Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Transcrição

1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Alberto Henrique Des.(a) Alberto Henrique 04/12/ /01/2009 EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. EMPRESA DE TRANSPORTE AÉREO. COBRANÇA DE TAXA EXTRA. MATERIAL ESPORTIVO. PREVISÃO. EXECÍCIO REGULAR DE DIREITO. ILICITO NÃO COMPROVADO. Não se vislumbra a ocorrência do elemento culpa, quando empresa de transporte aéreo, agindo no exercício do seu direito, cobra taxa extra por bagagem especial, prevista contratualmente. Esta constatação afasta também o nexo causal diante da legitimidade da conduta da empresa transportadora, o que leva à improcedência do pedido de indenização por danos morais e materiais. APELAÇÃO CÍVEL N /001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): NELSON PASCHOAL FILHO - APELADO(A)(S): GOL TRANSP AÉREOS S/A - RELATOR: EXMO. SR. DES. ALBERTO HENRIQUE ACÓRDÃO Vistos etc., acorda, em Turma, a 13ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO. Belo Horizonte, 04 de dezembro de DES. ALBERTO HENRIQUE - Relator NOTAS TAQUIGRÁFICAS O SR. DES. ALBERTO HENRIQUE: 1

2 VOTO Trata-se de apelação buscando a reforma da r. sentença de fls. 99/108, proferida nos autos da ação de indenização por danos morais e materiais ajuizada por NELSON PASCHOAL FILHO contra a empresa GOL TRANSPROTES AÉREOS S. A., via da qual o MM. Juiz a quo julgou improcedente o pedido, ao fundamento de que as taxas cobradas do autor estavam previstas no contrato, o que afasta eventual conduta culposa da empresa de transportes. Irresignado, recorre NELSON PASCHOAL FILHO, fls. 130/147, buscando a reforma do r. decisum ao argumento de ter a requerido exigido taxas extras no exato momento do embarque do apelante, conduta esta que entendeu ilegal, abusiva e contrária à lei e que o magistrado, ao decidir, consultou o suposto contrato on line, ventilado no "sítio institucional" da empresa de transportes aéreos, apesar de tal prova não fazer parte dos autos onde constam apenas os documentos de fl. 14 a 18. Diante disso pugna pela procedência do pedido para que a apelada lhe restitua a importância retida indevidamente. No tocante aos danos morais pleiteados é ele consectário da violação ao contrato por parte da apelada quando exigiu no ato do embarque um valor superior ao pactuado, sob pena de não realizar a prestação de serviços. Afirma que "o ato vulnerante" do apelado além de ter lhe causado prejuízo financeiro "também causou vergonha, tristeza e humilhação". Insurge-se contra a verba honorária a que foi condenado afirmando que o valor mostra-se "absurdo e exagerado". Sem contra-razões como se infere da certidão de fl. 150v. É o relato. Conheço do recurso, uma vez presentes os pressupostos de admissibilidade. Trata-se de ação de indenização por danos materiais e morais, 2

3 ajuizada por usuário de transporte aéreo ao argumento de ter a empresa apelada lhe imposto condição inexistente ao despachar a sua bagagem - material esportivo - cobrando-lhe valor extra, não previsto no contrato, o que impediu o seu embarque. Afirma que assim agindo a apelada não honrou o pactuado, causando-lhe prejuízos patrimoniais e morais que devem ser ressarcidos, uma vez ter deixado de participar de um torneio esportivo para o qual se preparou. O pedido foi julgado improcedente ao fundamento de que as taxas cobradas do autor, pela empresa de transporte aéreo, estavam previstas no contrato, o que afasta eventual conduta culposa da apelada. Pelo que dos autos consta, estou que não assiste razão ao apelante quando afirma ter o d. magistrado, decidido com fulcro em provas inexistentes nos autos, após consultar suposto contrato on line, ventilado no "sítio institucional" da empresa de transportes aéreos. Observa-se que o douto magistrado se pautou nas alegações e provas produzidas pelas partes, tão-somente, tendo se reportado ao contrato on line, firmado pelas partes, porque assim foi afirmado pelo autor na inicial e ratificado pela apelada em sua peça de defesa. Tanto é assim que a fl. 104, fez o douto magistrado constar, verbis: "Entretanto, em sua peça de reação, alega a requerida que consta no contrato on line firmado pelo requerente, que algumas bagagens poderiam ser estar sujeitas à aprovação da Companhia Aérea, em virtude de peso, tamanho e espécie. Assim sendo, na hora de firmar o contrato o Requerente deveria tê-lo lido minuciosamente, para não ser surpreendido por taxas extras". Com efeito, extrai-se do documento de fl cópia das recomendações relativas às bagagens a ser transportada pela apelada, 3

