o papel do associativismo profissional no quadro da proflsslonalizacao da gestae
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- Herman Beretta Camilo
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1 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desafios empiricos o papel do associativismo profissional no quadro da proflsslonalizacao da gestae de recursos humanos em Portugal Anton io Jose Almeida" Resumo Este texto procura contribuir para a compreensao do processo de profissionalizacao da gestae de recursos humanos em Portugal, atraves da discussao do papel desempenhado pela respectiva associacao profissional. Partindo fundamentalmente de dados estatisticos oficiais e da analise de conteudo de entrevistas realizadas a responsaveis pela associacao representativa do campo profissional da gestae de recursos humanos (APG) e a directores de recursos humanos, os resultados obtidos dao conta nao so de alguns mecanismos de representacao dos associados nos orgaos de direccao, mas tambem de algumas das contradicoes que atravessam a estrategia da Associacao na reivindicacao da exclusividade do mandato profissional. Palavras-chave: sociologia das profissoes, profissionalizacao, associacao profissional, gestae de recursos humanos Abstract This paper seeks to contribute to the understanding of the processo f professionalization of human resource management in Portugal, through the discussion ofthe role played by the peofessional Association. Based on official statistics and content analysis ofinterviews held to responsible for the association representing the professional field of human resource management (APG) and to human resource directors, the results show some mechanisms associated to the distribution of the management places inside the Association among there members. They also show some of the contradictions of the Association strategy in the claim for the exclusivity ofprofessional mandate. Key words: Sociology of professions, professionalization, professional association, human resource management * Instituto Politecnico de Setubal - ESCE. antonio.almeida@esce.ips.pt 377
2 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desafios empiricos Introducao Definidas par Freidson (1994: 33) como estruturas "independentes do Estado e do capital que organizam e administram a pratica de urn claro e demarcado corpo de conhecimentos e competencies, ou seja, de uma jurisdicao que os seus membros monopolizam", as associacoes profissionais nao constituiram ao longo dos tempos, no quadro da sociologia das profissoes, uma problematica central no estudo dos grupos profissionais (Halliday, 1987). Contudo, tern cada vez mais vindo a ser consideradas como uma dimensao relevante para 0 estudo dos processos de profissionalizacao e para a compreensao dos mecanismos de funcionamento interno dos grupos profissionais, como 0 demonstram alguns trabalhos recentes de que Portugal nao e excepcao (Freire, 2004). Tendo em conta esta problematica, propomo-nos com este texto, a partir de urn estudo de caso, discutir 0 papel do associativismo profissional no quadro do processo de profissionalizacao da gestae de recursos humanos em Portugal, em particular da Associacao Portuguesa de Gestores e Tecnicos de Recursos Humanos (APG). Os dados empiricos mobilizados para a nossa discussao resultam de dados estatisticos fomecidos pela Associacao, de urn inquerito por questionario aplicado a uma amostra de profissionais bern como de entrevistas semi-directivas realizadas a directores de recursos humanos e ao ex-presidente da Associacao, o texto estrutura-se em tres grandes pontos nos quais mobilizamos algumas das referencias teoricas relevantes para a discussao do papel e do funcionamento do associativismo profissional, explicitamos os procedimentos de pesquisa adoptados e, por ultimo, discutimos alguns dos resultados obtidos. 1. A problernatica do associativismo profissional A irnportancia das associacoes profissionais no quadro da sociologia das profissoes, nao tendo constituido, ao longo dos tempos, uma problematica central no estudo dos grupos profissionais (Halliday, 1987), tern vindo a ser considerada, cada vez mais, uma dimensao de analise relevante para 0 estudo dos processos de profissionalizacao e para a compreensao dos mecanismos de funcionamento intemo dos diferentes grupos, Definidas _por Freidson (1994: 33), como estruturas "independentes do Estado e do capital que organizam e administram a pratica de urn claro e demarcado corpo de conhecimentos e competencias, ou seja, de uma jurisdicao que os seus 378
