a inadiável vontade de fazer o bem

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1 voluntariado a inadiável vontade de fazer o bem rodovia abrindo caminho nos andes peruanos qualificação mulheres ganham espaço na construção

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4 E D I T O R I A L Ser útil, ajudar, servir Eles estão em vários estados brasileiros, no Panamá, na República Dominicana, no Peru, na Venezuela, no México, em Angola, em Moçambique e onde mais o coração alcance. Quando chegam aos locais em que realizam o exercício de doar seu tempo, sua energia e sua generosidade, encontram pessoas que jamais tiveram a segurança da comida na mesa todos os dias ou nunca viveram a experiência de andar pelas ruas segurando a mão do pai e da mãe ou de receber, no local onde enfrentam o crepúsculo da vida, a visita de um filho ou de um neto. É esse o tipo de realidade na qual mergulham os integrantes da Organização Odebrecht (e seus familiares) que realizam trabalho social voluntário. O que os move é um irrefreável desejo de ser útil, ajudar, servir. Compartilhar. Nas 47 páginas da reportagem especial sobre Voluntariado, você conhecerá iniciativas que vêm fazendo a diferença na vida de pessoas que experimentam as mais difíceis (e, por vezes, dramáticas) condições de vida. Esperamos que a leitura desses relatos, apesar do desconcerto e da tristeza que podem, por vezes, causar, seja para você motivo de inspiração e otimismo. As experiências mostradas a seguir têm se revelado capazes de mudar não somente a vida das crianças, dos adolescentes, dos adultos e dos idosos beneficiados, mas, também, a das pessoas que realizam essas ações os voluntários da Odebrecht. Você está convidado, a partir de agora, a entender como e por que isso está acontecendo. Boa leitura.] 2

5 Holanda Cavalcanti Odebrecht informa 3

6 d e s t a q u e s capa Almério de Brito, integrante da Odebrecht nas obras da Usina Hidrelétrica Santo Antônio, com crianças do Centro Educacional Semear, em Porto Velho. Foto de Almir Bindilatti. 06 hidrelétrica 58 Voluntariado: A disponibilidade para o próximo e o espírito de servir movem os integrantes da Odebrecht em suas ações de voluntariado social rodovia Complexo Hidrelétrico de Simplício: um feito de engenharia que resultou da criatividade, da persistência e da motivação para romper paradigmas urbanização A Barra da Tijuca ainda mais na vanguarda, com o projeto Ilha Pura Rodovia Carhuaz-Chacas-San Luís, construída na Cordilheira dos Andes, impulsionará o desenvolvimento de uma região turística do Peru onde vivem mais de 200 mil pessoas 4

7 gente entrevista Conheça um pouco da vida de Wanda Dorville, Katherine Calle, Frederico Barbosa e João Freire Antonio Gavioli: líder de um time que conquista suas vitórias por meio do apreço e do respeito 66 comunidade Alfabetização: empresa e poder público juntos em um esforço pelo futuro 74 estágio Jovens aproveitam a chance de ingressar no mundo profissional argumento papo final Luciana Arce e a experiência transformadora do voluntariado Genésio Couto e o engajamento dos integrantes da Odebrecht e seus familiares nas causas sociais Odebrecht informa 5

8 C A P A V o l u n t a r i a d o π Crianças em Manchay, comunidade carente em Lima: creche construída com apoio das Damas Amigas 6

9 o gesto libertador Celso Doni com ações voluntárias, integrantes da odebrecht ajudam a transformar comunidades e a si próprios Odebrecht informa 7

