PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 Acórdão 1a Turma SEGURO DESEMPREGO. APRENDIZ. RESCISÃO ANTECIPADA SEM JUSTA CAUSA. INSUFICIÊNCIA DE DESEMPENHO - o Aprendiz tiver o contrato rescindido antecipadamente, sem justa causa, e desde que preencha os requisitos legais previstos no artigo 3º da Lei nº 7.998/90, terá direito ao seguro desemprego, conforme Circular nº 10/2008 do Ministério do Trabalho e Emprego. O reclamante aprendiz ao ser dispensado, por desempenho insuficiente, não recebeu tal benesse, por entender a reclamada que, somente nos casos de rescisão antecipada do contrato, em razão da cessão da atividade empresarial, falecimento do empregador constituído em empresa individual e falência da empresa é que caberia o seguro desemprego. Assim, ao inviabilizar o respectivo pagamento, surgiu, automaticamente, a obrigação de reparar o dano ao autor, Recurso que se nega provimento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário, em que são partes: CENTRO PRESBITERIANO BENEFICENTE - CPB, como Recorrente, e HERBERT DE SOUZA

2 CARDOSO, como Recorrido. Inconformada com a r. sentença de fls.132/134, proferida pela MM. Juíza Mirna Rosana Ray Macedo Correa, da 14ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou procedente em parte o pedido, recorre a reclamada, consoante razões de fls. 141/148. Requer a reforma da sentença no que tange à condenação ao pagamento da indenização substitutiva do seguro desemprego atinente ao empregado aprendiz. Acrescenta que sempre pautou seus atos, concernentes aos aprendizes, no Manual da Aprendizagem, emitido pela Secretaria de Inspeção do Trabalho e Secretaria de Políticas Públicas de Emprego, no qual consta que aos aprendizes são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários, artigo 65 do ECA. Ressalta que somente nos casos de rescisão antecipada do contrato, em razão da cessão da atividade empresarial, falecimento do empregador constituído em empresa individual e falência da empresa, combinados com os requisitos do 3º da Lei nº 7.998/90, é que o aprendiz terá direito ao segurodesemprego. Realça também que o reclamante aprendiz teve desempenho insuficiente, conforme se constata do documento de fls.34, por isso, não há que se falar de indenização substitutiva pertinente ao seguro desemprego, pois não houve ato ilícito do empregador, devendo ser o r. julgado reformado nesse particular. Apesar de devidamente notificado, às fls. 212, o

3 reclamante não contra-arrazoou o recurso. Preparo às fls.149/150. Sem parecer da D. Procuradoria do Trabalho. Processo submetido ao Núcleo de Centralização de Execução e Conciliação NUCECI, no qual restou prejudicada a tentativa de conciliação, fls É o relatório. V O T O de admissibilidade. DO CONHECIMENTO Conheço do recurso por preenchidos os pressupostos DO MÉRITO DO SEGURO DESEMPREGO EMPREGADO APRENDIZ Requer a reforma da sentença no que tange à condenação ao pagamento da indenização substitutiva do seguro desemprego atinente ao empregado aprendiz. Acrescenta que sempre pautou seus atos, concernentes aos aprendizes, no Manual da Aprendizagem, emitido pela Secretaria de Inspeção do Trabalho e Secretaria de Políticas Públicas de Emprego, no qual consta que aos aprendizes são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários, artigo 65 do ECA. Ressalta que somente nos casos de rescisão

4 antecipada do contrato, em razão da cessão da atividade empresarial, falecimento do empregador constituído em empresa individual e falência da empresa, combinados com os requisitos do 3º da Lei nº 7.998/90, é que o aprendiz terá direito ao segurodesemprego. Realça também que o reclamante aprendiz teve desempenho insuficiente, conforme se constata do documento de fls.34, por isso, não há que se falar de indenização substitutiva pertinente ao seguro desemprego, pois não houve ato ilícito do empregador, devendo ser o r. julgado reformado nesse particular. A douta sentença deferiu a indenização substitutiva do benefício ao obreiro aprendiz, sob o fundamento de que o reclamante não o recebera à época própria. Sem razão o recorrente. A exordial relata que o autor, menor aprendiz, à época, foi admitido na reclamada em 05 de março de 2008, para exercer a função de aprendiz de embalador à mão, sendo dispensado imotivadamente em 12 de agosto de 2008, docs. Fls. 8/9, 14, 17/20. A reclamada antecipou a rescisão contratual tendo em vista o desempenho insuficiente do autor, doc. fls. 79. Dessa forma, restou incontroverso que as partes pactuaram entre si um contrato de aprendizagem, o qual, na verdade, é um contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, no qual o empregador se compromete a assegurar ao maior de quatorze e menor de vinte e quatro anos, inscrito em programa de aprendizagem, uma formação técnicoprofissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico,

