Nº COMARCA DE DOM PEDRITO MOISÉS MARTINS RAGUZZONI

Transcrição

1 AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRESTAÇÃO DE CONTAS. INVENTÁRIO. HERDEIRO QUE FOI RECONHECIDO EM AÇÃO INVESTIGATÓRIA DE PATERNIDADE CUMULADA COM PETIÇÃO DE HERANÇA. FRUTOS E RENDIMENTOS. MORA. DATA DA CITAÇÃO DOS HERDEIROS. 1. O termo inicial para percepção dos frutos e rendimentos é a data da constituição em mora dos demais herdeiros, o que ocorre com a citação válida. Inteligência do art. 219 do CPC. 2. Somente é cabível a percepção de frutos e rendimentos a contar da data da abertura da sucessão quando se cuida de posse de má-fé dos demais herdeiros relativamente aos bens do espólio. Recurso desprovido. AGRAVO DE INSTRUMENTO SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Nº COMARCA DE DOM PEDRITO MOISÉS MARTINS RAGUZZONI ESPÓLIO DE RUY ADELINO RAGUZZONI, REPRESENTADO POR SUA INVENTARIANTE WILNA ZAMBONATO RAGUZZONI GILBERTO ZAMBONATO RAGUZZONI E LORENA SÓRIA RAGUZZONI AGRAVANTE AGRAVADO INTERESSADO ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, negar provimento ao recurso. Custas na forma da lei. 1

2 Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. JORGE LUÍS DALL AGNOL (PRESIDENTE) E DES. RICARDO MOREIRA LINS PASTL. Porto Alegre, 29 de fevereiro de DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES, Relator. R ELATÓRIO DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (RELATOR) Trata-se da irresignação de MOISÉS M. R. com a r. decisão que, acolhendo a promoção do Ministério Público como razão de decidir, determinou que a prestação de contas acerca dos bens a inventariar devesse incidir sobre os frutos e rendimentos percebidos a contar da citação dos herdeiros na ação de investigação de paternidade que moveu contra o ESPÓLIO DE RUY A. R. Sustenta o recorrente que é equivocada a decisão que determinou que os frutos sejam calculados a partir da data da citação do espólio e não da abertura da sucessão. Alega que, de acordo com o disposto no art do Código Civil não se pode dar outra interpretação sendo de que sejam calculados os frutos desde a abertura da sucessão, invocando o princípio da saisine. Pretende seja deferido o direito ao ressarcimento dos frutos e rendimentos da herança desde a abertura da sucessão. Pede o provimento do recurso. 2

3 O recurso foi recebido no efeito devolutivo. Intimado, o Espólio de RUY A. R. apresentou contra-razões pedindo o desprovimento do recurso. da intervenção. Com vista dos autos, a douta Procuradoria de Justiça declinou É o relatório. VOTOS DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (RELATOR) Estou confirmando a douta decisão hostilizada. Para o adequado enfrentamento da questão trazida, impõe-se sejam feitas algumas breves considerações. Em primeiro lugar, lembro que a sentença que julga procedente a ação de investigação é declaratória da relação parental, sendo que o filho é filho desde o seu nascimento. Ou seja, os efeitos da declaração de paternidade são ex tunc, isto é, os direitos hereditários do investigante retroagem à data do seu nascimento. Assim, não há dúvida de que a condição de filho do investigante remonta ao seu nascimento. Em segundo lugar, não há dúvida alguma, também, de que tem incidência, também, o princípio da saisine insculpido no art do 3

