TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Lençóis Paulista, em que é apelante FAZENDA DO ESTADO, é apelado ARON WAJNGARTEN. ACORDAM, em 32ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores FRANCISCO OCCHIUTO JÚNIOR (Presidente sem voto), RUY COPPOLA E KIOITSI CHICUTA., 13 de dezembro de 2012 HAMID BDINE RELATOR Assinatura Eletrônica

2 .Voto n ª Câmara de Direito Privado. Ap. com revisão n Comarca: Lençóis Paulista. Apelante: FAZENDA DO ESTADO. Apelado: ARON WAJNGARTEN. Juiz: Mário Ramos dos Santos. Execução de título extrajudicial por quantia certa. Embargos à execução. Honorários periciais aprovados por decisão judicial. Assistência Judiciária. Ações cujos sucumbentes são beneficiários da justiça gratuita. Carência da ação afastada. As certidões de objeto e pé constituem títulos executivos extrajudiciais, nos termos do artigo 585, VI, do CPC, a despeito de a Fazenda Pública não ter participado da relação processual da qual se originaram os créditos exequendos. Honorários do perito que devem ser ressarcidos pela Fazenda do Estado (CF, art. 5º, LXXIV, e artigo 3º, V, da Lei 1.060/50). Inviabilidade da adoção de procedimento administrativo para o recebimento da remuneração pleiteada. Vedada a cobrança extrajudicial porque posterior ao cumprimento dos encargos do perito. Pedido subsidiário de redução dos honorários periciais. Vedação por configurar inovação em fase recursal. Sucumbência mantida. Recurso improvido. A r. sentença de fs. 30/35, cujo relatório se adota, rejeitou os embargos à execução opostos contra a execução por quantia certa movida em face da Fazenda do Estado para a satisfação de crédito de honorários periciais. Inconformada, a embargante apelou, arguindo a nulidade da execução por ausência de título executivo, pois certidão expedida por cartório não é documento hábil para embasar a cobrança de honorários periciais, a falta de interesse de agir em razão da existência de um procedimento administrativo próprio para o pagamento desses honorários e, subsidiariamente, a redução dos honorários arbitrados. APELAÇÃO nº /7

3 Recurso regularmente processado, dispensado o preparo e com contrarrazões (fs. 50/65). É o relatório. Trata-se de embargos à execução de título extrajudicial por quantia certa, fundada em certidões de objeto e pé emitidas pelos Juízos de Direito das Comarcas de Lençóis Paulistas (fs. 14/15, 17/31, dos autos da ação de execução) e Bauru (fs. 16, dos autos da ação de execução), que consubstanciam o arbitramento de honorários periciais em processos cujas partes sucumbentes eram beneficiárias de assistência judiciária gratuita. Em razão do cumprimento de seus encargos, foram fixados honorários em seu favor no total de R$13.970,63. As certidões de objeto e pé apresentadas constituem títulos executivos extrajudiciais, nos termos do artigo 585, VI, do CPC, que podem ser exigidos da Fazenda Pública, em conformidade com a Súmula 279 do STJ: A certidão de honorários expedida em favor do perito é título executivo extrajudicial, nos termos do artigo 585, inciso VI, do CPC e Súmula 279 do C. STJ (Ap. n , rel. Des. Francisco Occhiuto Júnior, j ). No mesmo sentido: Ap. n , rel. Des. José Malerbi, j , AgRg n , rel. Des. Felipe Ferreira, j. APELAÇÃO nº /7

4 e Ap. n , rel. Des. Dyrceu Cintra, j É irrelevante a participação da Fazenda Pública na relação processual que originou o título executivo em comento, pois dela não depende a constituição do título executivo, decorrente da vontade do legislador (CPC, art. 585, VI). A condenação da apelante no pagamento da verba salarial resulta do artigo 5º, LXXIV, da CF, que a obriga a suportar as despesas de assistência judiciária dos necessitados. A cobrança dos honorários só é dirigida ao Estado, porque, do contrário, a gratuidade estaria sendo prestada pelo perito, e não por este, que está obrigado a fazê-lo (CF, art. 5ª, LXXIV, e art. 3º, V, da Lei 1.060/50). Nesse sentido: A presente ação de cobrança foi movida por perito judicial em desfavor do Estado de, almejando o pagamento de honorários periciais supostamente devidos, em decorrência da prestação de serviços requeridos ao magistrado por partes sucumbentes, as quais gozavam do benefício da assistência judiciária gratuita em litígios nos quais a ora recorrente não figurou em qualquer dos pólos. 2. O perito não pode sujeitar-se à prestação graciosa do serviço. A obrigação de pagar os préstimos na hipótese em que a sucumbência recai sobre o beneficiário da assistência judiciária deve ser imputada ao Estado, que tem o dever constitucional de prestar assistência judiciária àqueles que não possuem condições de arcar com gastos dessa natureza (CF., art. 5o, LXXIV). APELAÇÃO nº /7

