SUMÁRIO LISTA DAS FIGURAS
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- Gabriel Henrique Gusmão Corte-Real
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1 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO FORMAÇÃO DE CHORUME INVESTIGAÇÕES REALIZADAS NA ÁREA E NO ENTORNO DO LIXÃO DE ALTAMIRA A COMPOSIÇÃO DO CHORUME DO LIXÃO DE ALTAMIRA A CONTAMINAÇÃO POR MIGRAÇÃO NO SUBSOLO A CONTAMINAÇÃO POR ESCOAMENTO SUPERFICIAL A DESATIVAÇÃO E REMEDIAÇÃO DO LIXÃO DE ALTAMIRA AS DOENÇAS POR METAL PESADO CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS EQUIPE TÉCNICA LISTA DAS FIGURAS FIGURA 1 - Localização das Terras Indígenas FIGURA 2 - Localização da envoltória de cheia máxima em relação ao lixão FIGURA 3 - Localização das sondagens... 6 FIGURA 4 - Localização dos pontos de amostragem de águas superficiais FIGURA 5 - Lixão de Altamira (01/2009) e Rodovia Transamazônica LISTA DAS TABELAS TABELA 1 Coordenadas das sondagens realizadas... 6 TABELA 2 Coordenadas das amostragens de águas superficiais... 7 TABELA 3 Composição Média de Chorume em Aterros Brasileiros e do Chorume de Altamira TABELA 4 Concentração de metais medida em amostras de solo sob o lixão de Altamira TABELA 5 Concentração de metais medida em amostras de solo a jusante do lixão TABELA 6 Concentrações medidas no Igarapé Altamira (mg/l) EIA-G90-001c i Leme Engenharia Ltda.
2 1. INTRODUÇÃO O presente documento trata das questões do potencial de impactos ambientais decorrentes do lixão de Altamira sobre a qualidade das águas do futuro Reservatório do Xingu e que possam ter reflexos na qualidade de vida dos habitantes das Terras Indígenas, conforme aventado no Relatório AHE Belo Monte Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) Componente Indígena Estudos Socioambientais nas TIS Koatinemo, Arara, Kararaô, Cachoeira Seca, Apyterewa e Arawete / Igarapé Ipixuna. Uma avaliação do possível impacto do lixão de Altamira que poderá ocorrer interferindo na qualidade das águas do futuro Reservatório do Xingu foi realizada a partir das informações e dados disponíveis considerando três variáveis: a fonte, o caminho a ser percorrido e a possibilidade de contaminação da população usuária do Reservatório do Xingu a ser formado se for implantado o AHE Belo Monte. No presente parecer a fonte de contaminação é o lixão de Altamira, tendo como principal contribuinte a formação de chorume. O caminho a ser percorrido pelo chorume, ou seja, como se dará o transporte dos contaminantes presentes no chorume a sua rota de migração, é o segundo item a ser avaliado. E por fim, a população a ser atingida: os usuários do futuro Reservatório do Xingu, incluindo as comunidades indígenas. Das terras indígenas citadas, a mais próxima se encontra cerca de 70 km a jusante do lixão de Altamira (FIGURA 1). Nesse sentido, considera-se importante uma abordagem técnica sobre o chorume de aterros e lixões para se estabelecer um referencial sobre o entendimento do que o chorume representa como fonte de potencial poluidor do meio ambiente. Quanto à questão do transporte ocorrido pelos contaminantes presentes no chorume do lixão de Altamira, uma campanha de investigação do subsolo no local do lixão foi realizada em janeiro de 2009, para subsidiar os estudos realizados no âmbito do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do AHE Belo Monte, de modo a identificar como está ocorrendo a migração dos contaminantes. Ressalta-se ainda que o transporte pode ocorrer por migração do chorume no subsolo e por escoamento superficial e que uma possível área de inundação do Igarapé Altamira, quando da ocorrência de cheias no Reservatório do Xingu com tempo de recorrência de 100 anos, estará distante cerca de 800 m do lixão, conforme observado na FIGURA 2. Nesse parecer serão resumidos resultados investigados e considerações sobre a eliminação da fonte poluidora EIA-G90-001c 2 Leme Engenharia Ltda.