3 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desafios etnplricos membros monopolizam", as associacoes profissionais apresentam-se como instancias de regulacao social e de promocao dos interesses dos seus associados. Apesar da subaltemidade das associacoes profissionais, enquanto dimensao de analise ao longo do processo de desenvolvimento da sociologia das profissoes, e possivel identificar 0 espaco que diferentes correntes te6ricas the tern vindo a reservar (Rodrigues, 2004). Dessas correntes teoricas gostariamos de destacar, pela sua centralidade (Rodrigues, 1999; Goncalves, 2007; Almeida 20 loa), as correntes funcionalista, interaccionista e neo-weberiana. Para as correntes funcionalistas, a criacao de uma associacao profissional nao so corresponde a uma das etapas necessarias ao processo de profissionalizacao, como a sua existencia se afigura essencial para sustentar a capacidade de auto-regulacao propria das profissoes, ao garantir a regulacao das praticas e das condicoes do exercicio profissional, por via dos c6digos de etica e dos mecamsmos disciplinares neles previstos. 0 seu papel enquanto instancia de intermediacao de interesses entre os individuos e 0 Estado, por urn lado, e enquanto garante da ordem moral atraves da partilha de valores compativeis com 0 caracter altruista das profissoes, par outro, sao elementos centrais na abordagem funcionalista. Ao centrar a sua analise nos conceitos de licenca e de mandato, as correntes interaccionistas atribuem as associacoes profissionais urn papel central na intermediacao de interesses entre 0 Estado e os profissionais e entre estes e 0 publico, tendo em vista a conquista e proteccao das licencas e dos mandatos, por via da construcao de uma retorica indutora do seu reconhecimento pela opiniao publica, em geral, e pelo Estado, em particular. Nesta optica, as associacoes assumem-se como players fundamentais na luta pela legitimacao simb6lica dos grupos profissionais, tendo em vista a obtencao de vantagens econ6micas e sociais. As correntes neo-weberianas, apesar de heterogeneas, partilham 0 pressuposto comum de que os grupos profissionais, atraves da sua accao colectiva, visam 0 estabelecimento de monopolios de mercado sobre determinadas areas de saber, tendo por objectivo a obtencao de vantagens economicas e sociais para 0 respectivo grupo. Neste quadro, as associacoes profissionais desempenham urn papel crucial na estruturacao ideol6gica do grupo e na luta pela outorga e manutencao, por parte do Estado, dos mecanismos de licenciamento, capazes de garantir quer a qualidade dos services prestados, por parte dos profissionais, atraves da institucionalizacao de 379
4 Trabalho, organizaciies e proflssiies: recomposiciies conceptuais e desafios empiricos mecamsmos de regulacao, quer 0 services. Os trabalhos que se tern debrucado sobre 0 controlo do acesso a prestacao desses mesmos associativismo profissional tern reconhecido a multiplicidade de papeis que este desempenha. Segundo Freire (2004: 2), eles estao patentes: na regulacao economica do exercicio de certas actividades profissionais; nos impactos sociais que geram sobre a procura; nas influencias que exercem sobre as instituicoes de formacao; na accao sobre a construcao de identidades profissionais e, em certos casos, na consagracao de areas de jurisdicao atribuidas e garantidas pelo Estado. Contudo, a generalidade dos estudos empiricos tern vindo a incidir sobre aspectos parcelares do associativismo, nomeadamente, sobre 0 modelo de governacao e 0 seu processo de funcionamento intemo (Halliday, 1987; Freire, 2004), a sua funcao regulatoria e legitimadora da mudanca (Watkins, 1999; Greenwood, Suddabye Hunings, 2002) e a redefinicao do projecto profissional, em funcao das novas formas intemacionais de regulacao (Evetts, 1995; Evetts, 1999), faltando, por isso, uma abordagem integrada sobre os diferentes papeis do associativismo profissional. o modelo de governacao, 0 processo de funcionamento intemo e a forma como as associacoes profissionais se mobilizam politicamente sao algumas das dimensoes de analise que tern merecido mais atencao por parte dos sociologos. 0 trabalho pioneiro de Halliday (1987) eurn dos exemplos mais significativos dessa atencao que, ao estudar uma das maiores associacoes profissionais de advogados americana, a Chicago Bar Association (CBA), se interroga sobre qual 0 papel macro social desempenhado pelas associacoes profissionais. Halliday toma como ponto de partida para 0 seu estudo os resultados de algumas investigacoes realizadas e dos quais destaca: a procura do monopolio econ6mico; a perpetuacao da ideologia meritocratica que esta na base da ocultacao das desigualdades sociais que caracterizam as sociedades de capitalismo avancado, 0 que transforma as profissoes em agentes do poder e 0 tratamento diferenciado em funcao da origem social dos clientes. E com base nestas nocoes que 0 autor explora os mecanismos do processo de decisao no interior da associacao, para melhor compreender os interesses e os fins que the estao subjacentes. Partindo do pressuposto de que existe urn defice de congruencia entre que as associacoes profissionais fazem e aquilo que dizem que fazem, Halliday (1987: xv) defende que a opacidade da informacao veiculada pelas associacoes esta ao service de uma estrategia visa obter influencia: "muitas das mais importantes conquistas das 380
