Aliança Brasileira pelo Clima. Apresentação do Governador de São Paulo, José Serra. O Etanol e as Energias Renovaveis da Biomassa
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- Luiz Eduardo Sousa Candal
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1 Aliança Brasileira pelo Clima Apresentação do Governador de São Paulo, José Serra O Etanol e as Energias Renovaveis da Biomassa Gostaria de começar agradecendo aos organizadores deste encontro, bem como as iniciativas da Aliança pelo Clima, que visam contribuir para as negociações dessa Conferência. Acredito que a agenda das mudanças climáticas abre uma excepcional oportunidade para o Brasil, e São Paulo em particular, mostrar à opinião pública a enorme vantagem das energias renováveis da biomassa. A cana de açúcar e as florestas plantadas, através do etanol, da bioeletricidade e do carvão vegetal, oferecem excelentes alternativas energéticas, disponíveis imediatamente, necessárias para enfrentar o fenõmeno perverso do aquecimento global. Sinceramente, eu estou convencido que o Brasil, baseado nas energias renováveis, assumirá sua condição de potência ambiental nas próximas décadas. Por isso, nós não devemos temer, mas sim enfrentar com disposição e ousadia a agenda ambiental expressa aqui na CoP 15. 1
2 A reversão das tendências ao aquecimento global pressupõe a adoção de práticas agrícolas mais ajustadas às necessidades ambientais, induzindo mudanças que reduzam emissões de gases com efeito estufa, a começar pela contenção do desmatamento. Por isso mesmo, defendo que a comunidade internacional reconheça os esforços de combate ao desmatamento como NAMAS (Ações Nacionais Apropriadas de Mitigação), fortaleça o regime do CDM (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) e estruture o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), permitindo que aportes financeiros preservem e restaurem florestas. O Estado de São Paulo adota, hoje, o principal programa climático do Hemisfério Sul. Estabeleceu, por lei, uma meta de mitigação de 20% de reduçao absoluta nas emissões de gases estufa ate 2020, a partir de Em adaptação, executamos um grande programa de proteção e recuperação da Mata Atlãntica, que pretende ampliar a cobertura vegetal natural do estado dos atuais 14% para 20% do território, até
3 Florestas plantadas As florestas plantadas brasileiras são as mais produtivas e sustentáveis do mundo, absorvendo cerca de 63 milhões de toneladas de carbono por ano. Esta importante atividade econômica requer, para expandir, adequada parametrização, visando obter certificação internacional, com procedimentos ambientalmente seguros. Etanol: menos poluição e CO2 Neste encontro quero me estender sobre a experiência brasileira e de São Paulo para reduzir emissões com o etanol oriundo de canade-açúcar, substituindo a gasolina e, no futuro, dos outros derivados de petróleo. Ademais, através da cogeração do bagaço, podem-se reduzir outras fontes fósseis de energia, como começou a acontecer em São Paulo. O Brasil é hoje o produtor o mais eficiente do etanol no mundo, devido à disponibilidade de terras, clima adequado para a cana-deaçúcar, a experiência empreendedora, o progresso tecnológico e o domínio do processo produtivo do álcool. São Paulo detém cerca de dois terços da produção brasileira de etanol e um quinto da produção mundial. 3
4 Da oferta de energia em São Paulo, 56% provém de fontes renováveis, graças à hidroeletricidade a ao fato de que o etanol representa mais da metade do combustível utilizado por automóveis. Começamos no Brasil a misturar etanol na gasolina em meados dos anos 70. A mistura do etanol foi sendo elevada até chegar a 25%, mediante políticas mandatórias e subsídios, que depois acabaram eliminados. O governo federal também apoiou a produção de carros movidos a álcool hidratado, mas a plena utilização de etanol nos tanques só se consolidou com a introdução dos motores flex fuel, em meados desta década. O balanço energético do etanol é bastante favorável: 8 unidades da energia por ele geradas exigem somente uma unidade de energia fóssil. Quando digo etanol, refiro-me ao que provém da cana, pois, no caso do etanol do milho, produzido nos Estados Unidos, esta relação cai para 1,3 para 1, ou seja, 6 vezes menor. Além disso, o etanol não contem muitas das impurezas da gasolina, como óxidos de enxofre e particulados, principal causa da poluição do ar nas grandes cidades. Em São Paulo, a qualidade do ar melhorou consideravelmente quando parte substancial da gasolina foi substituida por etanol. Chumbo e MTBE (éter metil tributílico), aditivos tóxicos, foram eliminados. 4
5 Dois mitos recorrentes Há alguns mitos persistentes que circulam a respeito do etanol. Um deles enfatiza que a expansão de sua demanda mundial impactaria a floresta amazônica. Mas as condicões de solo e clima da Amazônia não favorecem a cultura da cana. Suas principais lavouras encontram-se a mais de 2000 kilometros de distância do bioma amazônico semelhante à distância entre Copenhague e Roma. E o Brasil tem ainda aproximadamente 90 milhões de hectares adicionais de terra arável, fora da floresta, dos quais cerca de 25 milhões são adequados ao cultivo da cana. Boa parte desta terra disponível representa pastagens degradadas, onde a plantação de cana fixará mais carbono no solo, um resultado altamente desejável. Outro mito aponta para um trade off entre produção de biocombustiveis e de alimentos, em escala mundial. No caso brasileiro, essa idéia não se comprova. Nosso pais dedica cerca de 7 milhoes de hectares à cana-de-açúcar, ao redor de 10% da area total cultivada. Soja e milho ocupam 36 milhões de hectares. Em todo o mundo, 1,5 bilhão de hectares de terras estão ocupados na agricultura. Outros 440 milhões são potencialmente disponíveis. Cerca de 100 países produzem cana, ocupando 20 milhões de 5
