1.2. Elementos do Conceito de Direito Sistema Jurídico
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- Mateus Caldas Freire
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1 1.2. Elementos do Conceito de Direito Noção de Direito: sistema de normas de conduta social, assistido de protecção coactiva. Desta noção é possível retirar os seguintes elementos: 1) Sistema jurídico 2) Norma Jurídica 3) Protecção coactiva Sistema Jurídico Noção de Sistema Jurídico: conjunto de elementos que se interrelacionam e ordenam numa unidade intrínseca. Um sistema pressupõe ordem e unidade. Características do Sistema Jurídico: 1) Coerente: pressupõe que não haja contradições, mas que forme uma unidade. Se houver conflitos entre as várias normas teremos que recorrer aos vários critérios que visam resolver contradições (princípios da superioridade, da posteridade e da especialidade); 2) Completo, pleno ou sem lacunas: susceptibilidade de o Direito dar uma resposta a todas as situações. Mesmo que não haja uma norma que possa dar directamente resposta a uma situação da vida, o juiz deve recorrer aos mecanismos da analogia e da integração de normas (art. 8º-1 do CC); 3) Coercibilidade: susceptibilidade ou possibilidade de protecção coactiva; 4) Âmbito de aplicação limitado/ finitude: o Direito não visa aplicar-se a todas as situações da vida, tem o seu âmbito de aplicação ou intervenção limitado. Desta forma, podemos afirmar que é lícito tudo o que não é proibido ; 5) Descentralização: a variedade e a extensão da vida social moderna reclamam que a tarefa de criação de normas se distribua por uma pluralidade de órgãos que podem ser centrais ou periféricos; 6) Hierarquização: a estrutura do sistema jurídico é composta de forma hierárquica; as próprias normas se escalonam de forma hierárquica; 7) Presunção de perfeição da Ordem Jurídica: prevê-se no art. 9º-3 do CC a seguinte ideia: na fixação do sentido e alcance da lei, o intérprete presumirá que o legislador consagrou as soluções mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos adequados. 1
2 Noção de Instituição: traduz-se num complexo ou conjunto de normas que se reúne À volta de princípios comuns e regulamentam um determinado tipo de relações sociais ou um determinado fenómeno social. Também se pode designar por instituição a realidade social que está na base de tais relações sociais. Uma sociedade para existir e para subsistir precisa de resolver certos problemas ou imperativos do sistema social e fá-lo através das instituições e das organizações sociais. Por exemplo: o matrimónio, família, propriedade, sucessão hereditária, etc. Funções principais das instituições: estabilidade normativa e de integração. Noção de Instituto: não é sinónimo de instituição. É um complexo normativo de menor âmbito ou projecção em relação à instituição. Exemplos: Instituto da propriedade privada, instituto da propriedade horizontal, instituto da legítima, instituto da compra e venda, instituto do pagamento, etc Norma Jurídica Norma jurídica em sentido restrito: corresponde ao conteúdo do sistema jurídico; Norma jurídica em sentido amplo/lato: corresponde à forma do sistema jurídico, ou seja, à forma como as normas aparecem escritas, designadamente nos textos legais. A) Norma Jurídica em sentido restrito: Noção de Norma Jurídica em sentido restrito: é um comando (ou regra de conduta) geral, abstracto e coercível, ditado pela autoridade competente. Natureza da norma jurídica em sentido restrito: comando/ vinculação Estrutura da Norma Jurídica em sentido restrito: a norma jurídica é composta por 3 elementos: a previsão, a estatuição e a sanção. Nem todas as normas contêm a sanção, apenas as normas completas ou perfeitas. a) Previsão: acontecimento ou estado de coisas que se prevê na norma, ou seja, prevê a situação que visa regular. É a parte da norma que prevê a situação da vida a que a norma se vai aplicar. Por regra, a previsão é feita de forma geral e abstracta, mas pode excepcionalmente ser feita de forma singular e concreta (por ex.: quando morrer o actual chefe de Estado do país X; quando sobrevier o dia 1 de Dezembro, etc. b) Estatuição: determina as consequências que decorrerão se esse facto ocorrer, ou seja, corresponde ao estabelecimento da necessidade de uma conduta que há-se ser obrigatoriamente seguida. 2
3 c) Sanção: é a consequência da violação da estatuição. Nem todas as normas prevêem a sanção, apenas as normas completas ou perfeitas. Ou seja, se uma norma contiver a previsão, a estatuição e a sanção é uma norma completa, se uma norma apenas conter a previsão e a estatuição é uma norma incompleta. Características da Norma Jurídica em sentido restrito: a) Imperatividade: corresponde à estatuição. A norma é uma obrigação, um imperativo ou um comando. Note-se que esta característica é duvidosa, pois existem normas que não ordenam, nem proíbem, antes atribuem um poder ou uma faculdade. b) Violabilidade: as normas dirigem-se aos homens que são seres livres e que, por isso, muitas vezes violam as normas. Mas as normas apenas são violáveis no plano dos factos e não no plano das consequências jurídicas. c) Generalidade: a norma dirige-se a um conjunto mais ou menos amplo de destinatários (pessoas) e não a uma ou duas pessoas em particular. Distingue-se ainda do conceito de pluralidade pois uma norma pode ter uma pluralidade de destinatários e não ser geral. Acontece sempre que esses destinatários não são determinados por referência a uma certa categoria abstracta ou a uma certa função por eles exercida, mas tomando em consideração circunstâncias individualizadoras. Ao