazes e vácuo; - Determinar local específico para guarda de material e equipamentos, deixando livre a área de atendimentos. Quanto aos recursos humanos, temos: - Manter profissionais qualificados, em quantidade suficiente para atender a demanda de serviço na unidade; - Estabelecer, sistematicamente, o processo de educação continuada e; - Executar periodicamente avaliações de desempenho destes profissionais. Enfermagem e qualidade da assistência LIMA et al. (1997), ressaltam que se a instituição formadora e empregadora não tem suprido a demanda de formação dos profissionais para tal atividade, os enfermeiros provavelmente tem procurado capacitar se individualmente, sendo autodidatas, buscando por conta própria desenvolver se uma vez que dele será cobrado desempenho competente e sobre ele recairão os ônus de possíveis iatrogenias, inclusive denúncia caso ocorram. A autora concorda com PEDREIRA (2001), quando diz que a essência da enfermagem é o cuidado, por isso, este não deve ser expressado como manipulação e dominação do outro, mas sim como um cuidado com o outro, permitindo a expressão e a manifestação deste em seu modo de ser, no que lhe é próprio. É preciso repensar o cuidado nas UTIs, para que este não passe a ser orientado pela lógica de um saber dominante, orientado pela técnica, por uma visão mecanicista, estreita, simplificada, que deixa o acontecimento perdido em si, retraído, já que não é visto em sua essência. Embora por determinação da Lei do Exercício Profissional de Enfermagem, a assistência de enfermagem ao doente crítico deva ser exclusiva dos enfermeiros, não e essa a realidade encontrada nem mesmo nas UTIs da região central do Município de São Paulo, considera (PADILHA, 2000). No que diz respeito aos recursos humanos, evidentemente, maior segurança será proporcionada à medida que se dispuser de: - Quantidade suficiente de profissionais; - Qualidade satisfatória desse pessoal; - Processo de educação continuada sistematizado; - Avaliações de desempenho periódicas que possibilitem a retroalimentação do processo. Com relação aos recursos materiais, da mesma forma, a quantidade e qualidade satisfatórias de materiais e equipamentos são elementos que vão predispor a uma maior segurança do paciente na UTI na medida em que permitem: - Execução correta dos vários procedimentos técnicos; 60
5 - A troca sistematizada dos acessórios de respiradores, evitando infecções respiratórias; - Uso exclusivo de materiais e equipamentos dentro da UTI, sem perda de tempo no sentido de providenciá los num momento de urgência; - Possibilidade de manutenção periódica dos equipamentos sem prejuízo da assistência ao doente. (PADILHA, 1992). Para VEIGA (1995) apud Ribeiro (1917), a integração multiprofissional representa maior ou menor dificuldade de operacionalização, estando na dependência do ambiente físico, natureza, volume e complexidade do trabalho, dos recursos materiais e humanos e estrutura organizacional dos serviços. A modernização de aparelhos e equipamentos, isoladamente, não implica melhoria da qualidade da assistência prestada. Na nossa realidade médico hospitalar, por conseguinte, há a utilização de pessoal de enfermagem menos qualificado, sob alegação de que a contratação de mão de obra do enfermeiro é mais onerosa, o que contribui para a minimização da qualidade da assistência de enfermagem, e implica maiores riscos para o paciente. Ainda para que a assistência de enfermagem qualificada se desenvolva, deve se enfatizar: - Equilíbrio entre recursos humanos e demanda de serviço, racionalmente distribuídos nas diversas categorias profissionais que compõem a equipe de enfermagem, desempenhando suas funções afins; - Utilização correta do instrumental necessário à prestação da assistência requerida pelo paciente; - Disponibilidade de recursos materiais para a execução dos vários procedimentos de enfermagem; - Bom sistema de avaliação e de