Reduzindo acidentes de trabalho na Indústria da Construção no Brasil
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- Luiz Gustavo Bicalho da Cunha
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1 Reduzindo acidentes de trabalho na Indústria da Construção no Brasil A experiência do Serviço Social da indústria (SESI) na disseminação de quick wins: uma metodologia para redução de acidentes de trabalho no segmento da construção no Brasil. Por Lívia Lacerda e Maria Fernanda Faiçal INTRODUÇÃO A indústria da construção (IC) no Brasil é um importante segmento da economia por gerar um grande volume de riquezas e empregos para todas as classes sociais. Os investimentos em obras governamentais e a acentuada expansão do crédito imobiliário vêm impactando na expansão deste segmento e de sua cadeia produtiva em todas as regiões do país. São mais de 2,6 milhões de trabalhadores formais, correspondendo a 7,1% do total de empregos do país. A IC é reconhecida em todo o mundo como uma das mais perigosas, especialmente para acidentes de trabalho fatais. No Brasil, o risco de um trabalhador da construção morrer por esse tipo de causa vem reduzindo, passando de 32,7 mortes por trabalhadores em 2000, para 18,6 em A maioria dos óbitos é decorrente de quedas e eventos envolvendo veículos com traumatismo craniano, do tórax e múltiplos traumas. Apesar da redução, o nível de risco ainda é elevado quando comparado ao de outros países como, Estados Unidos, Inglaterra e Finlândia, que adotam práticas seguras e ocupam um papel de referência de segurança para o mundo. Os custos relativos aos agravos a saúde são difíceis de estimar pela falta de dados tanto de pesquisas como de fontes administrativas. Considerando apenas o aspecto da perda da produtividade por acidente de trabalho com incapacidade temporária maior do que 15 dias, estima-se uma perda anual de 1 milhão de dias de trabalho na IC no Brasil (SANTANA ET AL., 2012). A redução dos acidentes envolve um conjunto de iniciativas aplicadas pela empresa, indivíduos e sociedade. A metodologia de ganhos rápidos* é uma alternativa de identificação de soluções simples em canteiros de obra, rápida, de baixo custo com pouca utilização de recursos tecnológicos e com possibilidade de ganhos de escala na sua aplicação. Vale destacar que a sua efetividade depende da participação dos trabalhadores e envolvimento da direção da empresa. PASSO A PASSO NA CRIAÇÃO DOS TIMES DE GANHOS RÁPIDOS: *Metodologia desenhada pela IAPA - Industrial Accident Prevention Association.
2 Primeiro passo: Escolha do setor(es)/processo (s) prioritário (s). A diretoria da empresa deverá definir qual o setor/processo prioritário para escolha dos trabalhadores que deverão compor o time de ganhos rápidos. A direção deverá levar em consideração os indicadores de acidentes, afastamento por motivo de acidente ou outras informações que apontem os setores/processo com maiores problemas de SSMA. Poderão ser escolhidos mais de um setor/processo no mesmo canteiro, portanto poderão ser formados mais de um time de ganhos rápidos em um mesmo canteiro. Segundo passo: Escolha dos trabalhadores para compor o(s) time(s) de ganhos rápido(s). Para a formação dos times de ganhos rápidos deverão ser considerados critérios de diversidade na escolha dos trabalhadores. Recomenda-se ter uma equipe diversa nas questões de gênero, função/cargo no setor/processo, deficiência, idade, experiência. Vale destacar que deverão ser priorizados os trabalhadores motivados pelo tema SSMA e com perfil de liderança, ou seja com possibilidades de exercer influencia positiva nos demais trabalhadores. Deverá ser escolhido um dentre os trabalhadores para ser o líder do time e conduzir a equipe na identificação e implementação do ganho rápido. Terceiro passo: Treinamento do time(s) de ganho(s) rápido(s). Engenheiro ou técnico de segurança com experiência de atuação na IC deverá realizar um treinamento inicial de 4 horas para alinhar conhecimentos de SSMA, tais como, definições e conceitos de acidente/incidente, perigo, risco, aspectos e impactos ambientais. São apresentadas exemplos de situações de risco existentes em canteiros de obras e soluções criativas para tais situações por meio de fotografias. Além disso, o facilitador deverá explicar detalhadamente as etapas do processo para o estabelecimento de um Ganho Rápido, explicitadas no quadro 1. Quadro 1: Etapas do processo de ganho rápido. Etapa Foco prioritário Descrição do Problema Explicação Qual (is) problemas SSMA mais relevantes do setor/processo? Qual (is) a(s) situação(ões) encontrada(s) e qual (is) os danos que vem sendo causados ou que podem causar aos trabalhadores.