5 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desafios empiricos associacces profissionais nao sao publicitadas, mesmo entre os seus associados, precisamente pela mesma razao de que muita da diplomacia e conduzida fora do dominio publico". Para 0 autor, "a publicidade einimiga de certos tipos de influencia. 0 secretismo ea sua condicao de sucesso". E, precisamente, a partir deste pressuposto que Halliday realiza 0 seu estudo de caso intensivo tendo em vista comprcender os mecanismos que estao subjacentes ao funcionamento politico da CBA. Das conclusoes a que chega, algumas sao particularmente relevantes. A primeira remete para 0 modo como, ao nivel dos mecanismos de direccao, a CBA respondeu a passagem 'de uma organizacao de elite para uma organizacao de massas. Com esta passagem, a CBA viu aumentar a sua diversidade interna, ao mesmo tempo que desenvolveu uma estrategia que the permitiu uma limitada rotacao dos membros da direccao e 0 aumento do tempo dos mandatos. Simultaneamente, assegurou mecanismos de cooptacao e de auto-perpetuacao no recrutamento de novos lideres e obteve mais autonomia para a direccao, A segunda conclusao e a de que, para assegurar a sua autonomia, a direccao da CBA desenvolveu uma estrategia de reducao do numero de reivindicacoes feitas pelos seus membros, ao mesmo tempo que procurou controlar essas mesmas reivindicacoes, atraves da implementacao de tres tipos de mecanismos: a classificacao da natureza das reivindicacoes em politicas ou tecnicas, em funcao das circunstancias; a externalizacao do objecto de conflito, devolvendo-o aos associados, e so aceitando discuti-lo quando tivesse sido gerado urn consenso; e, por fim, a neutralizacao dos "dissidentes" antes que estes pudessem chegar a direccao. A ultima conclusao coloca em evidencia 0 desenvolvimento de mecanismos de interdependencia e de interpenetracao, quer a nivel individual quer organizacional, os quais se constituem num recurso estrategico para que a direccao pudesse alcancar mais facilmente os seus objectivos, por via da mobilizacao de uma rede de reciprocidades quer intemas quer externas. Estas conclusces mostram-nos, de forma inequivoca, que 0 controlo do poder organizacional surge como uma condicao para que as elites de uma dada profissao possam manter os seus privilegios e a hegemonia dos valores que defendem, 0 que faz com que, nas palavras de Halliday (1987: 334), "a direccao (da associacao) surja mais como 0 dono do que como 0 servidor dos associados". Para 0 autor torna-se, por isso, necessario desenvolver urn profissionalismo civico, capaz de colocar as interesses colectivos acima dos interesses particulares. 381
6 Trabulho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuals e desafios empiricos Q trabalho coordenado por Freire (2004a) sobre as associacoes profissionais portuguesas apresenta uma natureza diferente, ja que se trata de uma abordagem extensiva que, a partir de urn inquerito por questionario aos responsaveis das associacoes, pretende analisar a problematica da relacao entre as profissoes e a rnudanca social, por urn lado, e as profissoes e 0 seu associativismo, por outro. Do vasto conjunto de dados e analises efectuadas pela equipa de investigacao, interessa-nos destacar, sobretudo, a abordagem que e realizada em tomo da analise sociopolitica das associacoes (Freire, 2004b). Partindo do pressuposto de que as associacoes sao microssistemas de poder, 0 autoranalisa as estruturas e as dinamicas do seu funcionamento, bern como a natureza das associacoes e da sua accao, Comecando por afirmar que as associacoes, em Portugal, apresentam uma estrutura organizativa que copia 0 modelo do Estado modemo democratico, cabendo a assembleia geral 0 poder soberano, 0 autor conclui que as associacoes apresentam urn elevado indice de complexidade organizacional, nomeadamente no que conceme a existencia de orgaos intermedios entre 0 topo e a base, 0 que e mais 0 resultado de "preocupacoes de eficiencia na cobertura do territorio e no desempenho dos services prestados, do que por preocupacoes cidadiis de participacao dos associados na vida da organizacao" (Freire, ~004b: 233). Esta conclusao vern no mesmo sentido da leitura feita por Halliday sobre a participacao dos advogados americanos. Contudo, enquanto Halliday ve na criacao de estruturas intermedias uma forma das direccoes controlarem as reivindicacoes dos associ ados e de criacao de uma rede intema de interdependencias para melhor sustentar a sua base oligarquica, Freire ve nessa criacao uma forma de responder as solicitacoes de associados que se comportam como consumidores passivos de services, a que pretendem aceder, com 0 minimo de incomodo e ao mais baixo custo '. Qutros aspectos analisados por Freire sao as l6gicas de disputa e manutencao do poder por partedas direccoes. Neste particular, 0 autor constata que nao so e muito escassa a disputa eleitoral competitiva no interior das associacoes, mas tambem os lideres tern tendencia a perpetuar-se nos lugares. Perante este resultado, sao aventadas tres hipoteses explicativas (Freire, 2004b: 238): a primeira coloca na escassez de voluntaries e de competencias, a explicacao para esta perpetuacao do 'sacrificio' por parte de alguns; a segunda ve na excelencia das competencias do lider a razao pela qual 1 0 custo aqui erepresentado pelo valordas quotas a pagar pelos associados. 382
