MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

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1 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA Nº 2829/ PGGB RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO Nº /RS AGRTE : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS AGRDO : ANTONIO DOMINGOS DE ARAÚJO BOEIRA ADVOGADO: ALCEMAR SUTELLO DOS SANTOS JÚNIOR : PROCURADOR-GERAL FEDERAL : TICIANA MARTINS DE SOUZA RELATOR : MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI PRIMEIRA TURMA RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. TERMO INICIAL PARA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. RETROAÇÃO À DATA DA ENTRADA DO REQUERIMENTO. FATOS E PROVAS. SÚMULA 279/STF. FALTA DE QUESTÃO CONSTITUCIONAL DIRETA. PRECEDENTES. O recorrido obteve provimento judicial para a concessão retroativa de benefício de aposentadoria por tempo de contribuição desde 14/04/2003, data do primeiro requerimento administrativo. A Turma Recursal do Juizado Especial Federal do Rio Grande do Sul concluiu que o termo inicial do benefício não precisava corresponder à data em que foram comprovados os fatos constitutivos do direito postulado em juízo, já que, à época da apresentação do requerimento administrativo, o contribuinte já preenchia os requisitos para a obtenção do benefício.

2 O recurso extraordinário aponta infringência dos artigos 2º, 5º, II, XXXV, LIV e LV, 37, 84, IV, 97, 105, III, 194, parágrafo único, III, 195, caput, 5º, e 201, 1º, da Constituição e ofensa à Súmula Vinculante 10. Sustenta que, ao conceder o benefício de forma retroativa, sem que o requerimento administrativo estivesse devidamente instruído pelo segurado com a prova que lhe competia produzir por força expressa de lei, o Judiciário atuou como legislador positivo. Afirma que a Turma Recursal entendeu por bem retrotrair os efeitos financeiros sempre para a Data de Entrada do Requerimento, a despeito de como foi instruído o processo administrativo concessório, ou sem sequer se perquirir se o foi. Alega, também, ofensa aos princípios da isonomia, impessoalidade, legalidade, ampla defesa, contraditório, devido processo legal, preexistência do custeio e equilíbrio atuarial e financeiro. Aduz que a Turma Recursal declarou, indiretamente, a inconstitucionalidade dos arts. 35, 36, 39, 48, 49, 57, 58, 106, 108 e 143 da Lei nº 8.213/91. O trânsito do recurso foi obstado na origem, porque a arguida ofensa aos preceitos constitucionais seria reflexa. - II - O colegiado recursal, apreciando os fatos e provas dos autos, determinou a retroação dos efeitos financeiros da revisão do benefício à data da entrada do requerimento administrativo, momento em que teriam sido preenchidos os requisitos para concessão do benefício postulado em juízo. Lê-se do acórdão: (...) Trata-se de recurso interposto pela parte ré contra sentença que julgou procedentes os pedidos formulados na petição inicial mediante o reconhecimento e a averbação do tempo de serviço comum de a e a revisão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição a contar da data da entrada do requerimento do benefício nº 42/ , em Irresignada, postula a autarquia previdenciária a reforma da sentença no tocante à data do início do pagamento (efeitos financeiros), postulando seja a DIP fixada na data da entrada do requerimento administrativo do benefício de aposentadoria nº 42/ , em