4 constante do seu "sítio" na internet - a facultatividade de cobrança de taxas extras pela empresa transportadora, que iria depender do material a ser transportado, cuja análise fica a critério da empresa. Pelo anexo fotográfico de fl. 21/23, nota-se que a bagagem do autor não era comum - como acontece também com bagagens relativas à instrumentos musicais - o que ocasionou o impasse: a cobrança de taxa extra pela transportadora e a negativa ao pagamento pelo autor. Não se submetendo às determinações da empresa transportadora, tenho que o autor, efetivamente, arcou com as conseqüências do seu ato, não havendo ilicitude alguma na conduta da apelada, o que levou o douto magistrado a, acertadamente, decidir, verbis: "Perder um campeonato pode ser um dissabor muito grande, mas o Requerente assim decidiu por sua conta e risco, vez que poderia ter arcado com a taxa extra e depois entrado em juízo para discutir a sua validade ou não" (fl. 104). É de sabença geral que o dever de indenizar requer a coexistência de três pressupostos: culpa, de forma que só fato lesivo intencional ou imputável ao agente por omissão autoriza a reparação; dano, consubstanciado na lesão provocada ao patrimônio ou à honra da vítima, e nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente. No caso em análise, a meu sentir, não se vislumbra a ocorrência do elemento culpa, por ter a apelada agido no exercício do seu direito ao cobrar a taxa extra pela bagagem especial, prevista contratualmente. Esta constatação afasta também o nexo causal diante da legitimidade da conduta da empresa transportadora. Desta conclusão se extrai não ter o autor comprovado, como lhe competia, os requisitos que ensejam a obrigação indenizatória da empresa ré, embora reconheça, como o fez o douto magistrado, que a perda de um campeonato para o qual o atleta se preparou meses a fio, causa dissabor e enorme frustração. 4

5 Não há dúvida quanto a isso. No entanto, não agiu a apelada de maneira ilícita ao cobrar a taxa extra pela bagagem (porque autorizada pelo contrato), devendo o autor ter arcado com tal ônus ( para posterior discussão em juízo) se efetivamente tivesse tanto interesse em participar daquele evento esportivo. A propósito: EMENTA: (...) INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - REQUISITOS PARA RECONHECIMENTO DA RESPONSABILIDADE CIVIL - NÃO COMPROVAÇÃO - MEROS ABORRECIMENTOS. - (...) Para que se reconheça o cabimento da responsabilidade civil, mostra-se necessária a constatação da conduta antijurídica que gere o dano bem como o nexo de causalidade entre a conduta e o dano.- A reparação por danos morais deve ser concedida somente nas hipóteses em que o evento cause grande desconforto espiritual, sofrimento demasiado, não podendo ser confundido com os simples aborrecimentos usuais do cotidiano. (APELAÇÃO CÍVEL N /001 - RELATOR: DES. IRMAR FERREIRA CAMPOS). Disso se conclui que eventuais incômodos, suportados pelo apelante, não podem ser atribuídos à apelada. Destarte, ausente o ato ilícito e a comprovação do nexo causal, impõe-se o afastamento da responsabilidade indenizatória da apelada, na forma perpetrada pelo MM. Juiz a quo. No tocante à alegação do apelante quando se insurge contra a verba honorária a que foi condenado, ao argumento de que o valor arbitrado (mil reais), mostra-se "absurdo e exagerado", nem aí tenho que lhe assiste razão. O valor é razoável tendo em vista a complexidade da causa e o tempo de tramitação do processo, atendidos que foram os requisitos legais, devendo ressaltar tratar-se de pouco mais de dois salários mínimos, devidos aos patronos da empresa do porte da apelada. Além disso, o 5

6 apelante é empresário, com plenas condições de arcar com este ônus. Diante disso tenho que deve ser mantido o valor fixado. Isso posto, nego provimento à apelação. LC Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): FRANCISCO KUPIDLOWSKI e CLÁUDIA MAIA. SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS APELAÇÃO CÍVEL Nº /001 6