PERSPECTIVAS TEÓRICAS DE CURRÍCULO E ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERPRETANDO AS POLÍTICAS CURRICULARES ATUAIS
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1 PERSPECTIVAS TEÓRICAS DE CURRÍCULO E ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERPRETANDO AS POLÍTICAS CURRICULARES ATUAIS Coordenador: Hugo Heleno Camilo Costa (UERJ) Seção AGB-RIO DE JANEIRO hugoguimel@yahoo.com.br Material necessário: Projetor de imagens (DATA SHOW) RESUMO A partir da concepção de que o currículo é (re)produzido continuamente, não é, mas está sendo, um processo permanente de articulação de poder em torno do que deve ou não ser a educação e, consequentemente, a que projetos de sociedade se vinculam as atuais políticas, penso ser de grande relevância a discussão de tal objeto com foco a todos aqueles dedicados ao ensino da disciplina Geografia. Compreendendo que o currículo, entendido aqui como um artefato cultural, não se restringe somente aos programas escolares, nem somente às propostas curriculares oficiais, mas evidenciando-o com um conjunto mais amplo de políticas, práticas e produções discursivas. Esta oficina pretende discutir, a partir das teorias curriculares, as perspectivas tradicionais, críticas e pós-críticas, visando analisar como tais perspectivas se relacionam com o Ensino de Geografia no contexto atual. Nesta oficina discutiremos as políticas de currículo para o Ensino de Geografia, buscando analisar quais demandas e articulações estão hibridizadas nos textos oficiais, bem como a que perspectivas se vinculam tais demandas. Para a análise do conjunto da política, nos utilizaremos da abordagem ao ciclo de políticas, proposto por Stephen Ball. Dito isto, serão enfocados os textos Parâmetros Curriculares Nacionais e Orientações Curriculares Nacionais, analisando-os como representações da política, como textos definidos. Inicialmente, numa primeira etapa da oficina, serão focalizados os principais conceitos usados nas referidas abordagens teóricas, apontando seus limites, dificuldades assim como a produtividade para o desenvolvimento de análises curriculares. Concomitantemente serão discutidos os efeitos de tais abordagens nas análises das práticas/políticas curriculares. Na segunda 1
2 etapa, serão abordados estudos de caso, trabalhos e discussões sobre as políticas de currículo para o Ensino de Geografia no nível Fundamental e Médio, buscando compreender os contextos em que se inserem tais políticas. INTRODUÇÃO Para falar de currículo penso ser importante marcar, dentre outras possibilidades de apreensão deste, diferentes correntes teóricas que aqui divido, simplesmente em caráter de organização, como sendo: as Teorias Tradicionais, as Teorias Críticas, e as Teorias Pós-críticas. A palavra currículo tem origem no latim curriculum, significando pista de corrida, uma idéia de (per)curso a se seguir, como num roteiro. Assim, a noção de currículo corresponderia ao percurso que uma pessoa deve fazer para se tornar em algo, para alcançar algo, para se formar. Silva (2009:15), argumenta que no curso dessa corrida que é o currículo acabamos por nos tornar o que somos. Dessa discussão emergem questões como: o que os alunos devem saber? Qual conhecimento é considerado legítimo para ser introduzido no currículo. Para Silva (2009) o currículo é sempre resultado de uma seleção da cultura, de um conjunto mais amplo de conhecimentos entendidos como necessários à transmissão. Para o autor, o currículo não deve ser pensado somente em termos de construção de conhecimentos, mas deve, também, ser compreendido como intimamente relacionado com aquilo que somos, com o que nos tornamos, ou seja, o currículo está inextricavelmente ligado à formação de nossas identidades, de nossas subjetividades. Assim, novos questionamentos são colocados, como o que os educandos devem ser? no que devem se tornar?. Com isto, o autor reitera que um currículo busca precisamente modificar as pessoas que vão seguir aquele currículo (SILVA, 2009:15), e ainda questiona qual seria o tipo de ser humano desejável para um determinado tipo de sociedade. Com base nessa argumentação, Silva (2009) afirma que não é somente sobre a questão do conhecimento que as teorias do currículo se assentam, mas sobre a questão da produção de subjetividades, de identidades. Assim, o currículo deve ser entendido como uma questão de poder, na seleção de determinado conjunto de conhecimentos/saberes há uma relação de poder, quando se diz o que o currículo é, ou não é, há o envolvimento de questões de poder; destacar, dentre contingentes outras 2
3 possibilidades, uma identidade/subjetividade como sendo a ideal é uma operação de poder. Dito isto, focalizo as perspectivas defendidas pelas Teorias do Currículo já citadas. Concordo com Silva (2009), ao compreender as teorias de currículo como não sendo neutras ou estando num campo estritamente epistemológico, mas as interpreta como ativamente vinculadas à busca pelo consenso, pela hegemonia. Para Silva as teorias do currículo estão no centro de um território contestado (SILVA, 2009:16). É a politização do currículo que vai separar as teorias tradicionais das teorias críticas e pós-críticas. As perspectivas tradicionais são criticadas por sua pretensão de neutralidade, à pureza científica. Ao contrário, as teorias críticas e pós-críticas defendem que não há uma teoria neutra ou pura, mas que a constituição do currículo possui, necessariamente, a implicação das relações de poder. Para o autor, a perspectiva tradicional, ao aceitar mais facilmente o status quo, os saberes dominantes, acabam por se concentrar em questões técnicas (SILVA, 2009:16), preocupando se com questões de organização. Já as teorias críticas e póscríticas, não se