AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº ( ) COMARCA DE GOIÂNIA : TOYOTA LEASING DO BRASIL S/A : DES. JOÃO UBALDO FERREIRA

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1 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº ( ) COMARCA DE GOIÂNIA AGRAVANTE AGRAVADA RELATOR : GILBERTO GEORGE DE CASTRO BARBO : TOYOTA LEASING DO BRASIL S/A : DES. JOÃO UBALDO FERREIRA RELATÓRIO E VOTO GILBERTO GEORGE DE CASTRO BARBO, já qualificado e representado nos autos, interpôs recurso de AGRAVO DE INSTRUMENTO, com pedido liminar, para a concessão de efeito suspensivo, contra a decisão proferida pelo Juiz de Direito da 5ª Vara Cível, da Comarca de Goiânia, Dr. Paulo César Alves das Neves, nos autos da Ação de Reintegração de Posse ajuizada em seu desfavor pela TOYOTA LEASING DO BRASIL S/A, também qualificada e representada. Extrai-se dos autos que as partes celebraram entre si um Contrato de Arrendamento Mercantil, tendo como objeto o veículo da marca Toyota, modelo Corolla XEI 1.8 Flex, cor cinza, placa NKL-88470, ano 2008, dividido em 48 (quarenta e oito) parcelas mensais, após o pagamento de 11 (onze) parcelas, o réu/agravante tornou-se inadimplente, em razão disso o autor ajuizou a referida ação em desproveito daquele na busca de retomar a posse do bem. 1

2 Ao analisar o pedido inicial, o juiz a quo deferiu o pedido de liminar e determinou a reintegração da parte autora na posse do bem como também determinou a citação da parte ré (fl. 55). Expedido o mandado de reintegração de posse, o réu apresentou contestação (fls. 63/66), na qual requereu, preliminarmente, a extinção do processo sem resolução do mérito face à ausência de assinatura da advogada da autora (arts. 169 e 267, I, do CPC) bem como a carência de ação por falta de constituição em mora do arrendatário, pela ausência de notificação no endereço constante do contrato. Passo seguinte, após 05 (cinco) tentativas (fls. 122/126), o oficial de justiça deixou de cumprir a ordem judicial por não haver localizado o veículo a ser apreendido. Em seguida, a parte ré pediu o chamamento do feito à ordem e a apreciação da contestação. Conclusos os autos, o Juiz de Direito proferiu a decisão recorrida (fl. 130), através da qual não admitiu a apresentação da contestação antes do efetivo cumprimento da medida liminar que deferiu a reintegração da agravada na posse do bem arrendado e determinou o desentranhamento da contestação, documentos e a restituição destes aos procuradores do recorrente. Insatisfeito, o autor interpôs recurso de Agravo de Instrumento (fls. 02/08). De início, aduziu que a decisão agravada carece de fundamentação legal, posto que a Lei nº 6.099/74, que regula a matéria, não impõe restrição quanto à apresentação de defesa por parte do arrendatário. Fundamentou-se, ainda, nos artigos 920, 921, 924, 926, 927 e 928, do CPC, e informou que não existe disposição legal a vedar ou impedir que o requerido apresente contestação antes de cumprida a liminar de reintegração de posse 2

3 (RT 495/82, RJTJESP 49/19, RESP e RESP ). Asseverou que a decisão agravada acarreta cerceamento de defesa e fere o devido processo legal bem como o contraditório e a ampla defesa, máxime pelas matérias objeto da contestação, quais sejam, ausência de requisito da petição inicial por falta de assinatura da procuradora bem como falta de comprovação da constituição do arrendatário/agravante em mora. Teceu considerações acerca da lesão grave e de difícil reparação por ele experimentada e pediu o conhecimento e a concessão de efeito suspensivo ao recurso. No final, seja o agravo de instrumento provido para reformar a decisão recorrida e determinar o regular prosseguimento do feito com a apreciação da contestação. Com a inicial, trouxe os documentos de fls. 09/141. agravo de instrumento interposto. Às fls. 143/146, foi concedido o efeito suspensivo ao Passo seguinte, o Juiz de Direito apresentou suas informações (fls. 150/151), nas quais asseverou que o recurso de agravo não merece prosperar, para tanto reiterou as mesmas razões expostas na decisão agravada e destacou que esta não trará qualquer prejuízo para a defesa do réu que poderá, novamente, oferecer contestação após o cumprimento da liminar. (fl. 152). A parte agravada, ciente da decisão, não se manifestou É o relatório. Passo ao voto. 3

