Teoria Psicanalítica II - manhã
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- Lúcia Aragão Canejo
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1 Teoria Psicanalítica II - manhã Narcisismo e auto-erotismo: Texto: Freud, S. (1914). À guisa de introdução ao narcisismo. In. Escritos sobre a psicologia do Inconsciente. Rio de Janeiro: Imago, é o mesmo texto das obras completas só que esta tradução é melhor. O termo foi uma invenção de Paul Neck pra falar das pessoas que tomam a si mesmo como objeto amoroso. Freud diz que existe de um outro tipo de narcisismo, que ele chama de primário e que sempre existe no processo de constituição do sujeito. Aquilo que apareceria como complexo de grandeza, no delírio, nos estudos de demência precoce nada mais é que a revivescência desse narcisismo primário. Segundo Freud existe: Narcisismo primário Narcisismo secundário Ele se vale de 3 fenômenos pra fazer os estudos sobre narcisismo. Psicose (Esquizofrenia, melancolia, paranóia) complexo de grandeza e a relação diferenciada que essas pessoas tem com os objetos. Amor Dor hipocondria e os sintomas dos neuróticos Investir libido no próprio Eu na verdade é algo que já vemos nas perversões, mas também não acontece só na perversão. Sendo a sexualidade perverso-polimorfa, todos nos temos um momento na vida em que o próprio Eu é tomado como objeto amoroso. Libido do Eu Libido do Objeto Essa divisão só pode existir a partir d momento em que existe distinção entre Eu e Objeto. O Eu não esta presente desde sempre, precisa se constituir. De que forma se constitui o Eu? O neném nasce e se for deixado só morre. Ele necessita de cuidados. Porque sozinho ele não é capaz de sobreviver Freud diz que "o ser humano é desamparado". Num primeiro momento quando a fome excita, aguça esse organismo, vem um outro dar esse alimento e esse outro vai dar uma sensação prazerosa - a dor da fome para. Alem de ter um conforto físico é deixada uma primeira marca psíquica - a imagem do objeto que trouxe satisfação. Essa experiência que trouxe satisfação é chamada 1ª experiência de satisfação ou experiência mítica. A fome vai voltar e sozinha a criança não é capaz de acabar com a fome mas é capaz de alucinar, desejar, o seio. Freud diz que o desejo só aparece na ausência do objeto. 1
2 Nesse momento de alucinar o seio já esta separando o psíquico do somático. Alucinar o seio não é capaz de acabar com a fome, é da ordem do psíquico. A partir dai todo nosso corpo será marcado em pontos que dão prazer. A primeira marcação é aboca, por onde entre o leite que é marcado pela satisfação de entrar o leite. A partir daí aparecem as zonas eróticas zonas do corpo onde adquiro prazer mas também onde a excitação surge. Zonas d corpo onde surgem as pulsões e onde as pulsões se satisfazem. Freud esta falando do primeiro momento - auto-erotismo onde surgem as zonas erógenas, atrelada a pulsões parciais - cada uma das zonas está ligada a uma pulsão, desvencilhadas entre si, partes onde a excitação surge e dão prazer independentemente, Esse corpo que estamos lidando aqui já é um corpo pulsional, pois é um corpo de onde parte a pulsão e da onde a pulsão obtém prazer mas é um corpo fragmentado, não há unificação e portanto não há a presença ainda do EU em 1915 no texto das pulsões Freud chama isso de EU real - fragmentado, não tem unificação, dz respeito as zonas erógenas e pulsões parciais. Em 1923 no texto do Id Freud diz que o Eu é a projeção de uma superfície e se é a projeção de uma superfície toda já envolve unificação. A unificação do EU só vai acontecer no narcisismo primário. Pra passar do Eu fragmentado pro Eu unificado precisa de uma nova ação psíquica narcisismo primário preciso saber o que é meu e o que é do outro. Antes do narcisismo primário a criança morde o pe e chora porque não sabe que o pé é dela mesmo. Surge então a idéia do EU como unificado, a projeção de uma imagem corporal, da superfície corporal. Surgindo pela primeira vez essa imagem unificada, posso ter a separação entre eu e objeto. Em psicanálise quando falamos de objeto refere-se a tudo que não seja EU. Até então estava vindo os estímulos externos que se ligavam a uma parte do corpo e tinham satisfação ali mesmo Agora não posso mais ficar respondendo aos estímulos quase que de modo reflexo. Tomar