contrário, pode a norma ter como destinatário apenas uma determinada pessoa e, no entanto, ser geral. Por exemplo, normas que se referem ao PR: elas dirigem-se a uma categoria de pessoas e não a uma entidade individual. Aquelas normas que se aplicam sempre a uma só pessoa, por exemplo, aquelas que pautam a conduta do PR, elas aplicam-se a quem quer que, no momento, ocupe o cargo. Quando nos referimos à característica da generalidade, é usual fazer a seguinte distinção: 1) Generalidade vertical: uma norma aplica-se a todos os que ocupem um determinado cargo. Por exemplo: as normas aplicam-se sucessivamente a A, depois a B e depois a C. 2) Generalidade horizontal: a norma aplica-se a todos os que estão numa certa situação, ou seja, as normas aplicam-se simultaneamente a A, a B, a C, etc. d) Abstracção: as normas visam disciplinar ou regular um número indeterminado de situações, uma categoria mais ou menos ampla de situações e não casos ou situações da vida particularmente visadas. Ou seja: as normas são gerais e abstractas, os casos é que são particulares e concretos. Nota: existem normas de estatuição singular e concreta, mas não as devemos designar de normas jurídicas, mas sim preceitos singulares e concretos (por exemplo: nas sentenças judiciais e nos negócios jurídicos. 3
4 e) Coercibilidade: possibilidade do uso da força para impedir ou reprimir a violação das normas jurídicas. Susceptibilidade de protecção coactiva (esta pode ser preventiva ou repressiva). B) Norma jurídica em sentido amplo: corresponde à forma pela qual nos aparece a ordem jurídica, designadamente os textos legais. Classificações: noções e exemplos - Normas éticas/ normas técnicas; - Normas de estatuição material/ normas de estatuição jurídica; - Normas ordenadoras/ normas sancionatórias; - Normas imperativas/ normas facultativas - Normas directas/ normas indirecta; - Normas autónomas/normas não autónomas; - Normas gerais/normas excepcionais/normas especiais - normas universais/ gerais/ locais Protecção Coactiva Noção: possibilidade ou susceptibilidade de recurso à força em caso de incumprimento das normas jurídicas. Espécies: a protecção coactiva pode assumir 2 formas: - protecção coactiva preventiva: casos em que a norma pretende evitar ou prevenir a violação da norma, ou seja, aplica-se antes ou a priori (antes da violação da norma); - protecção coactiva repressiva: casos em que se vida reprimir a violação da norma; ocorre após a violação da norma (fala-se em repressão ou sanção). A) Protecção repressiva (sanção) Noção de sanção: parte da norma onde se estabelece a consequência imposta pela Ordem Jurídica pela violação da estatuição da norma. Espécies de sanções: as sanções podem ser materiais ou jurídicas. - Sanções materiais: quando a consequência jurídica imposta pela Ordem jurídica se projecta na vida social, ou seja, visam produzir uma alteração da situação da vida social. 4
5 - Tipos de sanções materiais: I) Cumprimento coactivo II) Reintegração: a) Reconstituição natural ou in natura b) Reintegração por sucedâneo ou equivalente pecuniário III) Reparação: a) Compensação por danos morais b) Pena: estas podem ser penas civis, disciplinares ou penais, consoante o tipo de responsabilidade (civil, disciplinar ou criminal, respectivamente). - Sanções Jurídicas: - Noção: quando as consequências projectam-se primariamente ou antes de mais no plano jurídico. Neste sentido, as sanções jurídicas negam a produção de efeitos, de forma total ou parcial. - Tipos de sanções jurídicas: I) Ineficácia II) Invalidade III) inexistência IV) Irregularidade I) Ineficácia em sentido amplo: um negócio jurídico não produz os seus efeitos. Esta desdobra-se em ineficácia em sentido estrito e em invalidade: a) Ineficácia em sentido estrito: um negócio não produz os seus efeitos devido a causas externas (ex.: art. 268º-1 do CC); b) Invalidade: um negócio não produz os seus efeitos devido a causas internas. A invalidade pode ser de 2 tipos: - nulidade - anulabilidade 5
6 Caracterização da nulidade: - Arts. 286º ss CC - Sanciona os vícios mais graves - é a forma de invalidade mais severa de invalidade - o acto não produz efeitos desde o início - pretende salvaguardar o interesse público - opera por força da lei - pode ser conhecida oficiosamente pelo tribunal - pode ser invocado por qualquer interessado - não é sanável mediante confirmação - exemplos de vícios que dão origem à nulidade do negócio jurídico: - vícios de forma (art. 220º do CC) - vícios do objecto (art. 280º do CC) - contrariedade à lei (art. 294º do CC) - falta de vontade (arts. 240º-2, 245º e 246º do CC) Caracterização da anulabilidade: - arts. 287º ss CC - sanciona vícios menos graves - é a forma de invalidade menos severa - enquanto o acto não for anulado produz os seus efeitos - pretende salvaguardar o interesse particular - necessidade de uma acção de anulação - não pode ser conhecida oficiosamente pelo tribunal - tem que ser invocada por quem tenha legitimidade - tem de tem invocada no prazo de um ano - é sanável mediante confirmação - exemplos de vícios que dão origem à anulabilidade: - incapacidade do agente (art. 125º do CC) 6
7 - vícios da vontade, entre os quais: - Dolo (art. 253º do CC); - Erro (arts. 249º, 251º e 252º do CC) - Coacção (art. 255º do CC) - incapacidade acidental (art. 257º do CC) B) Protecção Coactiva Preventiva: - Exemplos de protecção coactiva preventiva: - procedimentos cautelares (arts. 381º ss do CC); - medidas de coacção (arts. 196º ss CPP) - acção directa (art. 336º do CC) - legitima defesa (art. 337º do CC) 7
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