Interdisciplinaridade, alimentação e nutrição
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- João Gabriel Figueiredo Coimbra
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1 Interdisciplinaridade, alimentação e nutrição Maria Rita Marques de Oliveira Centro de Estudos e Práticas em Nutrição - Departamento de Educação/IBB UNESP Interdisciplinaridade, alimentação e nutrição no currículo escolar, este é o nome do curso que estamos iniciando. Cada palavra deste nome comunica um aspecto particular e todas juntas comunicam algo maior, contido em cada uma das palavras, mas que ao mesmo tempo diz mais que a soma de todas elas. É essa relação de interdependência do todo com as partes e das partes com o todo que fundamenta a idéia central da interdisciplinaridade. Propusemos um curso interdisciplinar para falar de alimentação e nutrição, pois estas duas palavras (alimentação e nutrição) nos remetem a realidades complexas, possíveis de serem examinadas a partir de muitas dimensões (fisiológica, natural, cultural, filosófica, ética, social, afetiva, histórica, econômica, entre outras). A palavra nutrição designa o processo pelo qual todo ser vivo obtém e transforma matérias (alimento) da natureza, obtendo energia e nutrientes para a manutenção da vida. Em termos fisiológicos, a alimentação, a digestão, a absorção e o metabolismo constituem as principais fases do processo de nutrição. No sentido social, o conceito de alimentação é bem mais amplo e inclui o processo de produção, distribuição e consumo de alimentos. A alimentação adequada e saudável está entre os direitos humanos, porque proporciona a nutrição e garante a vida. Uma alimentação será adequada se atender às necessidades individuais (fase da vida, estado de saúde, hábitos culturais...) e será saudável, se for equilibrada em nutrientes e livre de substâncias nocivas à saúde. Exemplificando, um prato de arroz com feijão e hortaliças é saudável, mas não adequado ao consumo de um bebê, enquanto uma papa será adequada,
2 mas não saudável, se for preparada sem os devidos cuidados de higiene. Voltaremos a discorrer sobre esses conceitos, mas vamos agora completar os sentidos das palavras do título do nosso curso, introduzindo o termo currículo escolar a partir de um recorte das palavras de especialistas. A nosso ver, uma educação de qualidade deve propiciar ao(à) estudante ir além dos referentes presentes em seu mundo cotidiano, assumindo-o e ampliando-o, transformando-se, assim, em um sujeito ativo na mudança de seu contexto. Que se faz necessário para que esse movimento ocorra? A nosso ver, são indispensáveis conhecimentos escolares que facilitem ao(à) aluno(a) uma compreensão acurada da realidade em que está inserido, que possibilitem uma ação consciente e segura no mundo imediato e que, além disso, promovam a ampliação de seu universo cultural. Entendemos relevância, então, como o potencial que o currículo possui de tornar as pessoas capazes de compreender o papel que devem ter na mudança de seus contextos imediatos e da sociedade em geral, bem como de ajudá-las a adquirir os conhecimentos e as habilidades necessárias para que isso aconteça. 1 O caráter interdisciplinar da alimentação e nutrição nos autoriza a incluir o tema entre os conhecimentos escolares inseridos em diversos contextos. A alimentação faz parte do cotidiano das pessoas, ao mesmo tempo em que seus significados podem ser ampliados e seus conhecimentos aprofundados. A partir da alimentação, em seu conceito mais amplo, é possível discutir e rever a relação das pessoas com o meio ambiente, em bases mais sustentáveis, tomando como referência seu contexto local e global e sua dimensão individual e coletiva. Da interação do ser humano com o meio ambiente cria-se as condições favoráveis ou desfavoráveis para uma vida longa e saudável-feliz, um desejo universal. A Escola Promotora da Saúde busca compreender o educando em sua relação com o ambiente e com as pessoas de seu entorno. Estimula práticas saudáveis, proporciona estrutura física e humana para uma atmosfera positiva de aprendizagem. Nessa aprendizagem incluem-se o cuidado consigo, com o outro e com o meio. Nessa linha metodológica, a inclusão dos temas transversais no currículo escolar abre um grande leque de oportunidades para a formação 1 Moreira, AFB; Candau VM. Currículo, conhecimento e cultura. In: Indagações sobre currículo. Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica, 2007.
