O COMPORTAMENTO DO MERCADO ACIONÁRIO DA EMPRESA GAFISA S/A (Estudo de Caso)
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- Lídia Carvalho Canto
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1 UNIJUÍ UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL RODRIGO WEILER ZARO O COMPORTAMENTO DO MERCADO ACIONÁRIO DA EMPRESA GAFISA S/A (Estudo de Caso) Ijuí (RS) 2013
2 1 RODRIGO WEILER ZARO O COMPORTAMENTO DO MERCADO ACIONÁRIO DA EMPRESA GAFISA S/A (Estudo de Caso) Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Economia, do Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação (DACEC), da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Economia. Orientadora: Ms. Marlene Köhler Dal Ri Ijuí (RS) 2013
3 2 A Banca Examinadora abaixo-assinada aprova a Monografia: O COMPORTAMENTO DO MERCADO ACIONÁRIO DA EMPRESA GAFISA S/A (Estudo de Caso) elaborada por RODRIGO WEILER ZARO como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Economia. Ijuí (RS), 27 de junho de BANCA EXAMINADORA Ms. Marlene Köhler Dal Ri Orientadora Prof. Examinador Titular
4 3 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por me conceder a oportunidade de cursar a Faculdade de Economia. À minha família, pelo apoio e incentivo nos momentos mais difíceis. À minha orientadora, mestre Marlene Dal Ri, pelos conhecimentos transmitidos e pela orientação segura.
5 4 RESUMO O presente estudo visa estudar uma das maiores empresas brasileiras do setor imobiliário habitacional que atua no mercado acionário a Gafisa S/A, bem como seu comportamento no mercado acionário no período de janeiro de 2008 a dezembro de Para tanto se baseia numa análise técnica, que corresponde ao estudo de ações individuais e do mercado, com base na oferta e na procura, ou seja, estuda o preço e o volume de negociação de ativos financeiros do passado com o objetivo de fazer previsões sobre o comportamento futuro dos preços. Além de analisar se a empresa Gafisa S/A sofreu oscilações no valor de comercialização de suas ações no mercado financeiro no período em estudo, pretende-se ainda fundamentar teoricamente o mercado de ações; fundamentar as metodologias de análise técnica e/ou gráficas no mercado acionário; realizar a análise técnica da empresa em diversos momentos do período considerado; e interpretar os resultados dos indicadores da análise gráfica da empresa. O interesse pelo tema é evidenciado pelo fato que o mercado de capitais é uma das formas mais importantes para a consolidação de empresas, pois através dele as instituições se autofinanciam e a população também gera riquezas, ocorrendo inúmeras atividades capazes de fomentar uma estratégia bem-sucedida de crescimento da economia. O estudo apresenta um referencial teórico que visa auxiliar os novos investidores no sentido de lhes transmitir confiança no mercado acionário. A metodologia adotada é descritiva e explicativa, uma vez que procura analisar o comportamento das ações da empresa em estudo num determinado período de tempo. Quanto aos meios, classifica-se como pesquisa bibliográfica, uma vez que foram buscados subsídios em estudiosos da área, artigos de periódicos e em sites eletrônicos da Internet. O estudo permitiu concluir que a análise técnica é importante como auxílio na tomada de decisões quanto à entrada no mercado de ações. Palavras-chave: Mercado de ações. Mercado imobiliário. Análise técnica de ações.
