Por quê estudar os Princípios?
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- Tiago Belo Valgueiro
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1 Por quê estudar os Princípios? Novo CPP - Art O descumprimento de disposição legal ou constitucional provocará a invalidade do ato do processo ou da investigação criminal, nos limites e na extensão previstos neste Código. Novo CPP - Art Serão absolutamente nulos e insanáveis os atos de cuja irregularidade resulte violação dos direitos e garantias fundamentais do processo penal, notadamente no que se refere: I à observância dos prazos; II à observância do contraditório e da ampla defesa; III às regras de impedimento; IV à obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais; V às disposições constitucionais relativas à competência. 1. Princípio do contraditório - art. 5º, LV da CF Traduzido no binômio ciência e participação, e de respaldo constitucional (art. 5º, inc. LV da CF), Impõe que às partes deve ser dada a possibilidade de influir no convencimento do magistrado, oportunizando-se a participação e manifestação sobre os atos que constituem a evolução processual. o contraditório vai abranger a garantia de influir em processo com repercussão na esfera jurídica independente do polo da relação processual; O agente, autor ou réu, será admitido a influenciar: o conteúdo da decisão judicial, o que abrange o direito de produzir prova, o direito de alegar, de se manifestar, de ser cientificado, dentre outros
2 2 Princípio do contraditório NCPP - Art O juiz formará livremente o seu convencimento com base nas provas submetidas ao contraditório judicial, indicando na fundamentação todos os elementos utilizados e os critérios adotados, resguardadas as provas cautelares, as não repetíveis e as antecipadas. Conteúdo jurídico do contraditório e ampla defesa: segundo o STF 1 1) A plena defesa é incompatível com processos secretos, inquisitivos, que aceite depoimento de inimigos capitais do acusado ou julgamentos sem a sua presença. 2) Direito de informação, que obriga o órgão julgador a informar à parte contrária dos atos praticados no processo e sobre os elementos dele constantes. 3) Direito de manifestação, que assegura ao defendente a possibilidade de manifestar-se oralmente ou por escrito sobre os elementos fáticos e jurídicos constantes do processo. 4) Direito de ver seus argumentos considerados, que exige do julgador capacidade, apreensão e isenção de ânimo para contemplar as razões apresentadas. 2. Ampla defesa - art. 5º, LV da CF A defesa pode ser subdividida em (a) Defesa técnica: efetuada por profissional habilitado; É sempre obrigatória. (b) Autodefesa: realizada pelo próprio imputado Está no âmbito de conveniência do réu, que pode optar por permanecer inerte, invocando inclusive o silêncio. A autodefesa comporta também subdivisão: (a) Direito de audiência oportunidade de influir na defesa por intermédio do interrogatório ; (b) Direito de presença consistente na possibilidade de o réu tomar posição, a todo momento, sobre o material produzido, sendo-lhe garantida a imediação com o defensor, o juiz e as provas; O que é assegurar a ampla possibilidade de defesa? (a) propiciar os meios e recursos disponíveis e a ela inerentes (art. 5º, LV, CF); 1 STF MS Rel. Min. Gilmar Mendes.
3 3 (b) dever do Estado prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos (art. 5º, LXXIV, CF). Ampla defesa no STF no contexto do processo penal: O STF - Súmula nº 523: trata da defesa técnica, No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. Súmula nº 708 é nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro ; Ampla defesa: Código de Processo Penal Prevê a necessidade de nomeação de defensor para oferecimento da resposta à acusação, quando o acusado não apresentá-la no prazo legal (art. 396, 2º, CPP). Idêntica previsão consta da Lei de Drogas, conforme art. 55, 3º deste diploma. Ampla defesa vs. plenitude de defesa Ampla defesa está adstrito aos argumentos jurídicos (normativos) a serem invocados pela parte no intuito de rebater as imputações formuladas; Plenitude: Estabelecida como garantia própria do Tribunal do Júri no art. 5º, XXXVIII, a, CF. Autoriza a utilização não só de argumentos técnicos, mas também de natureza sentimental, social e até mesmo de política criminal, no intuito de convencer o corpo de jurados. 3. Presunção de Não Culpabilidade - art. 5º, LVII da CF. O reconhecimento da autoria de uma infração criminal pressupõe sentença condenatória transitada em julgado (art. 5º, inc. LVII da CF). Antes, somos presumivelmente inocentes, cabendo à acusação o ônus probatório desta demonstração O cerceamento cautelar da liberdade só pode ocorrer em situações excepcionais e de estrita necessidade. STF (Pleno): Firmou o entendimento de que o status de inocência prevalece até o trânsito em julgado da sentença final, ainda que pendente recurso especial e/ ou
