Umbanda em Preto e Branco Valores da Cultura Afro-brasileira na Religião
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- Maria do Mar Carla Sabrosa Filipe
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1 Umbanda em Preto e Branco Valores da Cultura Afro-brasileira na Religião Thales Valeriani
2 Agradecimentos Agradeço a minha orientadora Eliza Casadei pela dedicação, atenção e profissionalismo ao longo de todo o período de produção deste Trabalho de Conclusão de Curso. O livro de fotojornalismo Umbanda em Preto e Branco: Valores da Cultura Afro-brasileira na Religião foi gestado ao longo de muitas conversas e é resultado de um processo de aprendizagem. Sou muito grato a Patrícia Alves, sem a sua gentil e perspicaz atenção este trabalho não seria possívela Janaína Azevedo, por sempre estar disposta a sanar dúvidas minhas sobre a religião. Ao Davi Rufino, meu novo amigo, por ter me apresentado a várias pessoas a quem eu pude entrevistar e fotografar para este livro. A Agnes Sofia, minha amiga e confidente, por ter me iniciado no tema. Agradeço também a todos os entrevistados e a quem deu a gentil colaboração de se deixar fotografar. Caso contrário este trabalho não seria possível.
3 Prefácio Esta obra retrata terreiros de Umbanda em diversos momentos festivos e cotidianos. Não dogmático, apresenta a religião sob a pepara quem nela não professa sua fé sob dos valores da cultura afrobrasileira. Os dez valores desta cultura foram distribuídos em cinco capítulos. Eles não são lineares e estanques. Eles se interpretam, hibridizam e se dão em conexões cotidianas. São a marca dos descendentes dos africanos e africanas trazidas para o Brasil. Valores inscritos na nossa memória, música, literatura, gastronomia e religião. Se fotografar é conferir importância, como disse Susan Sontag, então a reivindicamos por meio deste espaço imagético um lugar entre o grande público para esta religião afro-brasileira filha do catolicismo e espiritismo popular, candomblé e dos cultos caboclos. E a seus adeptos, em respeito à sua memória, história e Axé. Boa Leitura
4 Circularidade e Corporeidade O corpo como instrumento de experiência e memórias. Com sua expressão através da dança, canto, brincadeiras e falas. A corporeidade é um valor que remete ao respeito ao corpo presente, inteiro e em ação. Um meio de diálogo e interação com outros corpos através da circularidade que, por sua vez, cria conhecimento, tece diálogos, círculos, redes, sensações, sentimentos e observações. Um ato de comunhão que vai além do encontro entre corpos. É o momento de união. Construção. Na Umbanda, a questão corpórea não é tratada como um fator limitador da experiência humana. Pelo contrário, o corpo liberta o homem que ali reside na proporção que permite a ele a experimentação. Esta se dá em relação ao outro, muitas vezes em processos circulares, com aprendizagem recíproca entre os presentes.
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14 Ludicidade e Comunitarismo Ser lúdico faz parte do celebrar a vida. O prazer e o aprendizado se dão com amorosidade, alegria e desejo. Assim deve ser a forma pela qual se ensina as danças, canções e a fazer indumentárias. Nos terreiros, ela fazse presente também através dos Iêres (espíritos infantis) que brincam, interagem e atraem crianças para o espaço religioso. O aprendizado se dá pelo envolvimento lúdico e gradual nos rituais. O comunitarismo é ser malungo (companheiro), saber dividir e compartilhar o espaço, o poder. Pensar em cultura afro é pensar em coletivo, em pessoas, em diversidade, cooperações e comunidades. Assim é também com a Umbanda. Ela possui uma estrutura hierárquica menos rígida do que o candomblé, sendo o pai ou mãe de santo, auxiliares do culto, filhos e filhas de santo, ou de fé, que compõem a estrutura do terreiro de forma mais colaborativa.
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23 Memória e Ancestralidade A memória permeia todos os valores da Umbanda. Eles são ensinados pela fala e vivenciados pelos ensinamentos de uma geração para outra. Se relacionam pela maneira com a qual algumas culturas africanas interpretam o tempo e a vida. Na Umbanda, mostram-se presentes pelo ensino de geração para geração. Não há um livro religioso, mas há quem tenha experiência e queira passar para os mais novos. É comum se deparar com gerações díspares no terreiro exercendo, algumas vezes, as mesmas funções, por ter um ensinamento menos rígido e formal. O respeito pelo mais velho, ainda que este não goze de uma alta hierarquia na casa, evidencia-se pela reverência por parte dos mais jovens, em razão das experiências e memórias que estes outros corpos carregam.
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34 Oralidade e Musicalidade A oralidade valoriza esferas da sabedoria que não são calcadas na escrita. Dá valor e espaço a pessoas iletradas que possuem memórias e ensinamentos. Valoriza os territórios humanos como as casas, giras de terreiros e os nossos corpos. A cultura oral não é a negação da escrita, mas é autonomia relacional, de comunicação, de contato. A oralidade associa ao nosso próprio corpo: voz e expressão corporal. Cria a relação de ouvir, falar e cantar. Constrói relações baseadas no diálogo. A musicalidade é a dimensão do corpo que dança, vibra, responde aos sons. É consciência do próprio corpo que produz sons e melodias. E não existem terreiros mudos. São espaços de vibrações, falas, cantos, cantigas, comemorações. Barulhos do corpo. Da alma. Dos orixás.
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41 Religiosidade e Axé O Axé, ou energia vital, se faz presente no cotidiano e no imponderável de nossas vidas. Ter uma educação calcada em tal valor é não tê-la engessada em normas, burocracias e métodos rígidos, mas no desejo e alegria. É ter uma perspectiva positiva como força mobilizadora para as adversidades que surgem. A religiosidade, que não deve ser vista como religião, diz respeito a vida, ao próximo. Remete ao louvor, à saudação e ao cuidado com o outro. Na Umbanda eles são vistos não apenas pelas ações de seus adeptos, mas também pelos instrumentos e cultos religiosos. Nas oferendas para retribuir aquilo que foi conquistado, em forma de gratidão, ou para superar etapas da vida, como oferta. Na busca pelos orixás por conselhos.
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