6 5 LISTA DAS SIGLAS ABECIP Associação Brasileira das Entidades de Crédito e Poupança BACEN Banco Central do Brasil CBLC Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia CMV Comissão de Valores Mobiliários FAR Fundo de Arrendamento Residencial FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LLC Equity Group Investments NYSE New York Stock Exchange PAC Programa de Aceleração do Crescimento PAR Programa de Arrendamento Residencial PIB Produto Interno Bruto PlanHab Plano Nacional de Habitação PNH Plano Nacional de Habitação PPAs Planos Plurianuais SFH Sistema Financeiro da Habitação Un-Habitat Órgão das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Habitação
7 6 LISTA DAS FIGURAS Figura 1. Etapas do processo de subscrição de novas ações Figura 2. Fases de negociações no mercado acionário Figura 3. A crise imobiliária americana e seus efeitos Figura 4. Representação do gráfico de linhas Figura 5. Representação do gráfico de barras Figura 6. Representação do gráfico de barras Figura 7. Representação gráfica do Candlestick Figura 8. Representação do gráfico de linhas formado por Candlestick Figura 9. Representação do gráfico de linhas formado por Candlestick Figura 10. Representação gráfica do gap Figura 11. Comparação entre as escalas de análise de ações Figura 12. Desempenho econômico da Gafisa S/A Figura 13. Gafisa S/A Figura 14. Estados nos quais a Gafisa S/A ou suas subsidiárias já lançaram empreendimentos Figura 15. Representação gráfica da empresa Gafisa S/A Figura 16. Evolução semanal da cotação das ações da Gafisa S/A no período em estudo Figura 17. Gráfico diário da cotação das ações da Gafisa S/A no período em estudo Figura 18. Estratégias diárias de compra e venda das ações da Gafisa S/A no período em estudo Figura 19. Cotação das ações da Gafisa S/A com gráfico mensal do período em estudo... 50
8 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO FUNDAMENTOS TEÓRICOS Produto Interno Bruto (PIB) A importância da Bolsa de Valores no desenvolvimento econômico Abertura de capitais Mercado de ações Mercado primário Mercado secundário Tipos de mercados Preço de emissão da ação Crise imobiliária nos EUA Setor imobiliário no Brasil Déficit habitacional Incorporação imobiliária no Brasil O Governo na habitação O Plano Nacional de Habitação (PNH) Programa Minha Casa, Minha Vida Metodologia da pesquisa Apresentação da pesquisa Instrumento de coleta de dados ANÁLISE DAS AÇÕES NO MERCADO ACIONÁRIO Análise fundamentalista Análise técnica ANÁLISE DOS RESULTADOS Características da empresa e da sua área de atuação Dados econômicos da empresa em estudo Histórico da companhia Estudo do mercado acionário da Gafisa S/A CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS... 54
9 8 INTRODUÇÃO Convive-se atualmente com a constante busca pelo lucro em todos os setores. No mercado acionário isso não é diferente, o que leva os investidores a munirem-se de conhecimentos a respeito das melhores estratégias de investimentos. A Bolsa de Valores tem sido um importante meio de obtenção de lucro, entretanto, seus investimentos exigem conhecimento, atenção e respeito pelas origens das empresas acionistas. A globalização é um fenômeno mundial que não encontra barreiras. No mercado financeiro ela vem influenciando tanto as empresas de grande como as de pequeno porte. A economia americana ainda vem impulsionando os avanços da maior parte dos mercados mundiais, cabendo aos investidores analisar os cenários financeiros americano e mundiais a fim de realizar a opção mais acertada. A tecnologia tem favorecido os investidores, pois lhes é possibilitado o acesso a jornais noticiosos, os quais demonstram o comportamento do mercado acionário nacional e internacional. Um exemplo a ser citado é a crise imobiliária americana, ocorrida em 2008, e que causou uma verdadeira crise financeira internacional. Esta crise foi originada nos financiamentos imobiliários de alto risco os subprime 1, cujos efeitos negativos refletiram no mercado imobiliário brasileiro. As empresas imobiliárias brasileiras também possuem momentos de crise, e enfrentam desvalorizações no mercado acionário com conseqüente redução de seus lucros. Nesse sentido cabe transcrever a expressão do presidente do Creci de São Paulo, José Augusto Viana Neto a este respeito: O primeiro grande erro é debitar à crise financeira internacional o insucesso de empresas imobiliárias que abriram seu capital, fato ocorrido em larga escala nos anos de 2006 e 2007, período de euforia jamais visto no Brasil e no mundo com o sucesso destes lançamentos que, restava evidente, não poderiam prosperar. Foi uma corrida para aquisição de terrenos, comprados por preços supervalorizados, num ambiente de absoluta artificialidade que saltava aos olhos dos mais inexperientes e infantis iniciantes deste mercado. Ficou claro, por inúmeras publicações pela imprensa especializada, que o excessivo investimento em projetos pouco estudados além de campanhas de lançamentos de baixa liquidez destas empresas provocaram expressiva desvalorização em seus papéis e, a partir disso, vieram as absorções das maiores pelas menores e o cancelamento de lançamentos com evidente demonstração de esperado fracasso. (REVISTA DO CRECI, dez./2008). 1 Subprime: crédito dado àqueles tomadores que têm maior risco de inadimplência.