4 4 extraordinário, sendo que a necessidade/utilidade do cárcere cautelar pressupõe devida demonstração; STF: HC , em 05/02/2009. Apelação e o recolhimento à prisão: inconstitucionalidade; Presunção de Não Culpabilidade: duas regras fundamentais: 1) Regra probatória, ou de juízo: A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado e não este de provar sua inocência; 2) Regra de tratamento: Ninguém pode ser considerado culpado senão depois de sentença com trânsito em julgado; O que impede qualquer antecipação de juízo condenatório ou de culpabilidade; Cria-se assim um amplo espectro de garantias processuais que beneficiam o acusado durante as investigações e a tramitação da ação penal, sem impedir que o Estado cumpra sua missão de investigar e punir os criminosos, fazendo uso de todos os instrumentos de persecução penal previstos em lei, assegurando o combate legítimo e efetivo da criminalidade. 4. Princípio do juiz natural - art. 5º, XXXVII A CF/88, que veda o juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII) e Garante que o processo e a sentença sejam conduzidos pela autoridade competente (art. 5º, LIII); Princípio da imparcialidade do juiz: é entendida como característica essencial do perfil do juiz consistente em não poder ter vínculos subjetivos com o processo, de modo a lhe tirar o afastamento necessário para conduzi-lo com isenção. Eventual impedimento como a suspeição devem ser reconhecidos ex officio pelo juiz, afastando-se voluntariamente de oficiar no processo e encaminhando-o ao seu substituto legal. Caso não reconheça a situação de imparcialidade, o juiz interessado deve ser recusado, e os permissivos legais para tanto se encontram no CPP: Art. 254 hipóteses de suspeição Art. 252 hipóteses de impedimento Imparcialidade vs Impartialidade vs Independência Indica que o 3º que atua na qualidade de autoridade para processar e sentenciar o litígio deve ostentar claramente este atributo; Não há de estar colocado na posição de parte = IMPARTIALIDADE
5 5 Ninguém pode ser acusador e juiz ao mesmo tempo Deve carecer de todo o interesse subjetivo na solução da lide = IMPARCIALIDADE Deve poder atuar sem subordinação hierárquica no que toca às partes = INDEPENDÊNCIA Demais significantes da imparcialidade (a) Ausência de preconceitos de todo o tipo, especialmente o racial ou religioso; (b) Não identificação ideológica; (c) Alheamento quanto à possibilidade de dádiva ou suborno e à influência de amizade, ódio, piedade, da imprensa; (d) Não se envolver emocionalmente com o objeto litigioso. (e) Não participar da investigação dos fatos; (f) Não se valer de conhecimentos privados sobre o assunto; Princípio da imparcialidade do juiz: isenção preconizada pelo ordenamento jurídico implica: (a) na postura de um magistrado que cumpra a Constituição, (b) De maneira honesta, prolatando decisões suficientemente motivadas. 5. Princípio igualdade processual - 5º, caput Consagra a paridade de armas, consagra o tratamento isonômico das partes no transcorrer processual; Embora a regra seja a isonomia processual, em situações específicas deverá haver uma preponderância do interesse do acusado, consoante se depreende do princípio do favor rei, ou favor réu; 6. Princípio da ação, demanda ou iniciativa das partes - art. 129, I da CF Ne procedat judex ex officio artigo 26 do CPP: nas contravenções a ação penal tenha início por portaria baixada pelo delegado ou pelo magistrado; não foi recepcionado pela Constituição de 1988; Nova ordem constitucional: a titularidade da ação penal conferida privativamente ao Ministério Público (art. 129, I) Admitindo-se, nos casos previstos, a iniciativa privada (ação penal privada exclusiva, personalíssima e subsidiária da pública).
6 6 7. Princípio da motivação das decisões - art. 93, inc. IX da CF Decorrência expressa do art. 93, inc. IX da Carta Magna O juiz é livre para decidir, desde que o faça de forma motivada, sob pena de nulidade insanável; 8. Do promotor natural ou do promotor legal Veda a designação arbitrária, pela Chefia da Instituição, de promotor para patrocinar caso específico, vale dizer, o promotor natural há de ser, sempre, aquele previamente estatuído em lei. o princípio do promotor natural é decorrência do princípio da independência funcional. Consiste na existência de um órgão do Ministério Público investido nas suas atribuições por critérios legais prévios. É o oposto do promotor de encomenda (MAZZILLI) O promotor natural é a proibição do promotor (ou acusador) de exceção (PACCELI) Exige a presença dos seguintes requisitos (Nery Jr). (a) a investidura no cargo de Promotor de Justiça; (b) a existência de órgão de execução; (c) a lotação por titularidade e inamovibilidade do Promotor de Justiça no órgão de execução, exceto as hipóteses legais de substituição e remoção; (d) a definição em lei das atribuições do órgão No Superior Tribunal de Justiça, o tema é pacificamente aceito, em ambas as turmas; STJ Quinta Turma RHC /ES, Rel. Ministra LAURITA VAZ Dje 20/08/2012. No mesmo sentido: STJ Sexta Turma HC Rel. Ministro Og Fernandes DJe 20/08/2012. No Supremo Tribunal Federal, por sua vez, há decisões nos dois sentidos: (a) pela existência do princípio do promotor natural STF Primeira Turma HC Min. Marco Aurélio DJe 01/03/2012 Info nº 652. O Pleno também julgou a matéria nos autos do HC (Rel. Min. Celso de Mello DJ 01/07/1993). (b) pela sua inexistência: sob o argumento de que tal princípio é incompatível com o da indivisibilidade do Ministério Público.