10 V o l u n t a r i a d o Guilherme Afonso π Crianças na biblioteca da Escola Secundária Heróis Moçambicanos, em Moatize: um motivo a mais para ter esperança Sair do conforto e da segurança da vida à qual se está habituado para mergulhar na realidade daqueles que, muitas vezes, não têm o que comer nem o que vestir nem, por vezes, uma simples companhia exige coragem, generosidade, tempo e energia. Exige, sobretudo, amor. Pelo próximo. Por si mesmo. Esta reportagem especial mostra o quanto uma ação social voluntária pode ser realizadora, transformadora e até transcendente para todos os envolvidos em sua execução. No Brasil e nos outros países em que atuam, os integrantes da Odebrecht - e, em muitos casos, também seus familiares -, referenciados nos princípios da Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO), buscam, por meio de múltiplas iniciativas, levar condições mais dignas de vida, mais alegria, proteção e esperança a crianças, jovens, adultos e idosos cuja história de vida você verá por vezes é capaz de fazer com que se repense e reavalie a maneira de viver. Algumas dessas histórias trouxeram lágrimas aos olhos de experientes repórteres, fotógrafos e editores. Lágrimas frequentemente seguidas de sorrisos de alívio e otimismo. Perdoe-nos se essas últimas frases lhe pareceram piegas ou excessivamente dramáticas, mas as histórias que se estendem por essas 46 páginas são muito especiais, muito representativas da condição humana, e ninguém é de ferro. 8

11 π Ao fundo, a partir da esquerda, Luciana Muniz, Marcia Santini, Luiza Cabral da Silva, Solange Penna, Sônia Cruz e Gabriela Fierro, em La Romana: computadores e alegria Telas que se transformam em portas Texto Luiz Carlos Ramos Foto Edu Simões Os professores e alunos da escola da Vila Alemán, no município de San Pedro de Macorís, na República Dominicana, tiveram um belo motivo de comemoração em 23 de agosto, dia do reinício das aulas: a internet chegou. O acesso dos mestres e dos mais de 300 estudantes de 5 a 15 anos ao milagre da informática, capaz de tornar o mundo menor, foi possível a partir da produtiva aliança entre a comunidade e as esposas de integrantes expatriados da Odebrecht na República Dominicana, que doaram os computadores. Elas criaram o MAP (Movimento de Amor ao Próximo) e, por meio dele, dedicam-se ao trabalho social voluntário. A Escola Básica Alemán, que recebeu oito computadores, situa-se nas proximidades do trecho San Pedro Macorís La Romana da Autopista del Coral, que integra o Corredor Vial del Este, parte da ligação da capital, Santo Domingo, com Punta Cana. Outra escola, a de Villa Padre Nuestro, em Odebrecht informa 9

12 V o l u n t a r i a d o π Alunos da Escola Básica Alemán, em San Pedro de Macorís: vivendo novos tempos com a ajuda das voluntárias do MAP La Romana, ganhou 10 computadores no ano passado. Em 2013, o apoio prosseguiu com a doação de material escolar e livros para a biblioteca. A concessão do benefício foi decidida em uma das reuniões do MAP, cujo símbolo é um catavento azul e vermelho, da República Dominicana, e verde e amarelo, as do Brasil. Sônia Cruz, coordenadora do MAP, que foi professora na Bahia, é casada com o engenheiro Marco Cruz, Diretor-Superintendente da Odebrecht República Dominicana. Ela explica: Este movimento existe há sete anos e hoje tem mais de 50 esposas de expatriados da Odebrecht. As brasileiras são maioria, mas também há mulheres do Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e República Dominicana. Em encontros, como festas de Natal, São João e feijoada, e por meio de nossas contribuições mensais, arrecadamos dinheiro para aplicar em obras sociais. Doamos utensílios domésticos, ajudamos crianças e adultos em hospitais e apoiamos escolas, fornecendo computadores e melhorando as instalações. Tem sido magnífico ver a alegria das pessoas beneficiadas! Vejo como tudo evoluiu A festa na escola de Alemán começa com uma encenação de Los Trans-Inovadores, na qual cada um de um grupo de cinco alunos assume um componente do computador de mesa e fala de suas funções: tela, teclado, mouse, processador e webcam. A menina Nairobi Perez, 13 anos, tendo ao peito um cartaz com desenho de um mouse, recita: Sem mim, nada funciona. Ela já aprendeu a usar a internet e está no Facebook. Tenho muitos amigos, diz. 10