3 A sentença deve ser confirmada pelos seus próprios fundamentos, nos termos do art. 46 da Lei 9.099/1995, combinado com art. 1º da Lei /2001. Com efeito, a Súmula nº 33 da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais assim dispõe, acerca da data do início do benefício: Quando o segurado houver preenchido os requisitos legais para concessão da aposentadoria por tempo de serviço na data do requerimento administrativo, esta data será o termo inicial da concessão do benefício.no caso dos autos, a parte autora, em , requereu a concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, o qual restou indeferido (Evento 10 PROCADM2, fls. 29 e 34); em , requereu novamente a concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição (Evento 18 - PROCADM2, fls , 53, 80 e 83) e, diante do não reconhecimento do tempo de serviço comum de a , ajuizou a presente ação, que culminou no reconhecimento do tempo de serviço e na determinação de revisão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição a contar da data de entrada do requerimento, em , quando a parte autora já contava com o tempo de serviço/contribuição de 35 anos, 11 meses e 15 dias, ou seja, tempos suficiente para a concessão do benefício de aposentadoria postulado, nos termos da sentença (Evento 20 SENT1): Na hipótese, consta dos autos cópia da CTPS e outros documentos comprovando o contrato de trabalhado no IRGA, como a movimentação de conta vinculada ao FGTS e a ficha funcional do autor. Desta forma, com razão o autor em requerer a revisão do benefício para incluir como tempo de trabalho urbano o período de 01/06/1971 a 02/12/1976. Quanto à retroação da DIB, analisado o tempo reconhecido, nos termos do voto juntado no evento 1 - e somado este período, totaliza o autor 35 anos, 11 meses e 15 dias até 14/04/2003. (grifei) Desta forma, implementado tempo suficiente para aposentadoria. Portanto, determino ao INSS averbar o período reconhecido de 01/06/1971 a 02/12/1976 e revisar a aposentadoria, retroagindo a data de início para 14/04/2003.(...). Desautorizar a conclusão alcançada na origem não prescindiria do revolvimento fático-probatório (Súmula 279), além do exame de legislação infraconstitucional (Lei nº 8.213/91), providências vedadas na via estreita do extraordinário. Ademais, o Supremo Tribunal já decidiu que eventual ofensa aos princípios da legalidade, ampla defesa, contraditório e devido processo legal, nos moldes arguidos pelo recorrente, caracterizam apenas questão constitucional indireta (AI-AgR , Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe ; 3

4 RE-AgR , Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe ; AI-AgR , Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe ; RE , Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe decisão monocrática). Ressalte-se que, conforme a jurisprudência do STF, não se aplica a cláusula de reserva de plenário no âmbito dos Juizados Especiais. A propósito: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO. ART. 97 DA CF/88. SÚMULA VINCULANTE 10. JUIZADOS DE PEQUENAS CAUSAS E ESPECIAIS. INAPLICABILIDADE. 1. O art. 97 da Constituição, ao subordinar o reconhecimento da inconstitucionalidade de preceito normativo a decisão nesse sentido da maioria absoluta de seus membros ou dos membros dos respectivos órgãos especiais, está se dirigindo aos Tribunais indicados no art. 92 e aos respectivos órgãos especiais de que trata o art. 93, XI. A referência, portanto, não atinge juizados de pequenas causas (art. 24, X) e juizados especiais (art. 98, I), os quais, pela configuração atribuída pelo legislador, não funcionam, na esfera recursal, sob regime de plenário ou de órgão especial. 2. Agravo a que se nega provimento. (ARE AgR, Segunda Turma, Rel. Min. Teori Zavascki, Dje 2/4/2014). A espécie se afeiçoa ao decidido no ARE /RS, DJe 17/12/14, no ARE /RS, DJe 8/10/14, ambos da relatoria da Ministra Cármen Lúcia, e no ARE /RS, relator o Ministro Roberto Barroso, DJe 5/11/14. Colhe-se deste último processo: (...)Trata-se de agravo cujo objeto é decisão que negou seguimento a recurso extraordinário interposto contra acórdão da Quarta Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais do Rio Grande do Sul, do qual se extrai a seguinte fundamentação: Recorre a parte autora da sentença que julgou parcialmente procedente o pedido de concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. Insurge-se a recorrente quanto à porção da sentença que determinou a fixação do termo inicial das diferenças decorrentes da concessão do benefício no ajuizamento da demanda, em razão de a parte autora ter postulado na via administrativa o reconhecimento da atividade rural no período de a , período diverso da presente demanda. Razão lhe assiste. Este é o entendimento uniformizado pela TRU4, verbis: INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE APOSENTADORIA MEDIANTE RECONHECIMENTO DE ESPECIALIDADE E ACRÉSCIMO DECORRENTE DA CONVERSÃO TEMPO ESPECIAL EM COMUM. TERMO INICIAL DOS EFEITOS FINANCEIROS. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL ANTERIOR À DER. COMPROVAÇÃO EM JUÍZO. 1. Segundo novo entendimento uniformizado 4

