Supremo Tribunal Federal

Transcrição

1 PREGÃO PRESENCIAL N. 32/2013 IMPUGNAÇÃO. Alteração das exigências de Qualificação técnica. Exigências abusivas. Manutenção das regras editalícias. Trata-se de impugnação ao Edital de Pregão Presencial nº 32/2013, que tem por objeto a contratação de empresa para prestação de serviços de apoio administrativo na área de limpeza de bens móveis e imóveis com fornecimento de material, apresentada pelas empresas FACILITY STAFF LTDA., WR COMERSIAL DE ALIMENTOS E SERVIÇOS LTDA., PREST SERVIÇOS TÉCNICOS LTDA. e ARCOLIMP SERVIÇOS GERAIS LTDA. 2. Resumidamente a empresa Facility Staff impugna o edital para que sejam modificadas duas condições: exigência excessiva para a comprovação dos serviços de limpeza de fachada de vidro e de limpeza de carpetes e a impossibilidade de somatório de atestados. 3. Afirma que tais exigências com definições de áreas mínimas não coadunam com a realidade do objeto licitado e que não há nenhuma peculiaridade nos serviços para impor a comprovação por meio de apenas um atestado. 4. A empresa PREST segue o mesmo raciocínio dos demais, sendo que atacou somente o item 11.1, letra o. 5. A empresa WR ataca a indicação de área física e número de postos, alegando que o STF deve seguir o regramento imposto pela IN MPOG Nº 2/2008 onde prevê que os serviços serão contratados com base na área física a ser limpa, sendo, portanto, incompatível a definição de número de postos. 6. A WR também ataca a exigência do item 11.1, alíneas m, n e o no que diz respeito à apresentação de atestado único como forma de comprovação da capacidade técnica. 7. Insurge-se também contra a exigência das quantidades mínimas exigidas nas alíneas n e o do item 11.1, onde seria, para a empresa, incoerente, restritiva e inconstitucional tal exigência. 8. Pede também a separação do objeto em lotes, conforme argumentos constantes de sua peça impugnatória. 9. Já a empresa ARCOLIMP pede para excluir do edital a exigência dos documentos listados no item 8.2, alíneas h a j por falta de amparo legal.

2 PRELIMINARMENTE 10. As Impugnações foram apresentadas tempestivamente, observando os termos da Lei nº /2002 e da Seção III do Edital. MÉRITO 11. Inicialmente, esclareço que o presente Edital foi analisado e aprovado pela Assessoria Jurídica da Secretaria do Tribunal, nos termos do artigo 38 da Lei nº 8.666/ Ressalto que os atos praticados por esta Administração em seus procedimentos licitatórios, obrigatoriamente, são pautados pelos princípios da isonomia e da legalidade, em consonância com o disposto no artigo 3º da Lei nº 8.666/93: Art. 3 o A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. RELATIVAMETE À EXIGÊNCIA DE QUANTITATIVOS E EXIGÊNCIA DE UM ÚNICO ATESTADO 13. As empresas impugnantes alegam que a manutenção das exigências de qualificação técnica para fins de habilitação poderão comprometer o caráter competitivo da licitação, conforme exposto em sua peça impugnatória. 14. Assim, para demonstrar que o STF adotou um modelo de edital que melhor atende às suas necessidades, primando pela busca da proposta mais vantajosa e, consequentemente, alcançar o interesse público, não deixando de preservar os princípios norteadores do processo licitatório na Administração Pública, apresentarei a seguir, de forma clara e objetiva as respostas para cada ponto impugnado do edital. 15. O grande objetivo da exigência da qualificação técnica no instrumento convocatório deste Pregão é buscar no mercado uma empresa que possua experiência compatível com o objeto e demonstre ter capacidade administrativa-operacional suficientemente para garantir a execução dos serviços advindos da futura contratação, de forma que a Administração possa ter segurança na contratação em curso. 16. A exigência da comprovação de quantidade em um único atestado na forma prevista no edital, está abaixo às quantidades de serviços a serem executadas na vigência do contrato. 17. Os quantitativos definidos nas alíneas m, n e o do item 11.1 do edital representam 50% das quantidades a serem executadas pela futura contratada.