13 O diretor da escola, professor Victor Grullon, está emocionado ao fazer seu discurso: Trabalho aqui há 20 anos e vejo como tudo evoluiu. Agradeço à ajuda dessas senhoras da Odebrecht. Sônia Cruz fala em nome do MAP: Para nós, é uma honra colaborar com a educação em país tão amigo, pelo futuro das crianças. Todos vão para o pátio, onde uma tenda abriga os alunos. Eles cantam o Hino Nacional Dominicano e ouvem uma palestra da dentista brasileira Ila Braga Cruz Vicentin, filha de Sônia e Marco Cruz, sobre os cuidados contra as cáries. As crianças recebem do MAP escovas e pastas de dente, além de livros, cadernos e lápis. Márcia de Sousa, esposa do embaixador brasileiro José Marcos Vinicius de Sousa, convidada por Sônia, ajuda a distribuir os cadernos. É muito bom ver esses sorrisos, diz. π Miguelito Tamare (na parte inferior da foto) e Roberto Napoleón, alunos da Escola Villa Padre Nuestro: mais motivos para sorrir Escola reformada e ampliada Um dia antes da festa na vila Alemán, integrantes do MAP visitaram a escola da Villa Padre Nuestro, em La Romana, onde os computadores haviam sido entregues em O estabelecimento de ensino foi reformado e ampliado pela Odebrecht. A diretora Maria Regina Sarely salienta: Com a reforma, nossa escola está mais produtiva. E os computadores dão novas perspectivas aos alunos. Luciana Muniz, casada com o Diretor de Desenvolvimento de Negócios no Contrato da Autopista del Coral, Lito Gusmão, é a tesoureira do MAP. A gente tenta multiplicar nossa caixinha e, com isso, ter recursos para ampliar os benefícios às escolas. Aqui, doamos uma biblioteca e estamos sempre trazendo livros, relata. Outras esposas de integrantes da Odebrecht visitaram as escolas, em agosto: as brasileiras Sandra Bartolomeu, Márcia Santini, Vanessa Campos, Marcella Browne, Liana Carvalho, Solange Penna e Letícia Coelho, a equatoriana Gabriela Fierro e a peruana Elizabeth Tejeda. O Responsável por Comunicação e Novos Negócios na Odebrecht República Dominicana, Claudio Castro, experiente em ações sociais, dá apoio direto ao MAP. Na quadra reformada da escola de Padre Nuestro, Roberto Napoleon, 8 anos, e Miguelito de la Cruz, 10 anos, treinam basquete. Adoro basquete, mas quero ser engenheiro, diz Miguelito. Em futebol, a República Dominicana é 86ª colocada no ranking de agosto da Fifa. Esse país caribenho é potência no basquete e no boxe, que lotam ginásios, e no beisebol, que exporta ídolos para os Estados Unidos. Somos grandes!, diz Roberto. ] Odebrecht informa 11

14 V o l u n t a r i a d o π A partir da esquerda, Wanessa Faria, Ivani Galvão, Helena Liberatori, Helen Baldi e Tereza Weyll com crianças assistidas pela Anar, na Cidade do México: apoio para quem teve um início de vida difícil 12

