PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Tribunal de Justiça 2ª Câmara Cível

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1 1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Tribunal de Justiça 2ª Câmara Cível Data de distribuição :23/4/2008 Data de julgamento :25/6/ Agravo de Instrumento Origem : Porto Velho/RO (4ª Vara Cível) Agravante : Davi Alves de Mesquita Advogadas : Raquel Oliveira de Holanda Galli (OAB/RO 363-B) e outra Agravada : Centrais Elétricas de Rondônia S/A - Ceron Advogado : Pedro Origa (OAB/RO 1.953) Relator : Desembargador Roosevelt Queiroz Costa RELATÓRIO Trata-se de agravo de instrumento manejado contra decisão proferida a título de antecipação dos efeitos da tutela em indenizatória por acidente de trabalho, na qual o juiz de origem deferiu o imediato pagamento de pensionamento ao autor, no valor de 6 (seis) salários mínimos. O autor, ora agravante, insurge-se contra a decisão, argüindo que a importância deferida totaliza apenas R$2.490,00 (dois mil quatrocentos e noventa reais), quantia que não cobre suas despesas de tratamento médico e alimentos à família, que quantificou em R$5.876,22 (cinco mil oitocentos e setenta e seis reais e vinte e dois centavos). Aduz que desde o acidente está incapacitado para o trabalho, pois até o momento se encontra paraplégico, e a falta de tratamento médico imediato poderá deixar a seqüela irreversível. Requer a reforma da decisão para obter o pensionamento retroativo à data do sinistro e que as prestações mensais sejam majoradas para o montante de R$5.876,22 (cinco mil oitocentos e setenta e seis reais e vinte e dois centavos). A concessionária, ora agravada, ofereceu contra-razões, alegando que o valor deferido é excessivo, haja vista que o agravante é eletricista sem formação acadêmica, com renda mensal média de R$801,88 (oitocentos e um reais e oitenta e oito centavos). hostilizada. Ao prestar informações, o juiz da causa reiterou o teor da decisão

2 2 É o relatório. VOTO DESEMBARGADOR ROOSEVELT QUEIROZ COSTA I. Preliminar de ofício Por se tratar de matéria de ordem pública, que pode ser examinada de ofício, ou seja, independentemente de manifestação das partes, manifesto-me acerca da competência ratione materiae em demandas que versam sobre acidente de trabalho. Pois bem. Diz o art. 114 da Constituição Federal, com a redação que lhe foi dada pela Emenda n. 45, de 8/12/2004, verbis: Art Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; [...] VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; [...]. No âmbito do STF, a questão já está superada, conforme se vê da ementa de julgamento abaixo, proferida no Conflito de Competência n : Compete à Justiça do Trabalho apreciar e julgar pedido de indenização por danos morais e patrimoniais, decorrentes de acidente do trabalho, nos termos da redação originária do artigo 114 c/c inciso I do artigo 109 da Lei Maior. As ações em trâmite na Justiça comum estadual e com sentença de mérito anterior à promulgação da EC 45/04 lá continuam até o trânsito em julgado e correspondente execução. Quanto àquelas cujo mérito ainda não fora apreciado, devem ser remetidas à Justiça laboral, no estado em que se encontram, com total aproveitamento dos atos já praticados. Consideram-se de interesse público as disposições atinentes à competência em lides contenciosas; por este motivo, aplicam-se imediatamente; atingem as ações em curso. Excetuam-se os casos de haver pelo menos uma sentença concernente ao mérito; o veredictum firma o direito do Autor no sentido de prosseguir perante a Justiça que tomara, de início, conhecimento da causa' (Carlos Maximiliano). Precedente plenário: CC

