Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo
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- Benedita Felgueiras Aquino
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2 SESSÃO ORDINÁRIA PROCESSO Nº CLASSE 24 NOTAS TAQUIGRÁFICAS Fl. 1/5 RELATÓRIO O Sr. JURISTA DANILO DE ARAÚJO CARNEIRO (RELATOR):- Senhor Presidente:Tratam os autos de ação declaratória de existência de justa causa, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela, ajuizada por EDSON FIGUEIREDO MAGALHÃES, Deputado Estadual eleito em 2014, em face do DEMOCRATAS DEM/ES, partido pelo qual foi eleito, sob o fundamento da existência de grave discriminação pessoal que tem acarretado incompatibilidade política e constrangimentos, além da suposta adoção pelo partido de conduta antiética e contrário ao próprio estatuto. Sustenta, na exordial, o Requerente que tem encontrado séria divergência com o seu partido, firmando-se uma relação política de incompatibilidade, a tal ponto que a própria agremiação reconheceu a insustentabilidade da situação, liberando-o para se desligar de seu quadro de associados sem sofrer qualquer penalidade (fl. 02-v). Em decisão monocrática às fls. 32/35, indeferi o pedido de antecipação de tutela, considerando inexistir gravidade e urgência. Defesa apresentada pelo Diretório Regional do DEM/ES, às fls. 43/48, registrando sua concordância com os argumentos expendidos na inicial, no sentido de que vem sofrendo grave discriminação pessoal, atestando que, em reunião realizada no dia , houve concordância da cúpula regional do partido, quanto à liberação do Requerente para se desligar da agremiação pela qual foi eleito, sem a imposição de qualquer penalidade. Em Parecer de fls. 77/81, o douto Procurador Regional Eleitoral com assento nesta Corte pugna pela procedência do pedido, sob o fundamento de que o próprio partido que elegeu o candidato não se opôs à sua saída, confirmando que há grave discriminação pessoal no âmbito daquela agremiação. É o relatório. Inclua-se em pauta para julgamento. VOTO O Sr. JURISTA DANILO DE ARAÚJO CARNEIRO (RELATOR):- Senhor Presidente: Tratam os autos de ação declaratória de existência de justa causa, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela, ajuizada por EDSON FIGUEIREDO MAGALHÃES, Deputado Estadual eleito em 2014, em face do DEMOCRATAS DEM/ES, sob o fundamento da existência de grave discriminação pessoal que tem acarretado incompatibilidade política e constrangimentos, além da suposta adoção pelo partido de conduta antiética e contrário ao próprio estatuto.
3 Sustenta, na exordial, o Requerente que tem encontrado séria divergência com o seu partido, firmando-se uma relação política de incompatibilidade, a tal ponto que a própria agremiação reconheceu a insustentabilidade da situação, liberando-o para se desligar de seu quadro de associados sem sofrer qualquer penalidade (fl. 02-v). Por fim, alega que não obteve o apoio político do Diretório Municipal de Guarapari na eleição para Deputado Estadual, no pleito de 2014, tendo a cúpula do DEM apoiado candidato diverso para o referido mandato político, que não estava inserido na coligação autorizada pelo partido. É a síntese necessária dos autos. Passo a decidir. Sobre a matéria, dispõe a Resolução TSE n /07 o seguinte: Art. 1º - O partido político interessado pode pedir, perante a Justiça Eleitoral, a decretação da perda de cargo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem justa causa. 1º - Considera-se justa causa: [...] IV - grave discriminação pessoal. Analisando os autos, na leitura das duas únicas cópias de reportagem que fez juntar, às fls. 28/30, percebe-se, nitidamente, que o aludido constrangimento suscitado como causador do pedido de desfiliação decorre de um desconforto natural na vida política que surgiu em decorrência de atritos com o atual Chefe do Executivo de Guarapari, seu antigo aliado. Para corroborar o exposto acima, cito trechos de reportagem extraída do sítio eletrônico do Século Diário, divulgado no dia (fl. 29): O deputado estadual Edson Magalhães se disse desconfortável no DEM, partido pelo qual disputou a eleição de deputado estadual em O motivo é a incompatibilidade com o atual prefeito de Guarapari, Orly Gomes. O parlamentar pediu um aparte na fala do deputado Bruno Lamas (PSB), na sessão desta terça-feira (5) na Assembleia Legislativa. Orly, que chegou à Prefeitura de Guarapari com o apoio de Magalhães que foi impedido de disputar a eleição em 2012 teria tentado prejudicar a eleição do deputado no ano passado. Magalhães, que é cotado como favorito para a eleição para prefeito no próximo ano, precisaria articular o apoio da Executiva do partido para assegurar sua candidatura. (grifei) 30): No mesmo sentido, na reportagem extraída do sítio eletrônico do Facebook, (fl. O prefeito Orly Gomes declarou guerra ao deputado estadual eleito Edson Magalhães. Nas eleições comentava-se nos bastidores que a relação entre os dois não era a mesma mais. Isso porque Edson não