7 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposlciies conceptuais e desafios empiricos ele nao pode ser dispensado de prosseguir 0 seu trabalho; a terceira, mais consentanea com os resultados a que chegou Halliday, interpreta a perpetuacao no poder por parte dos dirigentes como 0 resultado dos interesses e aptidoes que estes adquirem, independentemente dos resultados da sua accao em prol do interesse geral dos associados. Na perspectiva do autor, esta tendencia oligarquica "podera contribuir para urn enfraquecimento da capacidade de mudanca da organizacao ou da sua aptidao it inovacao para responder aos desafios que 0 meio envolvente the podera colocar" (Freire, 2004: 238). Embora partindo de uma abordagem metodol6gica diferente e tendo por objecto realidades nacionais distintas, ambos os estudos chamam a atencao para a problematica das relacoes de poder no interior das associacoes profissionais e, consequentemente, para a existencia de mecanismos de reproducao social que, por via do controlo dos mecanismos de sucessao, procuram assegurar a continuidade de urn projecto profissional colectivo, definido em funcao dos valores e dos interesses das elites, bern como 0 sistema de distribuicao socialmente diferenciada das oportunidades profissionais e organizacionais. 2. Metodologia Partindo de uma abordagem qualitativa, 0 estudo realizado enquadra-se num trabalho mais vasto que temos vindo a desenvolver sobre a profissionalizacao da gestae de recursos humanos em Portugal. Tendo em conta esta problematica generica, propomo-nos com este texto, a partir de urn estudo de caso, discutir 0 papel e 0 funcionamento do associativismo profissional na area da gestae de recursos humanos tendo por objecto empirico a Associacao Portuguesa de Gestores e Tecnicos de Recursos Humanos (APG). as dados ernpiricos mobilizados para a nossa discussao resultam de dados estatisticos fomecidos pela Associacao e de resultados parciais de.urn inquerito por questionario aplicado a uma amostra de profissionais portugueses e de entrevistas semi-directivas realizadas a directores de recursos humanos e ao Presidente da Associacao, 383
8 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desafios empiricos 3. Resultados 3.1. Breve histnria da APC Fundada em 1964, a partir da iniciativa de urn grupo restrito de personalidades ligadas a Gestae de Pessoal dos grandes grupos econ6micos nacionais 2 instalados na regiao da Grande Lisboa, casos da CUF e da C. Santos, e das multinacionais com presenca em Portugal, casos da Shell, a associacao representativa dos profissionais de recursos humanos comecou por se designar de Associacao Portuguesa dos Directores e Chefes de Pessoal 3 (APDCP), por analogia com a sua congenere francesa" a qual funcionou como referencia inspiradora, dados os estreitos contactos entre membros de ambas as associacoes. As fortes Iigacoes internacionais de urn dos seus fundadores, permitiu aentao APDCP integrar, urn ana ap6s a sua fundacao, a EAPM 5, assumindo de imediato uma das vice-presidencies. Embora pretendesse adquirir capacidade de influencia e visibilidade publica, a sua fundacao parece estar associada anecessidade de quebrar 0 isolamento em que se encontrava a funcao pessoal e os seus profissionais, numa altura de grande transformacao da cintura industrial de Lisboa, nomeadamente em virtude da adesao de Portugal a EFTA: "cornecou-se assim para fomentar a inter-relacao e 0 conhecimento interpessoal, a troca de conhecimentos, de experiencias, de tecnicas, de ideias, para depois ter uma certa funcao de representacao de urn sector que n6s, na altura, ja pensavamos que viria a ser determinante..." (APG, 2004: 11). o perfil dos seus vinte fundadores e marcado por dois traces essenciais: 0.. primeiro e que sao apenas homens, 0 que contrasta com a realidade actual de forte feminizacao do campo profissional (cf. Cabral-Cardoso, 2004; Almeida, 2008), e 0 segundo eque pontificam os economistas e os empregados de escrit6rio com funcoes de chefes de pessoal/seccao. 2 Entre essas pcrsonalidades pontificava 0 mentor do grupo Duarte Caldeira, Director de Pessoal da CUF e Presidente da APG ao longo de varies mandatos, e que eapresentado em 2002 na capa do n" 4 da Revista Pessoal, revista institucional da APG, como 0 "Guru da familia Mello". 3 Quer a criacao quer a designacao da associacao reflecte de alguma forma a fase de desenvolvimento da GRH em Portugal que, de acordo com Brandao e Parente (1998), tera iniciado nesta altura a sua fase de maturidade atraves da passagem da fase da adrninistracao de pessoal para a gestae de pessoal. 4 A designacao da associacao francesa era a scguinte: Association Nationalle de Directeurs et Chefs de Personnel. 5 Trata-se da European Association for People Management fundada em 1962 pelas associacoes francesa, alema, sueca, suica e inglesa. 384
9 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desafios empiricos Quadro 1. Distribuicao dos fundadores da APG por profissao Profissao Freq. % Economist a 8 40 Empregado de escritorio - chefe de pessoal/seccao 7 35 Professor 2 10 Advogado I 5 Administrador comercial 1 5 Empregado bancario 1 5 Total Fonte: APG (2004) A evolucao politica, economica e social fez com que a associacao fosse sofrendo ajustamentos mais ou menos acentuados evidenciando-se uma enorme capacidade de adaptacao aos ventos dominantes em cada epoca, Exemplos dessa capacidade de adaptacao estao bern patentes nao so nas alteracoes que foram sendo feitas it sua designacao social, APGTRH e APG (cf. APG, 2004), mas tambem nos temas que deram forma aos seus Encontros anuais, orientados por logicas politico-ideologicas diferenciadas, conforme 0 clima politico que marcou cada momenta historico" (cf. APG, 2004; Neves e Goncalves, 2009). Quadro 2. Distribuieao dos membros por tipo de associado, segundo 0 sexo (2009) Sexo Tipo de socio Homens Mulheres Total Socios efectivos 419 '. 89,5% ,5% ,4% S6cios aderentes 42 9,0% 68 12,3% lid 10,8% Outros s6cios 7 1,5% 1 0,2% 8 0,8% Total Fonte: APG, dados nao publicados 6 Veja-se, pelo seu simbolismo, 0 tema do VII Encontro anual realizado em Novembro de 1974: "Reflexoes sobre a luta de classes e a gestae de pessoal nas empresas". 385