3 3 Outros precedentes no mesmo sentido: "RE AgR, RE AgR, RE AgR, RE AgR, RE AgR, RE AgR e RE AgR. Agravo regimental desprovido." (RE AgR, Rel. Min. Carlos Britto, julgamento em 27/2/07, DJ de 11/5/07). No mesmo sentido: AI AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 27/11/07, DJE de 1º/2/08. Recentemente, mais especificamente na sessão do dia 28/2/2008, a 2ª Turma voltou a reafirmar essa posição, restando assim ementado o julgamento: Agravo. Regimental. Acidente de trabalho. Indenização. Competência. Decisão mantida. Agravo regimental não provido. É competente a Justiça do Trabalho para julgar ação de indenização decorrente de acidente do trabalho quando não há sentença de mérito, antes da promulgação da Emenda Constitucional n. 45/2004. (RE-AgR /SP, AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgamento: 26/2/2008, DJE-055 DIVULG 27/3/2008 PUBLIC 28/3/2008 EMENT VOL PP ). Da jurisprudência do STJ extraímos elucidativo precedente no qual a questão é bem delineada: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE A JUSTIÇA ESTADUAL E TRABALHISTA. ACIDENTE DE TRABALHO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. SERVIDOR PÚBLICO NOMEADO PARA EXERCER CARGO EM COMISSÃO. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004. ART. 114, INCISO VI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. A Constituição Federal no seu art. 114, VI, da CF/88, com redação conferida pela EC n. 45/04, fixa na Justiça do Trabalho a competência para processar e julgar as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho. 2. Deveras, a Suprema Corte, ao julgar a ADln n DF, excluiu da expressão relação de trabalho as ações decorrentes do regime estatutário. Assim, a competência para julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho quando envolverem servidor estatutário não celetista e ente público será da Justiça comum, estadual ou Federal, conforme o caso 3. O art. 109, I, da CF/88, ao excetuar da competência federal as causas de acidente de trabalho, o fez para excluir ratione personae as ações acidentárias intentadas pelo segurado contra o INSS para pleitear o auxílio-acidente a que alude o art. 86 da Lei n / Consectariamente, não se enquadram na exceção as ações de indenização por acidente de trabalho movidas pelo empregado contra o empregador, por isso que o art. 114, VI, da CF/88 tão-somente aplica-se aos casos de indenização por danos morais ou patrimoniais decorrentes

4 4 de típica relação de trabalho, mas não às lides que envolvem o regime estatutário. (Precedentes: CC SP, Relator Ministro LUIZ FUX, Primeira Seção, DJ de 25 de junho de 2.007; CC n MG, Relator Ministro CASTRO MEIRA, Primeira Seção, DJ de 05 de março de 2.007; CC SP, Relatora Ministra ELIANA CALMON, Primeira Seção, DJ de 02 de maio de 2.006). 5. As regras de competência inauguradas pela Emenda 45/2004, reclamam exegese prospectiva, sendo assente na Primeira Seção deste STJ que, malgrado pelo novel ordenamento a justiça laboral seja competente para as novéis causas, excetuam-se as hipóteses em que a sentença foi proferida na Justiça comum antes da promulgação da Emenda (31 de dezembro de 2.004), hipótese em que a competência do tribunal vincula a competência do Tribunal Superior (Precedentes do STF e do STJ). 6. Nesse segmento, forçoso convir que as modificações promovidas pela EC n. 45/2004 devem ser aplicadas imediatamente às hipóteses em que esteja pendente o julgamento do mérito no primeiro grau de jurisdição. 7. In casu, o autor mantinha vínculo de natureza estatutária com o Município, sendo que o pedido indenizatório tem como causa de pedir o contágio da doença hanseníase. 8. Conflito conhecido para declarar competente o JUÍZO DE DIREITO DA COMARCA DE ITAQUIRAÍ - MS. (CC 66184/MS, Relator Min. Luiz Fux, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, j. 12/9/2007, DJ 8/10/2007, p. 198). Esta Corte tem trilhado o mesmo caminho, conforme se vê dos arestos abaixo, iniciando-se pelos de nossa relatoria: Indenizatória. Danos morais oriundos de relação trabalhista. Competência da Justiça do Trabalho. Sentença prolatada pela Justiça Comum. Vigência da Emenda Constitucional n. 45/04. Nulidade absoluta. Incompetência ratione materiae. A competência para processar e julgar as ações indenizatórias em que se discutem direitos oriundos de relação trabalhista pertence à Justiça do Trabalho. É nula, na espécie, a sentença prolatada por Juiz Estadual na vigência da EC n. 45/2004, por incompetência ratione materiae (2ª Câm. Cível - Apelação Cível n , j. 8/8/2007, v.u.). Ação indenização acidente trabalho. Sentença prolatada após promulgação EC n. 45/2004. Competência da justiça trabalhista. As ações de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho são de competência da Justiça do Trabalho, conforme o disposto no artigo 114, inciso VI, da CF (Emenda Constitucional n. 45/2004).