4 dele conheço. Presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso, Primeiramente, cumpre registrar que, embora não exista semelhança entre o arrendamento mercantil e a alienação fiduciária, não resta dúvida que apresentam institutos caracteres próximos, o que possibilita a aplicação subsidiária do Decreto-Lei 911/69, ao Leasing. O referido Decreto dispõe que o credor fiduciário pode pleitear a busca e apreensão do bem alienado desde que comprove a mora ou inadimplemento do devedor a sobejar a este último a faculdade de pagamento da integralidade da dívida conforme planilha apresentada pelo credor bem como apresentar contestação, no prazo de 15 (quinze) dias da execução da liminar, nos termos do rito previsto no Decreto-lei 911/69, com as alterações acrescidas pela Lei n /2004, artigo 3º, parágrafos 1º ao 3º. Extrai-se, pois, do comando legal que o art. 3º, 3º, do Decreto-lei 911/69, com redação dada pela Lei /04, é expresso em determinar o recebimento da contestação somente após o cumprimento da liminar de busca e apreensão. Com efeito, na ação de busca e apreensão regida pelo Decreto-lei 911/69, a apreensão liminar do bem financiado constitui pressuposto imprescindível à possibilidade do oferecimento de contestação, não sendo possível, antes de executada a decisão que deferiu a liminar, apreciar defesa do devedor. Do contrário, seria impedir o cumprimento da decisão, em 4

5 expediente que frustraria a celeridade própria da ação de busca e apreensão, a qual prevê a citação e espaço para apresentação de defesa, após a apreensão do bem. Ainda com relação à ação de reintegração de posse objeto de análise, observem-se os artigos 804 e 928, do CPC: Art É lícito ao juiz conceder liminarmente ou após justificação prévia a medida cautelar, sem ouvir o réu, quando verificar que este, sendo citado, poderá torná-la ineficaz; caso em que poderá determinar que o requerente preste caução real ou fidejussória de ressarcir os danos que o requerido possa vir a sofrer. Art Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração; no caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada. Assim, no que atine à decisão agravada propriamente dita, tenho que a mesma deve ser mantida, uma vez que não contraria qualquer dispositivo legal e tem como objetivo resguardar as decisões judiciais que, por artimanhas das partes e de seus patronos, não podem tornar-se inócuas, pois, no caso em tela, a decisão concessiva da liminar de reintegração de posse restou 5

6 irrecorrida (fl. 55) e o réu furta-se ao cumprimento de tal decisão, comparece espontaneamente aos autos, contesta o feito e pretende o prosseguimento do processo sem que se efetive o cumprimento da decisão liminar; o que é inadmissível. Não há, portanto, qualquer equívoco na decisão recorrida, posto que, para que o agravante tenha apreciado qualquer pretensão sua nos autos, há de aguardar-se o cumprimento da medida liminar, mormente pelo fato de que a medida de reintegração de posse e depósito do bem em favor do credor é providência que a lei a ele confere para resguardar o seu crédito. Para corroborar, observe-se o seguinte julgado: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. LEASING. CONTESTAÇÃO E RECONVENÇÃO NÃO RECEBIDAS NO AGUARDO DO CUMPRI- MENTO DA MEDIDA LIMINAR DE REINTE- GRAÇÃO DE POSSE DO VEÍCULO. 1. Há de se ter por imprescindível para aceitação da resposta e da reconvenção, o prévio cumprimento da medida liminar de reintegração de posse da financeira em ação que se sustenta na falta de pagamento das prestações avençadas, ainda que o comparecimento do acionado se dê espontaneamente. Agravo improvido. (TJDFT, 4ª Turma, DJ-e de 03/09/2008, Acórdão nº , AI nº , 6

