OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos
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- Filipe Lage Guimarães
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1 Versão On-line ISBN Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos
2 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS GÊNEROS TEXTUAIS (TRABALHADOS) EM SALA DE AULA Profª PDE Schirley Terezinha da Rocha 1 Profª Orientadora: Ms. Bernardete Ryba 2 Resumo Este artigo versa (relata) sobre um projeto que teve como objetivo investigar a reflexão da variação linguística com alunos do 6 ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Pedro Araújo Neto. EFM. Para tal estudo busquei a fundamentação teórica pertinente. Percebi, inicialmente, que os alunos não distinguiam as características das duas modalidades de língua (oral e escrita), deixando marcas da oralidade nos textos produzidos. Iniciei com uma proposta de atividades, que tinha como ponto de partida a valorização da variação linguística do educando, o seu linguajar, para depois partir para atividades de diferentes gêneros em que estão presentes as variações linguísticas. Após passar por uma série de atividades práticas, os alunos começaram a perceber e adequar o uso da variação linguística em contextos diversos. Palavras- chave Variação linguística, Sala de aula, Sociolinguístas. 1. INTRODUÇÃO Este artigo tem por meta apresentar os resultados da aplicação e do desenvolvimento do meu projeto de pesquisa como professora no programa PDE implementado pelo Governo do Estado do Paraná. O trabalho começou a ser desenvolvido em meados de 2013; num primeiro momento, desenvolvi um projeto de pesquisa no âmbito de ensino de Língua Portuguesa, minha especialidade. Em seguida, tendo em vista a bibliografia pesquisada, desenvolvi um projeto e, logo 1Pós graduada em Língua Portuguesa- Especialização em Letras Língua Portuguesa e Literatura pela FAFI. Professora de Língua Portuguesa no Colégio Estadual Pedro Araújo Neto - EFM de General Carneiro (PR) 2 Mestre em Linguística Área : Sociolinguística -UFPR. Professora de Linguística / Língua Portuguesa UNESPAR Campus de União da Vitória (FAFIUV) Professora de LEM Inglês / Colégio São Mateus ( São Mateus do Sul PR ).
3 após, uma unidade didática, analisando o tema que recortei no projeto, a saber, a variação linguística nos gêneros textuais. Dando continuidade ao programa, fecho o ciclo com as minhas ponderações e avaliações a respeito dos resultados obtidos. A escolha do assunto foi com base nas atividades desenvolvidas pelos alunos da Rede Pública que apresentam dificuldades de adequação da variação linguística nos gêneros textuais. Ao iniciar o trabalho, constatei que eles não possuíam o hábito de diferenciar a oralidade da escrita em seus textos e a escrita se transformava apenas em uma outra forma de falar. Por isso, organizei diferentes atividades para que houvesse um reconhecimento das características da variação linguística. Essas atividades foram realizadas em dupla, individualmente ou coletivamente, envolvendo os alunos para que realmente existisse um aprofundamento no assunto. A minha preocupação, nesse trabalho, foi proporcionar diferentes momentos de reflexão e de estudo sobre essas diferenciações, valorizando assim, o conhecimento prévio e auxiliando na transformação da linguagem coloquial para o uso padrão da língua. Esse estudo permitiu observar com clareza a evolução e a dimensão do trabalho com a variação linguística. Para isso busquei teorias e atividades que fundamentassem o uso da variação linguística, trabalhei com textos de diferentes gêneros que mostrassem o uso das variantes em diferentes contextos e também procurei orientá-los através da reflexão do uso da variação linguística. 2. Fundamentação Teórica: Partindo da reflexão do uso da Variação para a prática: escrita Na acolhida democrática da escola, as variações linguísticas tomam como ponto de partida os conhecimentos linguísticos dos alunos, para promover situações que os incentivem a falar e a escrever, ou seja, fazer uso das variedades de linguagem que eles empregam em suas relações sociais, mostrando que as diferenças de registros não constituem, científica e legalmente, objeto de classificação e que é importante a adequação dos registros nas diferentes instâncias discursivas. Entretanto, depois que são alfabetizados, os alunos apresentam elevado grau de dificuldade para entender e produzir textos, pois, precisam adequar sua
