DIA INTERNACIONAL DA MULHER:

Transcrição

1 DIA INTERNACIONAL DA MULHER: UMA HISTÓRIA DE FORÇA E LUTA AO REDOR DO MUNDO

2 Se buscar na internet por imagens sobre o dia internacional da mulher, você encontrará muitas flores e a cor rosa. Entretanto, apesar do que o comércio nos leva a crer, esta data tem muito mais a ver com sofrimento, força, luta e perseverança. Sabemos que por volta dos séculos XIX e XX, ocorreram inúmeros movimentos feministas, os quais, juntos, vieram a dar origem ao que conhecemos hoje como dia internacional da mulher. Dentre muitos fatos associados a este dia, costuma-se destacar o incêndio na Triangle Shirtwaisr Company, uma fábrica de tecidos de Nova York, o qual vitimou 125 mulheres. Alguns historiadores afirmam que o incêndio, ocorrido em 1857, foi provocado pelos proprietários da fábrica, a fim de encerrar uma greve iniciada pelas operárias, em busca de melhores condições de trabalho. Outros, afirmam que o incêndio, datado de 25 de março de 1911, ocorreu em virtude das péssimas instalações elétricas, associadas à composição do solo e das repartições da fábrica e, também, à grande quantidade de tecido presente, o que teria servido de acelerador para o fogo. Embora não seja possível saber a real causa, ou data, do incêndio, indiscutível é o fato de que as condições das fábricas eram realmente péssimas e a jornada de trabalho exaustiva. Além disso, era muito comum que os patrões trancassem seus funcionários nas fábricas, a fim de inibir motins ou evitar que deixassem o local antes de concluir a jornada de trabalho. Condições de trabalho e os movimentos feministas no início do século XX Naquele período, a legislação trabalhista era ainda embrionária, com pouquíssimas regulamentações e fiscalizações. Assim, os empresários mantinham seus funcionários em jornadas de trabalho de até 16 horas diárias, a despeito de qualquer legislação que viesse a dizer o contrário. Não bastasse a jornada de trabalho desumana e das condições insalubres das fábricas daquela época, as mulheres eram, ainda, remuneradas com 1/3 do salário dos homens, executando exatamente o mesmo trabalho.

3 Tal cenário só fez aumentar a indignação e os movimentos feministas daquela época. Em 28 de fevereiro de 1908, por exemplo, 1500 mulheres estadunidenses aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política em seu país. No ano seguinte, o Partido Socialista dos EUA oficializou esta data com um protesto que reuniu mais de 3mil pessoas no centro de Nova York. nações. Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, foi aprovada por mais de cem representantes de 17 países uma resolução para a criação de uma data anual para a celebração dos direitos da mulher. O objetivo era honrar as lutas femininas e, assim, obter suporte para instituir o sufrágio universal em diversas Sete anos depois, as mulheres trabalhadoras do setor de tecelagem da Rússia entraram em greve e reivindicaram a ajuda dos operários do setor de metalurgia. Mais de 90 mil pessoas marcharam contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra. Essa data entrou para a história, não só como um grande feito de mulheres operárias, mas também como prenúncio da Revolução Bolchevique. Conforme registro de Leon Trotsky acerca deste evento: Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este 'dia das mulheres' viria a inaugurar a revolução.

4 Conquistas e reconhecimento: Uma construção que se perpetua e se arrasta- através do tempo. Apesar de tanta luta, foi apenas em 1945 que a Organização das Nações Unidas (ONU) organizou o primeiro acordo internacional afirmando princípios de igualdade entre homens e mulheres. Trinta anos depois, a ONU comemorou o ano internacional da Mulher, sendo que, apenas em 1977 reconheceu o dia 8 de março como dia internacional da mulher. No Brasil, as movimentações em prol dos direitos da mulher surgiram no início do século 20 e buscavam, assim como nos demais países, melhores condições de trabalho e qualidade de vida. Nas décadas de 1920 e 30, o movimento das sufragistas conferiu ainda mais força à luta feminina, conquistando o direito ao voto em 1932, na Constituição promulgada por Getúlio Vargas. Quarenta anos depois, questões como igualdade entre os gêneros, sexualidade e saúde da mulher começaram a ser realmente discutidas, com a emergência de organizações que optaram por apoiar e incluir o tema em suas pautas. Durante todo este período, qualquer tipo de agressão ou abuso que a mulher sofresse, deveria ser reportado à delegacia comum, onde na esmagadora maioria das vezes, eram atendidas por homens que as desencorajavam e as mandavam de volta para casa. Somente em 1985 surgiu a primeira delegacia especializada da mulher. ONU Mulheres e as estatísticas: Hoje, muitas greves, passeatas, movimentos e organizações depois, as conquistas são muitas, mas ainda há muito fazer. Por esta razão, em julho de 2010, foi criada, pela Assembleia Geral da ONU, a ONU Mulheres: Uma entidade para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres. De acordo com o documento publicado por esta entidade: Em todo o mundo, quase 1/3 de todas as mulheres já sofreram algum tipo de violência por parceiro íntimo. Mulheres e meninas representam 3/4 das vítimas de tráfico.