como algo que estimula todo o corpo. Essa distinção surge com um super investimento de libido no próprio EU. Essa libido que vinha e ia embora vai ficar num determinado momento retida no próprio Eu e esse momento é o Narcisismo primário. Freud diz que não da pra observar isso na pratica, que temos que supor que exista o narcisismo primário pra poder explicar o que vem depois. Mas podemos ter alguma idéia a partir dos pais em relação ao próprio filho, O narcisismo dos pais é revivido quando nasce o filho acham o filho o máximo, dar a ele tudo que não tiveram, evitar que sofram, a criança é linda, esperta - todas as características que eles gostariam de ter tido, que eles enaltecem vão depositar nessa criança, Esse investimento que eles fazem na criança é o que permite que a criança faca o próprio investimento. Porque os pais super investem essa criança é que a criança pode super investir no próprio EU. Freud chama de EU ideal pois contem as características idealizadas pelos próprios pais. Mas tudo de bom pa um não é pra outro. Essa imagem, o EU ideal, é a primeira imagem que a criança terá dela mesmo - uma imagem construída e idealizada pelos pais. O EU real não pode ser considerado como um EU porque não é ainda unificado. A separação de EU e objeto surge da separação EU e mãe Lacan vai dizer que isso vai acontecer no desmame. A hora que a criança abandona o seio é o primeiro processo de perda. 2
3 Ex: uma criança que vai fazer o desmame com 4 anos vai ter varias marcas psíquicas e uma alteração nesse processo de perda. Lacan coloca de 6 a 18 meses o momento do espelho onde se constituiria o Eu ideal, mas essa questão de idade em psicanálise é complicada pois estamos falando de um tempo lógico. Na realidade isso de ser com 6 meses, 1 ano, 5 anos, e os efeitos que irão causar, só pode ver a posteriori pois cada um tem a sua especificidade. Com relação à mamadeira pode ser encarada da mesma forma que o seio desde que a mamadeira seja dada com a mesma interação afetiva do cuidador com a criança - a boca como zona erógena se constituirá do mesmo modo. No narcisismo primário o investimento dos pais na criança é um super investimento e é idealizado pelos pais e será passado pra essa criança. Como essa criança ira se ver? O EU ideal a partir das características que passam pra ela. Essas primeiras marcas relativas a primeira forma de EU são muito fortes pra pessoa. Depois esse EU ideal será substituído por um outro EU que não é perfeito. De qualquer forma isso que foi passado pra criança no EU ideal fica pra toda a vida. Ex: uma criança que é chamada de burra pelos pais pode passar bem de ano em todas as series e vai continuar se achando burra. As primeiras marcas vem dos pais mas depois tudo que pessoas que são importantes pra nos falarem vão deixar marcas. Apesar da criança nascer num lugar onde a língua esta pronta ela vai ter que aprender a falar - não vai usar a princípio uma palavra que não seja usada em casa. Freud diz que também não podemos ficar aqui pro resto da vida porque está tendo um super investimento no próprio EU porque uma grande de quantidade de energia no psiquismo, uma hora vai gerar desprazer. Freud não fala em que momento mas provavelmente é algo da ordem da quantidade. Quando atinge uma determinada quantidade precisamos jogar energia nos objetos (ou parte dela). Ocorre então a escolha objetal. Concomitante a isso vai surgindo um outro momento importante no processo de constituição o Édipo primeiro momento em que ocorre uma escolha objetal o menino escolhe a mãe e a menina escolhe o pai como objeto amoroso. Num primeiro momento mãe e filho têm uma relação estreita (mãe é aquela que cuida da criança, que permite que a criança sobreviva) - existe uma relação simbiótica necessária. Mas vai ter uma hora que a mãe vai deixar de estar com o filho pra ficar com o pai.vai ter uma hora que a mãe não estará completamente disponível. A mãe ama o filho mas pra quem ela endereça o interesse sexual é pro pai. A mãe como mulher é castrada, não tem o falo - representação simbólica do pênis como único órgão sexual que o psiquismo conhece. Ser homem é ter o falo. Ser mulher é não ter o falo. Segundo Freud nosso psiquismo não conhece a vagina. Todos nos podemos ser homens ou mulheres independente do nosso sexo. Se eu me posicionar como tendo o falo, sou homem e vice-versa. E vou me posicionar de acordo com a forma que passo pelo Édipo. 3