4 variação linguística às diversas circunstâncias e fazer uso da norma padrão em alguns gêneros. A maioria escreve como fala. Após a observação de tal fato, o meu desejo foi contribuir para que a adequação da variedade linguística usada à norma padrão se fizesse sem traumas e que, com o conhecimento das diversas outras variedades linguísticas, o aluno conseguisse compreender o mundo, os outros, suas próprias experiências, para que visse uma realidade diferente do mundo no qual está inserido, abrisse novos horizontes em sua mente e, assim, desse margem para o desenvolvimento de sua capacidade crítica e argumentativa e para a sua criatividade, ampliando seu poder de intervir no seu cotidiano, auxiliando assim na construção de um mundo melhor para si e para o outro. Para Alkimim (2003, p.40), as variações linguísticas relacionadas ao contexto são chamadas de variações estilísticas ou registros. Nesse sentido, os falantes diversificam sua fala, isto é, usam estilos ou registros distintos em função das circunstâncias em que ocorrem suas interações verbais. Segundo Bagno (2007, p.30), os falantes adequam suas formas de expressão às finalidades específicas de seu ato enunciativo, sendo que tal adequação decorre de uma seleção dentre o conjunto de formas que constitui o saber linguístico individual, de um modo mais ou menos consciente. Segundo Bortoni-Ricardo (2004, p.45), o personagem Chico Bento é uma criação muito feliz de Maurício de Souza, pois permite que as crianças com antecedentes urbanos se familiarizem com a cultura rural, conhecendo muitas expressões dessa rica cultura que, hoje, tem pouco espaço na literatura e nos meios de comunicação. Chico Bento pode se transformar, em nossas salas de aula, em um símbolo de multiculturalismo que ali deve ser cultivado. Suas histórias são também ótimos recursos para despertarmos em nossos alunos a consciência da diversidade sociolinguística. Adequação/inadequação (preconceito linguístico): Nós, professores, devemos orientar nossos alunos e fazê-los perceber que, em determinadas situações, é adequado ou inadequado falar ou escrever de maneira mais ou menos formal, mais ou menos próxima à variante culta. Veja que, ao dizermos adequado / inadequado, evitamos utilizar os conceitos de certo/errado, comuns apenas à gramática normativa. O que exatamente entendemos por certo ou errado? Vários fatores interferem na forma como as pessoas falam: nível de escolaridade, região onde moram etc.
5 São maneiras diferentes de usar a língua. Devemos deixar claro que são igualmente válidas, nem melhores, nem piores: são apenas diferentes. Para Camacho ( 2003, p.54 ), dois falantes de uma mesma língua ou variedade dialetal dificilmente se expressam de modo idêntico. Nem mesmo um único falante fala sempre de um mesmo modo, isto é, nenhum usuário de uma língua é falante de um único e mesmo estilo ou registro: a adesão às determinações do contexto discursivo leva-o a selecionar expressões com grau maior ou menor de formalidade. Sendo assim, o que a Sociolinguística faz é correlacionar as variações existentes na expressão verbal às diferenças de ordem linguística e de ordem social, entendendo cada domínio, o linguístico e o social, como fenômenos estruturados e regulares. Fishman (1972, p.38)in Paraná, pronuncia que: uma situação é definida pela concorrência de dois ou mais interlocutores mutuamente relacionados de uma maneira determinada, comunicando-se sobre uma maneira determinada, comunicando-se sobre determinado tópico, num contexto determinado. Segundo Alkimin ( 2003, p.30 ), o termo Sociolinguística, relativo a uma área da linguística, fixou-se em 1964, mais precisamente, surgiu em um Congresso organizado por William Bright, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), do qual participaram vários estudiosos, que se constituíram, posteriormente, em referências clássicas nas tradições dos estudos voltados para a questão da relação entre linguagem e sociedade. Para Alkimin (2003, p. 33), podemos dizer que o objeto da sociolinguística é o estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso. Diz Camacho (2003, p. 54), dois falantes de uma mesma língua ou variedade dialetal dificilmente se expressam de modo idêntico. Nem mesmo um único falante fala sempre de um mesmo modo, isto é, nenhum usuário de uma língua é falante de um único e mesmo estilo ou registro: a adesão às determinações do contexto discursivo leva-o a selecionar expressões com grau maior ou menos de formalidade. Sendo assim, o que a Sociolinguística faz é correlacionar as variações existentes na expressão verbal às diferenças de ordem linguística e de ordem social, entendendo cada domínio, o linguístico e o social, como fenômenos estruturados e regulares.