3 18. Além disso, o STF está exigindo o mínimo de experiência das empresas do ramo de limpeza e conservação, visto que poderia exigir a comprovação de outros serviços relacionados ao objeto da licitação. E agindo com razoabilidade, está somente exigindo, separadamente, no edital 03 (três) atestados de capacidade técnica: o número de profissionais alocados; a limpeza de fachada de vidro; e a limpeza de carpetes; por considerá-los de extrema importância técnica, em razão de toda sistemática operacional a ser adotada na execução dos serviços no decorrer da vigência do contrato. Além disso, ressalto que os quantitativos exigidos em cada atestado representam somente 50% do quantitativo definidos no instrumento convocatório. 19. Quanto à exigência de qualificação técnica em processo licitatório na Administração Pública, o Tribunal de Contas da União - TCU, por meio da Súmula nº 263/11, se posicionou da se forma: SÚMULA Nº 263/2011 Para a comprovação da capacidade técnico-operacional das licitantes, e desde que limitada, simultaneamente, às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto a ser contratado, é legal a exigência de comprovação da execução de quantitativos mínimos em obras ou serviços com características semelhantes, devendo essa exigência guardar proporção com a dimensão e a complexidade do objeto a ser executado. 20. A administração do STF não está exigindo a comprovação de quantidades que sejam desarrazoadas ou desproporcionais ao serviço objeto da licitação. Simplesmente, definiu as suas exigências de qualificação técnica de acordo com as características técnicas e quantitativas do conjunto de atividades a serem realizadas diarimente pela vencedora da licitação. 21. Ademais, a Administração deve contratar serviços e adquirir bens de forma que os seus editais de licitação tenham condições de buscar no mercado aquelas empresas que demonstram possuir capacidade para atender às regras e especificações mínimas requeridas no instrumento convocatório, a fim de resguardar o interesse público. 22. Assim, para melhor entender a dimensão e o grau de reponsabilidade que a empresa a ser contratada assumirá, o item 8 do Anexo I do edital apresentada detalhadamente o conjunto das principais atividades a serem executadas na vigência do contrato, as quais são: - limpeza e conservação de pisos revestidos com carpetes, azulejo, cerâmica, cimentado polido, granito, mármore, vinílico e laminado em madeira; - limpeza e conservação de fachada envidraçada interna e externa; - limpeza e conservação de divisória envidraçada interna; - limpeza e conservação da área verde externa (gramados e jardins); - limpeza e conservação de 113 banheiros coletivos e 47 banheiros privativos; 23. Portanto, verifica-se que dos diversos tipos de atividades de limpeza, consideradas como de maior relevância técnica, a serem executadas diariamente o edital

4 está somente exigindo a limpeza e carpete e a limpeza de fachada envidraçada. Ou seja, está sendo exigido o mínimo de experiência das empresas interessadas em participar do certame. 24. Relativamente à exigência das comprovações em um único atestado o STF baseou-se exatamente da jurisprudência indicada pela empresa: Compromete o caráter competitivo da licitação a vedação de somatório de atestados para fins de qualificação técnica dos licitantes, nos casos em que a aptidão técnica das empresas puder ser satisfatoriamente demonstrada por mais de um atestado. 25. No caso em questão, o STF não está exigindo em um único atestado as comprovações da prestação de apoio administrativo com no mínimo 66 profissionais, e o serviços de conservação e limpeza de fachada de vidros e conservação e higienização de carpetes, e sim em três atestados distintos. 26. Ocorre que, as parcelas supracitadas foram consideradas de maior relevância técnica para a contratação em questão, razão pela qual as licitantes deverão comprovar a sua capacidade por meio de atestado que demonstre a execução de serviços de acordo com o exigido nas alíneas m, n e o do item 11.1 do edital, ou seja, cada exigência por meio de um único atestado. 27. Repetindo a citação de Marçal Justem Filho utilizada pela impugnante Facilituy de que a identidade do objeto é que determina a possibilidade ou não de somatório. Comprovar que limpa, conserva e mantem m² de fachada de vidro em um único atestado não é igual a comprovar m² em 10 atestados (lembrando que equivale a 50% do total de vidros do contrato). 28. Em mesmo sentido, no julgamento do RESP n , o STJ consentiu com a exigência de quantitativos mínimos: Há situações em que as exigências de experiência anterior com a fixação de quantitativos mínimos são plenamente razoáveis e justificáveis, porquanto traduzem modo de aferir se as empresas licitantes preenchem, além dos pressupostos operacionais propriamente ditos vinculados ao aparelhamento e pessoal em número adequado e suficiente à realização da obra, requisitos não menos importantes, de ordem imaterial, relacionados com a organização e logística empresarial. 29. Além disso, não houve quebra do princípio da competitividade uma vez que, visando atender ao interesse público, a Administração decidiu exigir que as empresas participantes comprovassem possuir experiência mínima relacionada à execução dos serviços de limpeza com características compatíveis com o objeto da licitação.

