COMUNICAÇÃO DE RISCO: UMA INTRODUÇÃO
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- Ágata Cabreira Pinhal
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1 COMUNICAÇÃO DE RISCO: UMA INTRODUÇÃO Nos últimos anos, a comunicação de risco para a saúde vem desempenhando um papel importante na prevenção e mitigação das conseqüências adversas para a saúde humana relacionadas à exposição a substâncias perigosas; tem facilitado as ações em casos de desastres naturais e tecnológicos e ajudado no enfrentamento e na preparação para situações de crise, como por exemplo, diante de um ato terrorista, seja biológico ou químico, ou em epidemias. A tecnologia e a globalização são fatores importantes na evolução das estratégias de comunicação de risco. Os rápidos avanços na tecnologia da comunicação estão aumentando o fluxo de informação entre a fonte e o receptor e ampliando o enfoque do público. Isso, por sua vez, potencializa o desenvolvimento das atitudes sociais e influi na percepção do risco. Entende-se por risco a probabilidade de que ocorra um dano como resultado da exposição a um agente seja este químico, físico ou biológico. Diversos riscos ambientais tais como poluição do ar, da água e do solo, as novas tecnologias, a exemplo da nanotecnologia, organismos geneticamente modificados, microondas, bioterrorismo, a possível pandemia de gripe, têm agregado novas preocupações na sociedade em geral. Paralelamente a esses novos riscos, nós nos encontramos em um momento sem precedentes no que se refere à disponibilidade de informação. Quando se descobre algo novo e se considera que pode ser nocivo, tomamos conhecimento disso praticamente em questão de horas ou dias. A análise de riscos inclui a avaliação, caracterização, comunicação e gestão do risco, bem como as políticas a ele associadas. A avaliação de riscos é um processo que permite avaliar a informação relativa às propriedades perigosas de determinadas substâncias, o potencial de exposição e os resultados quanto a efeitos para a saúde. Esta metodologia tem sido desenvolvida por diversos grupos interdisciplinares e representa o ponto de partida que permite contextualizar os riscos a que a população se expõe e fornecer elementos básicos para a gestão do risco. A gestão de riscos é um processo direcionado para a tomada de decisões que se utiliza para estabelecer políticas e destacar os perigos identificados durante a avaliação de riscos e a avaliação das conseqüências para a saúde pública. Os aspectos de controle e gestão, bem como as questões tecnológicas, financeiras e regulatórias são considerados na gestão de riscos, que inclui a comunicação de risco como um de seus elementos. Trata-se de um processo que consiste em passos bem definidos, os quais, quando seguidos seqüencialmente, apóiam a tomada de decisões, contribuindo para um melhor entendimento do risco e de seu impacto. Os governos enfrentam o desafio de manter uma clara distinção entre as técnicas de comunicação vistas pelo público como propaganda e aquelas concebidas para fornecer informação técnica, promover, educar e mudar atitudes. Isto implica em outro problema na medida em que o governo assume o papel de comunicador e de regulador. 1
2 Quando os riscos são bem entendidos, previsíveis e mensuráveis, a comunicação de risco pode ser clara e direta. No entanto, os governos, com maior freqüência, se vêem diante da necessidade de informar aos cidadãos sobre riscos pouco conhecidos, imprevisíveis e a respeito dos quais não existe acordo entre os especialistas. 1. Definições O Conselho Nacional de Pesquisa (National Research Council) dos Estados Unidos elaborou a seguinte definição em 1989: A comunicação de risco é um processo interativo de troca de informação e de opiniões entre pessoas, grupos e instituições. É um diálogo no qual são discutidas múltiplas mensagens que expressam preocupações, opiniões ou reações às próprias mensagens ou arranjos legais e institucionais da gestão de riscos. Esta definição foi posteriormente adaptada com base no tema que se esteja tratando, por exemplo, se pensamos em saúde dos consumidores, a FAO emite a seguinte definição: A comunicação de risco é a troca interativa de informação e opiniões ao longo de todo o processo de análise de riscos entre as pessoas encarregadas da avaliação dos riscos, os responsáveis pela gestão dos riscos, os consumidores, a indústria, a comunidade acadêmica e outras partes interessadas. A estas definições é possível acrescentar aquilo que permita que um indivíduo, os interessados diretos ou toda uma comunidade tome as melhores decisões possíveis para a sua proteção e o seu bem-estar diante de uma situação de risco. A comunicação de risco é a forma de se transmitir informação por meio de mensagens que permitam que uma pessoa, os interessados diretos ou toda uma comunidade tome as melhores decisões possíveis para seu bem-estar no momento de uma situação de risco. 2. Objetivos O objetivo da comunicação de risco é retro-alimentar as inquietudes e preocupações da população, o que permite diminuir a ansiedade, informar o público (família, comunidade, centro de trabalho) para que se prepare e participe da minimização e prevenção dos riscos. Além disso, informa a população sobre riscos desconhecidos com o fim de propiciar uma percepção de acordo com as necessidades de proteção de sua saúde e contribui para se obter a colaboração da população em risco e tornar mais eficiente e rápida a intervenção ou a resposta das autoridades. Oferece a oportunidade de comunicar os riscos para a saúde de modo planejado e ao mesmo tempo sensível às necessidades da comunidade; integra a comunidade no processo de gestão do risco, e ajuda a estabelecer confiança e aliviar o medo e a indignação. A comunicação de risco considera muitos tipos de mensagens e processos. Inclui pessoas de todas as idades e condições, quer sejam trabalhadores, autoridades, legisladores, religiosos, professores, políticos, industriais, trabalhadores rurais, crianças, jovens, idosos. 2