5 Em países de baixa e média renda, complicações decorrentes da gravidez e do parto são a principal causa de morte entre meninas com idades entre 15 e 19anos. Mulheres e meninas representam 2/3 da população analfabeta do mundo. Globalmente, as mulheres dedicam 1 a 3horas por dia a mais de trabalho doméstico do que os homens e dedicam 2 a 10 vezes a quantidade de tempo do dia cuidando da família em comparação com os homens, incluindo os cuidados com crianças, pessoas idosas e doentes. Em média, as mulheres empregadas ganham 10 a 30% a menos do que os homens para desempenhar as mesmas tarefas. Nos Estados Unidos, as mulheres representam apenas 4,6 % os 500 CEOs da Fortune e ocupam apenas 16,9% dos 500 lugares no conselho da Fortune. As mulheres representam apenas 21,8% dos parlamentares nacionais em todo o mundo, apesar de não haver praticamente nenhuma restrição legal para que mulheres exerçam um cargo público. No Brasil, ao contrário do que muitos pensam, a situação também é séria e requer atenção. Ainda de acordo com informações da ONU Mulheres, nosso país continua a ocupar o lugar 121º lugar no ranking de participação das mulheres na política, com as mulheres ocupando pouco mais de 10% dos assentos no Congresso Nacional. As mulheres também ocupam apenas 10% das prefeituras e representam 12% dos conselhos municipais, apesar do cumprimento da lei de cotas (30%) obtido primeira vez nas eleições municipais de Além disso, a taxa de desemprego das mulheres é cerca de duas vezes a dos homens, uma diferença que aumenta quando se comparam homens brancos (5,3%) com mulheres afrodescendentes (12,5%). Apenas um quarto das mulheres empregadas está no setor formal. O salário médio para os homens é 30% maior do que o de mulheres. As mulheres dedicam mais do que o dobro de seu tempo para as tarefas domésticas do que os homens. Hoje uma mulher é assassinada a cada duas horas, a maioria por homens com os quais têm relações íntimas, colocando o Brasil como o sétimo país do mundo com maiores taxas de feminicídio.

6 Em 2012, o número de estupros foi superior a A luta feminina e as redes sociais Com o advento da internet e, mais tarde, das redes sociais, as informações passaram a ser disponibilizadas aos montes. Diversas versões e pontos de vista vieram a ser apresentados a quem quisesse ver. Foi assim, contando com a crescente acessibilidade das informações, que o movimento feminista ganhou ainda mais força entre as variadas camadas da população. Campanhas como #MeuPrimeiroAssédio, #MeuAmigoSecreto, #ChegadeFiuFiu tiveram milhares de adesões, sendo que a primeira hashtag foi utilizada 85mil vezes em apenas 5 dias. O resultado destes movimentos nas redes sociais foi surpreendente: Após as publicações, o número de denúncias de violência contra a mulher seja física, moral ou psicológica- no 180 (disque denúncia) chegou a , ou seja, 40% a mais do que no ano anterior no mesmo período. Além disso, jovens mulheres e adolescentes têm aderido cada vez mais a movimentos em prol do respeito e igualdade de gênero. É o caso das meninas entre 13 e 17 anos, estudantes do colégio Anchieta, em Porto Alegre, que fizeram um abaixo assinado nas redes sociais a fim de alterar as regras de vestuário do colégio. Segundo o movimento Vai ter shortinho sim, a escola deve deixar no passado a mentalidade de que cabe às mulheres a prevenção de assédios, abusos e estupros; ao invés de ditar o que as meninas podem vestir, ditem o respeito". Por estas e tantas outras razões, o Dia Internacional da Mulher não é um dia para rosas e comemorações. É um dia para refletir sobre o que acontece em nosso trabalho, no nosso círculo de amizades, em nossa casa, embaixo do nosso nariz. É um dia para refletir sobre o que acontece diariamente com nossas mães e irmãs e elas enfrentam com tanta maestria, que, muitas vezes, sequer percebemos.

7 Parabéns mulher, pela sua força e bravura! Nós, do JCastro&Castro Advocacia e Consultoria Jurídica, aproveitamos esta data, para dizer que reconhecemos sua batalha e sua causa. Nos orgulhamos ao olhar para trás e perceber que sua história é escrita através de muita luta e nenhum conformismo. Sabemos que ainda há muito a fazer, mas graças a vocês, as conquistas são cada vez maiores.