3 FIGURA 1 - Localização das Terras Indígenas EIA-G90-001c 3 Leme Engenharia Ltda.
4 FIGURA 2 - Localização da envoltória de cheia máxima em relação ao lixão EIA-G90-001c 4 Leme Engenharia Ltda.
5 2. FORMAÇÃO DE CHORUME A principal preocupação que permeia as considerações feitas sobre o potencial de poluição do lixão de Altamira é a dos impactos gerados pelo transporte de contaminantes pelo chorume (lixiviado) originado no mesmo. O chorume, pelas suas características físicas, químicas e biológicas, constitui a principal fonte de poluição ambiental resultante da disposição de resíduos sólidos urbanos no solo. O chorume pode, potencialmente, contaminar as águas superficiais e subterrâneas, além de degradar o solo e a vegetação. O potencial se amplia quando se trata de disposição de resíduos de forma indiscriminada no solo, constituindo os denominados lixões. A formação do chorume é complexa, estando relacionada a diversos fatores, tais como: as características dos resíduos dispostos, o clima local, a idade do aterro, a forma de operação, entre outros. Os componentes característicos são os sais orgânicos e inorgânicos, os compostos orgânicos complexos e os compostos amoniacais. O chorume resulta da percolação de líquidos de origem externa e da água gerada nos processo de decomposição anaeróbia da matéria orgânica, que infiltram pela massa de resíduos e vão extraindo materiais dissolvidos e em suspensão, formando um novo líquido de composição variável. A parcela de maior influência no volume de chorume gerado é relativa à infiltração das águas de chuva na parte superior do aterro (ou lixão). Quanto à sua migração, podem ser considerados como traçadores da presença de chorume o cloreto e o nitrogênio amoniacal. Embora existam autores que façam referência à presença de metais pesados em chorume, a não ser que haja uma fonte específica (por exemplo, a disposição de resíduos, com metal pesado, de alguma indústria), em geral eles são apenas elementos traços de Cd, Cu, Cr, Pb, Ni e, mais comumente, o Zn. Mais recentemente, pela crescente utilização de lâmpadas a mercúrio e tintas também à base de mercúrio, este elemento começa a fazer parte das preocupações das contaminações por chorume, embora ainda não existam dados disponíveis que confirmem tal situação. No caso do lixão de Altamira, não há dúvidas quanto ao potencial de poluição do mesmo e à possibilidade de contaminação de águas superficiais e de subsolo na situação na qual o lixão se encontra hoje, seja por arraste de resíduos e lixiviado pela superfície da área, seja pela infiltração e migração do lixiviado no subsolo, uma vez que não há nenhum tipo de controle sobre os resíduos ali dispostos. Ressalta-se, no entanto, que as características sito-argilosas dos solos residuais de rochas básicas (Diabásio Penatecaua) sob o aterro, com baixas permeabilidades, não favorecem a percolação do lixiviado no subsolo. Assim, a eliminação do lixão de Altamira, como fonte de poluição ambiental, está prevista, inclusive no âmbito das medidas ambientais propostas no EIA (mais especificamente no contexto do Programa de Intervenção em Altamira, parte integrante do Plano de Requalificação Urbana), e deverá ocorrer o mais rápido possível, com a implantação de um aterro sanitário para a disposição dos resíduos sólidos do município (e também conforme já indicado no EIA, para receber os resíduos gerados na cidade de Vitória do Xingu e os gerados durante as obras do AHE Belo Monte, nos diferentes sítios construtivos) EIA-G90-001c 5 Leme Engenharia Ltda.