5 moral e psicológico; e o aprendiz, a executar com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação. Tal pacto não poderá ser avençado por mais de dois anos. Ao ser dispensado sem justa causa, por insuficiência de desempenho, deixou de receber o seguro-desemprego, documento fls. 34. O seguro desemprego é pago com base no salário e remuneração auferida pelo empregado no seu contrato de trabalho, sendo o salário a contraprestação paga diretamente pelo empregador ao trabalhador,e remuneração representando o saláriobase acrescidas de todas as vantagens pessoais Nos termos das regras básicas insculpidas no art. 3º da Lei nº 7.998/90 e da Resolução CODEFAT 64/94, para ter direito à percepção do seguro desemprego, o trabalhador dispensado sem justa causa, deverá comprovar, os seguintes requisitos: que recebeu remuneração em cada um dos 6 (seis) meses imediatamente anteriores à data da dispensa, que tenha sido empregado durante pelo menos 15 (quinze) meses nos últimos 24 (vinte e quatro) meses, não estar em gozo de qualquer benefício previdenciário de prestação continuada, previsto no Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, excetuado o auxílio-acidente e o auxílio suplementar previstos na Lei nº 6.367, de 19 de outubro de 1976, bem como o abono de permanência em serviço previsto na Lei nº 5.890, de 08 de junho de 1973; não estar em gozo do auxíliodesemprego; não possuir renda própria de qualquer natureza suficiente a sua manutenção e a de sua família.e, ainda, que tenha se mantido desempregado após a rescisão imotivada, pelo período

6 de duração do seguro desemprego. A prova do implemento de tais condições, excetuado o período trabalhado na própria reclamada, cabe unicamente ao trabalhador. Contudo, implementou o recorrido a condição básica para o recebimento das guias do seguro-desemprego: a dispensa injusta. Com a resilição imotivada surgiu, automaticamente, a obrigação a reparar o dano, ou seja, pagar o benefício que o autor poderia ter recebido, oportunamente, do Fundo de Amparo ao Trabalhador, ofício fls.141. Quando o Aprendiz tiver o contrato rescindido antecipadamente, sem justa causa, e desde que preencha os requisitos legais previstos no artigo 3º da Lei nº 7.998/90, já delineados acima, terá direito ao seguro desemprego. O ofício, fls.141, incrementa tal ilação com suporte na N. 10, de 01 de agosto de 2008, do Ministério do Trabalho e Emprego Seção de Políticas de Trabalho Emprego e Renda SPTER Setor do Seguro-Desemprego e do Abono Salarial SSD, que retifica a orientaçäo anterior quanto à concessäo do beneefício do Seguro-Desemprego ao Menor Aprendiz. Ei-la: A Coordenaçäo-Geral do Seguro-Desemprego, do Abono Salarial e ldentiñcaçäo Proñssional solicita aos Senhores Delegados Regionais do Trabalho e Emprego, Coordenadores estaduais e Coordenadores municipais no àmbito do Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda, que repassem aos responsáveis pelo

7 Seguro-Desemprego, bem como aos Postos sob sua jurisdiçäo, os procedimentos a serem adotados nas situaçöes de eoncessäo do beneñcio Seguro-Desemprego ao Menor Aprendiz. Informamos que de acordo com orientaçäo da Consultoria Jurídica do Ministerio do Trabalho e Emprego, o menor aprendiz terá direito ao beneñcio Seguro- Desemprego quando o contrato for extinto antecipadamente nas condiçöes a seguir: a) cessaçäo da atividade empresarial; b) falecimento do empregador; c) motivo de força maior, d) pela falência da empresa', e) contrato rescindido antecipadamente com dispensa sem justa causa; Os documentos necessários para o trabalhador Menor Aprendiz dar entrada no Seguro- Desemprego säo os seguintes: a) Requerimento do Seguro-Desemprego e Comunicaçäo de Dispensa - CD; b) Contrato de Trabalho', c) Termo de Rescisäo de Contrato de Trabalho; d) CTPS (veriñcar páginas de identiñcaçäo,

8 contrato e alteraçöes, se houver); e) Comprovante de saque do FGTS ou extrato de movimentaçäo dos depósitos; Ressaltamos que término de contrato de trabalho do Menor Aprendiz (cód. 04), näo assegura 0 dìreito ao beneficio Seguro- Desemprego. Para ter djreito ao beneñcio Seguro-Desemprego nas condiçôes citadas, o Menor Aprendiz deverá comprovar os criterios de habilitaçäo estabelecidos pelas Leis 7.998/90, 8.900/94 e pela Resoluçäo do CODEFAT n. 467/2005. Infomnamos que os Requerimentos referentes ao Menor Aprendiz näo seräo notificados. Sendo assim näo há neoessidade de preenehimento de Recurso Administrativo. Esta Circular revoga expressamente a Circular 17, de 19 de dezembro de Atenciosamente. Diga-se, ainda, que, na presente hipótese, não importa se a lei que instituiu o benefício não prevê a convolação da obrigação de fazer na obrigação de pagar, pois esta decorre, naturalmente, do disposto no art. 186 do Código Civil, que obriga aquele que desrespeita o direito ou causa prejuízo a outrem a reparar o dano

9 Considerando-se o período de trabalho reconhecido acima e a projeção do aviso-prévio indenizado, tem-se que o reclamante aprendiz faz jus ao recebimento da indenização substitutiva correspondente, considerando-se os termos dos arts. 186,187 e 827 do NCCB, da Súmula nº 389, inciso II, do C. TST, e das Leis 8900/94 e 7998/90 e da Circular CIRCULAR N. 10, de 01 de agosto de 2008, do Ministério do Trabalho e Emprego. Correta a r. sentença. Nego provimento. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 1ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, NEGAR-LHE PROVIMENTO. Rio de Janeiro, 21 de Agosto de Desembargador Federal do Trabalho Mário Sérgio M. Pinheiro Relator