Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 1ª TURMA RECURSAL JUÍZO A
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- Lorena Wagner Castilho
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1 JUIZADO ESPECIAL (PROCESSO ELETRÔNICO) Nº /PR RELATORA : Juiz José Antonio Savaris RECORRENTES : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL e MANOEL ALVES DA SILVA RECORRIDOS : Os mesmos [REA /JAS] 1/5 VOTO Trata-se de recurso interposto por ambas as partes contra sentença que julgou procedente o pedido de concessão de aposentadoria por idade urbana. O INSS alega que o autor não preenche a carência necessária à concessão da aposentadoria por idade urbana, sustentando que o tempo em gozo de aposentadoria por invalidez não pode ser computado para tal fim. Já a parte autora requer a reforma da sentença para que seja afastado o desconto dos valores recebidos a título de aposentadoria por invalidez no período de a Assiste razão apenas à parte autora. O autor ingressou com a presente ação em pleiteando o recebimento de aposentadoria por idade urbana desde a data do requerimento administrativo ( ). O benefício foi negado administrativamente sob o fundamento de que não foi preenchida a carência de 132 contribuições exigidas para o ano de 2003 (ano referente ao implemento do requisito etário), pois o autor contava com 113 contribuições. Ocorre que em , portanto antes do ingresso da presente ação, o autor havia ingressado com a ação pleiteando o restabelecimento da aposentadoria por invalidez NB , concedida em e cessada em em razão de irregularidade consistente no retorno voluntário do autor ao exercício de atividade remunerada. Nos autos , foi proferida sentença de procedência (em ) e o INSS foi condenado a RESTABELECER o benefício da aposentadoria por invalidez do autor MANOEL ALVES DA SILVA (NB 32/ ), IMEDIATAMENTE, em razão da antecipação dos efeitos da tutela deferida, desde a data da cessação (DCB: ), com início de pagamento administrativo (DIP) fixado na data da prolação desta sentença; e a pagar as prestações em atraso. Entendeu o juízo monocrático que a conduta
2 irregular da parte autora, de voltar a trabalhar quando estava gozando a aposentadoria por invalidez, não pode justificar a decisão administrativa do INSS de cessar o benefício. Não houve recurso desta decisão e o INSS restabeleceu o benefício e pagou as parcelas em atraso, conforme determinado. Portando, operou-se a coisa julgada em relação ao direito do autor ao recebimento da aposentadoria por invalidez mesmo nos períodos em que esteve trabalhando. Partindo desta premissa, sem embargo do respeitável entendimento do juízo monocrático, penso que não cabe nova análise acerca de eventual irregularidade do recebimento da aposentadoria por invalidez, porque tal questão está protegida pela coisa julgada. Desta forma, não há que se perquirir acerca da regularidade da aposentadoria por invalidez concedida desde e que está ativa até o presente momento por força de decisão judicial transitada em julgado. Consequentemente, assiste razão ao autor no que diz respeito à ausência de obrigação de devolução dos valores recebidos a título de aposentadoria por invalidez, pois o benefício foi considerado regular por meio de decisão judicial proferida nos autos Uma vez que a aposentadoria por invalidez foi considerada regular nos autos e que sob tal questão se operou a coisa julgada, resta analisar se o autor faz jus à aposentadoria por idade, computando-se o período em gozo do referido benefício para fins de carência. Ultrapassada esta questão, ainda há que se analisar se é possível a acumulação dos benefícios de aposentadoria por invalidez e aposentadoria por idade urbana pretendida pelo autor. Questão frequentemente levantada como discussão diz com a possibilidade do aproveitamento, para efeito de carência, do tempo em que os segurado esteve em gozo de benefício por incapacidade. De acordo com seu conceito legal, carência corresponde ao número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o segurado faça jus a determinado benefício (Lei 8.213/91, art. 24). A legislação previdenciária não disciplina especificamente esta questão, o que nos remete à tarefa de solucionar o problema a partir de uma perspectiva sistemática [REA /JAS] 2/5