6 Podemos afirmar, com base nos postulados da Sociolinguística que, se um falante enuncia o verbo levaram como levam e o outro falante como levarum, ora levam, essa variação na fala não é o resultado aleatório de um uso arbitrário e inconsequente. Pelo contrário, é o uso sistemático e regular de uma propriedade inerente aos sistemas linguísticos, que é a possibilidade de variação estendida como heterogeneidade constitutiva da linguagem. Existem dois tipos de exposição linguística: a que pode ser falada e a escrita. Há muito tempo que a sociedade deu uma importância extraordinária à escrita e, muitas vezes, quando nos referimos à linguagem, só pensamos nesse aspecto. É preciso não perder de vista, que a expressão oral aparece muito antes da expressão escrita. Quando escrevemos, a força da oralidade pode marcar a própria escrita havendo necessidade de um policiamento ou monitoramento cada vez mais consciente por parte do educando. Uma tendência forte entre os brasileiros é afirmar que falamos todos a mesma língua e que não existem dialetos no Brasil. Bagno (2007, p.43), descreve uma série de mitos presentes em frequentes afirmações sobre a Língua Portuguesa no Brasil, os quais, agrupados, o autor denomina de metodologias de preconceito linguístico. O mito número um apontado por Bagno (2007, p.44), diz o seguinte: A Língua Portuguesa no Brasil apresenta uma unidade surpreendente. Este é, para o autor, o mais sério dos oito mitos que descreve, pois, uma vez não reconhecida a diversidade linguística no Brasil, as pessoas que falam uma variedade desprestigiada são frequentemente vítimas de discriminação. A escola tenta impor a norma linguística como se fosse, de fato, a língua comum a todos os milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, origem geográfica, situação socioeconômica, de seu grau de escolaridade, etc. A Língua Portuguesa no Brasil possui muitas variedades dialetais. Identificase geográfica e socialmente as pessoas pela forma como falam. Mas há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes modos de falar: é muito comum considerar as variedades linguísticas de menos prestígio como inferiores ou erradas. O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado nas escolas, como parte do objetivo educacional mais amplo da educação para o respeito à diferença. Para isso e também para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa livrarse de alguns conceitos : o de que existe uma única forma certa de falar e de que a
7 escrita é o espelho da fala e, sendo assim, seria preciso consertar a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma da fala do aluno, tratando sua comunidade como se fosse formada por incapazes, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos, por mais prestígio que um deles tenha em um dado momento histórico. (BAGNO, 2007, p. 27) Segundo Tarallo (2007, p.5), a partir de inúmeros exemplos de situações sugeridas no texto, observamos que o caos basicamente se configura como um campo de batalha em que duas (ou mais) maneiras de se dizer a mesma coisa (chamada de variedades linguísticas ) se enfrentam em um duelo de contemporização, por sua subsistência e coexistência. Também para Tarallo (2007, p.6), analisar e aprender a sistematizar variantes linguísticas usadas por uma comunidade de fala é imprescindível. Conforme Tarallo (2007, p.8), em toda comunidade de fala são frequentes as formas linguísticas em variação. A essas formas em variação dá-se o nome de variantes. Variantes Linguísticas são, portanto, diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um contexto, e com o mesmo valor de verdade. A um conjunto de variantes dá-se o nome de variável linguística. Para Bortoni-Ricardo (2004, p.33), em toda comunidade de fala onde convivem falantes de diversas variedades regionais, como é o caso das grandes metrópoles brasileiras, os falantes que são detentores de maior poder e, por isso, gozam de mais prestígio, transferem esse prestígio para a variedade linguística que falam. Assim, as variedades faladas pelos grupos de maior poder político e econômico passam a ser vistas como variedades mais bonitas e até mais corretas. Mas essas variedades, que ganham prestígio porque são faladas por grupos de maior poder, nada têm de intrinsecamente superior às demais. O prestígio que adquirem é mero resultado de fatores políticos e econômicos. O dialeto (ou variedade regional) falado em regiões pobres pode vir a ser considerado um dialeto ruim, enquanto o dialeto falado em uma região rica e poderosa passa a ser visto como um bom dialeto. Para Alkimim (2003, p.25), a relação entre linguagem e sociedade, reconhecida, mas nem sempre assumida como determinante, encontra-se diretamente ligada à questão da determinação do objeto de estudo da linguística,