7 7 STF Segunda Turma RE /DF Rel. Min. Ellen Gracie DJ 26/03/2004. A abrangência de aplicação desse princípio é limitada ao processo criminal; Não se aplica no inquérito policial; 9. Princípio da Oficialidade art. 129, I e 144, par. 4º Os órgãos incumbidos da persecução criminal é atividade eminentemente pública, são órgãos oficiais por excelência Inquérito policial e processo a CF consagrou a titularidade da ação penal pública ao Ministério Público (art. 129, I), Disciplinou a polícia judiciária no 4º, do seu art Princípio da oficiosidade Órgãos oficiais de persecução criminal desempenham suas atividades ex officio. Excepcionalmente, o início da persecução penal pressupõe autorização do legítimo interessado: (a) ação penal pública condicionada (b) à representação da vítima ou à requisição do Ministro da Justiça (art. 24, CPP). 11. Princípio da verdade real expressão de um ideal inalcançável (Ferrajoli) Originária do latim veritate, aproxima-se de exatidão, conformidade com o real; É a conformidade do objeto com a inteligência O que se busca é a verdade processual, identificada como verossimilhança (verdade aproximada); extraída de um processo pautado no devido procedimento, respeitando-se o contraditório, a ampla defesa, a paridade de armas e conduzido por magistrado imparcial. Aury Lopes Jr.: reputa um grave erro se falar em verdade real, Porque a própria noção de verdade é excessiva e difícil de ser apreendida; Pelo fato de não se poder atribuir o adjetivo de real a um fato passado, que só existe no imaginário.
8 8 Para o autor, o real está vinculado à ideia de presente, e o crime, como fato necessariamente da história, será reconstruído no processo. 12. Princípio da obrigatoriedade Presentes os permissivos legais, os órgãos incumbidos da persecução criminal, estão obrigados a atuar. A persecução criminal é de ordem pública, e não cabe juízo de conveniência ou oportunidade. Assim, o delegado de polícia e o promotor de justiça, como regra, estão obrigados a agir, não podendo exercer juízo de conveniência quanto ao início da persecução. Mitigação: Juizado Especial art. 76 da L. 9099/ Princípio da publicidade A publicidade dos atos processuais, que pode ser definida como a garantia de acesso de todo e qualquer cidadão aos atos praticados no curso do processo é a regra. O sigilo é admissível quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5º, LX, CF). Art. 792 do CPP prevê o sigilo se da publicidade do ato puder ocorrer escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem ( 1º). A publicidade dos atos na fase processual deve permanecer intocada, justamente porque ela permitirá a materialização do contraditório e a participação no processo. O art. 93, inciso IX, CF - alterado pela EC nº 45/2004, assegura que: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. Princípio da publicidade: deve-se distinguir (1) relativa às partes: a chamada publicidade interna ou específica, mitigada na votação feita no âmbito do Tribunal do Júri, realizada em sala secreta (art. 485, caput, do CPP), amparada constitucionalmente pelo sigilo das votações estabelecido no art. 5º, XXXVIII, b da CF. (2) relativa ao público em geral, ou publicidade externa, que pode ser flexibilizada, v.g., na restrição criada com a Lei nº /2009, que previu a
9 9 tramitação sob segredo de justiça dos processos em que se apure crime contra a dignidade sexual (art. 234-B do Código Penal). 14. Princípio do favor rei ou favor réu A dúvida sempre milita em favor do acusado (in dubio pro reo). Em verdade, na ponderação entre o direito de punir do Estado e o status libertatis do imputado, este último deve prevalecer. Este princípio mitiga, em parte, o princípio da isonomia processual, o que se justifica em razão do direito à liberdade envolvido e dos riscos advindos de eventual condenação equivocada. Inciso VII do art. 386, CPP: prevê como hipótese de absolvição do réu a ausência de provas suficientes a corroborar a imputação formulada pelo órgão acusador Consiste na positivação do favor rei: também denominado favor inocentiae e favor libertatis. Novo CPP: Art Serão absolutamente nulos e insanáveis os atos de cuja irregularidade resulte violação dos direitos e garantias fundamentais do processo penal, notadamente no que se refere: 3º O juiz não declarará a nulidade quando puder julgar o mérito em favor da defesa. 15. Princípio da inexigibilidade de autoincriminação Conhecido como nemo tenetur se detegere; Assegura que ninguém pode ser compelido a produzir prova contra si mesmo; Apresenta conexões com a presunção de inocência e direito ao silêncio; Consiste em limitação ao poder estatal de punir. 16. Princípio da duração razoável do processo art. 5º, LXXVIII Emenda Constitucional 45/04: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Norma de difícil aplicação concreta: indeterminação, abstrato. Visa: impedir a procrastinação do feito; Referências: TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. 8ª ed. Salvador: JusPodivm, LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal e sua conformidade Constitucional. 10ª ed. São Paulo: Saraiva, AVENA, Norberto. Processo Penal Esquematizado. São Paulo: Método, 2012.
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