3 Causas: Identificar a causa raiz do problema Ex: Por que existe esta situação? Por que esta situação está causando o dano? Outras. Controles/Soluções: O que podemos fazer para solucionar ou controlar esse problema? Curto Prazo: Listar as várias soluções que podem ser implementadas no prazo de 30 dias. Longo Prazo: Listar as várias soluções que podem ser implementadas num longo prazo. Priorização: Considerando os controles/soluções estabelecidos acima, quais deverão ser priorizadas para agregar maior valor na melhoria do ambiente de trabalho e consequentemente na saúde dos trabalhadores? (Curto Prazo e Longo Prazo) Implementação: Para as soluções de curto prazo e baixo custo, construir um plano de ação para 30 dias, definindo: O quê, Quem, Quando, Onde, Como. A implementação deverá ser imediata. Para as soluções de longo prazo, encaminhar as identificações e possíveis soluções para analise e providências do responsável pela obra. Medição O que iremos medir nas próximas 4 semanas? Como iremos medir? Quem irá medir? Onde iremos medir? Quando iremos medir? Avaliação: Após as 04 semanas de implementação, tivemos o problema controlado/solucionado? Quarto passo: Acompanhamento do time e avaliação do(s) ganho(s) rápido(s). Na implementação do primeiro ganho rápido, o engenheiro ou técnico de segurança responsável pelo treinamento deverá acompanhar todas as etapas de processo de ganhos rápidos (quadro1). O acompanhamento se dá mediante cerca de três visitas ao canteiro de obra no período de no máximo dois meses. Durante as visitas se reúne com o time para desdobrar as etapas e eliminar possíveis duvidas. O time deve apresentar, se possível, através de fotos a situação perigosa encontrada e sua solução. Sugere-se que após avaliação do Ganho Rápido, o time apresente os resultados à Direção, às Comissões Internas de Prevenção de Acidentes - CIPA, trabalhadores de outros setores e nas reuniões de análise crítica os resultados alcançados.
4 ALGUNS RESULTADOS: O SESI/BA formou cerca de 120 times no período de 2009 a Podemos observar na Fig.1 a participação dos trabalhadores no treinamento para formação do Time de Ganhos Rápido em uma obra de construção. Fig. 01 Treinamento Quick Wins Teams Fig. 02 Vistoria na obra utilizando a máquina fotográfica. O treinamento do Time de Ganhos Rápido tem uma parte prática onde os trabalhadores fazem uma vistoria na obra para identificação imediata de possíveis situações de risco nas questões de SSMA (vide Fig.02, 03 e 04). Uma boa pratica é utilizar a máquina fotográfica para registro das situações e posterior apresentação e discussão juntamente com os demais trabalhadores ainda no treinamento. Fig. 04 Identificação de situações de risco na obra. Fig. 05 Identificação de situações de risco na obra.
5 Algumas das soluções propostas podem não ser as melhores para eliminar o perigo existente, porém minimizam os riscos gerados. Como exemplo, apresentamos abaixo algumas soluções simples e imediatas de problemas identificados no canteiro de obra: SITUAÇÃO Nº 01 ANTES DEPOIS - SOLUÇÃO ENCONTRADA Fig.06 - Desorganização do almoxarifado: os materiais dispostos na passagem, sem identificação e separação adequada. Fig.07 - Construção de prateleiras no almoxarifado e organização dos materiais existentes.
6 SITUAÇÃO Nº 02 ANTES DEPOIS - SOLUÇÃO ENCONTRADA Fig.08 - Existência de abertura na laje, com risco de queda de materiais e pessoas. Fig.09 - A abertura foi fechada com compensado de madeira SITUAÇÃO Nº 03 ANTES DEPOIS - SOLUÇÃO ENCONTRADA
7 Fig.10 - Existência de vários pregos para o travamento dos escoramentos em áreas de circulação, com risco dos trabalhadores se ferir. Fig.11 - Colocação de isopo em todos os pregos para proteção das pontas. SITUAÇÃO Nº 04 ANTES DEPOIS - SOLUÇÃO ENCONTRADA Fig.12 - Periferia de laje sem nenhuma proteção, com o risco de queda dos trabalhadores e materiais. Fig.13 - Proteção da periferia de laje com guarda corpo e tela. DISCUSSÃO A metodologia do Quick Wins teams tem como principal elemento a participação dos trabalhadores na identificação de melhorias de SSMA no ambiente de trabalho, que têm alto valor para a empresa e trabalhadores,
8 porém fáceis e baratas de implementar. Na prática, busca-se uma participação efetiva e o que os trabalhadores e os seus representantes podem fazer para reduzir/eliminar os perigos e/ou impactos ambientais nos ambientes de trabalho. Salienta que os trabalhadores devem ter um papel ativo e trabalhar em colaboração com os demais e os gestores, com o objetivo de introduzir melhorias significativas nos locais de trabalho. Os trabalhadores dispõem de um conhecimento profundo do seu trabalho e de como torná-lo mais seguro. A participação nos times de ganhos rápidos é uma forma de como eles podem utilizar esse conhecimento numa colaboração ativa no intuito de melhorar as questões de SSMA no ambiente de trabalho. O desafio na formação dos Quick Wins teams consiste em estabelecer um relacionamento de confiança entre a empresa e os trabalhadores nas questões de Segurança, Saúde e Meio Ambiente (SSMA). Os elementos chave desse processo são: apresentar resultados num curto prazo para a direção, motivar os trabalhadores para participar do processo de implementação das melhorias no ambiente de trabalho e a criação de uma cultura de prevenção de acidentes.
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