10 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desafios empiricos Do ponto de vista sociografico, e de destacar 0 facto de, dos 1021 associados actuais, mais de 54% dos seus membros serem do sexo feminino e de 88% serem socios efectivos. Note-se, no entanto, que estamos perante uma reduzida representatividade face ao potencial de cerca de profissionais existentes em Portugal, de acordo com as estatisticas oficiais do MTSS. Embora se trate de urn valor indicativo, tendo em conta os numeros enunciados, a taxa de representatividade da APG podera ser estimada em cerca de 30% Estruturas de direccao Apesar da forte feminizacao do grupo profissional, a analise da cornposicao sexual dos orgaos sociais da Associacao reflecte uma sub-representacao das mulheres e, quando presentes, tendem a ocupar cargos subaltemos. Se compararmos 0 numero de homens e mulheres envolvidos nos principais orgaos de direccao ao longo dos mandatos, durante a ultima decada, facilmente constatamos a sobre representacao dos homens. Neste periodo, a presenca masculina ascendeu a 76,6% enquanto a feminina se ficou pelos 23,4%. Contudo, 0 ana de 2004 representa 0 momento de ruptura de tendencia com uma presenca feminina mais acentuada, conduzindo a uma situacao de paridade quantitativa no ana de 2009, ana no qual, pela primeira vez na historia da Associacao, foi eleita uma mulher para Presidente da Direccao". 7 Trata-se do valor apurado, dados nao publicados, atraves dos Quadros de Pessoal do MTSS relativos ao ano de Apesar de mulher, 0 "marketing" que precedcu a sua candidatura apresentou-a como "a mulher guerreira" (capa da Revista Pcssoal, n 50) numa clara analogia com 0 estere6tipo de papel social e profissional masculino 0 que reflecte a 16gica patriarcal que caracteriza 0 campo profissional da gestae de. recursos humanos (Gilmore e Williams, 2003). 386
11 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desafios empiricos Quadro 3. Dlstrlbulcao dos membros dos orgaos socia is por mandato, segundo 0 sexo Manda tes Homens % Mulheres % Tolal % 2009/ / , , / ,6 II 32, / ,6 6 19, / ,7 2 6,3 32 ] / ,9 4 12; / ,4 5 15, / ,7 4 14, Total do periodo , , I 100 Fonte: APG (2004) e recolha propria Se tomarmos em conta a distribuicao da representacao masculina e feminina por tipo de orgao social e cargo, verifica-se que, com excepcao do ultimo mandato, os tres orgaos nacionais - Direccao, Mesa da Assembleia e Conselho Fiscal - sempre foram presididos por homens. Esta situacao corresponde a uma discriminacao vertical que tambem encontramos nos contextos de exercicio profissional (Carvalho e Cabral Cardoso, 2002; Carvalho, 2004). Mesmo ao nivel das vice-presidencias, poucos foram os mandatos em que tal cargo foi assegurado por uma mulher. Apesar da presidencia feminina da Direccao Nacional, constata-se que, no ultimo mandato, os homens assumiram uma especie de posicao de "senadores" ao preencherem os lugares da Mesa da Assembleia Geral, orgao no qual nao ha qualquer presenca feminina. Alias, a paridade quantitativa, pela primeira vez atingida no mandato em analise, acontece por via da sobre representacao feminina nos orgaos regionais e sectoriais, simbolicamente menos prestigiados, ja que nos orgaos nacionais se mantem a sobre representacao masculina. 387
12 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desafios empiricos Quadro 4. Composlcao dos Organs Sociais da APG segundo 0 sexo Orgaos Mesa da Grupo Grupo Nuc leo de Dircccao Assembleia Conselho Regional Regional Formad ores e Mandatos Nacional Geral Fiscal Centro/Sui Norte Coaches Presid- 1M Presid- IH Presid -IH Presid -IM Presid-IM Presid - IH Vice-Pres - IH Vice-Pres- IH Vice-Pres - 1M Vog~ is -4M+ IH Vogais-3M+2H Vogais-3H+2M Vogais-2H+ IM Secret-2H Secret-l H 2007/09 Presid- lh Presid- lh Presid - IH Presid - 1M Presid - 1M Presid -IM Vice-Pres - IH Vice-Pres- IH Vice-Pres - IH Vogais-3M+2H Vogais-4H+IM Vogais-3H+2M Vogais-3H+2M Secret-IH+IM Secret-1H+1M 2004/07 Presid- IH Presid- IH Presid-lH Presid-IH Presid-IH Presid-IM Vice-Pres -3H Vice-Pres- IH Vice-Pres - IH Vogais-2H+3M Vogais-3H+2M Vogais-3H+2M Vogais-4H+IM Secret-IH+IM Secret-IM 2001/04 Presid- IH Presid- IH Presid -IH Presid -IH Presid-IH Presid - IH Vice-Pres - 3H Vice-Pres- 1M Vice-Pres - 1H Vogais-3H+2M Vogais-4H+IM Vogais-IH+1M Vogais-5H Secret-IH+IM Secret-IH (2001/03) (2001/03) (2001/03) 1998/01 Presid- IH Presid- IH Presid-IH Presid -IH Presid-IH Presid - IH Vice-Pres - 3H Vice-Pres- IH Vice-Pres - )H Vogais-5H Vogais-4H+IM Vogais-3H Vogais-4H+1M Secret-2H Secret-IH (l988/00) (1998/00) (l998/00) 1995/98 Presid- 1H Presid- IH Presid - IH Presid- IH Presid - IH Presid- lh Vice-Pre s - 3H Vice-Pres- IH Vice-Pres - 1H Vogais-4H+1M Vogais-4H+IM Vogais-4H Vogais-4H+IM Secret-1H+IM Secret-IH (1995/97) (l995/97) (1995/97) 1992/95 Presid- IH Presid- IH Presid - IH Presid-IH Presid- 1H Presid -IH Vice-Pres - 3H Vice-Pres- 1M Vice-Pres - 1H Vogais-3H+2M Vogais-4H Vogais-3H+IM Vogais-5H Secret-lH+IM Secret-IH (1992/94) (1992/94) (1992/94) 1990/92 Presid- IH Presid- IH Presid - IH Presid-IH Presid - 1H Vice-Pres - 3H Vice-Pres- 1M Vice-Pres - IH Vogais-5H Vogais-3H+2M Vogais-4H+IM Secret-2H Secret-l H (1990/91) (1990/91) Fonte: APG (2004) e recolha pr6pria No caso dos grupos regionais - Norte e Centro/SuI - e sectoriais Fonnadores/Coaches - apesar da tradicao de presenca masculina, constata-se que, nos dois ultimos mandatos, as mulheres nao so tern assegurado as respectivas presidencias, excepcao feita ao Nucleo de Fonnadores/Coaches, como tendem a estar em maioria. Esta presenca maioritaria de mulheres em orgaos simbolicarnente subaltemos acaba par funcionar como barreira de contencao as aspiracoes femininas de acesso aos lugares de consagracao da elite profissional. A par da segregacao do acesso das mulheres aos lugares de poder, a analise da distribuicao dos cargos pelos socios reflecte uma tendencia oligarquica resultante da perpetuacao de uma elite restrita que tende a assegurar 0 controlo do poder seja pela renovacao sistematica de rnandatos, seja pela rotacao dos mesrnos associados entre orgaos (cf. APG, 2004). Alias, urn dos dados mais significativos da vida da Associacao e a reduzida competicao q~e tern caracterizado os process os eleitorais, habitualmente 388
13 Trabulho, organizaciies e profissiies: recomposlciies conceptuais e desafios empiricos disputados por listas unicas, situacao que, segundo urn seu Presidente, apenas nao se verificou em duas disputas eleitorais, ao longo de mais de 40 anos de vida associativa, Embora nao tenhamos dad os que nos pennitam identificar as razoes desta reduzida competicao eleitoral, as hipoteses enunciadas por Freire (2004b) adquirem relevancia, na medida em que nos ajudam a compreender algumas das criticas a que as direccoes sao sujeitas e de que 0 trecho seguinte eurn exemplo representativo: "Eu acho que poderia ser uma associacdo mais interventiva. Acho que tem algumas iniciativas engracadas, niio digo que ndo, tenho acesso a essas incitativas e tudo mais, mas acho que devia ser mais interventiva, acho que podia ser uma associaciio mais representativa dos projissionais dos recursos humanos. 1sto e a minha opiniiio, de quem esta de fora e VI? as coisas desta forma. Acho que podia ser uma associaciio talvez com mais auto-pujanca, digamos, para defender os interesses da area de recursos humanos, para prestar mais informaciio a todos os projissionais de recursos humanos, estar mais em cima de todos os projissionais e tambem em cima de todas as empresas" (Director de RH). Como ja tivemos oportunidade de discutir noutro texto (Almeida, 2008), a avaliacao que os directores de recursos humanos fazem do trabalho da Associacao nem sempre e 0 mais positivo. Neste sentido, a opiniao expressa pelos profissionais de.. recursos humanos, de que 0 trecho anterior e urn exemplo, reflecte, de certa forma, a incapacidade da Associacao em responder aos anseios de urn grupo profissional em acentuado crescimento quantitativo (Cabral-Cardoso, 2004; Almeida, 2008) ja que, como nos referiu outro director de recursos humanos, "ha qualquer coisa ali (na APG) que esta uma inercia... ". Urn dos exemplos mais paradigmaticos desta "inercia" ea discussao em tome dos mecanismos de regulacao profissional, traduzidos na reivindicacao do monopolio do exercicio profissional para os seus associados, atraves da institucionalizacao de urn modele de certificacao profissional. Tendo sido uma das questoes centrais numa das 389
14 Trabalho, organizaciies e proflssiies: recomposiciies conceptuais ~ desafios empiricos poucas disputas eleitorais que contou com a concorrencia entre duas listas ", a regulacao da profissao por via da certificacao profissional tern vindo a ser objecto de avancos e recuos. E que, apesar de ter sido divulgada, atraves da Revista Pessoal, uma proposta de modelo de certificacao voluntaria (Viana e Ceitil, 2006), assente num perfil de generalista estruturado em tres niveis hierarquicos e num perfil de especialista estruturado por areas funcionais, it sernelhanca do sistema ingles gerido pelo CIPD IO 0 qual e considerado pelos responsaveis da Associacao como "urn dos mais eficazes modelos de certificacao" (Marques, 2006: 3), essa proposta cam no esquecimento supostamente a favor de modelos que ora passam pelo Sistema Nacional de Qualificacoes, previsto pelo Decreto-Lei n 396/2007 e gerido pela ANQ - Agencia Nacional para a Qualificacao - ora se centram num pretenso modelo europeu que tern vindo a ser trabalhado no ambito da EAPM J I. As palavras de urn Presidente da Associacao'? sao a este proposito emblematicas das contradicoes que atravessam este campo. Se, por urn lado, refere que"...ha cerca de tres anos que estamos a trabalhar no ambito da Associacao Europeia (EAPM) a questao da certificacao...", reforcando essa opcao com a afirmacao de que "...nos nunca defendemos uma certificacao exclusivamente portuguesa, porque achavamos que nao fazia sentido", por outro lado, justifica uma mudanca de estrategia pelo facto de "...a partir dum certo momenta a gente percebeu que isto nunca mais adiantava, nao andava nem para tras nem para a frente. 