3 O artigo 55, II, da Lei 8.213/91, dispõe que o tempo intercalado em que o segurado esteve em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez deve ser contado como tempo de contribuição. Para que o segurado não seja prejudicado em sua carreira previdenciária, o espaço de tempo compreendido entre períodos de atividade deve ser computado como tempo de contribuição. De outra parte, o princípio da máxima proteção previdenciária, segundo a qual a ação previdenciária orienta-se a inibir, por completo, os efeitos deletérios do risco social que afeta os indivíduos, leva ao pensamento de que não pode ser prejudicado o segurado que, por circunstâncias alheias à sua vontade, não reúne condições de persistir exercendo sua atividade profissional e, por consequência, vertendo contribuições ao sistema previdenciário. Nesta perspectiva, o tempo em que o segurado esteve em gozo de benefício por incapacidade, ainda que não intercalado entre períodos de atividade, deve ser computado não apenas como tempo de contribuição, mas igualmente para efeito de carência. E pouco importa a espécie de benefício de que é titular o segurado, se auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, porque o princípio que se oferece à solução da questão é justamente o mesmo: assegurar ampla proteção ao trabalhador contra os malefícios da contingência social incapacidade para o trabalho. Neste sentido permanece a orientação da Turma Regional de Uniformização do TRF da 4ª Região: INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. CÔMPUTO, COMO CARÊNCIA, DO PERÍODO DURANTE O QUAL O SEGURADO PERCEBEU AUXÍLIO-DOENÇA. POSSIBILIDADE. SÚMULA Nº "Computa-se para efeito de carência o período em que o segurado usufruiu benefício previdenciário por incapacidade, consoante o enunciado da Súmula nº 07 desta Turma Regional. Precedente da Turma Nacional (Proc , Rel. Juiz Federal Sebastião Ogê Muniz, unânime, DJU )". Precedente desta Turma Regional no IUJEF Incidente provido para adequação do acórdão, pela Turma Recursal, à tese uniformizada pela Regional. (IUJEF , Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, Relatora Luciane Merlin Clève Kravetz, D.E. 20/07/2009). Nesta mesma linha, há precedente desta 1ª Turma Recursal: [REA /JAS] 3/5
4 APOSENTADORIA POR IDADE. PERÍODO EM QUE O SEGURADO ESTEVE EM GOZO DE AUXÍLIO-DOENÇA. CÔMPUTO PARA FINS DE CARÊNCIA. O tempo em que o segurado esteve em gozo de auxílio-doença deve ser computado como carência, para fins de concessão de aposentadoria por idade. (Autos nº , Relatora Ana Beatriz Vieira da Luz Palumbo, julgado em ). Por essas razões, deve ser considerado como carência o tempo em que o segurado esteve em gozo de benefício por incapacidade no caso concreto. Assim, levando-se em consideração estes fundamentos expostos, bem como as determinações dos artigos. 55, II, da Lei 8213/91 c/c art. 58, III do decreto 611/92, e art. 29, 5º da Lei de Benefícios, os períodos em gozo de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, além de computar tempo de serviço, servem para fins de carência. Desta forma, considerando-se os vínculos empregatícios constantes no CNIS e o período em que o autor esteve em gozo de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, verifico que houve o preenchimento da carência de 132 contribuições exigidas para a aposentadoria por idade urbana. Reconhecido o preenchimento dos requisitos para a concessão de aposentadoria por idade urbana, passo à análise do segundo ponto adiantado no início do presente voto: a possibilidade de cumulação dos benefícios. Como visto, o autor recebe aposentadoria por invalidez desde (NB ), sendo que o benefício está ativo até o presente momento, com o pagamento de todas as parcelas desde então, por força da sentença proferida nos autos Nos termos do artigo 124, I e II, da Lei 8213/1991, Salvo no caso de direito adquirido, não é permitido o recebimento conjunto dos seguintes benefícios da Previdência Social: I. aposentadoria e auxílio-doença II. mais de uma aposentadoria Nesse mesmo sentido: [REA /JAS] 4/5
5 (...). CUMULAÇÃO DE APOSENTADORIAS. IMPOSSIBILIDADE. Em face de o autor já ser beneficiário de aposentadoria por idade necessário que a concessão de aposentadoria por invalidez seja limitada até a data em que passou a receber aquele benefício na via administrativa, a fim de evitar a cumulação indevida de benefícios previdenciários. (TRF4, AC , Quinta Turma, Relator Rômulo Pizzolatti, D.E. 18/02/2010) Tendo em vista a impossibilidade de cumulação da aposentadoria por invalidez atualmente recebida pelo autor com a aposentadoria por idade ora pleiteada, caberá ao autor a opção pelo benefício mais vantajoso, somente podendo ser possível a concessão da aposentadoria por idade após a cessação da aposentadoria por invalidez, caso em que não haverá parcelas em atraso referentes à aposentadoria por idade. De toda a sorte, registre-se que optando o autor pela concessão da aposentadoria por idade, não será possível ao INSS o desconto de qualquer valores a título de aposentadoria por invalidez, conforme já consignado no voto. Ante o exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DO INSS e DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DO AUTOR. Condeno o recorrente vencido (RÉU) ao pagamento de honorários advocatícios, que fixo 10% do valor da causa, tendo em vista que não há condenação em espécie. Curitiba, (data do ato). Assinado digitalmente, nos termos do art. 9º do Provimento nº 1/2004, do Exmo. Juiz Coordenador dos Juizados Especiais Federais da 4ª Região. José Antonio Savaris Juiz Federal [REA /JAS] 5/5
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