10 9 As cotações do mercado acionário são assunto diário da imprensa escrita e falada. Mesmo assim, o tema ainda é desconhecido por grande parte da população brasileira. Aos poucos, porém, uma parcela da população tem tomado consciência da importância do tema, uma vez que a oscilação do mercado mostra seus reflexos em todos os segmentos da economia, desde as grandes empresas multinacionais até a doméstica. Nesse sentido, após a crise imobiliária americana ter deflagrado uma crise financeira mundial, houve por parte da população brasileira um maior interesse em acompanhar as oscilações e reflexos do mercado internacional. Segundo muitos analistas ainda hoje se convive com os efeitos negativos gerados na época, o que é confirmado por Matsura (2007). A presente monografia visa a analisar o desempenho de uma das maiores empresas do setor imobiliário habitacional que atua no mercado acionário a Gafisa S/A, no período de 2008 a Existem duas formas de se analisar o desempenho das empresas, uma é a análise fundamentalista e a outra é a análise gráfica, sendo esta última usada no presente estudo. As duas formas podem ser utilizadas para analisar o desempenho das empresas na Bolsa de Valores, gerando assim subsídios para auxiliar nas decisões dos investidores de ações. Em face da situação anteriormente descrita formulou-se a seguinte questão para o estudo: o comportamento no mercado acionário da empresa Gafisa S/A foi influenciado com oscilações de preços a partir da crise imobiliária dos Estados Unidos? A partir disso, define-se como objetivo do estudo analisar a empresa Gafisa S/A, procurando esclarecer se a mesma sofreu oscilações no valor de comercialização de suas ações no mercado financeiro, no período em estudo, utilizando para tanto a análise gráfica. Como objetivos específicos, apresenta-se: fundamentar teoricamente o mercado de ações; fundamentar as metodologias de análise técnica e/ou gráficas no mercado acionário; realizar a análise técnica da empresa em diversos momentos do período considerado; e interpretar os resultados dos indicadores da análise gráfica da empresa. Pelo seu grau de relevância, o estudo se justifica, pois os incentivos apresentados pelo próprio Governo Federal permitem a conversão de saldos do FGTS em ações de empresas estatais, tornando-se cada vez mais popular o tema Bolsa de Valores no cenário das sociedades urbanas. Ainda, como aluno do curso de Economia desta Universidade, no decorrer das aulas o acadêmico teve contato com o componente curricular Finanças e Mercado de Capitais, o qual evidencia o comportamento do mercado acionário e da Bolsa de Valores. Simpatizando com o assunto que até há poucos anos parecia bastante confuso mas muito atraente, decidiu aprofundar seus conhecimentos nesta área. Atualmente, o economista precisa ter opinião
11 10 formada a respeito da contextualização do cenário econômico que se apresenta. Sendo assim, do ponto de vista pessoal, o estudo interessa-lhe para a realização de duas aspirações: contribuir para o melhor conhecimento do público menos privilegiado sobre o assunto e concluir a sua graduação em Economia. A presente monografia está estruturada em quatro capítulos. O primeiro traz os conceitos fundamentais sobre mercado financeiro, desenvolvimento econômico, setor imobiliário nos EUA e no Brasil, déficit habitacional, Plano Nacional de Habitação, entre outros conceitos. O segundo capítulo faz uma análise técnica das ações no mercado acionário, enquanto o terceiro capítulo aborda a metodologia usada para a realização do estudo. Finalmente, o quarto capítulo apresenta a caracterização e o histórico da Gafisa S/A e os resultados obtidos com a análise gráfica do mercado acionário da proposta desta pesquisa. Seguem as considerações finais e as referências utilizadas no embasamento teórico. Assim, este estudo visa possibilitar conhecimentos profissionais, os quais contribuirão para a atuação de profissionais que desejam ter um referencial a respeito do assunto, bem como um meio de gerar novas informações relativas ao tema.