5 5 Prorroga-se a competência da Justiça comum estadual, nas ações que já tenham sido sentenciadas antes da data da promulgação da Emenda Constitucional n. 45/2004. É nula a sentença prolatada por juiz estadual após a data da promulgação da EC n. 45/2004, nas ações de indenização por acidente de trabalho em face da incompetência ratione materiae (2ª Câm. Cível - Apelação Cível n , j. 10/1/2007, v.u.). Apelação cível. Ação indenização acidente trabalho. Sentença prolatada após promulgação EC n. 45/2004. Competência justiça trabalhista. São de competência da Justiça do Trabalho as ações de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho, conforme o disposto no artigo 114, inciso VI, da CF (Emenda Constitucional n. 45/2004). Prorroga-se a competência da Justiça Comum Estadual, nas ações que já tenham sido sentenciadas antes da data da promulgação da Emenda Constitucional n. 45/2004. É nula a sentença prolatada por Juiz Estadual após a data da promulgação da EC n. 45/2004, nas ações de indenização por acidente de trabalho, em face da incompetência ratione materiae (2ª Câm. Cível - Apelação Cível n , Relator Juiz Jorge Luiz de Moura Gurgel do Amaral, j. 18/4/2007, v.u.). Agravo regimental. Indenização. Acidente do trabalho. Justiça Comum. Justiça do Trabalho. Competência. Alteração superveniente. Decisão de mérito proferida antes da vigência da Emenda Constitucional n. 45. Validade da sentença. Subsistência da competência da justiça estadual. A norma constitucional tem aplicação imediata. Porém, a alteração superveniente da competência, ainda que ditada por norma constitucional, não afeta a validade da sentença anteriormente proferida. Válida a sentença anterior à eliminação da competência do juiz que a prolatou, subsiste a competência recursal do tribunal respectivo. Assim, a competência para julgamento das ações indenizatórias decorrentes de acidente de trabalho permanece sendo da Justiça Estadual, quando a sentença de mérito foi proferida por juiz estadual e anterior à vigência da Emenda Constitucional n. 45 (1ª Câm. Cível - Agravo Regimental em Apelação Cível n , Rel. Juiz Raduan Miguel Filho, j. 4/9/2007, v.u.). Indenização. Danos materiais e morais. Acidente de trabalho. Relação empregado-empregador. Emenda Constitucional n. 45/2004. Competência da Justiça Trabalhista. Nas ações de indenização por danos materiais e morais decorrentes de acidente de trabalho, a competência absoluta em razão da matéria para julgamento, com o advento da Emenda Constitucional n.

6 6 45/2004, é da Justiça Trabalhista (1ª Câm. Cível - Agravo de Instrumento n , Rel. Des. Moreira Chagas, j. 13/9/2005, v.u.). Assim sendo, no caso dos autos, tratando-se, evidentemente, de relação de emprego havida na origem, e tendo o autor sofrido lesão em decorrência de acidente no trabalho ocorrido em 24/11/2007 (fl. 3), não restam dúvidas de que a competência para julgamento da presente ação é da Justiça do Trabalho, e não da Justiça comum, porque o fato está sob a vigência da EC n. 45/04. Em face do exposto, por estar configurada, na espécie, a competência da Justiça do Trabalho para apreciar a matéria, não conheço do agravo e determino que os autos principais sejam remetidos à justiça competente. É como voto.

7 7 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Tribunal de Justiça 2ª Câmara Cível Data de distribuição :23/4/2008 Data de julgamento :25/6/ Agravo de Instrumento Origem : Porto Velho/RO (4ª Vara Cível) Agravante : Davi Alves de Mesquita Advogadas : Raquel Oliveira de Holanda Galli (OAB/RO 363-B) e outra Agravada : Centrais Elétricas de Rondônia S/A - Ceron Advogado : Pedro Origa (OAB/RO 1.953) Relator : Desembargador Roosevelt Queiroz Costa EMENTA Agravo de instrumento. Indenizatória. Acidente de trabalho. Emenda Constitucional n. 45/04. Incompetência ratione materiae. A competência para processar e julgar as ações indenizatórias em que se discutem direitos oriundos de relação trabalhista pertence à Justiça do Trabalho. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Desembargadores da 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, em, POR UNANIMIDADE, NÃO CONHECER DO RECURSO NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR. Os Desembargadores Marcos Alaor Diniz Grangeia e Miguel Monico Neto acompanharam o voto do Relator. Porto Velho, 25 de junho de DESEMBARGADOR ROOSEVELT QUEIROZ COSTA RELATOR