6 hectares. A área hoje plantada para biocombustíveis representa tão somente 0.55 % das áreas utilizadas. Por trás desse mito de corte malthusiano há também uma subestimação do papel do progresso tecnológico. Graças somente ao melhoramento genético, a produção da cana-de-açúcar por hectare cresceu 40 por cento em São Paulo nos últimos 20 anos. Com maior produtividade, na lavoura e na industria, será possível triplicar a produtividade por hectare do etanol nos próximos dez anos, reduzindo a eventual pressão por novas áreas. Proposta E10: mistura de 10% de etanol na gasolina mundial O consumo mundial de etanol representa o equivalente a 1,2% de toda a gasolina utilizada no mundo. Se 10% desse combustível fóssil vier a ser substituído por etanol, a mistura E10 iria requerer, para 2022, uma quantidade em torno de 200 bilhões de litros, exigindo um aumento de 4 vezes na produção mundial atual de etanol, considerando as várias origens. Num horizonte de 12 anos essa parece ser uma meta factível. Haveria um benefício ambiental considerável, além de um impulso ao desenvolvimento sustentável em várias nações, criando empregos nos países em desenvolvimento. 6
7 Tal politica em favor dos combustiveis renováveis traria um efeito na luta contra o aquecimento global, reduzindo as emissões de carbono em 55 milhoes de toneladas de CO2 por ano, sem mencionar a redução de outros poluentes de impacto local. Commodity e Protecionismo As possibilidades de avanço do etanol no mundo dependem de dois fatores relacionados com a economia internacional: a sua consolidação como commodity global e a remoção das práticas ferozmente protecionistas dos países desenvolvidos. Para que uma quantidade entre 20 a 40 países se comprometa a usar o etanol em grande escala, é preciso que este produto ganhe um status de commodity no mercado internacional, com critérios de qualidade para um fornecimento assegurado. É necessário estabelecer padröes, certificação, escala de produção, negociação em bolsas e outros fatores. É essencial, também, ter mais países produzindo e exportando o produto. Importadores potenciais não querem se expor ao risco de fornecimento concentrado e instável. O Brasil e os EUA estão discutindo uma cooperação que torne viavel o etanol como commodity global. O Estado de São Paulo está colaborando nesse processo, através dos setores público e privado. 7
8 Outro grande problema, ou barreira ao etanol, vem do protecionismo. O etanol de cana custa menos por litro de gasolina equivalente: cerca de 25 centavos de dólar, comparado a 40 centavos do etanol de milho e 65 centavos do etanol de outros gräos. Ainda assim, paises produtores de etanol de cana encontram pouco espaco nos mercados americano, europeu e asiático. Altas tarifas de importação protegem setores locais que são também pesadamente subsidiados. O pretexto para o protecionismo são a segurança energética e motivações supostamente ambientais. Os EUA taxam o produto brasileiro a 54 cents por galäo. A melhor síntese do equívoco dos Estados Unidos nessa matéria foi dada pelo governador Schwarzenegger, da Califórnia, reforçando a tese de que os biocombustiveis deveriam ser considerados bens ambientais sujeitos à liberalização do comercio, como eu proprio defendo: The Federal Government is subsidizing corn-based ethanol and we have a tariff of 54 cents-a-gallon on the most important ethanol to discourage cheap fuel coming in from Brazil. [ ] This is crazy. Just meeting the President s target of 15% biofuels during the next decade would consume most of the US corn crop. It makes absolutely no sense. It is crazy and it is definitely not in the best interest of the consumers. 8
9 Políticas de São Paulo para o etanol Permitam-me agora resumir alguns aspectos da política do Governo de São Paulo em relação à bioenergia. O primeiro deles já apontamos: o fomento e a coordenação de pesquisas acadêmicas e tecnológicas aplicadas, em parceria com empresas, com vistas à produtividade do setor, à melhora de sua qualidade ambiental, à maior densidade energética da cana, à geração de energia da partir dos resíduos do processo de produção, às colheitas e à industrialização, incluindo a álcoolquímica. Segundo, a formação e capacitação de recursos humanos, do ensino técnico ao universitário e de pós graduação. Terceiro, o cumprimento do zoneamento agroecologico para a cana de açúcar no Estado, disciplinando o uso do solo. Quarto, criação do Protocolo Agro-Ambiental do Setor Sucroalcooleiro, o maior sistema de garantia sócio-ambiental da bionergia do mundo, envolvendo 88% da produção paulista. Um compromisso voluntário prevê a recuperação de matas ciliares, a diminuição do uso de água, o controle de erosöes e de emissões atmosféricas das caldeiras e o gerenciamento na utilização de 9
10 agroquímicos. Aspectos sociais incluem o cumprimento dos direitos trabalhistas. Quinto, a eliminação antecipada da queimada na colheita da cana, incluida no referido Protocolo, com sua substituição pelo uso de máquinas. Isso já está acontecendo, e até 2014 a queima estará reduzida a um mínimo. Conclusão O aquecimento global ameaça parte dos avanços e dos confortos que muitos achavam garantidos na vida moderna. Por séculos, a Humanidade construiu um modelo do desenvolvimento eficaz para a geração da riqueza, mas que, ao mesmo tempo, foi colocando em perigo o equilíbrio da natureza e entrando na fase de rendimentos decrescentes. Como economista, estou convencido de que um novo modelo, de desenvolvimento sustentável, é possível: mais riqueza sem solapar os fundamentos da natureza que possibilitam sua criação. Isto exige entendimento e cooperação internacional, exige vontade política em cada nação, em cada região. O problema é global, as ações são locais. Obrigado. Copenhagen/
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