6 3. INVESTIGAÇÕES REALIZADAS NA ÁREA E NO ENTORNO DO LIXÃO DE ALTAMIRA De modo a se realizar um diagnóstico da situação do lixão de Altamira na investigação de campo realizada em janeiro de 2009 (EIA AHE Belo Monte, 2009), foi executado levantamento topográfico, foram realizadas sondagens e a retirada de amostras de solo e de água superficiais para análises químicas. Foram realizadas 5 sondagens à percussão no depósito de lixo (L1 a L5), uma sondagem a montante (M1) e 3 sondagens a jusante (J1, J2 e J3), totalizando 9 sondagens (FIGURA 3). A TABELA 1 apresenta as coordenadas dos pontos de sondagem. FIGURA 3 - Localização das sondagens TABELA 1 Coordenadas das sondagens realizadas Coordenada Norte Coordenada Leste M L L L L L J J J EIA-G90-001c 6 Leme Engenharia Ltda.
7 A sondagem a montante foi até 30 m de profundidade e não detectou nível d água (N.A.) e as sondagens no lixo variaram de 6,5 m a 15 m de profundidade, investigando 3 m em solo, abaixo do lixo, que foram os limites de sondagem recomendados; as sondagens J1 e J3 foram a 10 m e 15 m, respectivamente, e a J2 foi até encontrar o N.A., o que ocorreu a 4,9 m. Quanto à retirada das amostras de solo foi recomendado que as mesmas deveriam ser coletadas, dentro do possível, a cada 3 m, exceto para o furo a montante, onde essa extração de amostras seria a cada 5 m. No total, foram retiradas 26 amostras de solo. Além disso, foi recomendada a coleta de chorume, quando encontrado dentro do lixão. De modo a avaliar as águas superficiais, foram realizadas coletas no Igarapé Altamira, próximo a um bueiro, a cerca de 600 m do lixão, junto à Transamazônica, e em outros dois pontos desse corpo hídrico, na área urbana, próximo à Av. Perimetral, junto à ponte, e na Av. João Coelho, na Ponte Brasília. A TABELA 2 e a FIGURA 4 apresentam as coordenadas e a localização dos pontos de amostragem. TABELA 2 Coordenadas das amostragens de águas superficiais LOCAIS DO IGARAPÉ ALTAMIRA LATITUDE LONGITUDE Av. Perimetral / Ponte 3 o S 52 o 12 58,44 O Av. João Coelho / Ponte 3 o S 52 o 12 33,41 O Ponto a 600 m do lixão 3 o S 52 o 14 13,89 O 6365-EIA-G90-001c 7 Leme Engenharia Ltda.
8 FIGURA 4 - Localização dos pontos de amostragem de águas superficiais EIA-G90-001c 8 Leme Engenharia Ltda.
9 4. A COMPOSIÇÃO DO CHORUME DO LIXÃO DE ALTAMIRA A TABELA 3 apresenta a composição média de chorume em aterros brasileiros. Dados do chorume do lixão de Altamira, levantados em janeiro de 2009, incluem-se nessa tabela. As amostras de chorume foram retiradas em apenas duas das sondagens executadas, dentro do lixão, nas quais apareceu chorume dentro da massa de lixo, a 1,5 e 2,5 m de profundidade; não foi detectado chorume nas demais sondagens. Os parâmetros medidos estão dentro da faixa máxima de chorume de aterros brasileiros. O mercúrio não é usual em chorume (mesmo em baixas concentrações) e, por isso, os valores de faixa máxima e mais provável não aparecem na TABELA 3. Dois valores encontrados para cromo e zinco excedem os valores máximos e parecem indicar uma situação pontual. A presença do cromo talvez possa ser explicada pela constatação de que o mesmo está presente na matriz do solo da região, conforme descrito no EIA. A confirmação dos resultados de caracterização do chorume exige que se façam novas campanhas de coleta e análises para que se possam estabelecer parâmetros médios, sem invalidar, no entanto, as conclusões sobre o seu potencial de contaminação apresentadas a seguir. Com referência ao potencial de poluição por carga orgânica, que poderia contribuir para o processo de eutrofização, ele existe na medida em que o chorume tem uma concentração média de DBO e DQO entre 20 e 30 vezes maior se comparado ao potencial dos esgotos domésticos (DBOméd= 200mg/L e DQOmed= 4.000mg/L). Ressalta-se que, em comparação com os esgotos, em geral a carga orgânica (vazão x concentração) de chorumes é significativamente menor, uma vez que as vazões de esgoto são muito maiores do que as de chorumes. 5. A CONTAMINAÇÃO POR MIGRAÇÃO NO SUBSOLO Amostras de solo foram retiradas sob o lixão de Altamira em cinco pontos do lixão, atingindo em alguns pontos até 16 m de profundidade, perfazendo um total de onze amostras. As análises foram realizadas no Laboratório Innolab, do Rio de Janeiro. A TABELA 4 apresenta as faixas de variação dos valores de concentração determinadas para os metais pesados cádmio, chumbo, cromo, mercúrio, níquel e zinco. Os valores orientadores da CETESB (decisão de diretoria n o ) estão também inseridos na Tabela. Ressalta-se que esses valores serão adotados em resolução que está em tramitação no CONAMA. Observa-se que todos os metais estão abaixo do nível de intervenção para áreas agrícolas (mais restritivo), e somente cádmio e cromo apresentam valores acima de níveis de prevenção, estando chumbo, níquel e zinco abaixo do nível de referência EIA-G90-001c 9 Leme Engenharia Ltda.
