Superior Tribunal de Justiça

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1 RELATOR RECORRENTE RECORRIDO : MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS : TELMO RICARDO SCHORR E OUTROS : TELMO RICARDO SCHORR (EM CAUSA PRÓPRIA) E OUTROS : JUSSARA NEVES KOVALSKI : JOSÉ NATAL ARAÚJO DE SOUZA EMENTA PROCESSUAL - AÇÃO DE ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS - CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - NÃO APLICAÇÃO - CLÁUSULA ABUSIVA - PACTA SUNT SERVANDA. - Não incide o CDC nos contratos de prestação de serviços advocatícios. Portanto, não se pode considerar, simplesmente, abusiva a cláusula contratual que prevê honorários advocatícios em percentual superior ao usual. Prevalece a regra do pacta sunt servanda. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 21 de setembro de 2006 (Data do Julgamento) MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 09/10/2006 Página 1 de 5

2 RELATÓRIO MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Telmo Ricardo Schorr e litisconsortes exerceram ação ordinária de arbitramento de honorários advocatícios c/c condenatória e tutela antecipada contra Jussara Neves Kovalski. Afirmaram que: a) foram contratados para representar a recorrente em ação de conhecimento contra o Instituto de Previdência do Estado - IPERS; b) após vencida a causa, o mandato foi revogado; c) a recorrente, na execução, constituiu novo procurador. Requereram, ao final, o arbitramento dos honorários em, no mínimo, 80% do percentual convencionado no contrato de prestação de serviços advocatícios (30% dos valores efetivamente recuperados e daqueles depositados à disposição do juízo por precatório judicial). Em contestação, a recorrida alegou que o percentual pretendido pelos autores foge ao equilíbrio entre as partes e que a revogação do mandato deu-se por culpa dos recorrentes, uma vez que não foram diligentes na execução dos trabalhos. resumida: A sentença, que julgou procedente os pedidos dos autores, está assim "(...) Os autores cumpriram com a sua obrigação, qual seja, o ajuizamento da demanda. Assim, prestaram serviços à requerida. Em contrapartida, a requerida, diante da procedência da ação em que fora apresentada pelos autores, auferiu ganho com a sentença, ao passo em que, ao romper, unilateralmente com os requerentes, estes nada receberam por isso. Assim, assiste aos autores o direito de cobrar o pagamento dos serviços contratados que prestaram. A revogação do mandato judicial por vontade da cliente não a desobriga do pagamento das verbas honorárias contratadas, bem como não retira o direito dos advogados de receberem o quanto lhes seja devidos. Assim, procede a ação no que se refere ao direitos dos autores de receber, pelos serviços prestados, no percentual de 30% do que foi recebido pela requerida, na ação movida por eles, em face do Instituto de Previdência do Estado. Como esse foi o percentual contratado, não há como modificá-lo, (...)" (fls. 46/47) Interposta apelação, esta foi provida. Contudo, em embargos de declaração, o acórdão original foi alterado. Eis o teor do novo acórdão, no que importa: Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 09/10/2006 Página 2 de 5