4 O menino tem a relação simbiótica com o filho e vai mostrar que quem tem aquilo que ela não tem é o pai, pro qual ela endereça seu interesse sexual. A mãe assim mostra que ele não tem o que ela quer, que ele não é perfeito como ele pensava. Se a mãe busca o outro ele não é assim tão ideal o EU ideal cai por terra. Esse filho continua querendo a mãe mas a mãe mostra pra ele que quero pai. Assim o pai pode entrar intervindo nessa relação e nesse momento vai surgir o complexo de castração. O menino vê que ele não tem o falo, quem tem o falo é o pai o menino vai se identificar com o pai pra que no futuro ele possa ter uma mulher como a mãe. O que se introduz ai também é a Lei do Incesto, o primeiro não, a constituição do superego. O pai vai estar no lugar do ideal do EU dessa criança tudo aquilo que eu gostaria de ser mas não sou. O menino vai querer ser igual ao pai pegando alguma característica do pai ser do mesmo time, querer a mesma profissão, etc... Identificação é da ordem do SER me identifico com alguém que eu gostaria de SER. Escolha objetal é da ordem do TER o menino escolhe a mãe porque ele quer TER a mãe Diferença entre EU ideal e ideal do EU Eu ideal primeira forma de eu que vem a partir da forma que os pais enxergam essa criança, uma forma idealizada. Ideal do Eu tudo que eu gostaria de ser mas não sou a partir do momento que a criança é castrada. Ocupado num primeiro momento pelas figuras de pai e mãe mas ao longo da vida vai ficando cada vez mais impessoal - fazem parte traços das pessoas que eu admiro. Freud diz que o ideal do EU é propiciador, nos faz caminhar, tentando atingir o ideal. Mas Freud diz que o Ideal do EU também é impossível de se alcançar. O Ideal do Eu seria como essas montagens de revista da mulher ideal com partes de pessoas diferentes - montagem surrealista, impossível de atingir. Mesmo sendo impossível de atingir é propiciador pois nos faz caminhar no sentido de atingir essas características. A primeira escolha objetal é o pai e a mãe, mas depois vão ocorrendo outras escolhas, substitutos. Freud diz que o melhor exemplo pra pensar escolha objetal é uma pessoa apaixonada que só pensa no namorado, não come, não estuda, não faz mais nada. Não tem libido do eu nesse momento? Tem, mas esta diminuída. Libido do Eu X libido do Objeto são sempre dinâmicas e na hora que estou investindo mais em uma estou investindo menos na outra. A questão é sempre quantitativa. Na paixão o investimento maior é no objeto mas existe uma pulsão do Eu preservando a vida - pode até ter deixado de almoçar pra ver o namorado mas vai jantar. O que acontece quando perdemos esse objeto? Primeiro ocorre o processo de luto. Estava investindo toda a energia no objeto e preciso trazer essa energia pra mim - fico triste, não tenho vontade de sair de casa, mas que medida que o tempo vai passando sa, vai pro Shoppping, pro cabeleireiro, faz regime tenho um investimento no próprio eu narcisismo secundário. 4
5 Tinha um objeto, perdeu e trouxe a energia de volta pro próprio eu - pode ter ai um super investimento Melancolia perder o objeto e não trazer a energia de volta pra mim. Ao longo da vida vou alternando escolha objetal e narcisismo secundário. Na escolha objetal tenho um grande investimento no objeto e no narcisismo secundário um grande investimento no Eu. O tempo todo tenho as duas libidos do EU e do OBJETO. Se invisto mais no EU narcisismo secundário Se invisto mais no OBJETO escolha objetal. Não é à toa que Freud usa a paixão e o enamoramento pra falar do narcisismo. Freud usa os 3 elementos: psicose, amor e dor. Pro Freud o delírio de grandeza é uma forma de demonstrar o narcisismo primário fraquíssimo investimento nas coisas do mundo, vive no seu próprio reino. Mas os estudos mais recentes mostram que o psicótico teve um problema na constituição do Eu - ver o filme Spider - a imagem unificada que fica dentro da nossa cabeça fica capenga, e ele tenta fazer essa imagem a partir de fora. É comum psicótico achar por exemplo que se for tomar banho o braço ou a perna vai pelo ralo - é uma imagem de Eu fragmentada. não é uma questão de ser uma imagem distorcida - distorcida sempre é em todo mundo - mas no