12 11 1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS Este capítulo tem a finalidade de proporcionar um embasamento sobre o mercado financeiro e o setor imobiliário no Brasil, fornecendo subsídios para posterior análise de uma empresa de grande porte do mercado acionário a Gafisa S/A. Nesse sentido, traz os conceitos de Produto Interno Bruto, Bolsa de Valores, mercado de capitais, crise imobiliária nos EUA, setor imobiliário no Brasil, com destaque para o déficit habitacional e a incorporação imobiliária no Brasil. 1.1 Produto Interno Bruto (PIB) Segundo Sandroni (2004, p. 459), o Produto Interno Bruto (PIB) representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região durante um determinado período de tempo. Muitos aspectos dessa definição exigem saber que o período de tempo para seu cálculo anual inclui somente a produção corrente deste período. Portanto, o PIB exclui as transações intermediárias, é medido a preço de mercado e pode ser calculado sob três aspectos: produção, renda e dispêndio, em que: Ótica da produção o PIB corresponde à soma dos valores agregados líquidos dos setores primários, secundário e terciário da economia, mais os impostos indiretos, mais a depreciação do capital, menos os subsídios governamentais. Ótica da renda é calculado a partir das remunerações pagas dentro do território econômico de um país, sob a forma de salários, juros, aluguéis e lucros distribuídos; somam-se a isso os lucros não distribuídos, os impostos indiretos e a depreciação do capital e, finalmente, subtraem-se os subsídios. Ótica do dispêndio resulta da soma dos dispêndios em consumo das unidades familiares e do governo, mais as variações de estoque, menos as importações de mercadorias e serviços e mais as exportações. Sob essa ótica o PIB é denominado Despesa Interna Bruta. (SANDRONI, 2004, p. 459). Para o mesmo autor, o PIB, embora seja um indicador linear, pode demonstrar num cálculo per capita, ou seja, o quanto cada indivíduo receberia se a produção interna bruta fosse distribuída igualmente entre seus habitantes. De outra banda, Stiglitz e Walsh (2003) corroboram afirmando que o Produto Interno Bruto pode ser avaliado a preço de mercado, e é determinado em um período de tempo calculado por meio da soma de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território nacional.
13 12 O PIB pode ser conceituado de diferentes formas, entre elas como Interno ou Nacional, Bruto ou Líquido e a preço de mercado ou a custo de fator. Stiglitz e Walsh (2003, p. 215) prosseguem em suas reflexões apresentando os seguintes conceitos: Produto Interno: é a produção realizada no país. O conceito de produto interno, portanto, é um conceito geográfico, ou seja, pertence ao produto interno de um país todo bem ou serviço final produzido dentro dos limites geográficos desse país, não importando se é produzido por empresas nacionais ou empresas multinacionais instaladas nesse país. Produto Nacional: É a produção do país, que pertence ao país. O conceito de produto nacional é um conceito de titularidade, assim, pertence ao produto nacional de um país os produtos que empregam fatores de produção que pertencem aos residentes desse país, independente do local onde esse produto foi realizado. (STIGLITZ; WALSH, 2003, p. 215). Deduz-se dos estudos de Stiglitz e Walsh (2003), que a diferença entre o produto interno e o produto nacional é a renda líquida enviada ao exterior (RLE), pois o produto interno inclui (contabiliza) a RLE enquanto que o produto nacional o exclui (não contabiliza). Como exemplo pode-se citar: a renda que a Ford do Brasil envia para sua filial nos Estados Unidos pertence ao Produto Interno brasileiro (pois foi produzida no Brasil) e não pertence ao Produto Nacional brasileiro (pois não pertence a residentes no Brasil). Em resumo, o conceito de Produto Interno inclui a renda líquida enviada ao exterior, já o conceito de Produto Nacional exclui a renda líquida enviada ao exterior. Após uma breve explanação a respeito do Produto Interno Bruto (PIB), o item que segue discorre sobre a importância da Bolsa de Valores no desenvolvimento econômico do país. 1.2 A importância da Bolsa de Valores no desenvolvimento econômico Lameira (2003), em seus estudos, dedica-se à compreensão e análise das Bolsas de Valores. Segundo seu entendimento, a organização do mercado financeiro em Bolsas de Valores é frequente nos setores em que a alocação de recursos não gera custos. Além disso, as Bolsas de Valores buscam não apenas viabilizar a negociação propriamente dita, mas também oferecer garantias àqueles que utilizam sua infraestrutura. Dessa forma, é visível a contribuição positiva do mercado acionário no desenvolvimento econômico de uma nação. O mercado acionário, nesse contexto, não apenas segue o crescimento econômico, mas ainda proporciona os meios para prever as taxas futuras de crescimento do capital, da produtividade e da renda per capita.