8 isto é, embora se admita que a relação linguagem e sociedade seja evidente por si só, é possível privilegiar uma determinada ótica e esta decisão repercute na visão que se tem do fenômeno linguístico, de sua natureza e caracterização. Nesse sentido, a linguística do século XX teve um papel decisivo na questão de consideração de natureza social, histórica e cultural na observação, descrição, análise e interpretação do fenômeno linguístico. Diz Bagno (2007, p. 36) que, ao contrário da norma padrão, que é tradicionalmente concebida como um produto homogêneo, como um jogo em que as peças se encaixam perfeitamente umas às outras, sem faltar alguma, a língua, na concepção dos sociolinguistas, é intrinsecamente heterogênea, múltipla, variável, instável e está sempre em desconstrução e reconstrução. Ao contrário de um produto pronto e acabado, de um monumento histórico feito de pedra e cimento, a língua é um processo, um fazer permanente e nunca concluído. A língua é uma atividade social, um trabalho coletivo, empreendido por todos os seus falantes, cada vez que eles se põem a interagir por meio da fala ou da escrita. Portanto precisei elaborar determinadas atividades para que os alunos conseguissem fazer essa transição do oral para o escrito e melhorassem sua percepção dessas diferentes modalidade de variedades linguísticas. Usei o personagem Chico Bento, do autor Maurício de Souza, pois ele é um personagem simples de uma região rural, difere de um personagem da zona urbana. Há diferenças não somente na fala como visuais também, marcadas principalmente pelo cabelo despenteado, chapéu de palha, mais comum a quem habita no campo. Personagens da zona urbana geralmente se expressam de uma maneira mais próxima à norma padrão, já Chico Bento é representado como um típico caipira. Percebe-se pela ortografia ( isquisito, cá ropa di baxo ), que procura reproduzir uma maneira própria de fala. A Sociolinguística não classifica as diferentes variações linguísticas como boas ou ruins, ou melhores ou piores, primitivas ou elaboradas, pois constituem sistemas linguísticos eficazes, falares que atendem a diferentes propósitos comunicativos, dadas as práticas sociais e os hábitos culturais das comunidades. Em relação à escrita, ressalta-se que as condições em que a produção acontece determinam o texto. Antunes (2003) salienta que: A importância de o professor desenvolver uma prática de escrita escolar que considere o leitor, uma escrita que tenha um destinatário e finalidades, para que
9 então se decidir sobre o que será escrito, tendo em visto que a escrita, na diversidade de seus usos, cumpre funções comunicativas socialmente específicas e relevantes.(antunes,2003,p.47). O professor poderá instigar no aluno a compreensão das semelhanças e diferenças, dependendo do gênero, do contexto de uso e da situação de interação, dos textos orais e escritos, a percepção da multiplicidade de usos e funções da língua, o reconhecimento de diferentes possibilidades do uso da variação linguística e de construções textuais, a reflexão e adequação sobre essas e outras particularidades linguísticas observadas no texto, conduzindo-o às atividades de variação linguísticas diversas, à construção gradativa de um saber linguístico mais elaborado, a um falar sobre a língua. 3. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES E DISCUSSÃO DOS RELATOS O objetivo das atividades residia em, a partir das discussões e reflexões realizadas pelos autores acima citados, sobre a aplicação de diferentes gêneros discursivos (trabalhados), ajudar os alunos na compreensão do uso da variação linguística nos diferentes contextos apresentados. Dentre as atividades que planejei e apliquei em sala de aula, escolhi a verificação da Prova Brasil, da qual apliquei questões referentes à variação linguística para diagnosticar o conhecimento prévio do aluno e verificar em que nível encontravam-se. Justifiquei a minha escolha pela pertinência do tema variação