Seminário internacional Herança, identidade, educação e cultura: gestão dos sítios e lugares de memória ligados ao tráfico negreiro e à escravidão

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1 Seminário internacional Herança, identidade, educação e cultura: gestão dos sítios e lugares de memória ligados ao tráfico negreiro e à escravidão Nome da Palestra: Abertura do Seminário Composição da mesa: Lucien Muñoz (representante da Unesco para a Educação, Ciência e Cultura); Elói Ferreira (presidente da Fundação Cultural Palmares); Ana de Hollanda (ministra de Estado da Cultura); Luiza Bairros ( ministra de Estado da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial); Hamilton Pereira (coordenador geral da Unesco no Brasil e secretário de cultura de DF); Thomas Sukutai Byuna ( Embaixador da República do Zimbábue); Carlos Alberto Reis de Paula (Ministro do Tribunal Superior do Trabalho); Embaixador Paulo Cordeiro (subsecretário geral de assuntos de política III do Ministério das Relações Exteriores); Josefina Serra dos Santos (secretária especial das políticas de igualdade racial do DF); Matilde Ribeiro ( ex ministra da Igualdade Racial) Isidore Monsin (embaixador do Benin) e Érika Kokay ( deputada federal) Data: 20/08/ h20 Elói Ferreira Após a composição da mesa, convida ainda ao senhor embaixador de Benin, Isidore Monsin e a ex ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. Relembra o primeiro seminário realizado em 1998, pela Fundação Palmares, e fala também do segundo, em 2001, cuja temática era religiões africanas. Agradece presença de todos na abertura do evento e fala que a Fundação Palmares é a primeira entidade criada no Brasil para a disseminação e resgate da memória da cultura negra. O seminário: Herança, identidade, educação e cultura: gestão dos sítios e lugares de memória ligados ao tráfico negreiro e escravidão, tem a parceria da Unesco, Ministério da Educação, Ministério do Turismo, Ministério da Cultura e Ministério das Relações, além dos Correios. O presidente da Fundação Palmares aproveita a ocasião para lançar formalmente a candidatura do Cais do Valongo (no Rio de Janeiro) como patrimônio cultural da

2 humanidade. Hoje o cais faz parte de um itinerário obrigatório para a memória cultural do Brasil. Hamilton Pereira (secretário de cultura do DF e representante da Unesco no Brasil) Fala da honra que o é para o DF receber um seminário dessa magnitude e com esta temática. Saúda aos presentes, e diz também que o encontro tem importância a medida que induz o país a se debruçar na sua história, buscando desenterrar sua face negra e entender a si mesmo. Fala ainda que a proposta de transformar o Valongo num patrimônio cultural da humanidade é mais que um dever, é um resgate da história do Brasil. Segundo ele é motivo de honra para capital do país, abrir espaço para a discussão da metade negra do nosso rosto. Em 1981, quando subiram a Serra da Barriga, em Alagoas, foi dado o primeiro passo para a criação da Fundação Palmares. Nesta ocasião estava com ele o historiador Joel Rufino dos Santos, e seus estudos fizeram um relevante resgate da história negra no Brasil. Nota do ex presidente Luis Inácio Lula da Silva, lida aos participantes Amigos participantes do seminário da Rota do Escravo recebi com alegria o convite do presidente da Fundação Palmares, e como cidadão brasileiro sinto entusiasmo com o resgate da história do Brasil, que é o país com maior número de habitantes negros fora da África. O cais do Valongo se insere com destaque nos lugares de nossa memória. E o resgate dessa história é fundamental para a superação do racismo. Brasil e África passam por momentos positivos com o fortalecimento de suas economias e instituições e estão trazendo melhoras para os seus povos. Josefina Serra dos Santos Secretária Especial da Promoção e Igualdade Social no DF Felicita a mesa por estar composta em igualdade por cinco homens e cinco mulheres. Diz que nasceu num quilombo e hoje, como secretária, se sente emocionada por estar a frente de um projeto em andamento que pretende levar palestras às escolas falando sobre a África. O projeto já tem a parceria de 13 embaixadas africanas e busca o envolvimento da UnB, além de