3 Os profissionais da saúde pública devem entender as necessidades da comunidade (considerando todos os grupos mencionados acima) e ser capazes de facilitar o diálogo sobre os aspectos técnicos do risco para a saúde pública, bem como identificar as necessidades psicológicas, políticas, sociais e econômicas da comunidade. Especialistas da OMS e da FAO identificaram os seguintes objetivos da comunicação de risco: - Promover o conhecimento e a compreensão de todos os participantes sobre o tema em consideração. - Promover a consistência e a transparência sobre a tomada de decisões e a implementação de medidas de gestão de risco. - Propiciar uma base sólida para o entendimento das decisões de gestão de risco propostas ou implementadas. - Melhorar a eficácia e a eficiência do processo de análise de riscos. - Contribuir para o desenvolvimento e a disponibilização de informação e execução de programas de educação efetivos. - Promover a confiança da população nas instituições encarregadas de tomar decisões. - Promover a participação de todos os setores interessados. - Trocar informações sobre as atitudes, os conhecimentos, os valores, as práticas e as percepções relativas aos riscos. EM SUMA, a comunicação de risco para a saúde será entendida aqui como a oportunidade de comunicar os riscos de maneira planejada e, ao mesmo tempo, sensível às necessidades da comunidade. Faz parte do processo de análise e gestão de riscos, ajuda a estabelecer a confiança e facilita informação fidedigna e oportuna para que a comunidade tenha uma avaliação mais precisa dos riscos para a saúde e, conseqüentemente, possa agir adequadamente. 3. Princípios e tipos de comunicação Existem três princípios fundamentais subjacentes à comunicação de risco: - As percepções são realidade: O que é percebido como real, mesmo se não for certo, é real para a pessoa e real em suas conseqüências. O objetivo não é apenas prever respostas para situações estressantes ou de crise, mas também para circunstâncias que, ainda que possam ser qualificadas de epidemias «fantasmas», podem gerar «autênticas» epidemias de medo, principalmente durante emergências e crises. - A finalidade é estabelecer credibilidade e confiança: Deve-se levar em conta a todo o momento que as condições devem ser incrementadas e mantidas para que as mensagens sejam levadas a sério e como dignas de atenção por parte da população. - A comunicação de risco efetiva é uma habilidade técnica: Requer uma grande quantidade de conhecimentos, organização, planejamento, abertura e prática. 3
4 Os tipos de comunicação podem ser em função do tema em questão, de modo que se pode falar de comunicação voltada para o cuidado, comunicação voltada para o consenso e comunicação durante uma crise. A comunicação voltada para o cuidado se concentra nos riscos para os quais tanto o risco quanto a forma de enfrentá-lo já foram bem determinados mediante pesquisa científica aceita pela maioria do público; por exemplo, informar sobre os riscos do tabagismo ou de uma conduta sexual sem proteção. A comunicação voltada para o consenso se destina a informar e a estimular os grupos a trabalharem em conjunto para alcançarem uma decisão a respeito de como um risco pode ser gerido (prevenido ou mitigado); por exemplo, entre cidadãos e o proprietário de uma instalação de aterro sanitário para que, juntos, determinem a melhor maneira de dispor dos resíduos perigosos. A comunicação durante uma crise se realiza diante de um perigo extremo e repentino, por exemplo, um acidente em uma zona industrial, a ruptura de uma represa ou um surto de uma doença letal, e desempenha um papel fundamental ao enfocar a forma de atender a situação. Na comunicação de risco diante uma crise deve-se fomentar o uso de qualquer alternativa que permita ajudar uma população a adotar uma ação adequada. Por exemplo, no caso de uma inundação, a população deve mover-se rapidamente para áreas mais altas onde possa estar protegida enquanto chegam os grupos de resgate. Um enfoque desse tipo inclui que a organização ou instituição saiba o que é preciso fazer, quando é preciso fazê-lo e quem participa. É mais provável que a população possa mudar uma conduta se souber por quê, e não só o quê e o como. A informação sobre o risco deve ser cuidadosamente organizada e apresentada, particularmente quando há uma crise. Este tipo de comunicação pode incluir a comunicação tanto durante quanto após o acontecimento de emergência. Por exemplo, em situações perigosas, tais como inundações e furacões, a comunicação de risco pode motivar o público a agir. No caso de um ataque terrorista a demanda pública por informação pode ser muito maior do que aquela oferecida pelas autoridades, razão pela qual é preciso buscar meios tanto no que refere às mensagens quanto à forma de fazê-las chegar ao público a fim de satisfazer suas necessidades. Em cada um dos tipos de comunicação de risco (cuidado, consenso e crise) deve-se incorporar pelo menos alguns elementos de análise do público. Por exemplo, no caso da comunicação voltada para o cuidado, é necessário conhecer os estilos de vida de cada grupo do público; para a comunicação voltada para o consenso, devem-se entender as crenças das comunidades antes que haja um acordo em torno de uma solução; por fim, no caso da comunicação durante uma crise, os comunicadores precisam entender a cultura do público a fim de discutir as formas como se deve enfrentar e mitigar uma crise. 4
5 4. Informações complementares - Conceito de comunicação de risco - Etapas de evolução da comunicação de risco - Tipos de comunicação de risco - Mitos que impedem a comunicação de risco 5
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