7 Rel. Des. Antoninho Lopes). Impende salientar, ainda, que a decisão agravada em nada afronta aos princípios do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal), posto que o direito de defesa não está tolhido, mas tão somente postergado para momento oportuno indicado pela lei, qual seja, após o cumprimento da liminar de reintegração de posse do veículo. De fato, a ampla defesa, assegurada pela CF/88, é exercida na forma da lei. E a lei, no caso, estabelece que, na ação de busca e apreensão de veículo alienado fiduciariamente, o devedor apresentará resposta no prazo de quinze dias da execução da liminar, assim, compreende-se que na ação de reintegração de posse do veículo o procedimento deve ser o mesmo. Ainda com relação às demais matérias objeto do recurso de agravo de instrumento interposto, é de se afirmar que estas não foram objeto de apreciação por parte da decisão a quo, motivo pelo qual deixo de apreciar tais questões por entender que estas devem ser objeto de apreciação por parte do condutor do feito sob pena de supressão de instância. Desta forma, a exigência contida na decisão agravada, de recebimento da contestação somente após o cumprimento da liminar, como dito, além de ser cabível e pertinente, representa o procedimento usual adotado na prática, qual seja, ao se deferir uma liminar, promove-se a citação do réu após o cumprimento da decisão, justamente para evitar-se que a medida tornese ineficaz. Tal assertiva pode ser abstraída, por exemplo, do disposto nos 7

8 artigos 804 e 928 do Código de Processo Civil. Ante o exposto, conheço do recurso de Agravo de Instrumento, porém lhe nego provimento a fim de manter a decisão agravada por estes e por seus próprios e jurídicos fundamentos. É como voto. Goiânia, 22 de março de DES. JOÃO UBALDO FERREIRA RELATOR 305/CL 8

9 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº ( ) COMARCA DE GOIÂNIA AGRAVANTE : GILBERTO GEORGE DE CASTRO BARBO AGRAVADA : TOYOTA LEASING DO BRASIL S/A RELATOR : DES. JOÃO UBALDO FERREIRA EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. LEASING. DECISÃO QUE NÃO RECEBE A CONTESTAÇÃO ENQUANTO A LIMINAR DE REINTEGRAÇÃO DO VEÍCULO NÃO FOR CUMPRIDA. LEGALI- DADE. I- Embora não exista semelhança entre o arrendamento mercantil e alienação fiduciária, não resta dúvida que apresentam tais institutos caracteres próximos, o que possibilita a aplicação subsidiária do Dec.-Lei 911/69, ao leasing. II- É admissível a decisão que condiciona o recebimento da contestação do réu ao cumprimento da liminar de reintegração do veículo, objeto do contrato de Leasing firmado pelas partes (arts. 804 e 928 do CPC), máxime por não contrariar qualquer dispositivo legal e ter como objetivo resguardar as decisões judiciais, máxime pelo fato de que a decisão concessiva da liminar de reintegração de posse restou irrecorrida e o réu furta-se em cumpri-la, comparece espontaneamente aos autos, contesta o feito e

10 pretende o prosseguimento do processo sem que se efetive esta. RECURSO DE AGRAVO DE INSTRU- MENTO CONHECIDO, MAS IMPROVIDO. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , acordam os componentes da segunda Turma Julgadora da Primeira Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade de votos, em conhecer do agravo, mas lhe negar provimento, nos termos do voto do Relator. de Sousa e o Dr. Gerson Santana Cintra. Votaram, com o relator, o Desembargador Luiz Eduardo Sousa. Presidiu a sessão o Desembargador Luiz Eduardo de Geral de Justiça, a Drª Ruth Pereira Gomes. Fez-se presente, como representante da Procuradoria Goiânia, 22 de março de DES. JOÃO UBALDO FERREIRA RELATOR