Solenidade da Assunção da Virgem Maria 21 de agosto de 2016

Transcrição

1 Solenidade da Assunção da Virgem Maria 21 de agosto de 2016 Caríssimos Irmãos e Irmãs: Celebramos, com intenso júbilo, a vitória da vida sobre a morte inaugurada pelo Cristo e, hoje, realidade Naquela que foi escolhida desde a eternidade para ser a Nova Arca da Aliança, que a antiga, em Israel, prefigurara. Aquela trazia as tábuas da Lei do Sinai e esta, a Palavra feita carne em seu seio: Jesus Cristo. Maria foi a humilde serva do Senhor; aquela que aceitou a missão de ser a Mãe do Messias, com todas as consequências inerentes à essa vocação. O Evangelho, muito discretamente, nos relata alguns momentos de sua vida que revelam sua fé como a mais bela Filha de Sião, porque inclinou o ouvido de seu cora- 1

2 ção à voz de Deus presente nos lábios do Filho; foi a exímia discípula. Uma mãe que ocupou, na fé, o lugar de discípula: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática". (Lc 8,21) Quando contemplo a Virgem, discípula singular e serva fidelíssima, penso sempre num dos ensinamentos do Senhor, sem duvidar instante algum de que tenha deixado de pronunciar e viver com toda a vibração de sua natureza humana: sou serva inútil, fiz apenas o que devia ter feito (Lc 17,10) Do momento da Anunciação aos pés da Cruz sempre serva do Senhor esteve atenta ao seu lugar de mãe e de discípula para bem servir, configurando-se assim ao Filho que veio para servir e não ser servido. Quem serve, como ela serviu unida a Cristo, conhece a paz de coração. E quem tem a verdadeira paz dentro de 2

3 si transborda de alegria. Por isso a Igreja proclama-a Rainha da Paz e Mãe da Alegria. Entretanto, servir não se restringe a executar uma ordem, pratcar uma ação benéfica, um trabalho urgente e necessário, um desdobrar-se agitadamente como Marta em Betânia. Supõe um movimento de coração que acompanha as mãos e os braços, a inteligência e a vontade, o prazer e a razão. Servir, como Maria serviu, brota da enfermidade do amor, que só os apaixonados por Deus têm de forma incansavel e persistente. Quem verdadeiramente ama não desiste de servir, porque seu serviço já se inicia com a oração. Contudo, serve qual servo inútil ensinamento do Cristo somente quem é humilde no discipulado. A Santa Virgem viveu essa Palavra do Senhor, pois ela própria, em oração, exaltou o Altíssimo dizendo: olhou para a humilda- 3

4 de de sua serva. Humilde, por conseguinte verdadeira, foi capaz de reconhecer sua pequenez diante dos desígnios de Deus e confessar: sou serva inútil, fiz apenas o que devia fazer. Sem humildade, nosso serviço degenera em investimento, busca de recompensa, espera de reconhecimento, anseio de poder e terreno fértil para a tristeza e o pessimismo; é, enfim, termômetro sofisticado para, ilusoriamente, medir nossas capacidades naturais. Mesmo a mais séria psicologia afirmando-nos ser preciso reconhecimento para bem viver e que é verdade, isso nos plenifica apenas naturalmente. Quem persegue a santidade, portanto, uma dimensão sobrenatural da existência, a palavra de Jesus Sou servo inútil, fiz apenas o que devia fazer faz-se imprescindível. Só assim, alcançarmos a estatura de Cristo. (Ef 4,13) 4

5 Hoje a Santa Mãe de Deus, a Nova Eva que não conheceu a corrupção deste corpo mortal, é levada pelos Anjos à glória dos céus. Na iconografia latina predominou sempre sua imagem assunta aos céus a partir do relato do Apocalipse, que escutamos como primeira leitura. Um pintor italiano do século XVI, Tiziano, a imortalizou numa de suas telas subindo aos céus de braços abertos. Gosto muito dessa obra de arte, pois dá-me a impressão de que a Virgem Santíssima vai ao encontro de Deus com braços abertos, nada levando, sem anseio de recompensa ou cobrança de sua fiel atuação na história da salvação. De braços abertos encaminha-se pronta a dizerlhes: sou serva inútil, fiz apenas o que deveria fazer. Por outro lado, está de braços abertos numa postura de quem 5

6 receberá o abraço do Pai como Filha de Sião, do Cristo como Mãe e do Espírito Santo como virgem esposa. A Rainha dos Anjos fez o que deveria fazer! A Santa Mãe de Deus, serva inútil do Senhor, continua nos servindo. Em Pentecostes estava com os Apóstolos no serviço do louvor e, agora, à direita do Filho serve-nos com suas preces e intercessão. A antífona Ave Regina coelorum do século X-XII, que cantamos durante a Quaresma e na festa de hoje, resume os títulos dessa virgem gloriosa: Rainha dos céus, Senhora dos Anjos, toda Santa, que não se esquece de rogar por nós ao Cristo Senhor. Ela, em sua ternura materna, nos ensine a também sermos servos inúteis e assim desfrutarmos da paz e da alegria, que só os humildes do Senhor experimentam. Deus nos abençoe a todos! 6

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