15 Dê-me a sua mão Texto Luiz Carlos Ramos Foto Ricardo Teles José Antonio, 15 anos, quer ser músico. Seu talento aflora nas aulas de piano. Giovani, 16 anos, sonha tornar-se arquiteto. A arte aparece em seus desenhos. Estrellita quer apenas brincar. Tem só 3 anos. Os desejos e a alegria de José Antonio, Giovani e Estrellita têm algo em comum: os três integram o grupo de 34 adolescentes e crianças 17 meninas e 17 meninos que moram em três casas numa mesma rua da Cidade do México, onde recebem apoio para que tenham um futuro longe dos problemas de seus primeiros anos de vida. Todos eles estudam em escolas públicas e são sustentados pela Anar (Ayuda a Niños y Adolescentes en Riesgo, em português, Ajuda a Crianças e Adolescentes em Risco), uma instituição de assistência privada de origem espanhola (fundada em 1970) que atua no México, no Peru e na Colômbia e que é mantida por um patronato composto de empresas privadas que bancam suas despesas. É considerado em situação de risco o menor de idade que procede de ambiente familiar no qual sua integridade física, psíquica e/ou emocional esteja em perigo, seja porque os pais morreram, seja porque os pais enfrentam, por exemplo, a prisão, o alcoolismo ou vício em drogas. Detectada a situação, órgãos governamentais encaminham o menor à Anar. No México desde 1995, a associação recebe doações para poder fornecer alojamento, comida, roupas e assistência aos menores. As três casas do bairro Santa Cruz Acayucán contam com o trabalho de funcionários remunerados pela Anar e com a atuação missionária de duas freiras católicas educadoras colombianas, Maria Perpetua Hernández e Maria Rocío Fuerta. Em fevereiro deste ano, essa equipe passou a receber o reforço valioso de esposas de integrantes expatriados da Odebrecht no México, que criaram o projeto Dame la Mano (Dê-me a Mão). Como uma só flor seremos Como dizem os versos da poetisa chilena Gabriela Mistral, Dame la mano y danzaremos/dame la mano y me amarás/como una sola flor seremos/ Como una flor, y nada más, o nome não poderia ser mais apropriado. Tereza Weyll, esposa do Diretor- Superintendente da Odebrecht no México, Luís Weyll, explica: Sentindo a necessidade de desenvolver um projeto social, conversei com as esposas dos integrantes expatriados da Odebrecht e da Braskem, para que criássemos um grupo desvinculado dos projetos sociais e dos investimentos da Organização e passássemos a dar assistência a menores carentes, para minimizar suas sequelas sociais. Assim nasceu o Dame la Mano. A logomarca do projeto, em verde e vermelho, que remete às cores da bandeira do México e simboliza crianças em roda com as mãos dadas, foi desenvolvida pela voluntária Lara Solis, esposa de Guillermo Solis, Diretor Jurídico da Odebrecht México. Gabriela Passano, há sete anos na Odebrecht, da equipe de Comunicação e Pessoas, pesquisou algumas opções de instituições e passou informações para o grupo de esposas, que optaram por apoiar a Anar. Assim que decidimos pela Anar, reunimonos para avaliar como iríamos apoiá-la e estabelecer nosso plano de ação, conta Wanessa Faria, casada com o Diretor de Administração e Finanças da Odebrecht México, Gleiber Faria. Sou uma das tesoureiras, ao lado da Ivani Galvão e da Louise Gordilho, informa. Temos duas formas de apoio aos menores da Anar: por meio de doações mensais e de trabalho voluntário, com visitas semanais às crianças, ajudando-as nas tarefas escolares, na prática de leitura, nas aulas de artesanato e música e dando orientações sobre higiene bucal e corporal etc. O dinheiro arrecadado é depositado em conta bancária específica para esse fim e utilizado para atender às necessidades relacionadas à educação e saúde das crianças. Odebrecht Informa visitou as três casas da Anar e viu de perto a alegria com que as crianças e jovens retribuem o carinho das mulheres brasileiras. Em respeito a uma norma da legislação mexicana, as fotos destas páginas não mostram o rosto dos menores de idade daquela instituição. Somos uma família Mal se abre a porta da casa Juan Pablo II, e aparecem oito crianças para abraçar e ganhar colo. A menor, Estrellita, sorri e pula para os braços de Ivani Galvão, que a ergue alegremente. Somos uma família, resume Ivani, esposa de Antonio Galvão, da Braskem. Essa casa é para crianças até 7 anos. Odebrecht informa 13