3 "(...) Por tais razões, acolho os embargos declaratórios para, rejeitadas as preliminares, dar provimento em parte ao apelo para arbitrar os honorários advocatícios dos autores, apelados, ora embargantes declaratórios, em face do CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS com a ré, apelante, ora embargada declaratória em 20% (vinte por cento) dos valores efetivamente recuperados e daqueles depositados à disposição do Juízo na ação declaratória cumulada com cobrança movida por ela contra o IPERS (Processo Cível nº , execução de sentença) e para autorizar que a indisponibilidade recaia, tendo em vista o teor do Resp. nº /SP, já referido e transcrito supra, em 80% (oitenta por cento) do valor de 20% (vinte por cento), ora arbitrado, de 30% sobre os valores que a ré, apelante, ora embargada declaratória, tem a receber no processo nº , o que equivale a 16% (dezesseis por cento) do total desses valores, para cobrir o saldo devedor, até que o débito originário do CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS seja pago, rejeitado quanto ao restante, nada havendo a alterar na sucumbência, aplicado o disposto no artigo 21, parágrafo único do CPC." (fl. 88) Os autores interpuseram recurso especial, visando o restabelecimento da sentença. Queixam-se de violação aos Arts. 23, 24, 31, 1º, e 34, III e IV, da Lei nº 8.906/94. Dizem que o CDC não incide na relação entre cliente e advogado. Daí a impossibilidade de considerar-se abusiva a cláusula contratual que regula o percentual de honorários advocatícios convencionado entre as partes. RESP. O Tribunal de origem negou seguimento ao recurso especial. Interposto agravo de instrumento, determinei a conversão no presente PROCESSUAL - AÇÃO DE ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS - CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - NÃO APLICAÇÃO - CLÁUSULA ABUSIVA - PACTA SUNT SERVANDA. - Não incide o CDC nos contratos de prestação de serviços advocatícios. Portanto, não se pode considerar, simplesmente, abusiva a cláusula contratual que prevê honorários advocatícios em percentual superior ao usual. Prevalece a regra do pacta sunt servanda. VOTO MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): Não Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 09/10/2006 Página 3 de 5

4 há previsão legal que autorize o Tribunal de origem a, em declarando, simplesmente, abusiva a cláusula do contrato de prestação de serviços advocatícios, desconstituí-la. A mera circunstância de serem os honorários pactuados em percentual superior ao usual não determina a nulidade da cláusula. Para tanto seria necessário demonstrar-se que houve vício de consentimento na constatação. Precedente: Não existe relação de consumo nos serviços prestados por advogados. No caso, a alegação de abuso esvairia-se na circunstância de que o pagamento dos honorários, somente, haveria de ocorrer após a liberação de precatório - vale dizer: nas calendas gregas. "Não há relação de consumo nos serviços prestados por advogados, seja por incidência de norma específica, no caso a Lei n 8.906/94, seja por não ser atividade fornecida no mercado de consumo. As prerrogativas e obrigações impostas aos advogados - como, v. g., a necessidade de manter sua independência em qualquer circunstância e a vedação à captação de causas ou à utilização de agenciador (Arts. 31/ 1 e 34/III e IV, da Lei n 8.906/94) - evidenciam natureza incompatível com a atividade de consumo." (REsp /CESAR ASFOR ROCHA) Embora o Tribunal de origem também tenha afastado a aplicação do CDC ao caso em questão, declarou abusiva a cláusula contratual em razão de seu excesso, motivo pelo qual determinou a redução do percentual ajustado, visando a "proteção jurídica ao economicamente mais fraco" (fl. 88). Entretanto, não incidindo o CDC aos contratos de prestação de serviços advocatícios, não poderá ser considerada abusiva a cláusula em questão. Portanto, o percentual contratualmente previsto não poderá ser modificado, sob pena de desrespeito ao princípio do pacta sunt servanda, que não se encontra relativizado em face da não aplicação do CDC. primeiro grau. Dou provimento ao recurso especial para restabelecer a sentença de Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 09/10/2006 Página 4 de 5

5 CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA Número Registro: 2005/ REsp / RS Números Origem: PAUTA: 23/08/2005 JULGADO: 21/09/2006 Relator Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro CASTRO FILHO Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO DE PAULA CARDOSO Secretária Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO RECORRENTE RECORRIDO AUTUAÇÃO : TELMO RICARDO SCHORR E OUTROS : TELMO RICARDO SCHORR (EM CAUSA PRÓPRIA) E OUTROS : JUSSARA NEVES KOVALSKI : JOSÉ NATAL ARAÚJO DE SOUZA ASSUNTO: Ação de Cobrança - Honorários Advocatícios CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 21 de setembro de 2006 SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO Secretária Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 09/10/2006 Página 5 de 5