3 integral individual e coletiva. Alimentação e nutrição incluem-se entre esses temas de interesse geral. Por exemplo, a matemática e a física que são ciências regidas por leis naturais, podem adotar a horta ou outros campos de produção de alimentos como laboratórios de aula (testes de germinação para quantificação de sementes viáveis e inviáveis; medição de parâmetros climáticos com relação ao desenvolvimento e produtividade vegetal e muitos outros). No que diz respeito ao meio ambiente, todas as ações humanas relacionadas à cadeia alimentar em termos de produção e consumo de alimentos interferem, de alguma forma, com os sistemas de vida na terra. E essas relações são de diversas ordens, podem envolver um planejamento estratégico para a produção e a distribuição dos alimentos a todos os seres do planeta de forma equitativa e sustentável; quanto ao comportamento alimentar e à relação que cada indivíduo estabelece particularmente com o alimento, estes podem ser pautados por princípios consumistas ou de harmonia interior, com os outros e com a natureza. A conquista dessa harmonia remete-nos à nossa história e ao lugar onde vivemos. E nesse sentido, o alimento torna-se tema de destaque para a história e a geografia. Por meio do alimento é possível contar a história da humanidade e conferir identidade às pessoas. Os alimentos estão incluídos na história e nos costumes do lugar onde moramos. Este é um dos aspectos mais preciosos da alimentação adequada e saudável tomada como direito de todas as pessoas. Desde 1981, no dia 16 de outubro de cada ano comemora-se o dia mundial da alimentação. Essa data foi estipulada para comemorar a criação, em 1945, da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). O objetivo é tornar consciente um número cada vez maior de pessoas sobre a violação do direito humano à alimentação, divulgando e chamando a atenção para a persistência da fome e da miséria no planeta, apesar de todos os avanços tecnológicos feitos pelo homem. Do ponto de vista científico e tecnológico avançamos muito,
4 aprofundamos nosso conhecimento sobre a nutrição e o papel de cada componente dos alimentos na promoção e até recuperação da saúde. Além dos processos fundamentais da fisiologia da nutrição, a ciência da nutrição discute hoje aspectos tais como os genéticos ligados à nutrição, seja identificando pessoas mais suscetíveis a determinados efeitos nocivos dos alimentos, como é o caso das pessoas que possuem genes que as tornam mais suscetíveis ao aumento do colesterol sanguíneo com o consumo de alimentos ricos em colesterol. Ainda do ponto de vista biológico, os estudos de genética também têm indicado que algumas substâncias existentes nos alimentos têm o poder de modificar a programação genética de algumas vias metabólicas, contribuindo para o aparecimento de doenças. Perante o conhecimento que se dispõe hoje sobre a importância social, cultural e biológica da nutrição, a alimentação feita na escola passa a ocupar papel de destaque. Nesse sentido, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) representa o maior e mais antigo programa de alimentação do Brasil, atinge 20% da população. Desde sua implantação, em 1955, o PNAE passou por diversas transformações. Hoje temos claro que a função da alimentação escolar tem propósitos nutricionais e educativos, sendo as diretrizes do programa pautadas pela valorização da cultura e produção alimentar local, conforme a Lei brasileira de Conforme o artigo 5º da LOSAN: A segurança alimentar e nutricional é a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (Brasil, 2006). Observa-se como o conceito de Segurança Alimentar e Nutriconal é abrangente e, por essa razão, exige uma abordagem interdisciplinar. O conceito de alimentação adequada e saudável foi também
5 cunhado durante a construção dessas políticas. Um marco importante para o fortalecimento deste conceito e promoção da alimentação adequada e saudável entre a população foi o lançamento, em 2005, do Guia Alimentar para a População Brasileira. Nesse documento discutem-se os principais problemas nutricionais que afetam a população brasileira, apontam-se as responsabilidades dos indivíduos e das instituições sociais para que se promova a melhoria do estado de saúde da população. Encontram-se os dez passos para a alimentação adequada e saudável, que podem ser tomados como guia propriamente dito. Há outro conceito de igual importância tratado nessas políticas publicas: o de insegurança alimentar que pode ser tomado sob duas vertentes. A primeira vertente é quantitativa e está relacionada às diversas dimensões da fome, desde a fome persistente, percebida a partir de sinais físicos, até a ameaça da fome pela incerteza da regularidade da comida de cada dia. A outra insegurança é referente ao alimento inseguro, contaminado por substâncias tóxicas ou por microorganismos nocivos à saúde. Uma realidade muito frequente, especialmente nos entornos das escolas. Na escola, ainda, a criança com necessidades dietéticas específicas (diabetes, doença celíaca, alergia, entre outras) reforça o aspecto do alimento adequado. Uma alimentação escolar saudável pode não ser adequada para todas as crianças e, com isso, se exercita o respeito às diferenças. O crescimento e o desenvolvimento saudáveis integram as condições para um ambiente favorável ao aprendizado, daí a importância do monitoramento nutricional. A aferição periódica do peso e da estatura da criança permite à escola e às autoridades de saúde a vigilância do estado nutricional da comunidade escolar e com essas informações adotar medidas preventivas para prevenir os problemas nutricionais. Assim, concluímos a apresentação do panorama geral dos textos e atividades que preparamos para as 15 semanas de curso. Na próxima semana vamos apresentar a proposta das Escolas promotoras de saúde e do Programa
6 de saúde na escola. Para esta semana, sugerimos uma reflexão sobre as ações de alimentação e nutrição identificadas na sua escola e no entorno dela. BUSQUE NA BIBLIOTECA - Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos: Escritos para conhecer, pensar e praticar o Município Educador Sustentável. Carlos Rodrigues Brandão. Município Educador Sustentável (MES). Ministério do Meio Ambiente - Brasil VALE A PENA LER E PENSAR!
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