16 V o l u n t a r i a d o π No sentido horário, a partir de baixo, à esquerda, Helena, Wanessa, Ivani e Tereza, com crianças e seus brinquedos: a infância protegida e celebrada Helen Baldi, casada com o engenheiro Eduardo Rozendo, Diretor de Contrato da Odebrecht no projeto Etileno XXI, recorda com vários meninos as músicas em inglês que ela lhes ensinou. No Brasil, dei aulas de inglês até para executivos. Aqui, com as crianças, tem sido maravilhoso, relata. A casa ao lado é para crianças de 8 a 10 anos. A terceira é a dos adolescentes. Nesta, Helena Liberatore, casada com Rodolpho Scheefer, engenheiro de Controle de Projetos da Braskem, chama José Antonio até o piano. Ele dedilha o teclado com arte. Helena aprova: José Antonio é criativo, tem jeito para música. Ali perto, Giovani expõe seus desenhos coloridos sobre a mesa. Ele quer ser arquiteto. Vamos apoiar financeiramente seu curso, diz Tereza Weyll. Hoje, o Dame la Mano é mais do que um trabalho voluntário de quem quer fazer o bem. É uma missão, ela afirma. Além das cinco voluntárias que foram aos lares da Anar em 19 de agosto, há mais 11 voluntárias expatriadas que participam do projeto e que estavam em férias fora do México naquele momento. São elas: Leila Bischoff, Carolina Lepecki, Louise Gordilho, Liziane Ramos, Adriana Aiala, Maryângela Negrão, Aline Enck, Janeide Machado, Ana Maria Schimmelpfeng, Sílvia Pires Migueles e Lara Solis. Silvia Santillán, Diretora Geral da Anar México, disse: Nunca havia tido um apoio como o desse grupo de voluntárias. São como anjos que chegaram ao nosso lar, doando tempo, atenção e carinho a nossas crianças e nossos adolescentes. Até então, a doação de estrangeiros era apenas financeira. Tereza Weyll ressaltou: Com o crescimento das operações da Organização Odebrecht no México, certamente contaremos com o apoio de novas esposas expatriadas para fortalecermos ainda mais o Projeto Dame la Mano. Dois dias depois da visita, um terremoto de 6,1 graus na escala Richter sacudiu logo cedo a Cidade do México e provocou a evacuação em edifícios altos. Não houve vítimas. Só um susto. Os moradores das casas da Anar nada sentiram: estavam dormindo, tranquilos. As voluntárias do Dame la Mano querem que seja sempre assim na vida dos jovens aos quais elas se dedicam a ajudar. ] 14

17 π Crianças em creche da comunidade de Manchay, em Lima: olhares que dizem tudo As amigas vão à luta Texto João Marcondes Foto Celso Doni Colégio Franklin Delano Roosevelt. Lima, Peru, No pátio da escola, duas meninas, de 6 e 8 anos, conversam. A brasileira Marilene Silveira Luna, de passagem para buscar o filho, reconhece o idioma que falam aquelas duas fofuras: português, com leve sotaque. Seriam de onde? Da Bahia? Quem é a mãe dessas meninas?, exclama, admirada. A mãe está a poucos metros, na sala da diretoria, para matricular as crianças na escola americana da capital. Preparada para uma nova vida, chegara para ficar. Seu nome: Sara Barata. O encontro entre Marilene e Sara rendeu mais que uma bela e sólida amizade. Foi além, transformou-se em caso de doação e virou história no Peru. Apesar de ambas morarem em bairros confortáveis de Lima, os principais trajetos que elas fazem toda semana não têm nada de glamoroso. Sacolejam dentro do carro nos tortuosos e poeirentos caminhos que levam a Huaycán, um distrito de Lima onde mal se pode dizer que as casas tenham parede, tão finas são as camadas de madeirite. Os moradores são pobres, a maioria fugida do interior, da região serrana ou amazônica, à época em que a organização terrorista Sendero Luminoso fustigava aquelas regiões. Respirando o ar desértico, sob um sol inclemente, chegam ao centro comunitário do bairro, um verdadeiro oásis de alegria e conhecimento para aquela comunidade, e encontram Elba Eufrásio, que está revolucionando a vida e o comportamento das Odebrecht informa 15