5 Precedente: AgA /MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe Recurso especial não provido" (REsp n , rel. Min. Castro Meira, j ). Irrelevante se mostra o fato de a Fazenda não participar do processo em que ocorre o arbitramento, pois disso não depende a eficácia executiva, que decorre simplesmente da vontade do legislador (artigo 585, inciso VI do CPC). Fixada essa premissa não existe dúvida para afirmar o interesse de agir, pois o exequente depara com a resistência da executada à pretensão de obter a remuneração pelos serviços prestados e a via utilizada é evidentemente adequada à obtenção do resultado pretendido, estando regularmente instruída com o demonstrativo de cálculo (Ap. n , rel. Des. Antonio Rigolin, j ) O dever constitucional e legal de assegurar a fruição da gratuidade judiciária foi conferido ao Estado, que, portanto, deve arcar com a obrigação de remunerar o profissional liberal, que não está obrigado a trabalhar gratuitamente. Nem se justifica comprometer a garantia constitucional de amplo acesso à Justiça, com a não realização de prova relevante e útil à apuração da verdade e à prestação jurisdicional com justiça 2 Não há necessidade de prévia ação de conhecimento para cobrança dos honorários periciais aprovados em processo regular, irrelevante não tenha o Estado sido ouvido, especialmente porque não se apodou de excessivo ou abusivo o arbitramento, que, ao reverso, exibe-se adequado e compatível com o trabalho desenvolvido (Ap. n , rel. Des. Reinaldo Caldas, j ). Ainda: Ap. n , rel. Des. Palma Bisson, j , Ap. n , rel. Des. Edgard Rosa, j , 18/05/2011 e Ap. n , rel. Des. Orlando Pistoresi, j. APELAÇÃO nº /7

6 A alegada existência de um procedimento administrativo próprio para o pagamento desses honorários não compromete a ação de execução. No caso, as certidões atestam que já foram realizados os trabalhos pelo apelado, conforme atestam as certidões de objeto e pé, das quais originam os créditos cobrados na ação de execução. Por isso é inviável a adoção de procedimento administrativo para o recebimento da remuneração pleiteada. A ação de execução é a via adequada: No Estado de, inclusive, existia o "Fundo de Assistência Judiciária da Procuradoria Geral do Estado" (Decreto Estadual n , de 25 de julho de 1985), criado para o custeio das despesas decorrentes da prestação de assistência judiciária gratuita aos desprovidos de recursos, regulamentado pela Resolução n 32/04, da Procuradoria Geral do Estado, atualmente, gerido pela Defensoria Pública do Estado de, nos termos da Resolução CSDP n 56/06. Entretanto, a verba desse fundo não pode ser utilizada para o pagamento de perícias já realizadas, como é o caso destes autos, conforme o próprio apelado afirma em suas contra-razões. (Ap. n , rel. Des. Carvalho Viana, j ). Inadmissível o pedido subsidiário de redução dos honorários periciais arbitrados, a exigir a observância da tabela relacionada com a Resolução n. 32 da Procuradoria-Geral do Estado. APELAÇÃO nº /7

7 Verifica-se que o pedido subsidiário de redução não foi formulado em seus embargos à execução (fs. 9). A apelante inova nesta fase recursal, o que é vedado: Quanto ao pedido de redução do valor dos honorários periciais arbitrado judicialmente, tal questão não será apreciada posto que sequer ventilada na inicial, de modo que não pode ser conhecida nesta sede sob pena de supressão de Instância e afronta ao disposto no artigo 517 do CPC, bem como manifesto prejuízo do contraditório e ampla defesa. (Ap. n , rel. Des. Francisco Occhiuto Júnior, j ) Consubstanciando as certidões judiciais obrigações certas, líquidas e exigíveis, hábeis a fundamentar a ação de execução movida em face da apelante, de rigor a manutenção da r. sentença, inclusive em relação aos ônus de sucumbência. Diante do exposto, NEGA-SE provimento ao recurso. Hamid Bdine Relator APELAÇÃO nº /7