linguística, vinculado aos conteúdos do 6º ano do Ensino Fundamental da Rede Pública de Ensino e, ainda, porque o uso da variação linguística encontra-se presente no cotidiano, seja na escola, nas redes sociais, na sociedade, enfim, nos contextos diários. Portanto, escolhi primeiramente, após o diagnóstico da Prova Brasil, estudaremos as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro. Comecei com uma pergunta- desafio sobre as variações: se eles conheciam palavras como: blogueiro, chocólatra, posta, abestado, bocó. Elas fazem parte de nossa Língua Portuguesa? Em que regiões elas aparecem com mais frequência? Depois de aplicadas as perguntas, conceitue a língua, explicando que ela é viva; e também que uma língua nunca é falada da mesma forma, ela sofre constantes mudanças, ela é sujeita a variações: históricas, regionais, sociais, etc. Cada região do nosso
10 país tem um jeito, um sotaque, uma maneira peculiar de falar. Expliquei as Variedades Linguísticas que são as variações que uma língua apresenta em razão das condições sociais, culturais e regionais nas quais é utilizada. Após, comecei com a Variação Histórica, na qual trabalhei uma cantiga de roda de domínio público, na qual observa-se as palavras que caíram em desuso e, ao mesmo tempo, percebe-se que a língua sofre variação. Depois apliquei a canção Sinhá, de Chico Buarque; feita a leitura e ouvida a canção, fez-se uma reflexão e discussão sobre as mudanças da língua, em que algumas palavras não são utilizadas mais e sofreram transformações nos dias de hoje. Em outra aula, trabalhei as Variações Sociais ou Culturais: as gírias. Expliquei que as gírias são utilizadas por um grupo, num determinado tempo e variam. Nessa atividade os alunos assinalaram a alternativa na qual se utilizava a variedade culta ou formal. Depois conceituei a Linguagem (norma) Culta ou Padrão; expliquei que a linguagem padrão é aquela ensinada nas escolas, é usada pelas pessoas instruídas da classe social dominante e caracteriza-se pela obediência às normas gramaticais. Após, trabalhei uma tira de Chico Bento, na qual ele dialoga com a professora. Na fala de Chico Bento, pudemos observar que tipo de linguagem havia.. Também apliquei o poema Vício na Fala, do autor Oswald de Andrade, no qual os alunos perceberam e refletiram sobre as variações presentes no poema. Também conceituei e expliquei a Linguagem Coloquial, Informal ou Popular que é utilizada no dia a dia e não exige a atenção da gramática, de modo que haja mais espontaneidade na comunicação oral. Após, trabalhamos com a Charge de humortadela, na qual dois personagens conversavam, um usava a linguagem padrão e o outro a linguagem informal, após a leitura da charge, pudemos observar as diferenças que podem ser observadas nas falas dos personagens. No decorrer das aulas, apliquei a atividade para leitura e debate O fax do Nirso e a Lenda de Rui Barbosa, para perceberem o uso da fala e da variação empregada, que pode ser valorizada em certos aspectos. Expliquei o que são Variações Regionais e que de acordo com região do país, a língua é empregada de maneiras diferentes. Para melhor entender a variedade regional, lemos a letra da música em voz alta, após ouvimos e cantamos a música Cuitelinho para que se percebessem bem as escolhas feitas. Trata-se de uma canção da tradição popular brasileira, recolhida pelo pesquisador Paulo Vanzoline, na região de Minas Gerais. Não se sabe que são os autores. Os alunos gostaram muito dessa atividade, na
11 qual produziram um texto, fazendo paródias e usando essa variedade. Trabalhei com tiras do Chico Bento, do autor Maurício de Souza, o qual valoriza a cultura rural, ou seja a variação da língua, pois fazemos parte de um país riquíssimo em cultura, logo, faz-se necessário que o professor, principalmente de Língua Portuguesa valorize as formas de comunicação. E conforme afirma Marcushi: Falar ou escrever bem não é ser capaz de aplicar regras da língua para produzir um efeito de sentido pretendido numa dada situação. Não se trata de saber como se chega a um texto ideal pelo emprego de formas, mas como se chega a um discurso significativo pelo uso adequado às práticas e à situação que se destina. (MARCUSHI, 2007 p.09). Após os educandos interagirem no laboratório de informática, em dupla, no computador, para apreciação on-line das tiras do Chico Bento, também passei o