supervisão; - Adequado programa de educação continuada para todos os elementos da equipe; - Adoção de um sistema efetivo de registro de informações; - Ambiente e tecnologias apropriados para atender ao cliente na especificidade de seu caso clínico. Outro fator a ser considerado é a desproporção quantitativa entre o enfermeiro e demais categorias dentro da própria equipe, desviando o do cuidado direto ao paciente, apesar do aumento da complexidade da tecnologia atualmente utilizada, ficando assim condicionado às tarefas gerenciais e de supervisão de pessoal. O fato de alguns procedimentos técnicos terem sido repassados ao longo do tempo durante o ensino de enfermagem e desenvolvidos pelo profissional após a sua formação, do modo como é feito atualmente, não invalida o fato dos mesmos serem repensados em prol da prestação do cuidado de enfermagem de uma forma holística, o que aliás é um dos propósitos deste estudo. Esta preocupação é consoante à nova visão no atendimento de saúde, e que está sendo objeto de preocupação da bioética. Segundo NASCIMENTO e SOUZA (1997) apud Garrafa (1995), entre a dialética questão da beneficência e de não maleficência nascem as principais mudanças com vistas à melhoria da qualidade dos cuidados prestados à população. Desse modo, os procedimentos que foram formalizados a partir da sua prática devem começar a ser questionados. Ainda segundo o autor acima referenciado, a bioética poderia ser definida como sendo: a procura de um comportamento responsável de parte daquelas pessoas que devem decidir tipos de tratamento. O fazer em enfermagem tomou se objeto de poucos estudos em relação a outros de igual valor, que por serem difundidos têm merecido lugar de destaque na nossa profissão. No entanto, é o FAZER que determina através da sua prática a evolução e/ou adaptação de antigos conceitos no ato de assistir, deste modo, a perspectiva de desenvolvimento de novos estudos a partir da descrição das síndromes da assistência de enfermagem observados durante a prática assistencial, propiciará à enfermagem condições de não só readaptar e emancipar as suas técnicas como também respaldá las cientificamente a partir de uma visão crítica e questionadora. (NASCIMENTO; SOUZA; 1995). Devido a consulta de enfermagem proporcionar uma maior interação idoso-enfermeiro, assim como permitir o levantamento de problemas de enfermagem, para o planejamento, execução e avaliação da assistência de enfermagem a ser aplicada ao idoso de maneira efetiva e com qualidade, julgamos ser a consulta de enfermagem Geriátrica e Gerontológica, uma necessidade para a concretização de assistência integral e de qualidade.(tavares; SANTORO; 1999). PEDREIRA (2001) apud Heidegger (1971), reforça a idéia de que nada na terra está solto, o paciente na UTI também não é um corpo doente isolado. Mas ele tem também uma história, têm hábitos de vida, tem rotinas, tem sentimentos e comportamentos que precisam ser compreendidos e respeitados. Por isso, estar próximo ao paciente não é ter uma proximidade corporal ou parar para conversar, é preciso mais, é preciso conhecer a sua essência, reconhecê lo como um ser próprio, individual, pois o paciente na UTI está sempre se relacionando com tudo à sua volta: profissionais, outros pacientes e equipamentos. Para isso, no nosso dia a dia de cuidar a pessoa doente, não podemos separar a doença com sua sintomatologia, e direcionar o olhar somente para ela. É preciso ter em mente este novo conceito de saúde: um completo estado de bem estar físico, mental e social do indivíduo, e ver o paciente de forma integral, pois, quando olhamos apenas a doença, estamos assumindo uma atitude imediatista, dando uma solução paliativa ao desequilíbrio da pessoa. Diferente de quando passamos a compreendê la em seu ser, como ser humano com características próprias, que tem uma história, ocupa um espaço, interagindo com este e com todos à sua volta. Para estar próximo é preciso enxergar o sentido, a essência da coisa, só assim pode se apreendê la. Por isso estar próximo ao idoso crítico é saber escutá lo, prestar um cuidado com ele, e não para ele, é compartilhar, compreender, enxergar o ser humano como alguém que tem uma história, que tem seus costumes próprios, crenças, desejos, e não enxergar o doente como uma doença, sendo tratado apenas pela técnica. É preciso, portanto, resgatar o singelo, aquilo que nos toca como um desabrochar, um acontecimento, e não pensar 61