14 13 Nesse mesmo rumo, a BM&FBOVESPA relaciona as contribuições do mercado acionário no desenvolvimento econômico do país: a poupança tem se mostrado fundamental no processo de crescimento autossustentado e na manutenção do desenvolvimento econômico do país. Portanto, ao transferir recursos dos poupadores para o uso dos investidores, o mercado de ações incentiva não apenas a formação da poupança interna, mas também a geração de poupança de longo prazo; a correta tomada de decisão do investidor quanto ao uso eficiente dos recursos proporciona maximização do seu retorno, comprovando a eficiência do mercado acionário; um mercado eficiente proporciona ampla gama de alternativas de financiamento, de forma isolada ou pela combinação entre as diversas opções, reduzindo custos financeiros. Isso contribui decisivamente para a saúde financeira das empresas, com consequente valorização do capital investido pelos acionistas; ao apresentar bom volume, liquidez e adequada regulamentação, um mercado acionário desenvolvido facilita os negócios, contribuindo para o aumento da produtividade econômica a nível global; um mercado acionário que prima pela demanda de informações e demonstrações financeiras de qualidade estimula a cultura empresarial e do público geral, com frutos para toda a atividade econômica; os diagnósticos e recomendações originadas do mercado acionário refletem a opinião dos principais agentes sobre a conjuntura econômica doméstica e internacional e suas perspectivas, constituindo-se também em importante formador de opinião; o mercado de ações possui papel fundamental para atrair, maximizar e consolidar o capital externo. A volatilidade desse mercado é controlável na medida em que persistir a credibilidade e a adequada regulação dos mercados locais, proporcionando assim a sua estabilidade político-econômica. A partir da breve exposição da Bolsa de Valores e da sua importância para o desenvolvimento econômico do país, o texto que segue trata da abertura de capitais, considerada uma das decisões mais importantes para uma empresa. 1.3 Abertura de capitais Ao abrir seu capital, uma empresa transcende à simples obtenção de recursos, pois ela passa a ter acesso a inúmeras alternativas de negócios, bem como lhe é possibilitado usar as próprias ações como moeda de compra.
15 14 No entendimento de Oliveira (2005), a abertura de capital constitui-se numa oferta pública de parte da companhia, cujas ações passam a ser negociadas no mercado e distribuídas entre outros acionistas por meio de um processo primário ou secundário. O autor enfatiza que a abertura de capital proporciona inúmeros benefícios à empresa, como recursos a custos mais baratos do que a captação de financiamentos bancários. Além disso, a marca da empresa se fortalece no mercado e ainda reforça a governança corporativa. Esse processo de abertura de capital, entretanto, requer o atendimento de algumas exigências, a exemplo de um cuidadoso planejamento com trabalho estratégico. Ademais, apresenta alguns desafios que uma empresa precisa estar preparada para enfrentar. A Bovespa (2006) destaca as seguintes etapas que uma empresa precisa cumprir para participar do processo de abertura de capital: 1. Conveniência nesta etapa, a empresa deve verificar os benefícios que a abertura de capital pode lhe proporcionar, bem como os custos que advirão com o processo, e se a empresa possui um perfil adequado para participar do mercado acionário. 2. Escolher o intermediário financeiro cabe à empresa interessada em abrir seu capital contratar uma instituição financeira, atividade relevante para o sucesso e para o custo financeiro da operação. 3. Documentação e reforma estatutária a empresa precisa solicitar registro de companhia aberta, de distribuição pública e de listagem na Bovespa. Para tanto devem ser seguidos os regulamentos específicos da Bovespa e da CMV. A Figura 1, a seguir, apresenta as etapas do processo de subscrição e integralização de novas ações, o qual se desenvolve dentro do segmento acionário do mercado de capitais, e que segue um fluxo sequencial de atividades. Empresa emitente de novas ações Instituição financeira intermediadora Mercado primário Mercado secundário Figura 1. Etapas do processo de subscrição de novas ações. Fonte: Assaf Neto (2006, p. 389). Ao aumentar seu capital por meio da subscrição e integralização de novas ações, a empresa precisa oferecer condições de atratividade econômica, bem como bons resultados