neurótico a imagem é fechada, no psicótico a imagem é aberta. A imagem não se fecha quando o processo de Édipo não passa bem. Caso: mãe vai fazer analise porque vê o filho com 18 anos olha-la com olhos de homem. A mãe muito nova se casou com um homem 30 anos mais velho. O menino dormia sempre na cama da mãe e quando o pai reclamava a mãe sempre arrumava uma desculpa. até que num determinado momento o pai diz que não da pra dormir os três e a mãe manda o pai ir dormir em outro lugar. O pai tentou entrar com a intervenção o tempo todo mas a mãe não deixa e quando a mãe não deixa não adianta. O problema é que quando passou um tempo não adianta - é como perder o prazo de entregar um documento no âmbito do direito. O amor sendo o amor uma das vertentes a partir das quais Freud vai falar do narcisismo. Esse é um dos momentos onde Freud mais vai falar do amor. Freud fala de tipos de amor e como relativo a escolha objetal e a forma como o sujeito se relaciona com o objeto. Freud fala de dois tipos de escolha objetal: Anaclítica a) mulher que cuida b) homem que protege Narcisista a) alguém como eu baseado no meu próprio Eu b) alguém como eu gostaria de ser baseado no meu Ideal de Eu c) alguém como eu já fui baseado ou não no Ideal de Eu ou do Eu, pode ser como Eu fui realmente, baseado num sintoma que j não existe mais d) a pessoa que outrora fez parte do nosso próprio si mesmo alguém que já fez parte de mim pode ser alguém como a minha mãe, alguém que já fez parte das minhas escolhas amorosas, que tem os mesmo traços que outras pessoas do passado (isso já foi muito comum). 5
6 Freud diz que todo mundo tem o tipo de escolha objetal que ele chama de ANACLÎTICA o menino ama uma mulher que cuida e a menina um homem que protege. Se todo mundo passa pelo Édipo não precisaríamos pensar em outro tipo de escolha objetal - mas isso nem sempre acontece - temos por exemplo o homossexualismo, Por isso Freud precisa teorizar um outro tipo de escolha objetal que ele vai chamar de Narcísica onde escolho alguém como eu, alguém como eu gostaria de ser, alguém como eu já fui ou alguém que já fez parte de mim. Mesmo as escolhas heterossexuais podem ter dupla dimensão anaclítica e narcísica Pro Freud o que importa é porque foi feita aquela escolha na época que foi realizada e porque você fica com essa pessoa hoje. Pode ser por exemplo escolheu porque era "como eu sou" e agora mesmo você tendo mudado pode continuar amando aquela pessoa por ser "como eu já fui". Isso é sempre dinâmico e não são excludentes, posso ter uma escolha anaclítica e ao mesmo tempo uma escolha narcísica. O que me leva a escolher, investir em algum objeto esta dentro dessas 6 possibilidades. Freud ao falar da escolha do homem por uma mulher se detém mais porque os homens é que tem um super investimento na mulher. A mulher se crescer sendo elogiada muitas vezes quer apenas ser amada, elas não precisam amar, pra elas isso basta. Essas mulheres seriam narcisistas, se colocam como se elas não investissem em ninguém. O que as mulheres buscam não é amar, mas sim ser amadas. Elas se mostram independentes, como se não precisassem do outro. Freud diz que essas pessoas que se mostram de forma narcísica são fascinantes: mulheres independentes, crianças, animais como gato. são fascinantes ainda mais por essas pessoas pouco narcísicas, que investem muito no outro. No caso do amor Freud coloca 3 pares: Amor x ódio Amar x ser amado Amor x indiferença. O par amar x ser amado seria o par que ele esta falando aqui, Freud diz o feminino no que tange a essa escolha de "ser amada" é o continente negro da psicanálise pois seria escolher alguém que não se encaixa aqui nessas 6 possibilidades. Leitura do texto na pagina 108 sobre a diferenciação entre homem e mulher e a escolha objetal. Se eu estou com grande libido do Eu investindo pouco no objeto o que atrai é quem está investindo no objeto. E vice-versa O amor tem sempre um descompasso. Essa idéia de cara-metade, de que o outro completa é uma ilusão. Pra psicanálise o amor é um descompasso, encontrar no amor aquilo que te completa é ilusão. Mas não se preocupem, não vamos deixar de amar por causa disso. Ler os itens 1 e 2 (95 a 110) do texto do Narcisismo e na semana que vem veremos o item 3 6
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