Discurso do Deputado COSTA FERREIRA. tribuna para falar-lhes de um assunto que consiste em um

Transcrição

1 A corrupção pública, além de seus malefícios já conhecidos, alimenta a descrença nas instituições e promove mais corrupção e outros crimes. O Brasil ainda ocupa lugar de destaque na lista dos mais corruptos, mas há medidas práticas capazes de mudar essa situação. Discurso do Deputado COSTA FERREIRA (PSC/MA). Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ocupo hoje esta tribuna para falar-lhes de um assunto que consiste em um verdadeiro câncer da administração pública brasileira: a corrupção. E esse câncer tem produzido metástases de diversas conformações e em vários órgãos do corpo da máquina estatal, em todas as esferas de governo.

2 2 No entanto, nobres colegas, embora seja uma doença grave, ela tem cura, e parte do remédio necessária para debelá-la nós podemos produzir aqui mesmo, no Congresso Nacional. E temos feito isso com a apuração de denúncias, a investigação de atos duvidosos ou fraudulentos e o esquadrinhamento, por meio de Comissões Parlamentares de Inquérito, da ação de membros e servidores corruptos dos Três Poderes da União. Também temos que elogiar a ação do Poder Executivo, que vem desbaratando verdadeiras quadrilhas de malfazejos públicos, assim como o Poder Judiciário, que tem buscado extirpar de sua estrutura as partes podres que lhe contaminam o corpo e o espírito de guardião das leis. Não nos esqueçamos, igualmente, do Ministério Público, com sua incansável busca da verdade recôndita sob

3 3 as freqüentes denúncias que acolhe, bem como da Polícia Federal, com suas operações inteligentes e de precisão cirúrgica, que desmontam esquemas mirabolantes de desvio ou mau uso de recursos públicos e de prevaricação. Não obstante, senhoras e senhores, todos estes esforços que estão sendo envidados para combater a corrupção em nosso País, é fato certo que ela ainda é demasiadamente presente em nosso dia-a-dia. Para que tenhamos uma idéia, basta recorrermos às pesquisas empreendidas pela Organização das Nações Unidas, para constatarmos que o Brasil ocupa uma posição nada honrosa entre as nações pesquisadas. De acordo com o último relatório divulgado pela ONG Transparência Internacional, entidade mundialmente respeitada no combate à corrupção, o Brasil aparece em 59º lugar na lista de 2004, de 146 países pesquisados, sendo o

4 4 primeiro lugar ocupado pelo país menos corrupto e o último por aquele de situação mais crítica. Ainda segundo os estudos desta ONG, o nível de corrupção no Brasil não melhorou no último ano, acordo com o índice de percepção de corrupção. Na opinião dos analistas, isso é um problema dos sistemas democráticos, que contam com muitos atores. Em primeiro lugar vêm os governos, mas também existem outros atores, como o setor privado, a mídia e a sociedade civil, que ainda não assumiram suas responsabilidades nos países que passaram por processos de democratização recentes e instáveis, interrompidos por crises políticas e econômicas. Porém, embora o resultado dessas pesquisas não seja exatamente alvissareiro, temos que manter nossa luta constante em busca de princípios morais e éticos, na administração pública, dignos de uma nação da estatura do Brasil.

5 5 Precisamos nos conscientizar, mais e mais, que a corrupção solapa o crescimento e o desenvolvimento nacionais, reduzindo-se os investimentos por falta de confiança na ordem estabelecida, favorecendo uma má distribuição dos gastos públicos e da renda, causando maior impacto sobre a população pobre, que finda por receber menos serviços sociais, seja em termos de quantidade ou qualidade. Neste sentido, a corrupção é mais nefasta que a inflação, pois além de corroer os valores econômicos disponíveis para distribuição de serviços à população, ainda apregoa uma cultura de desonestidade que invade todas as esferas do convívio humano. O indivíduo passa, então, a buscar o que é mais vantajoso para si, mas sempre em detrimento dos demais, numa torrente sem fim de atitudes corruptas e corruptoras que impregnam até mesmo as

6 6 relações mais íntimas e pessoais. A corrupção torna-se um vício. É nesse ponto, senhoras Deputadas, senhores Deputados, que não podemos nos permitir chegar. É urgente que estabeleçamos novos padrões de moralidade nas relações existentes entre os Poderes da União, entre o público e o privado, entre patrões e empregados, entre ricos e pobres, entre os homens e a natureza. A corrupção tem seu preço, e seu diagnóstico é sempre maligno. Lutemos, então, incansavelmente, numa terapia intensiva que seja capaz de curá-la. Muito obrigado a todos pela atenção.