3 outras embaixadas e secretarias. O objetivo é resgatar a autoestima e contar que o continente africano é rico. Ela se ressente que nas escolas é destinado muito tempo para a discussão da história da Europa e de outros continentes, enquanto que para a África é destinado tempo menor. Ressalta que as aulas sobre a África têm uma conotação pejorativa, destacando a miséria e guerras entre tribos e etnias e ainda que a África é meramente colocada como um lugar para safáris. Josefina felicita a UNESCO pelo resgate da rota do escravo, que revê os conceitos da história e do povo brasileiro. E que é ainda um resgate da cidadania e da cultura. Érica Kokay (deputada federal) Saúda os componentes da mesa e diz que com esse projeto o Brasil tem oportunidade de mergulhar em sua própria história e reconhecer a africanidade, seus traumas, o colonialismo e a escravidão, e assim terá oportunidade de tapar os buracos e fazer os lutos da escravidão. Falar de educação, cultura e identidade no contexto do seminário é importante porque a sociedade tem o imaginário marcado pelos ideais da Casa Grande e das Senzalas. É preciso resgatar a nossa identidade e mergulhar na nossa própria história para fechar este ciclo, fazer lutos e construir um Brasil que respeite a diversidade. Carlos Alberto Reis de Paula (ministro do Tribunal Superior do Trabalho) É um momento mágico, porque a cultura e a educação só se escrevem quando olhamos para o passado. O Brasil não pode escrever sua história sem redescobrir a rota dos escravos e por isso, a educação é fundamental, pois temos que entender o que fomos. Criar um caminho para o futuro demanda refazer a Rota do Escravo. Matilde Ribeiro (ex ministra da igualdade racial) Sabemos da importância do encontro e da construção das políticas de igualdade racial. Tenho orgulho de ser uma das primeiras pessoas a inaugurar a criação das políticas públicas no âmbito federal. E é com essa vivência que dou continuidade a esse trabalho, que só deve

4 terminar quando tivermos uma efetiva igualdade neste país. Estou aqui mais uma vez para somar a minha energia com a de vocês para que continuemos a trabalhar pelo bem da humanidade. Isidoro Monsin (Embaixador de Benin) Saúda os participantes e cita que há 16 anos esteve na UNESCO para pedir que fosse feito um debate com o tema Rota do Escravo e que o Brasil foi um dos países que apoiou essa discussão. Para ele era uma surpresa estar aqui, agora, discutindo este tema. O povo brasileiro é gentil e tem um carinho especial e diz que o brasileiro deveria saber que temos outros povos que também gostam muito do Brasil. As coisas que existem no Brasil como acarajé, samba também existem em outros lugares e por isso acredita que podemos construir um futuro de paz, amizade e fraternidade. Paulo Cordeiro (Embaixador e subsecretario de assuntos de política III MRE) Queria somar me aos membros da mesa e agradecer a Fundação Palmares e a Unesco, por participar do evento. Sou diplomata de carreira e historiador por formação e a gente tem que olhar para o passado e ver como ele foi para poder escrever a nossa história. Com a descolonização, os africanos ficaram presos em várias fronteiras, e neste momento, os países chamados do terceiro mundo se voltaram ao pensamento de que é necessário contar a história da África, história essa que é de resistência. Os países colonizadores diziam que a África não podia contar sua própria história porque era composta por sociedades ágrafas. Mas com o esforço da UNESCO, de buscar disciplinas na cultura, na história da arte, entre outros, foi possível produzir 10 volumes sobre a história geral da África. Lucien Muñoz (Representante da Unesco) Saúdo aos membros da mesa, ministras, movimentos sociais, povos de terreiros, embaixadores. Ressalta a especialidade da UNESCO que é a fusão de vários conhecimentos. Nossos melhores programas são aqueles capazes de usar a multiplicidade de assuntos. Buscamos o passado para educar as novas gerações.

5 O Seminário comemora o êxito da tradução para o português de oito volumes da história geral da África que são distribuídos pelo Ministério da Educação e contamos ainda com mais de meio milhões de downloads dos livros pela internet. Para coroar a parceria, na última conferência geral da Unesco, o Governo Brasileiro manifestou interesse de apoiar um novo volume que terá como tema a Diáspora Africana. Luiza Bairros (ministra da secretaria de igualdade racial). Fala do prazer em estar no seminário. Diz que a fundação Palmares lidera este debate dentro do Governo Federal. É muito importante ter um seminário que se proponha a percorrer as rotas da nossa história, porque mesmo com o avanço da sociedade, no tratamento das questões raciais, o Brasil ainda lida mal com o passado escravista, tem uma dificuldade grande de consolidar uma democracia racial. É necessário, neste momento, nos empoderarmos efetivamente na sociedade brasileira. É impossível passar pelo Cais do Valongo e não sair dali com uma sensação de compromisso com a história e construção da cidadania no Brasil. Ana de Hollanda (ministra da Cultura) Esse momento representa bem a posição do governo em relação a sua cultura e ancestralidade africana. A parceria com a Fundação Palmares e a Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) reforça a política de igualdade racial e assim podemos notar o quanto o governo se empenha em buscar a parceria com entidades e organizações civis. Nossa história é sempre dos vencedores, não se conta a historia dos vencidos, aquela que nos incomoda, não se toca nas feridas. É caso do Valongo onde foi construído em cima o Cais da Imperatriz, querendo esconder o passado. Várias manifestações culturais que estão registradas como patrimônio cultura são de matriz africana. O governo está investindo na pesquisa do Cais do Valongo e quer criar parcerias com as universidades para reforçar o estudo. Esse seminário marca um momento político para o Brasil.