16 15 econômicos e financeiros. Essas condições são avaliadas principalmente pelos seus resultados e conveniência de abertura de capital, pelo estudo setorial, pelas características de emissão e lançamento das ações, pelo intermediário financeiro e auditoria independente, bem como pelo cenário conjuntural. A avaliação é realizada durante as diferentes etapas do processo de subscrição, tanto pela instituição financeira intermediadora como pelos agentes que compõem o mercado primário e secundário de ações. Normalmente o desempenho de uma empresa é avaliado pelos seus resultados históricos, porém, também podem ser utilizadas prospecções futuras, considerando para tanto a viabilidade do investimento acionário e os resultados esperados. Nesse sentido, as técnicas de análise que avaliam os resultados econômico-financeiros de uma empresa podem envolver a atual situação societária, a capacidade de atender às exigências legais e as condições gerais do mercado e da economia. Já o estudo setorial considera o mercado consumidor, o mercado fornecedor de matérias primas e as empresas concorrentes, sendo desenvolvido também com base no comportamento futuro esperado. Nessas avaliações são considerados, entre outros aspectos relevantes, o acesso às fontes supridoras de matérias primas, a estrutura e a evolução dos custos, a tecnologia, as vantagens competitivas, o potencial e a participação no mercado de empresas concorrentes, entre outros. As características básicas de emissão e lançamento de ações levam em consideração a existência de incentivos fiscais na subscrição primária de ações, as condições fixadas de pagamento (integralização) da subscrição, a existência de garantias de liquidez no mercado secundário, o preço de lançamento das ações, a política de dividendos definida no estatuto social da sociedade, etc. De outra banda, a Lei das Sociedades por Ações exige a presença de um intermediário financeiro nas operações de subscrição de ações, podendo ser bancos de investimento, bancos múltiplos, sociedades corretoras ou sociedades distribuidoras de valores. A experiência e a qualificação técnica em operações de abertura de capital são fatores essenciais na escolha da instituição, influindo diretamente sobre o sucesso da colocação das ações no mercado. Em relação à auditoria independente, a sociedade que optar por abrir seu capital deve contratar seus serviços, contando que esteja devidamente credenciada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os trabalhos de auditoria são importantes para avaliar os processos e procedimentos das diversas atividades da empresa, bem como transmitir maior garantia da idoneidade das informações contábeis publicadas ao mercado.
17 16 Finalmente, a situação conjuntural avalia, basicamente, as condições do desempenho e as perspectivas do mercado acionário em geral, bem como os níveis das taxas de juros de mercado, as projeções econômicas e os indicadores macroeconômicos, etc. De posse das informações supracitadas, parte-se agora para o estudo do mercado de ações propriamente dito, com base em obras de Rudge e Cavalcante (1993) e de Fortuna (2005). 1.4 Mercado de ações Estudos de Rudge e Cavalcante (1993) mostram que os investidores podem ser tanto institucionais e como individuais. Nesse cenário, os institucionais possuem diversificação na carteira de ações e, dessa forma, estão sempre presentes no mercado. Sua atuação é fundamental, pois garante o nível de estabilidade do mercado. Ademais, o especulador que investe apenas com o objetivo do lucro imediato garante o nível de liquidez do mercado. Enquanto isso, os investidores individuais são pessoas físicas que compram e vendem suas ações para si próprios, usando muitas vezes um consultor de investimentos para auxiliar no processo, o qual age individualmente, com seus próprios interesses e recursos. Segundo Fortuna (2005) e da CVM (2008), as ações podem ser classificadas em dois tipos, ou seja, ordinárias e preferenciais. As ações ordinárias concedem ao seu proprietário o direito de voto nas assembleias de acionistas, enquanto as preferenciais não lhe conferem este direito. No entanto, o possuidor de ações preferenciais tem prioridade no recebimento dos dividendos da companhia. Além de ordinárias e preferenciais as ações também são divididas, segundo dados da CVM (2008), em: Ações de primeira linha são ações de grande liquidez e com grande quantidade de negócios, constituindo-se nas mais procuradas para compra. Em geral pertencem a empresas tradicionais de grande porte e âmbito nacional, como a Vale do Rio Doce e a Petrobrás. Ações de segunda linha são ações com menos liquidez, pertencentes a empresas de boa qualidade, de grande e médio porte, a exemplo da Souza Cruz e da Brahma. Ações de terceira linha são ações de pouca liquidez, originadas de empresas de pequeno e médio porte, mas não necessariamente de menor qualidade, como a Inepar e a Duratex.