0 que eque surgiu entao? Comecon a surgir uma ideia de que isso era possivel fazer ca atraves da via oficial, atraves da famosa Agencia N aci~nal de' Qualificacoes...,,13. Se no plano da certificacao pro fissional nao se verificam avances no terreno, 0 mesmo nao podemos dizer relativamente it procura da regulacao dos comportamentos individuais, por via dos codigos de etica, Neste plano, a APG chamou a si a iniciativa de propor aos associ ados urn Codigo de Etica, 0 qual foi aprovado no final de Contudo, como ja tivemos oportunidade de referir noutro contexto (Almeida, 2010b), os 9 Trala-se da eleicao relativa ao mandato de 2007/2009 em que se confrontaram, eleitoralmente, duas listas : uma de continuidade e outra de ruptura em que um dos principais pontos de clivagcm era a reivindicacao da "profissionalizacao" da gestae de recursos humanos. 10 Chartered Institute ofpersonnel and Development. II Veja-se a este proposito 0 estudo claborado par Brewster, Farndale e Ommeren (2000), sob encomenda da EAPM, intitulado "HR Competencies andprofessional Standards". 12 Estas palavras foram retiradas de uma entrevista semi-directiva que realizamos a um Prcsidentc da APG.. 13 Note-se que a ANQ s6 tem responsabilidades de certificacao para os niveis de ensino nao superior. 390
15 Trabulho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desaflos empiricos pressupostos em que assenta fazem com que ele se centre mais na vida da Associacao do que na Profissao, estando imbuido de uma etica utilitarista em detrimento de uma etica deontologica, para utilizar uma das tipologias propostas por Rowan e Zinaich (2003). Ao analisarmos a importancia que os profissionais de recursos humanos atribuem ao papel da APG relativamente a urn conjunto diversificado de indicadores, a promocao da etica entre os membros do grupo pro fissional assume urn papel de destaque, como podemos constatar no quadro abaixo, facto a que nao e certamente alheia aprovacao e divulgacao recente do C6digo de Etica. Quadro 5. Avalia~lio do papel da APG por parte dos profissionais de recursos humanos Desvio- Contribuicao da APG para: Media l4 padrao Disseminar novos conhccimentos na area da GRH 4,17 1,396 Promover a formacao continua dos profissionais de GRH 4,11 1,366 Prom over a etica profissiona1 entre os membros do grupo profissiona1 4,06 1,399 o reforco do prestigio social do grupo 3,78 1,367 o desenvo1vimento do campo profissional 3,77 1,303 o reforco da coesao do grupo pro fissional 3,62 1,351 Mobilizar 0 grupo profissional em tomo das suas iniciativas 3,50 1,292 Promover a imagem do grupo junto da opiniao publica 3,43 1,432 Defender os interesses do grupo profissional 3,39 1,365 Influenciar a orientacao das politicas publicas de emprego/forrnacao 3,14 1,387 Promover os interesses do grupo junto do Estado 2,99 1,309 Influenciar a producao de legislacao 1aboral 2,90 1,280 Fonte: Inquerito por questionario aos profissionais de RH A ordenacao dos indicadores relativos a avaliacao do papel da APG, por parte dos profissionais de recursos humanos, sejam eles filiados ou nao na Associacao, reflecte a centralidade da sua accao em tomo da oferta de accoes de formacao profissional, actividade fortemente reconhecida pelos profissionais, em detrimento de 14 Media calculada com base numa escala de Lickert de 5 pontos, em que 1 corresponde ao ponto inferior da escala e 5 ao ponto superior. 391
16 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desafios empiricos uma accao politica na promocao dos interesses do grupo profissional quer junto do Estado quer da opiniao publica em geral. Conclusao Ao analisarmos 0 papel e 0 funcionamento da APG, enquanto associacao representativa do campo profissional da gestae de recursos humanos em Portugal, ressaltam tres grandes consideracoes que se constituem em pistas de trabalho para 0 aprofundamento desta problematica em investigacoes futuras. A primeira consideracao remete-nos para a sua origem hist6rica, associada a personalidades ligadas aos interesses do grande capital industrial, nacional e estrangeiro, que se desenvolveu em Portugal durante a decada de sessenta. Tratou-se de urn pequeno grupo que, inconformado com 0 isolamento a que 0 mundo dos neg6cios estava sujeito em virtude do fechamento que caracterizou 0 Estado Novo, quis, por via do associativismo profissional e das portas que este abria e legitimava ao nivel das possibilidades de intercambio intemacional, modemizar a gestae de recursos humanos em Portugal. A segunda consideracao decorre da analise dos mecanismos de funcionamento e representacao intema cujos tracos marcantes sao a reduzida concorrencia eleitoral na disputa pe~os mandatos de direccao da associacao, a par de uma dominacao masculina de urn grupo profissional fortemente feminizado. Contudo, a avaliar pelo ultimo acto eleitoral, ha uma pressao "controlada" no sentido de, sem