10 TABELA 3 Composição Média de Chorume em Aterros Brasileiros e do Chorume de Altamira Variável Faixa máxima (*) Faixa mais provável (*) Chorume de (**) Altamira ph 5,7-8,6 7,2-8,6 7,8 e 8,0 Alcalinidade total (mg/l de CaCO3 ) Dureza (mg/l de CaCO3) DBO (mg/lde O 2 ) < < DQO (mg/l de O 2 ) e Óleos e graxas (mg/l) Fenóis (mg/l de 0,9-9,9 0,9-4,0 - C6H5OH) N-amoniacal (mg/l de N) 0, , e 682 N-orgânico (mg/l de N) P-total (mg/l) 0,1-40 0, Sulfeto (mg/l) Sulfato (mg/l) Cloreto (mg/l) e 1719 Sólidos totais (mg/l) Ferro (mg/l) 0, , Manganês (mg/l) 0,04-2,6 0,04-2,0 - Cobre (mg/l) 0,005-0,6 0,05-0,15 - Níquel (mg/l) 0,03-1,1 0,03-0,5 0,043 e 0,36 Cromo (mg/l) 0,003-0,8 0,003-0,5 0,259 e 7,139 Cádmio (mg/l) 0-0,26 0-0,065 0,008 e 0,158 Chumbo (mg/l) 0,01-2,8 0,01-0,5 0,058 e 0,94 Zinco (mg/l) 0,01-8,0 0,01-1,5 1,88 e 16,26 Mercúrio (Hg) ,0011 e 0,062 (*) Fonte: SOUTO e POVINELLI (2007) (**) Fonte: EIA AHE Belo Monte (2009) TABELA 4 Concentração de metais medida em amostras de solo sob o lixão de Altamira Valores Orientadores da CETESB Concentração no solo (mg/kg) Referência de Qualidade Prevenção Intervenção (agrícola) Cádmio 0,2-2,5 0,5 1,3 3 Chumbo 8,8 16, Cromo 37 96, Mercúrio 0,05 0,36 0,05 0,5 12 Níquel 3,9 7, Zinco EIA-G90-001c 10 Leme Engenharia Ltda.
11 6. A CONTAMINAÇÃO POR ESCOAMENTO SUPERFICIAL Em função da sua localização e da já referida falta, atualmente, de qualquer tipo de controle no lixão de Altamira, existe efetivamente a possibilidade de arraste de substâncias poluidoras por escoamento superficial, uma vez que não há qualquer tipo de sistema de drenagem para as águas de chuva no mesmo. Na realidade, conforme mostra a FIGURA 5, o lixão invade a rodovia Transamazônica, e a presença de lixo na beira da rodovia, no lado oposto ao lixão, são indicativos de que as águas de chuva escoam sobre a rodovia arrastando materiais do lixão. Algumas análises foram efetuadas de modo a avaliar o avanço da contaminação. Amostras de solo a jusante do lixão foram retiradas, também em profundidade, pois há a possibilidade de ocorrer alguma migração nessa direção, e também amostras de água do igarapé Altamira em vários pontos, conforme citado anteriormente. Nas três sondagens realizadas a jusante do lixão (J1 a J3), onze amostras de solo foram retiradas, sendo duas próximas à rodovia Transamazônica e uma no talvegue natural a cerca de 17 m do lixão, na direção do igarapé Altamira e do rio Xingu. A TABELA 5 apresenta as faixas de variação das concentrações medidas. Os valores em geral estão abaixo do nível de prevenção. Somente em um ponto das onze amostras, no J3, a três metros de profundidade, que cádmio e cromo apresentam valores acima do nível de intervenção. FIGURA 5 - Lixão de Altamira (01/2009) e Rodovia Transamazônica 6365-EIA-G90-001c 11 Leme Engenharia Ltda.