18 17 No momento de investir os investidores buscam três aspectos, isto é: retorno, prazo e segurança. Já a rentabilidade está relacionada diretamente ao risco do investimento, e é uma questão a ser decidida pelo investidor no momento de optar pelo investimento. Quanto às formas apresentadas pelas ações, tem-se a partir da CVM (2008), a seguinte classificação: Nominativas cautelas ou certificados que apresentam o nome do acionista, cuja transferência é feita com a entrega da cautela e a averbação de termo, em livro próprio da sociedade emitente, identificando o novo acionista. Escriturais ações que não são representadas por cautelas ou certificados, funcionando como uma conta corrente, na qual os valores são lançados a débito ou a crédito dos acionistas, não havendo movimentação física dos documentos. Ainda de acordo com o conteúdo publicado pela CVM (2008) quanto aos tipos de mercados existentes na Bolsa de Valores, pode-se constatar a existência do mercado primário e do secundário, os quais são explicitados nos itens que seguem. O primário significa a primeira vez que as ações são negociadas, sendo estas articuladas entre a empresa e o investidor. Já no mercado secundário a negociação se dá entre investidores, o que pode ser melhor compreendido mediante a observação da Figura 2, que apresenta as fases de negociações no mercado acionário. F A S E S D A N E G O C IA Ç Ã O C O M A Ç Õ E S M e r ca d o p r im á r i o M e r c a d o s e cu n d á r io C o m p a n h ia a b e r ta X A ç ã o X $ P ú b lic o A A ç ã o X $ P ú b lic o B M E R C A D O S S E C U N D Á R IO S D E B A L C Ã O E D E B O L S A N o r m a lm e n te, a s n e g o c ia çõ e s d o m e r c a d o s e c u n d á r io p o d e m se r r e a liz a d a s p o r m e io d e d o is lo c a is d i st in t o s, q u e r e p r e se n ta m o s m e r c a d o s se c u n d á r io s d e b a lcã o e d e b o lsa d e v a l o r e s. In v e s tid o re s M e r c a d o d e b a lc ã o M e r c a d o d e b o lsa d e v a lo r e s I n v e s t id o r e s Figura 2. Fases de negociações no mercado acionário. Fonte: Dal Ri (2008).