limitam a aspectos organizacionais, submetendo o currículo a questionamento constante, visando analisar as razões que levaram a seleção deste e não daquele conhecimento, que interesses fazem com que seja um determinado conhecimento entendido com legítimo e não outro. As teorias críticas e pós-críticas estão preocupadas com as conexões entre saber, identidade e poder (SILVA, 2009:17). Assim, a partir dessas diferentes matrizes teóricas buscamos analisar as possibilidades que as diferentes correntes do pensamento curricular, como seus amplos e variados conceitos podem contribuir para a análise dos currículos de Geografia. É necessário realçar a importância dos estudos curriculares como um modo de compreender que disputas colaboram para a mudança ou para a manutenção dos padrões sociais atuais, por que razões o ensino da Geografia está de um modo e não de outro, quais atores, individuais ou coletivos estão imbricados na elaboração das políticas oficiais. A que finalidades o Ensino da Geografia se vincula no contexto das políticas oficiais, quais os objetivos alçados para a formação em Geografia. Uma vez discutidas as perspectivas teóricas do currículo, nesta oficina, buscaremos analisar, como estudos de caso, textos, trabalhos e discussões sobre as 3
4 políticas de currículo para o Ensino de Geografia no nível Fundamental e Médio, buscando compreender os contextos em que se inserem tais políticas. O campo de estudos sobre as políticas curriculares cresceu nos últimos tempos estimulado pelas variadas reformas educacionais que foram e ainda estão sendo desenvolvidas em vários países. No Brasil, principalmente, a partir da década de 1990, tem-se, como resultados de movimentos reformistas, a proposição de reformas educacionais que, por sua vez, conferem centralidade ao currículo. Neste contexto são elaborados textos oficiais, que entendo como componentes do conjunto mais amplo da política. OBJETIVOS Numa perspectiva de contribuição às discussões sobre o ensino da Geografia e sobre a formação de professores, esta oficina visa avançar na compreensão de currículo, de política de currículo. Para isto, focaliza as principais perspectivas teóricas do currículo, almejando reconhecer as potencialidades, limitações e contribuições de cada corrente. Assim, busca compreender o currículo como prática, texto e não só como documento, ou programa de conteúdos, mas analisá-lo como inserido num conjunto mais amplo das políticas de currículo. A partir das discussões sobre as perspectivas de currículo, são focalizados estudos de caso sobre políticas de currículo para o Ensino de Geografia, como produções acadêmicas e governamentais. METODOLOGIA Inicialmente, nesta oficina, serão abordadas as perspectivas tradicionais, críticas e pós-críticas de currículo, bem como suas principais categorias, contribuições, limitações e possibilidades. Na segunda etapa, serão realizadas discussões a partir de estudos de caso, em que serão analisados textos oficiais de representação das políticas de currículo, propostas curriculares e textos acadêmicos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALL, Stephen; BOWE, Richard & GOLD, Annie. Reforming education & changing school: case studies in policy sociology. Londres - Nova York: Routlegde,
5 BRASIL. Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Secretaria de Educação Básica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, COSTA, HUGO. H. C.. INTERDISCIPLINARIDADE E GEOGRAFIA NAS POLÍTICAS DE CURRÍCULO PARA O ENSINO MÉDIO. In: XV ENDIPE, 2010, BELO HORIZONTE. ANAIS DO XV ENDIPE. BELO HORIZONTE : UFMG, p COSTA, HUGO. H. C. ; Lopes, Alice C.. Políticas de currículo para o ensino de Geografia: uma leitura a partir dos PCN para o Ensino Médio.. Revista Contemporânea de Educação, v. 4, p. 196/12-215, COSTA, HUGO. H. C.. A Disciplina Geografia e os Parâmetros Curriculares Nacionais: uma abordagem das Políticas de Currículo para o Ensino Médio. In: Encontro de Geógrafos da América Latina - EGAL, 2009, Montevidéu. Anais do Encontro de geógrafos da América latina. montevidéu : easyplanner, COSTA, HUGO. H. C. ; STRAFORINI, R.. O ENSINO MÉDIO E A DISCIPLINA GEOGRAFIA: UMA LEITURA CURRICULAR A PARTIR DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE REFERÊNCIA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. In: 12 Encontro de Geógrafoa da América Latina - EGAL, 2009, Montevidéu. Anais do 12 Encontro de geógrafos da América Latina. Montevidéu : EASYPLANNER, COSTA, HUGO. H. C.. POLÍTICAS DE CURRÍCULO PARA O NÍVEL MÉDIO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DO CURRÍCULO POR COMPETÊNCIA EM GEOGRAFIA NOS PCN E NAS OCN. In: ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA - ENPEG, 2009, PORTO ALEGRE - RS. ANAIS DO X ENPEG PORTO ALEGRE, COSTA, HUGO. H. C. ; Lopes, Alice C.. Políticas de Currículo para Ciências Humanas: Sentidos de SOCIEDADE. In: IV Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares: diferenças nas Políticas de Currículo, 2009, João Pessoa - PB. Anais do IV Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares. João Pessoa - PB : AEPPPC, v. 1. p LOPES, Alice C. Políticas de Integração Curricular. Rio de janeiro: EdUERJ,
6 LOPES, A.C.; MACEDO, E.F. A estabilidade do currículo disciplinar: o caso das Ciências. In: LOPES, A.C. & MACEDO, E.F. (orgs). Disciplinas e integração curricular: história e políticas. Rio de Janeiro: DP&A, SEMTEC. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 4 v., (Acessível em SILVA, Tomaz T. da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, ª Ed. 6
hierarquização do ciclo de políticas, ressalto que, mesmo localizando um documento num contexto específico, há influência contínua de todos os
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