4 concordava com a perseguição aos trabalhadores da cidade, além do empréstimo do UPA Infantil para um hospital filantrópico. A situação se agravou com o término das eleições. O deputado começou a fazer críticas à atual gestão. Não satisfeito, Orly começou uma exoneração em massa de pessoas próximas a Edson que colaboraram na campanha. (grifei) Essa situação, portanto, para mim, já é suficiente para demonstrar que o atrito entre dois grandes expoentes do partido DEM no Estado decorre do fato de terem se tornado adversários políticos, inexistindo, a meu ver, a alegada incompatibilidade política sofrida pelo Requerente perante o DEM (fl. 03). Contudo, é certo que as razões pelas quais alguém se filia a um partido político ligam-se à identificação da pessoa com a ideologia, programas partidários e pessoas que se aglutinam em torno daqueles ideais. Nessa linha de raciocínio, reconheço que existe uma liberdade que autoriza o indivíduo a aderir a este ou àquele partido e certamente que ninguém é obrigado a permanecer a vida toda aderindo às mesmas ideias e programas somente porque um dia filiou-se a um partido político. Ademais, na hipótese dos autos, o Diretório Estadual do DEM deixa expressa, na Defesa de fls. 43/48, sua concordância com todos os argumentos apresentados, chegando a afirmar que de fato o Requerente vem suportando grave discriminação pessoal. Prova do alegado é a cópia da Ata de fls. 26/27, atestando que, em reunião realizada no dia , houve concordância da cúpula regional do partido, quanto à liberação do Requerente para se desligar da agremiação pela qual foi eleito, sem a imposição de qualquer penalidade. Da referida Ata, destaco os seguintes trechos: (...) O Sr. Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo e Vice-presidente estadual do Democratas do ES, o Sr. Deputado Estadual Theodorico de Assis Ferraço, trouxe a fala referente a um pedido, até o momento informal, do Deputado Estadual Edson Magalhães sobre a possível saída dele do partido. Foi posto em votação e todos os presentes aprovam a saída do Deputado do Democratas sem as penalidades do Estatuto do partido, porém com relação a possíveis questionamentos do Tribunal Regional Eleitoral TRE/ES, o Deputado é responsável e solidário sem o envolvimento do partido em possíveis ações. (...) (fl. 26) Portanto, partindo da premissa de que o próprio partido pelo qual se elegeu o Requerente não opôs obstáculos ao seu desligamento, chegando até mesmo a confirmar a sua liberação das hostes da agremiação sem a imposição das penalidades do Estatuto partidário, é que reconheço que a única solução cabível é o deferimento do pedido formulado, mediante o reconhecimento da existência da justa causa. Esse, também, é o entendimento do TSE, consoante julgados abaixo:
5 AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO. DEPUTADO FEDERAL. DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA. JUSTA CAUSA. CARTA DE ANUÊNCIA DO PARTIDO POLÍTICO EM RELAÇÃO A FATOS ENSEJADORES DA DESFI LIAÇÃO. A carta em que o partido político reconhece a existência de animosidades em relação ao filiado, bem como anui com a sua desfiliação partidária e a autoriza, é suficiente para a caracterização da justa causa que permite a mudança de legenda, sem a perda do direito ao exercício do cargo. Agravo regimental a que se nega provimento. (AGRAVO REGIMENTAL NA PETIÇÃO N , Rel. Min. Henrique Neves da Silva, publicação DJE em ). Ação cautelar. Perda de cargo eletivo. Anuência. Partido - Afigura-se relevante a questão suscitada pelo autor da cautelar - a justificar a concessão de efeito suspensivo a recurso especial - de que a jurisprudência deste Tribunal é no sentido de que, havendo consonância do Partido quanto à existência de fatos que justifiquem a desfiliação partidária, não há razão para não declarar a existência de justa causa. Agravo regimental não provido. (AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CAUTELAR N Rel. Min. Arnaldo Versiani, publicação DJE em ). De mais a mais, entendo que o mandato, outorgado de forma soberana pelo povo, não pode ser objeto de acordos ou negociações, sendo necessária para o fim de impedir o reconhecimento da existência de justa causa - a demonstração específica de que as desavenças tidas como incontroversas, tanto pelo parlamentar quanto pela agremiação pela qual ele foi eleito, seriam inverídicas e buscaram fraudar ou frustrar a vontade popular. Ante o exposto e em consonância com o parecer da douta Procuradoria Regional Eleitoral (fls. 77/81), voto pelo deferimento do pedido, reconhecendo-se a existência de justa causa para a desfiliação de EDSON FIGUEIREDO MAGALHÃES do Partido DEMOCRATAS DEM. É como voto. ACOMPANHARAM O VOTO DO EMINENTE RELATOR:- O Sr. Desembargador Sérgio Luiz Teixeira Gama; O Sr. Jurista Marcus Felipe Botelho Pereira; O Sr. Juiz de Direito Helimar Pinto; O Sr. Juiz de Direito Aldary Nunes Júnior e O Sr. Juiz Federal José Eduardo Nascimento (Suplente). DECISÃO: À unanimidade de votos, JULGAR PROCEDENTE O PEDIDO, nos termos do voto do eminente Relator.
6 Presidência do Desembargador Álvaro Manoel Rosindo Bourguignon. Presentes o Desembargador Sérgio Luiz Teixeira Gama e os Juízes Marcus Felipe Botelho Pereira, Danilo de Araújo Carneiro, Helimar Pinto, Aldary Nunes Júnior e José Eduardo Nascimento (Suplente). Flavio Bhering Leite Praça, Procurador Regional Eleitoral (Suplente). \cmv
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