4 Código Civil, que implica transmissão instantânea do domínio e da posse de todo o patrimônio da pessoa falecida, no momento da morte, que é quando abre a sucessão, aos seus herdeiros legítimos e testamentários. A transmissão da posse dos bens, ainda que indireta, opera-se ex lege, independentemente de qualquer outro ato, e é formalizada, com a individualização da transmissão do domínio, quando da partilha dos bens. No caso, o recorrente efetivamente faz jus à percepção dos bens correspondentes ao seu quinhão legitimário, que somente não havia recebido no momento da abertura da sucessão, pois a relação parental não era conhecida (nem reconhecida), o que somente ocorreu com a sentença lançada na ação investigatória. Em terceiro lugar, no que tange à incidência dos frutos e rendimentos, tenho que é imperioso o exame atento do disposto nos artigos e do Código Civil. Com efeito, o autor é herdeiro do falecido e obteve o reconhecimento dessa condição através da ação investigatória de paternidade, onde reclamou não apenas o reconhecimento judicial da sua condição sucessória, mas também a restituição dos bens da herança que lhe cabia. Ou seja, através da petitio hereditatis, o autor acenou para a sua capacidade sucessória decorrente da condição de filho do autor da herança concorrendo na ordem de vocação hereditária com os demandados, que receberam efetivamente a herança. 4

5 Em outras palavras, vale dizer que o autor, invocando a sua condição de herdeiro real, demandou a sua quota parte contra quem a recebeu indevidamente, pois ostentavam a condição de únicos herdeiros aparentes. Forçoso convir, então, que, no caso, os demandados ostentavam essa condição de herdeiros aparentes e, como tal, eram possuidores de boa-fé. Reputa-se, pois, como sendo possuidores de boa-fé aquelas pessoas que, por erro escusável, tinham a convicção de que eram os herdeiros. Afinal, inequivocamente não havia mesmo a declaração de paternidade. Configuraria a posse de má-fé se os recorrentes tivessem recebido a herança - ou parte dela - não ignorando a existência de obstáculo à sua aquisição (isto é, se a ação investigatória tivesse sido julgada procedente e esse fato tivesse sido omitido)... Assim ficando vencidos os herdeiros aparentes, ficaram obrigados a restituir os bens do autor que possuem, mas não são obrigados a restituir os frutos recebidos. Fossem eles possuidores de má-fé e deveriam restituir tudo e ainda ressarcir os danos, pois se aplicaria, no caso, as regras próprias de direito possessório. Dessa forma, tenho que o termo inicial da percepção dos frutos e rendimentos pelo autor é a data da constituição em mora dos herdeiros existentes. Antes disso, à toda a evidência, não podem os possuidores de boa-fé responder pelos frutos e rendimentos já consumidos. 5

6 Assim, o marco para a constituição em mora é o da data do ato citatório válido dos herdeiros na ação investigatória, cumulada com petição de herança, tal como foi determinado na sentença recorrida. Neste sentido, vale lembrar pertinente orientação de longa data consagrada no Egrégio Superior Tribunal de Justiça: JCCB.510 JCCB.1572 CIVIL E PROCESSO CIVIL AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CUMULADA COM PETIÇÃO DE HERANÇA PEDIDO ALTERAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR RETIFICAÇÃO NA DATA DO NASCIMENTO DO INVESTIGANTE IRRELEVÂNCIA, NO CASO DECLARAÇÃO DA PATERNIDADE EM FACE DE PROVA PERICIAL(DNA), ALIADA ÁS PROVAS TESTEMUNHAL E DOCUMENTAL INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO Nº 7 DA SÚMULA/STJ FRUTOS E RENDIMENTOS TERMO INICIAL CITAÇÃO ARTS. 510 E 1.572, CÓDIGO CIVIL EXEGESE DOUTRINA RECUO PROVIDO PARCIALMENTE I... II... III Na hipótese de herdeiro posteriormente reconhecido, o termo inicial da percepção dos frutos e rendimentos é a data da constituição em mora dos herdeiros já existentes. É com a constituição em mora que desaparece a presunção de que não há mais herdeiros. Antes disso, não podem os possuidores de boa-fé responder pelos frutos e rendimentos já consumidos, nos termos do art. 510 do Código Civil, aplicável à espécie. (STJ RESP ª T. Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira DJU ). ISTO POSTO, nego provimento ao recurso. DES. RICARDO MOREIRA LINS PASTL - De acordo com o(a) Relator(a). DES. JORGE LUÍS DALL AGNOL (PRESIDENTE) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. JORGE LUÍS DALL AGNOL - Presidente - Agravo de Instrumento nº , Comarca de Dom Pedrito: "NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME." 6

7 Julgador(a) de 1º Grau: GIULIANO VIERO GIULIATO 7