19 Mercado primário É no mercado primário que ocorre a primeira compra e venda de ações de uma empresa, ou seja, as ações criadas pelas empresas e imediatamente são adquiridas pelos investidores. Ao fazer a emissão de ações ou a sua venda no mercado primário a empresa está captando recursos para financiar seus projetos e fazer investimentos (FORTUNA, 2005). Nesse momento os recursos obtidos entram para o caixa da empresa, que pode colocar ações no mercado ou fazer a emissão de um novo lote de ações, isto é, colocar mais uma parte da empresa à venda em forma de ações. No entendimento de Fortuna (2005), a decisão de vender ações é decorrente de uma situação em que a empresa precisa levantar recursos, podendo optar também pela contração de dívidas. A opção pela venda das ações representará menores riscos para as empresas, uma vez que se tornarão sócios apenas dos lucros. O mercado primário apresenta algumas restrições, como o receio do empresário em permitir a entrada de novos sócios no seu capital. Além disso, as empresas convivem também com a falta de incentivos para a emissão de ações, decorrentes dos tratamentos fiscais de juros e dividendos (FORTUNA, 2005). O autor supracitado menciona ainda a concorrência desigual dos títulos de renda fixa como outra dificuldade do mercado primário. No passado havia a promessa de pagamento pleno da correção monetária, considerada uma desvantagem em relação às ações, mas desde 1991 ela deixou de existir, mantendo-se tão somente as taxas de juros reais, as quais oscilam entre 15 e 25% ao ano, e que acabam desestimulando a aquisição de ações. Ademais, a lista de dificuldades encontradas no mercado primário de ações é ampliada pela falta de credibilidade dos intermediários, afirma Fortuna (2005). Essa falta de credibilidade era sentida apenas pelos médios e pequenos investidores, geralmente pessoas físicas que tinham dificuldade em se fazer respeitar por parte das corretoras e distribuidoras. Fortuna (2005) apresenta, finalmente, a instabilidade da economia brasileira como fator prejudicial à emissão de títulos primários. Desde a década de 1980 houve um decréscimo significativo no número de companhias abertas. Em 1983 eram 1.152, número que caiu para 839 em 1993, sendo que atualmente são 874. Destas, menos de 200 participam ativamente do mercado de capitais, e apenas 50 ações podem ser consideradas com liquidez adequada em Bolsa de Valores. Outrossim, diminuir os custos de abertura de capital melhoraria a percepção do mercado por parte do pequeno poupador.
20 Mercado secundário O mercado secundário, segundo Fortuna (2005), constitui-se no Mercado de Bolsa, propriamente dito, local onde os acionistas vendem suas ações para outros investidores. As Bolsas de Valores são locais onde os investidores em ações compram ou vendem seus papéis por meio da atuação de corretoras. Nesta etapa as empresas não se envolvem e os negócios no pregão da Bolsa são feitos entre antigos e novos acionistas das empresas. Um eficiente mercado primário garante o mercado secundário, ou seja, o Mercado de Bolsa. Nesse sentido, Fortuna (2005) esclarece que as empresas não lucram diretamente com os negócios na Bolsa. Por outro lado, ninguém compra uma ação diretamente de uma empresa se não puder vendê-la quando lhe aprouver. Portanto, a empresa que tiver ações com boa liquidez, ou seja, bem cotadas na Bolsa, terá mais facilidade para captar novos recursos no mercado primário, enquanto que os novos sócios estarão mais confiantes com a possibilidade de vender as ações no momento em que desejarem. Nos últimos anos, segundo Fortuna (2005), constatou-se um incremento no mercado de ações, o que tem se manifestado de diversas formas. O autor expressa ainda que os negócios concentrados em poucas ações, geralmente de empresas estatais, podem ser citados em primeiro plano. Isso decorre do fato de essas empresas terem baixo risco de falência e controlarem os mercados cok os quais operam. Dados da CVM (2008) indicam que as cinco ações mais negociadas em 1980 foram responsáveis por 31% do volume total de negócios, e em 1994 esse percentual subiu para 67%. Hoje, compreendem 80% do mercado acionário negociado na Bolsa. Em segundo plano se encontra a concentração ao nível dos investidores, expressa Fortuna (2005). Isso significa que 24% do valor de mercado das companhias abertas são obtidos por investimentos institucionais em ações, em particular os fundos de pensão, onde se inclui os de empregados de empresas estatais. Finalmente, em terceiro plano, Fortuna (2005) apresenta a concentração no setor de intermediários financeiros. Nesse sentido percebe-se que o número de corretoras e distribuidoras diminuiu entre os anos de 1980 e 1995, mas aumentou no agregado o de bancos comerciais e múltiplos. Como consequência, ao invés de corretoras independentes que teriam maior interesse no mercado de ações de renda fixa, o mercado estaria mais dominado do que antes por corretoras de bancos. O item que segue apresenta os tipos de mercados acionários existentes atualmente, contribuindo para ampliar o estudo a respeito do tema.
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