12 TABELA 5 Concentração de metais medida em amostras de solo a jusante do lixão Concentração no solo (mg/kg) Referência de Qualidade (mg/kg) Valores Orientadores da CETESB Prevenção (mg/kg) Intervenção (agrícola) (mg/kg) Cádmio 1,1 5,0 0,5 1,3 3 Chumbo 8,1 19, Cromo Mercúrio 0,03 0,32 0,05 0,5 12 Níquel 3,3 8, Zinco O ponto importante detectado foi o nível d água (N.A.) encontrado na sondagem J2, que ocorreu a 4,9 m de profundidade, e após a análise de laboratório foi verificado que a água tinha características de chorume. Conforme constante dos estudos feitos no EIA, recomendações para futuras investigações já foram propostas no sentido de esclarecer essa constatação pontual. Os resultados nas amostras de água do igarapé Altamira, em todos os pontos retirados em janeiro de 2009, isto é, a 600 m do lixão, junto a Transamazônica, e na área urbana, próximo a Av. Perimetral, junto a ponte, e na Av. João Coelho, na Ponte Brasília estão apresentados na TABELA 6. Estão inclusos nessa tabela valores medidos no igarapé Altamira (ALT 1 e ALT 2), em janeiro de 2007 e março de 2008, na confluência do Rio Xingu, (dados do relatório de Qualidade de Águas do EIA) e os padrões de qualidade de água para rios classe 1 e 2 da Resolução CONAMA 357. Os valores medidos em 2009 não indicam, de forma geral, a presença de contaminação por chorume. Apenas a DQO é relativamente alta, mas as concentrações de cloreto (4 mg/l) e nitrogênio amoniacal (0,2 mg/l) são extremamente baixas. Não foi detectada a presença de mercúrio, cádmio e chumbo e as concentrações de zinco, cromo e níquel estão abaixo do permitido pela CONAMA 357 para rios classe 1 e 2. Nos pontos 4 e 5 da campanha de 2007 e 2008, as concentrações de cloreto e nitrogênio amoniacal (traçadores de chorume) estão abaixo dos limites preconizados pelo CONAMA, enquanto as concentrações de chumbo e mercúrio estão acima. No entanto, considerando as medidas mais recentes, sendo que no ponto a 600 m do lixão, não foi detectado nenhum desses elementos, não há como afirmar que essa contaminação seja indicativa da presença de chorume no Igarapé Altamira. Não há como ignorar a poluição da área urbana por onde passa o igarapé, em função da ausência de sistemas adequados de coleta e tratamento de esgoto e de drenagem urbana, ou seja, existem outras fontes possíveis de contaminação EIA-G90-001c 12 Leme Engenharia Ltda.