5 nesta Turma Regional, os efeitos financeiros da revisão de aposentadoria para acréscimo de tempo de serviço deve retroagir à data do requerimento administrativo, quando desde então o segurado cumpria todos os requisitos necessário à concessão do benefício nas mesmas condições. 2. Não importa se houve requerimento expresso ou apresentação de documento relativo à especialidade, os efeitos financeiros sempre retroagirão à DER/DIB, quando os requisitos legais já eram aperfeiçoados pelo segurado desde então, ainda que a sua comprovação somente tenha sido possível em juízo. 3. Recurso conhecido e provido. (, IUJEF , Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, Relatora p/ Acórdão Luísa Hickel Gamba, D.E. 16/02/2012). Sendo assim, a sentença deve ser reformada para que as diferenças financeiras decorrentes da procedência da demanda sejam calculadas e adimplidas desde a DER. O recurso busca fundamento no art. 102, III, a e b, da Constituição Federal. A parte recorrente alega violação aos arts. 2º; 5º, caput, II, XXXV, LIV e LV; 37; 84, IV; 97; 105, III; 194, parágrafo único, III; 195, caput, 5º; e 201, 1º; todos da Constituição. Afirma que ocorreu ofensa à Súmula Vinculante 10. A decisão agravada negou seguimento ao recurso sob o fundamento de que a controvérsia cinge-se ao âmbito infraconstitucional, sendo a violação alegada, caso existente, reflexa ou indireta. O recurso é inadmissível, tendo em vista que, para chegar a conclusão diversa da Turma de origem, seriam imprescindíveis a análise da legislação infraconstitucional aplicada ao caso e o reexame do conjunto fáticoprobatório dos autos (Súmula 279/STF), o que torna inviável o processamento do recurso extraordinário. Precedentes: RE , Rel. Min. Gilmar Mendes; ARE , Rel. Min. Luiz Fux; e ARE , Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia. Ademais, nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, não se aplica o princípio da reserva de plenário no âmbito dos juizados de pequenas causas e especiais. Veja-se, nesse sentido, a ementa do ARE AgR, Rel. Min. Teori Zavascki: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO. ART. 97 DA CF/88. SÚMULA VINCULANTE 10. JUIZADOS DE PEQUENAS CAUSAS E ESPECIAIS. INAPLICABILIDADE. 1. O art. 97 da Constituição, ao subordinar o reconhecimento da inconstitucionalidade de preceito normativo a decisão nesse sentido da maioria absoluta de seus membros ou dos membros dos respectivos órgãos especiais, está se dirigindo aos Tribunais indicados no art. 92 e aos respectivos órgãos especiais de que trata o art. 93, XI. A referência, portanto, não atinge juizados de pequenas causas (art. 24, X) e juizados especiais (art. 98, I), os quais, pela configuração atribuída pelo legislador, não funcionam, na esfera recursal, sob regime de plenário ou de órgão especial. 2. Agravo a que se nega provimento. Por último, cabe registrar que a parte recorrente não indicou as razões pelas quais caberia o recurso extraordinário pela alínea b do dispositivo constitucional autorizador. Nessas condições, aplica-se a Súmula 284/STF. Diante do exposto, com base no art. 544, 4º, II, b, do CPC e no art. 21, 1º, do RI/STF, conheço do agravo para negar seguimento ao recurso extraordinário. (...) 5

6 Ante a falta de perspectiva de êxito do extraordinário, o Ministério Público Federal sugere o desprovimento do agravo. Brasília, 2 de fevereiro de Paulo Gustavo Gonet Branco Subprocurador-Geral da República 6