18 V o l u n t a r i a d o π Asilo Luisa Marilac: local foi reformado como resultado do trabalho das voluntárias mulheres de Huaycán. Elba tem 35 anos e, no rosto, algo sofrido. Quando o fotógrafo de Odebrecht Informa lhe pede para posar e sorrir, ela resiste. Não sorrio muito, diz, com simpatia e resignação. Ela foi vítima de violência doméstica (por parte do ex-marido) durante três anos. Naquela época, não sabia ao certo por que apanhava. Conseguiu escapar da casa violenta. E queria que seu caso servisse de exemplo. Mas como? A resposta veio com as Damas Amigas do Peru, lideradas por Sara, a presidente, e Marilene, a vice. Construíram o centro, que possui sala de computadores e uma biblioteca/brinquedoteca, com TV de plasma de 42 polegadas e uma máquina de pipoca, para as sessões de cinema informais. Mais importante: ali também são oferecidas palestras de psicólogos e de especialistas sobre direitos das mulheres e questões de cidadania. Com a instrução adequada, Elba converteuse em uma importante líder da região. Mulheres como ela e as amigas Maximiliana Machquai, 39 anos, e Leonza Quique, 50, usam o centro para suas reuniões e também para o sustento, pois ali produzem e vendem seu artesanato. Antes nos sentíamos abandonadas, tínhamos esse problema, muito comum aqui, que é a violência contra a mulher, mas com a força e o carinho destas brasileiras, estamos conquistando nossa dignidade, diz Elba. A ajuda é uma via de mão dupla. Sinto-me melhor em Huaycán que na Javier Prado [sofisticada avenida de Lima], afirma Sara Barata, esposa de Jorge Barata, por muitos anos Diretor-Superintendente da Odebrecht Peru e atualmente Diretor Executivo da Odebrecht Latinvest. Isso me preenche, me dá sentido, enfatiza Marilene. Desde criança, Sara convive com problemas sociais de perto. A mãe foi prefeita na cidade baiana de Conceição do Almeida, a 171 km de Salvador, e levava a filha para conhecer creches, escolas, asilos e onde mais houvesse um problema a ser sanado. O que a calça não fez, a saia vai fazer, dizia dona Lucia Borges, mãe de Sara. A frase ecoa em sua cabeça. 16

19 Atuação em várias frentes Damas Amigas do Peru é uma organização informal de voluntárias, sem fins lucrativos, formada por mulheres de integrantes expatriados da Odebrecht e algumas convidadas especiais, como Manaura Marilene, que fundou a organização com Sara e é esposa do médico peruano Víctor Luna. A organização é composta de mais de 20 mulheres (o número é variável), que atuam em várias frentes na capital. Em Huaycán, estão construindo o primeiro colégio com paredes de tijolos da região. Fizeram reformas e ajudam na alimentação em dois asilos. Doaram camas e equipamentos para um hospital de crianças e para um hospital do câncer, fizeram um refeitório e uma creche em outro bairro pobre de Lima, Manchay, além de promoverem diversas palestras e festividades para comunidades carentes. Mais de mil pessoas são ajudadas diretamente, e outra grande quantidade indiretamente, como as mães de meninos que frequentam as bemcuidadas creches e podem sair para trabalhar. O mais importante aqui é a doação. É saber dividir sua inteligência, seu sorriso com quem precisa, argumenta Maise Guimarães, recém-chegada a Lima e integrada às Damas. Seu marido, Ricardo Boleira, é o atual Diretor-Superintendente da Odebrecht no país. A organização Damas Amigas do Peru tem como evento principal a Feijoada Anual na Embaixada brasileira em Lima. O evento, que comemorará 10 anos em 2014, já conta com mais de 2 mil pessoas na lista de convidados, que pagam ingresso revertido aos projetos sociais. As Damas também têm o apoio institucional do Grupo Brasil (no Peru), com mais 50 empresas de vários países que incentivam o trabalho voluntário e social. Jorge Barata é o presidente do grupo. Graças a esse esforço conjunto, as voluntárias conseguem tirar um raro sorriso de Domitila Truero, 92 anos, internada no Asilo Luisa Marilac, todo reformado em consequência do trabalho das Damas. Sozinha no mundo, sem contato com a única filha que se casou e se mudou para a Inglaterra, essa costureira hoje só sai da cama quando Sara e sua equipe chegam à casa do bairro de Surquillo, em Lima, que abriga 21 idosas. Sabe o que mais gosto nas brasileiras? Elas são carinhosas, gostam de abraçar e beijar, diz Domitila, sem tirar os olhos de Sara. ] π Sara Barata e Domitila Truero, moradora do asilo: quando o carinho é o bem mais essencial Odebrecht informa 17