13 TABELA 6 Concentrações medidas no Igarapé Altamira (mg/l) Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5 Conama 357 DQO ph 5,89 6,04 6, Cloreto Nitrogênio amoniacal 0,232 0,03 0,083 0,15 0,015 2 Cádmio n.d ,001 Chumbo n.d ,3621 0,4414 0,01 Cromo 0, < L.D. < L.D. 0,05 Mercúrio n.d ,0006 0,0003 0,0002 Níquel 0, < L.D. < L.D. 0,025 Zinco 0, ,0658 0,0955 0,18 TOC Ponto 1 a 600 m do lixão Ponto 2 próximo à Av. Perimetral/ponte Ponto 3 Av. João Coelho/ponte Brasília Ponto 4 ALT 1 (coordenadas: ; ) Ponto 5 ALT 2 (coordenadas: ; ) 7. A DESATIVAÇÃO E REMEDIAÇÃO DO LIXÃO DE ALTAMIRA O encerramento e a remediação do lixão de Altamira objetivam reduzir ao máximo possível os impactos ambientais negativos que o mesmo causa. O encerramento adequado, com remediação, exige que seja elaborado um projeto técnico para que os resultados sejam os esperados. Para a elaboração do projeto técnico de remediação do lixão será importante instalar pontos de monitoramento a jusante do lixão, que terão duas funções importantes: a primeira de permitir, à época do projeto, a avaliação sobre a migração de poluentes (que será útil para a concepção do projeto de remediação); e a segunda de servir de controle sobre a eficiência do projeto de remediação ao longo dos anos. O monitoramento deverá ser mantido por pelo menos 5 anos após a remediação, para se ter segurança sobre a contenção de uma possível pluma de contaminação. Existem alguns componentes obrigatórios em projetos de remediação de lixões e que são destacados a seguir, sabendo-se que o projeto em si sempre traz a especificidade demandada pelas características locais. Delimitação da área do lixão e da área de influência Limpeza e remoção dos resíduos da área de influência para a área do lixão (pelo menos 500m no entorno) Conformação final através de condicionamento dos resíduos do lixão em uma área mais restrita através re-arrumação dos mesmos 6365-EIA-G90-001c 13 Leme Engenharia Ltda.
14 Isolamento da área, com uma barreira de solo através de uma berma, particularmente na frente para a rodovia Transamazônica Projeto de drenagem das águas superficiais desviando as mesmas da área de resíduos Projeto de sistema de drenagem de gás Projeto de drenagem e captação de chorume. Pode ser necessária a elaboração de projeto de valas para captação de chorume superficial, por exemplo, na borda do lixão ao longo da divisa com a rodovia Transamazônica Cobertura da área do lixão. Esta é uma etapa fundamental. A depender dos resultados da avaliação da contaminação do lençol freático, o projeto poderá prever cobertura com manta sintética para impedir a entrada de água, desde que seja prevista uma drenagem adequada para os gases Utilização futura da área que, no caso do lixão de Altamira, a revegetação com plantas nativas contribuiria para retornar, mesmo que parcialmente, à paisagem original. Assim, é possível, através de uma remediação adequada, se reduzir de forma muito significativa os impactos ambientais provocados pelo lixão de Altamira. Na realidade, a cobertura da área com um material impermeável (manta sintética) impedirá a entrada de água de chuva, principal formador do chorume. Na medida em que a geração de chorume fique restrita à umidade acumulada nos resíduos e à água gerada nos processos de decomposição da matéria orgânica, em pouco tempo (cerca de dois anos), com a interrupção da disposição de resíduos, não haverá praticamente fluxo de chorume infiltrando no subsolo. Ressalta-se ainda que um importante aspecto desse local é que as sondagens não detectaram a presença do lençol freático, sendo que a montante a investigação foi até 30 m de profundidade. O único ponto onde se encontrou água foi no ponto J2, a 4,9m de profundidade, sondagem executada no talvegue a jusante do lixão e cerca de 50 m da Rodovia Transamazônica, com cerca de 17 m de desnível em relação ao lixão. Porém, não se pode afirmar ser água porque as análises de laboratório indicaram se tratar de chorume, especialmente pelos valores de cloreto (700 mg/l), ph e nitrogênio amoniacal, o que ainda necessitaria de outras investigações. Embora a disposição de resíduos no lixão de Altamira só possa ser interrompida quando uma alternativa (um novo aterro sanitário) estiver implementada, seria extremamente recomendável que fossem tomadas de pronto algumas providências, como a construção de sistemas de drenagem superficial, além de um mínimo de operação com cobertura periódica dos resíduos, que já contribuiriam para uma redução dos impactos atuais. A presença de matéria orgânica recente poderá ser reduzida, à época da execução da remediação, caso isto seja considerado importante, com a retirada da primeira camada de resíduos do lixão (1 a 2 metros), que seria transportada e disposta no novo aterro sanitário. Assim, desde que executadas as ações necessárias para a remediação do lixão de Altamira, o mesmo será estabilizado física, química e biologicamente e não haverá contaminação significativa nos próximos anos, por chorume, do igarapé Altamira, do rio Xingu e do Reservatório do Xingu, se este vier a ser formado, conforme apontado no EIA EIA-G90-001c 14 Leme Engenharia Ltda.