por em causa as elites dominantes, dar visibilidade politica as mulheres nos lugares de direccao. A terceira consideracao tern a ver com 0 projecto profissional colectivo protagonizado pela Associacao 0 qual se apresenta atravessado por urn conjunto de contradicoes decorrentes da hesitacao em promover accoes conducentes a urn maior fechamento pro fissional do grupo, de que a certificacao pro fissional e urn dos instrumentos potenciador, e da "incapacidade" em assumir urn papel activo na defesa dos interesses do grupo junto do Estado e da opiniao publica. Vistas como pistas de analise para trabalhos futuros, estas consideracoes reflectem urn conjunto de tracos relativamente ao funcionamento das estruturas de representacao colectiva do grupo pro fissional que nao sao especificas do caso portugues, ja que tambem noutros contextos nacionais parecem existir contradicoes que, apesar da elevada integracao associativa, se mostram dificeis de ultrapassar, em virtude da 392
17 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desaflos empiricos multiplicidade de concepcoes que atravessam a gestae de recursos humanos e de interesses em confronto. Referencias Bibllograflcas ALMEIDA (2008), "A profissionalizacao da gestae de recursos humanos: cornposicao sociografica de urn grupo profissional em construcao", Sisifo - Revista de Ciencias da Educaciio, n 6, pp ALMEIDA (2009), "0 born senso como cornpetencia politica dos profissionais de recursos humanos", comunicaciio apresentada ao X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciencias Sociais, Braga, Universidade do Minho. ALMEIDA (201Oa), "Contributos da Sociologia para a compreensao dos processos de profissionalizacao", Revista Mediaciies, vol. 1(2), pp < ALMEIDA (201Ob), "Etica e deontologia profissional no campo da gestae de recursos humanos", comunicaciio apresentada ao XVIII Coloquio Internacional da AFIRSE, Lisboa, Universidade de Lisboa. APG (2004), 40 anos de gestiio das pessoas em Portugal, Lisboa, APG. BRANDAo, Ana Maria e Cristina Parente (1998), "Configuracoes da funcao pessoal: as especificidades do caso portugues", Organizacoes e Trabalho, n 20, pp BREWSTER, Chris; Famdale, Elaine e Ommeren, Jos van (2000), HR Competencies and Professional Standards, Cranfield, University ofcranfield. CABRAL-CARDOSO, Carlos (2004), "The evolving Portuguese model of HRM", International Journal ofhuman Resource Management, 15 (6), pp CARVALHO, Teresa (2004), "A participacao das mulheres na gestae: 0 caso particular da Gestae de Recursos Humanos", IV Congresso Portugues de Sociologia. < prv/docs/dpr462dd233668c4 I.PDF> CARVALHO, Teresa e Cabral-Cardoso, Carlos (2002), "Woman in Human Resource management: the Portuguese case", comunicaciio apresentada na Conferencia da EURAM, Estocolmo, policopiado. EVETTS, Julia (1995), "International Professional associations: the new context for Professional Project", Work, Employment & Society, vol. 9 (4), pp EVETTS, Julia (1999), "The European Federations: occupational regulation in European markets", The International Scope Review, vol. 1(3), pp
18 Trabalho, organizaciies e profissoes: recomposiciies conceptuais e desafios empiricos FREIDSON, Eliot (1994), Professionalism reborn: theory, prophecy and policy, Chicago, The University ofchicago Press/Polity Press. FREIRE, Joao (org) (2004), Associacbes Profissionais em Portugal, Oeiras, Celta Editora. GILMORE, Sarah e Williams, Steve (2003), "Constructing the HR Professional: a critical analysis ofthe Chartered Institute ofpersonnel and Development's 'professional project"', Critical Management Studies Conference. < GONc;ALVES, Carlos Manuel (2007), Analise sociologica das profissiies: principais eixos de desenvolvimento. < GREENWOOD, Royston; Suddaby, Roy e Hunings, C. R. (2002), "Theotizing change: the role of professional associations in the transformation of institutionalized fields", AcademyofManagement Journal, vol. 45(1), pp HALLIDAY, Terence C. (1987), Beyond Monopoly: Lawyers, State crises and professional empowerment, Chicago, The University ofchicago Press. MARQUES, Jorge (2006), "Urn modelo de certificacao RH", Revista Pessoal, n 50, pp.3-3. RODRIGUES, Maria de Lurdes (1997), Sociologia das Profissiies, Oeiras, Celta Editora. RODRIGUES, Maria de Lurdes (2004), "Entre 0 publico e 0 privado : associativismo profissional em Portugal", in Freire, Joao (org), Associaciies Profissionais em Portugal, Oeiras, Celta Editora. ROWAN, John e Zinaich Jr, Samuel (2003), Ethics for the professions, Belmont, Wadsworth/ Thomson. VIANA, Miguel Faro e Ceitil, Mario (2006), "A certificacao de competencias: quem vai certificar 0 que?", Revista Pessoal, n 50, pp WATKINS, Jeff (1999), "UK professional associations and continuing professional development: a new direction?", International Journal oflifelong Education, vol. 18(1), pp
19 Trabalho, organizaciies e profissiies: recomposiciies conceptuais e desaflos empirlcos Ana Paula Marques, Carlos Manuel Concalves e Luisa Veloso (coord.) TRABALHO, ORGANIZA<;OES E PROFISSOES: RECOMPOSI<;OES CONCEPTUAIS E DESAFIOS EMPIRICOS SEC<;AO TEMA.TICA TRABALHO, ORGANIZA<;OES E PROFISSOES ASSOCIA<;AO PORTUGUESA DE SOCIOLOGIA
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