20 V o l u n t a r i a d o Por um sorriso a mais Texto Eduardo Souza Lima Foto Guilherme Afonso Tichaona, no dialeto chona, quer dizer havemos de ver o que acontecerá. Nascido no Zimbábue, Tichaona José Xavier foi rebatizado Teacher (em português, professor ), ao se mudar para Moçambique, ainda criança. O nome anglo-moçambicano hoje seria uma espécie de resposta ao original: aos 19 anos, desde os 12 vivendo no Orfanato São José, em Tete, ele arregaçou as mangas para ajudar voluntários do Projeto Moatize Expansão (PME) a reformarem o parque infantil e construírem a brinquedoteca da instituição. A vontade de ajudar acabou lhe rendendo uma oportunidade de trabalho como auxiliar de oficina na Odebrecht. Como a filosofia que rege o Programa Partilhe inclui a premissa de que ser voluntário também é transmitir conhecimento e experiência, Teacher agora sonha ensinar seu ofício aos quatro irmãos que deixou em seu país natal. Quero fazer por eles o que pessoas que nem eram de minha família fizeram por mim, diz. Há cinco anos em Moçambique, a pedagoga baiana Claudia Andrade, da Odebrecht, Responsável por Responsabilidade Social no PME, tem o seu próprio mantra: O voluntariado é um vírus; ele contagia. Desde 2011, o trabalho voluntário no PME já mobilizou cerca de 200 integrantes, em mais de 20 ações que beneficiaram aproximadamente 6 mil pessoas. Os colombianos Fabio Jaramillo, Gerente de Qualidade, e Sérgio Salazar, Coordenador de Controle e Qualidade, da equipe da Odebrecht no PME, foram contaminados ainda nos Estados Unidos, quando trabalhavam nas obras de expansão do Metrô de Miami. Lá, ajudaram a reformar casas de pessoas pobres na vizinhança. Em Tete, empenharam-se nas reformas do São José, que abriga 70 crianças e jovens, e contagiaram Teacher. A ideia partiu de Sergio, que voltou de uma visita dizendo que as crianças não tinham onde brincar, relembra Jaramillo. Os brinquedos do antigo parque estavam em mau estado. Era perigoso para as crianças, atesta a Irmã Maria Rafael, que cuida da instituição. O vírus espalhou-se pelo mundo: Recebemos doações de oito países, conta Jaramillo. As meninas ficavam com a parte de recreação infantil, enquanto os homens pegavam no pesado, diz a paulistana Paula Bertasi, Coordenadora de Gestão π Tichaona José Xavier, o Teacher: Quero fazer por eles 18

21 π Crianças em Tete: no orfanato, recebem a atenção que pode fazer toda a diferença em suas vidas Odebrecht informa 19