vídeo da história Chico Bento no shopping, de Maurício e Souza. Assim, pudemos responder a seguinte pergunta: O que significa ver com os olhos e pontos de vistas diferentes? A visão é o sentido mais desenvolvido do homem e também o único absolutamente pessoal. Duas pessoas podem sentir os mesmos cheiros, os mesmos gostos e ouvir os mesmos sons, mas é impossível verem exatamente o que o outro está vendo, porque são olhos e pontos de vistas diferentes. Daí é que vem a expressão visão de mundo, que significa cada um perceber a realidade do seu jeito. Pedi que os alunos estabelecessem hipóteses sobre a possibilidade do Chico Bento não gostar do shopping. O que chamou a atenção de Chico Bento? Qual situação engraçada, dramática, irônica, triste, poderá acontecer nessa visita? Alguns alunos da zona rural ainda não conheciam o personagem Chico Bento, mas participaram da discussão. Assistiram o vídeo e riram das situações engraçadas da personagem. Nessa história, Chico Bento passa por situações que, por viver em um ambiente rural, são inusitadas para ele. Também houve a reflexão sobre como as pessoas que se encontravam no shopping reagiram diante das ações de Chico Bento. Foi um momento muito produtivo, pois percebi que os alunos deram sua opinião a partir de uma reflexão interativa com os demais colegas que já conheciam a personagem e falaram que ele pertencia ao meio rural e seu jeito de falar e de se vestir é que o torna encantador. Falamos sobre a linguagem empregada pelo personagem que é uma variante da linguagem oral, que ele consegue comunicar-se com os demais personagens e com o leitor e também que
12 efeito de dizer pretende transmitir na construção da personagem Chico Bento. Após esse trabalho, começamos com a produção do gibi em grupo, primeiramente, comprei em torno de oito gibis diferentes do personagem Chico Bento, do autor Maurício de Souza, os quais disponibilizei para a leitura, foi feita a leitura, na própria sala de aula de leitura, (projeto da escola). Cada grupo ficou responsável em reproduzir uma história do gibi do personagem Chico Bento, do autor Maurício de Souza, esse trabalho fluiu muito bem, cada dia um participante levava para casa, para dar continuidade ao trabalho, também foi utilizado o espaço escolar para essa atividade. Segue abaixo uma foto da confecção do gibi, produzido pelos alunos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desenvolveu-se nesse artigo uma reflexão e compreensão em torno das Variantes Linguísticas através de diversos gêneros textuais (trabalhados) em sala de aula. A impressão de que a variação linguística seja algo sem muita importância é substituída por um profundo respeito e pela vontade de se aprofundar
13 no assunto. Assim sendo, nós professores, estaremos contribuindo positivamente para que os alunos desenvolvam habilidades como o trabalho coletivo, o hábito de usar adequadamente a oralidade em contextos ou situações diferentes, com criatividade, criticidade e autonomia no processo de aprendizagem e capacidade de expressão oral e escrita. Acreditamos que é de suma importância dar significados ao cotidiano em sala de aula e fora dela, fazendo dessa reflexão da variação linguística uma maneira prazerosa e encantadora de adquirir conhecimentos linguísticos, principalmente do uso da variante e como usá-la adequadamente.
14 5. REFERÊNCIAS ALKIMIM, T. M. Sociolinguística. In: MUSSALIM, F: BENTES, A C. Introdução à Linguística 1: Domínios Fronteiras. 3. ed. São Paulo: Cortez, pg ANTUNES, I. Aula de português:encontros e interação, São Paulo: Parábola, 2003 BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia variação da linguística. São Paulo: Parábola, BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula.são Paulo: Parábola, CAMACHO. In: MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução a linguística: domínios e fronteiras. Vol.1; organizadoras. 9. ed. São Paulo: Cortez, MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: Atividades de Textualização. São Paulo: Editora Cortez, MUSSALIM, F. BENTES, A. C. Introdução a linguística: domínios e fronteiras. Vol. 1; organizadoras. 9. ed. São Paulo: Cortez, PARANÁ, Secretaria do Estado da Educação Básica: Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, TARALLO, F. A pesquisa sociolinguística. 8. ed. São Paulo: Ática, 2007.
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