5 30. O professor Joel Niebhur 1, apresenta o seguinte ensinamento que o principio da competitividade: É no âmbito do princípio da competitividade que operam em licitação pública os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Ocorre que tais princípios oferecem os parâmetros para decidir se determinada exigência ou formalidade é compatível ou não com o princípio da competitividade. Sobretudo, deve-se atentar ao bom senso, bem como à proporção entre as exigências a serem realizadas e o objeto licitado, especialmente no momento de se definir as exigências para a habilitação. RELATIVAMENTE A ÁREA FÍSICA X NÚMERO DE POSTOS 31. Quanto aos argumentos da empresa WR quanto à questão da área física X número de postos, no sentido de que o STF deve seguir a norma do MPOG (IN 02/2008) ou pelo menos pautar-se pela mesma, entendemos que o edital do pregão em questão já se utilizou dos elementos necessários e suficientes para a persecução do interesse público, tendo como norte a impessoalidade e moralidade. Observa-se que o quantitativo definido no edital está de acordo com os parâmetros mínimos de produtividade estabelecidos pela referida IN. Ademais, estão sendo observadas peculiaridades das instalações do Tribunal. Não há reparos a fazer no edital relativamente a tais argumentos. QUANTO A SEPARAÇÃO DO OBJETO EM LOTES 32. Também não cabe a separação do objeto em lotes, conforme pede a empresa WR visto que o objeto é único - Contratação de empresa para prestação de serviços de apoio administrativo na área de limpeza, higienização e conservação de bens móveis e imóveis, bem como serviços de jardinagem, com fornecimento de material e locação de equipamentos, sendo que a separação dos atestados visou única e exclusivamente ampliar a possibilidade de participações no certame. QUANTO À DOCUMENTAÇÃO RELATIVA À HABILITAÇÃO REGULARIDADE FISCAL 33. Por último, a argumentação da empresa ARCOLIMP é totalmente desprovida de razão. A impugnante alega que a exigência contida nas alíneas h a j do item 8.2 estão sem respaldo legal visto que o artigo 27, inciso IV da Lei 8.666/93 definem quais os documentos devem ser exigidos para fins de habilitação quanto à regularidade fiscal. 34. Ocorre que a empresa confunde as exigências, visto que os documentos para fins de habilitação estão listados na Seção XI do edital. O item 8.2 do edital diz respeito aos documentos que deverão ser apresentados para fins de aceitabilidade de proposta. São documentos para comprovação da exequibilidade dos valões cotados. 1 NIEBUHR, Joel de Menezes. Pregão Presencial e Eletrônico. 5ª Ed. Curitiba: Zênite, 2008, página 49

6 CONCLUSÃO 35. Pelo exposto, deliberamos por conhecer das impugnações, mas, no mérito negar-lhes provimento, mantendo o edital do Pregão Presencial nº 32/2013. Brasília, 12 de março de Marcello dos Santos Lopes Pregoeiro