22 V o l u n t a r i a d o π Joelma Soquisso: herdeira da missão de Vó Tereza de Qualidade. O parquinho foi entregue em 1º de junho. Nos Estados Unidos, Jaramillo e Salazar trabalharam com o Diretor de Contrato carioca Paulo Brito, que agora os lidera no PME. Brito, que também tem em seu currículo passagens pelo Iraque e pela Libéria, é um entusiasta do trabalho voluntário: O exemplo vem de cima. Quando você consegue tirar tempo do seu dia a dia para ajudar, seus liderados se sentem inclinados a fazer o mesmo. O voluntariado no PME já chegou ao nível de epidemia. Promovemos cafés da manhã de confraternização aos domingos, e aparecem, no máximo, umas 30 pessoas. Quando fizemos a Gincana Missão Possível, para arrecadar donativos em prol dos orfanatos, juntamos quase 200 pessoas, diz ele. O parque infantil e a biblioteca de Cateme, distrito de Moatize, onde se reassentaram moradores que viviam na área de mineração de carvão (realizada pela Vale por meio do PME), foram inaugurados em outubro de Ambos contaram com o trabalho dos voluntários da Odebrecht, que, por sua vez, tinham à disposição sobras de material de construção cedidas pela empresa. As crianças não tinham contato com livros, relembra Claudia Andrade. É preciso entender como funciona a cultura local. O desenvolvimento lúdico, motor e cognitivo das crianças na idade pré-escolar era precário, pois elas ficavam praticamente o dia todo amparadas em capulanas [corte de tecido colorido que tem mil e uma utilidades], nas costas das mães, explica a psicóloga carioca Adriana Brito, que coordena os programas de Responsabilidade Social em Moçambique. Reerguimento de orfanato Foi nessa época também que começaram as ações no Orfanato Mundo dos Mais Pequenos, em Tete. Fundada em 1994, a casa era mantida com escassas doações, a obstinação e o amor ao próximo sem tamanho de Vó Teresa, dona do orfanato. A situação era precária: fossas entupidas, dependências quase em ruínas. Os voluntários do PME reformaram a cozinha e construíram uma nova rede de esgoto. Mas Vó Teresa, que morreu em abril deste ano, era mais agradecida por outro motivo. Ela dizia que já havia recebido muitas doações em bens e dinheiro, mas raras vezes em tempo. Poucas pessoas dispunham-se a visitar o orfanato para brincar com as crianças ou conversar com elas, conta Adriana. Joelma Soquisso, neta de Vó Tereza, que herdou os cuidados dos 90 internos da instituição, confirma: 20

23 Eles vêm e brincam com as crianças, que ficam felizes. Claudia Andrade argumenta: É importante que o voluntário tenha foco, ou ele se frustra, porque nunca vai conseguir resolver todos os problemas do mundo. O Programa Partilhe nasceu para permitir a coordenação dessas ações, que vinham acontecendo de forma dispersa desde Procuramos identificar as carências e, no início deste ano, montamos o Menu do Voluntário. Fizemos isso ao perceber que muita gente queria ajudar, mas não sabia como, explica o paulista José Lages Magalhães, Gerente Administrativo Financeiro, há quatro anos em Moçambique. Meu papel no Partilhe é fazer o meio de campo entre as instituições e os voluntários, explica a assistente social catarinense Renata Koerich, Responsável pelo Programa de Voluntariado, que chegou a Tete há dois anos. O casal de Salvador Roberto Veiga, Coordenador da área de Pessoas, e Bruna Veiga, da equipe de Controle de Documentação, participou ativamente da Gincana Missão Possível e sempre que pode faz visitas a orfanatos. A gente sempre sai de lá com a energia renovada, depois de ver aqueles rostinhos sorrindo, diz ela. Aprender ensinando Um dos grandes desafios atuais de Moçambique é o combate ao HIV/Aids. Contra ele, o vírus do voluntariado tem se mostrado uma das vacinas mais eficazes, como bem sabem os integrantes moçambicanos do PME. A psicóloga Rita Henrique usa o tempo vago para levar seu calor, afeto e carinho aos órfãos. Formadores do Programa Acreditar, Flávio Moisés João e Vicente Abílio Correia recrutaram seus ex-alunos para ajudá-los a erguer a brinquedoteca da Associação Agrícola M'Padue, em Tete. Quando eu faço um trabalho social, é como se fosse minha responsabilidade, afirma Flávio. Ele, Damilio Fazenda e Patrício Saope criaram a Associação Geração Verde, que usa o teatro para levar noções de saúde, higiene e respeito ao meio ambiente às comunidades da região, por amor à camisola, como se diz lá. E Moisés de Azevedo, formado pelo Programa Acreditar e hoje integrante da equipe de Gestão Contratual, já perdeu as contas do quanto fez como ajudar a montar o acervo da biblioteca da Escola Secundária Heróis Moçambicanos, em Moatize. Ser voluntário é aprender ensinando. É estudar, estudar e estudar para estudar, define. ] π Flávio Moisés João (à esquerda) e Vicente Abílio Correia: mobilização para erguer uma brinquedoteca Odebrecht informa 21

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