15 8. AS DOENÇAS POR METAL PESADO A preocupação com metal pesado e seus efeitos deletérios na saúde e no meio ambiente conceitualmente tem a sua razão de ser. Afinal, em muitas localidades tanto lixo urbano como resíduos de indústrias são dispostos em lixões. A presença de resíduos industriais potencializa a presença de metais pesados e de outros poluentes. Entre os metais pesados que apresentam maiores riscos ambientais estão o mercúrio (Hg), o chumbo (Pb), o cádmio e o arsênio (As). Destes, o mercúrio e o arsênio não são apontados como usuais em chorume de aterros de lixo domiciliar, enquanto os outros dois aparecem, em geral, em concentrações muito baixas (traços). No caso do lixão de Altamira, segundo as informações obtidas em contatos com o pessoal local (da Prefeitura), não existem indústrias no município que justifiquem a presença de concentrações elevadas de metais pesados. O relatório de Qualidade de Águas do EIA se refere a investigações sobre outras fontes de contaminação como a utilização de cromo em processos de conservação de madeiras e utilização de mercúrio em atividades de garimpo no igarapé Altamira, no entanto, os levantamentos sócio-econômicos e dos usos e ocupação dos solos não confirmaram tais atividades. Portanto, não foram caracterizadas fontes antrópicas de contaminação, e a hipótese mais provável é que a geologia regional tem forte influência na composição dos metais dos sistemas hídricos diagnosticados. Isto se confirma, conforme relatado anteriormente, pelos baixos valores de metais encontrados em amostras do chorume local. Desta forma, a contaminação por metal pesado não deverá ser uma preocupação, desde que sejam tomadas as providências para a remediação do lixão de Altamira. 9. CONCLUSÕES Os resultados na amostra de água do igarapé Altamira, em todos os pontos retirados, não indicam (em janeiro de 2009), de forma geral, a presença de contaminação por chorume. Apenas a DQO é relativamente alta, mas dissociada de concentrações significativas de cloreto, nitrogênio amoniacal e metal pesado. Não há dúvida quanto ao potencial de impactos ambientais resultantes da presença de lixões. No caso do lixão de Altamira, há evidências de que o lixão está gerando impactos que estão se propagando dentro dos limites em que foram realizadas as sondagens. Como fonte antrópica de poluição, o lixão de Altamira tem uma representação relativa no contexto da área de influência da AHE Belo Monte, não sendo suficiente, por si só, para provocar impactos significativos nas populações das áreas indígenas. A poluição atual é amenizada tanto pela diluição em função da vazão do rio Xingu, como pela distância que se localizam as áreas indígenas. No entanto, a constatação da existência de outras fontes antrópicas de poluição, como o esgoto doméstico não tratado, às quais podem se somar os impactos do lixão, reforça a necessidade de que o fechamento do mesmo seja realizado o mais rapidamente possível e de forma adequada, assegurando a eliminação desta fonte de poluição na área de influência e de contribuição do rio Xingu EIA-G90-001c 15 Leme Engenharia Ltda.
16 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SOUTO, G. D.B.; POVINELLI, J Características do lixiviado de aterros sanitários no Brasil. Anais do 24 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental (trabalho III 040). 11. EQUIPE TÉCNICA Elisabeth Ritter Engenheira Geotécnica João Alberto Ferreira Engenheiro Sanitarista 6365-EIA-G90-001c 16 Leme Engenharia Ltda.
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