6 que tudo já tem uma explicação, uma justificativa fechada, definida. Com o idoso crítico, percebemos esse tipo de atitude quando este, muitas vezes desorientado por não ter sido informado sobre o ambiente em que está, apresenta agitação, inquietação, e passa a ser sedado; ou quando o idoso, incomodado ou deprimido pela situação da doença, afastado de familiares e amigos, não aceita o tratamento e os cuidados, sendo, por isso, visto como rebelde, teimoso, agitado, esclerosado ficando então contido no leito. Geralmente, não se para a fim de questionar os acontecimentos em sua essência, não se reflete sobre eles. Essa população, às vezes referida como difícil de lidar, queixosa, não colaboradora, muitas vezes tem dificuldades que no dia a dia, em seu cotidiano o enfermeiro não consegue detectar. Mas, a partir do momento em que este direcionar um olhar mais atentivo, parar para escutar sua clientela, poderá descobrir que o paciente idoso tem inúmeras possibilidades de ser, de expressar seus sentimentos, podendo o profissional, a partir daí, melhorar a qualidade de sua assistência (PEDREIRA, 2001). CONCLUSÃO O idoso crítico necessita de um olhar mais atento e é a enfermeira quem deve encontrar uma forma de assegurar a continuidade de sua assistência, até porque esta é uma população que a cada dia, ocupa mais leitos hospitalares e que tende a ser a grande clientela das UTIs gerais no futuro. É preciso, então, promover a qualidade da assistência de enfermagem, minimizando assim ocorrências iatrogênicas que podem ser diminuídas através de uma assistência específica e não generalizada para cada cliente geriátrico, pensando o ser humano em sua essência, em seu ser como pessoa que esta desabrochando naquilo que lhe é próprio. Necessário se faz promover nas UTIs um processo de educação continuada sistematizado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Organização Mundial da Saúde (OMS), São Paulo, PADILHA, KG. latrogenias em Unidade de Terapia Intensiva: uma abordagem teórica. Rev. Paul. Enf, v. 11, n.2, p , VEIGA, KCG. latrogenias de Enfermagem em Unidade de Emergência. Rev. Baiana. Enf, v.8, n. 1/2, p , CARVALHO FILHO, ETC. et al. latrogenia no Idoso. Rev. Bras. Med, v.53, n.3, p , NASCIMENTO, MAL.; SOUZA, EF. Síndromes da Assistência de Enfermagem. Rev. Bras. Enferm, v.50, n. l,p.7-16,1997. LIMA, AFC. et al. Métodos Dialíticos e Ocorrências latrogênicas de Enfermagem na UTI: análise da formação teórico prática dos profissionais. Rev. Paul. Enf, v. 16, n.1/3, p.20-29, CARVALHO FILHO, ETC. et al. latrogenia em Pacientes Idosos Hospitalizados. Rev. Saúde Pública, v.32, n.1, p.36-42, TAVARES, S.; SANTORO, AC. Consulta de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica: Uma necessidade. Acta Paul Enf, v. 12, n. 1, p.78-85, FERNANDES, MGM. Avaliação da Capacidade Funcional em Idosos, Rev. Nursing, v.2, n. 13, p.26-9, BRASIL, INSTITUTO BRASILEIRO GEOGRÁFICO DE ESTATíSTICAS (IBGE). São Paulo, PADILHA, KG. A Prática de Enfermagem em UTI e as Ocorrências latrogênicas: considerações sobre o contexto atual, Rev. Paul. Enf, v. 19, n.3, MENEZES, TMO.; OLIVEIRA, C.; BAQUEIRO, M13. A Enfermagem e o uso de Medicamentos pelos Idosos, Rev. Nursing, v.3, n.30, p.31-4, PEDREIRA, LC. O Cuidado Hedeggeriano e a Assistência de Enfermagem ao Idoso na UTI, Rev. Nursing, v4, n.34, p.22-5,
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